Uma das expressões mais citadas nesta época de final de ano (meu Deus, 2013 já está acabando? Como o tempo passa rápido!) é “Carpe Diem”. O significado normalmente atribuído a ela é “aproveite o dia”.
Como vivemos na era da cultura “fast food”, pouca gente sabe que esta expressão vem de um texto do poeta romano Horácio, que viveu um pouco antes de Cristo. A versão atualizada deste texto seria mais ou menos esta (sempre lembrando que temos que dar o desconto pelo fato de ser uma obra com mais de dois mil anos de idade, que já passou por um monte de traduções);
"Aproveite o dia, confia o mínimo no amanhã.
Não perguntes (saber é proibido) o fim que os deuses darão a mim ou a ti.
É melhor apenas lidar com o que encontramos no caminho.
Se muitos invernos Júpiter te dará ou se este é o último, que agora bate nas praias com as ondas do mar Tirreno.
Sê sábio, bebe o teu vinho e reescala as tuas esperanças para um curto prazo.
Pois mesmo agora, enquanto falamos,
o tempo ciumento está fugindo de nós.
Por isso aproveita o dia, confia o mínimo no amanhã"
Existem traduções que preferem usar a expressão “colha o dia” ao invés de “aproveite o dia”. A diferença é sutil, mas interessante; muita gente entende “carpe diem” como se isto significasse viver um dia como se fosse o último de sua vida. E usam esta desculpa para torrar dinheiro, cair na farra e fazer todas as bobagens possíveis como se não houvesse amanhã.
Nós, que trabalhamos com gerenciamento de projetos, sabemos que para um projeto funcionar é preciso fazer exatamente o contrário; esforçar-se no dia de hoje para ter a recompensa no futuro. E, neste sentido, a idéia de “colher o dia” é muito mais significativa, porque para colher é preciso semear e regar a planta (ou seja, planejar, executar e controlar). Assim, “carpe diem” significaria, na verdade, fazer do dia de hoje o melhor dia possível, ou seja; se o dia for de trabalhar, trabalhe; se for de planejar, planeje; e, finalmente, quando for o dia de festejar (porque ninguém é de ferro), enfie o pé na jaca com vontade. Mas nunca esquecendo que amanhã há um novo dia a ser colhido...
Abraços a todos e que 2014 nos traga ótimas colheitas e semeaduras.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
Da longa série "Meus pitacos no LinkedIn" - o causo da competência
Costumo participar das discussões do grupo de gerenciamento de projetos no LinkedIn, e vou postando aqui alguns palpites e pitacos que apresento por lá de vez em quando.
Desta vez a discussão era sobre "o quanto o gerente de projetos precisa conhecer da parte técnica do projeto". Existem, como sempre, posições radicais dos dois lados; há aqueles que acham que um bom gerente consegue tocar um projeto mesmo sem entender nada da parte técnica, e os que acham que ele tem que dominar profundamente o tema. Meu palpite foi assim;
Prezados;
Gostaria de fazer um comentário e, para não perder o costume, contar um “causo”.
O comentário é o seguinte; partindo-se do modelo ETO (Estratégico, Tático, Operacional – não confundir com Samuel Eto’o, o grande centroavante), sabe-se que, quanto mais nos afastamos do nível Operacional, menos o profissional precisa entender os aspectos técnicos do trabalho. Desta forma, é muito comum vermos altos executivos mudando de empresas de alimentos para varejistas ou petroleiras; eles estão em um nível totalmente Estratégico (E), onde entender a parte técnica não é importante (para isto existem os assessores).
O problema é que o gerente de projetos, normalmente, situa-se entre o nível Tático (T) e o Operacional (O). E, neste nível, o sujeito não consegue exercer a liderança sobre a equipe se não tiver um mínimo de conhecimento técnico.
Contando um “causo” que ocorreu comigo; logo após a minha certificação como PMP, no início dos anos 2000, alguns colegas da Petrobras acreditaram que eu tinha adquirido superpoderes e resolveram me colocar para gerenciar um projeto para a área de Exploração e Produção. Detalhe importante; eu trabalhava na área de Refino havia mais de vinte anos, na época. Na primeira reunião do projeto, eu pura e simplesmente não consegui entender nada do que foi discutido. E olha que era um projeto de engenharia, dentro da Petrobras – e eu era um engenheiro da Petrobras com capacitação em gerenciamento de projetos! Só que não conhecia sequer o básico para conversar com um especialista da área off-shore. Logo após a reunião eu pedi para sair (ninguém ia respeitar um gerente de projeto que ficava numa reunião com cara de babaca, sem entender nada de nada), e sugeri que indicassem alguém com experiência na área. Posso dizer que funcionou muito bem.
Resumindo; não acredito muito na idéia que um profissional possa gerenciar projetos em uma área em que seja totalmente “cego”. E, conforme frisou muito bem o Mestre Farhad, gerente de projetos não é profissão; é uma função, e tenho certeza que uma das qualificações requeridas para o exercício desta função é o conhecimento técnico. Detalhe importante; quando falo “conhecimento técnico” não estou exigindo que o cara seja especialista no assunto. Colocar um especialista técnico para gerenciar projetos costuma ser uma fórmula perfeita para atingir o fracasso, porque ele certamente vai querer se meter nas discussões técnicas, o que não é função dele, e acaba não fazendo bem nem uma coisa nem outra. Já vi muito projeto naufragar por causa disto, mas este “causo” fica para uma próxima, porque o post já ficou longo demais para o meu gosto...
Abraços e sucesso para todos.
Desta vez a discussão era sobre "o quanto o gerente de projetos precisa conhecer da parte técnica do projeto". Existem, como sempre, posições radicais dos dois lados; há aqueles que acham que um bom gerente consegue tocar um projeto mesmo sem entender nada da parte técnica, e os que acham que ele tem que dominar profundamente o tema. Meu palpite foi assim;
Prezados;
Gostaria de fazer um comentário e, para não perder o costume, contar um “causo”.
O comentário é o seguinte; partindo-se do modelo ETO (Estratégico, Tático, Operacional – não confundir com Samuel Eto’o, o grande centroavante), sabe-se que, quanto mais nos afastamos do nível Operacional, menos o profissional precisa entender os aspectos técnicos do trabalho. Desta forma, é muito comum vermos altos executivos mudando de empresas de alimentos para varejistas ou petroleiras; eles estão em um nível totalmente Estratégico (E), onde entender a parte técnica não é importante (para isto existem os assessores).
O problema é que o gerente de projetos, normalmente, situa-se entre o nível Tático (T) e o Operacional (O). E, neste nível, o sujeito não consegue exercer a liderança sobre a equipe se não tiver um mínimo de conhecimento técnico.
Contando um “causo” que ocorreu comigo; logo após a minha certificação como PMP, no início dos anos 2000, alguns colegas da Petrobras acreditaram que eu tinha adquirido superpoderes e resolveram me colocar para gerenciar um projeto para a área de Exploração e Produção. Detalhe importante; eu trabalhava na área de Refino havia mais de vinte anos, na época. Na primeira reunião do projeto, eu pura e simplesmente não consegui entender nada do que foi discutido. E olha que era um projeto de engenharia, dentro da Petrobras – e eu era um engenheiro da Petrobras com capacitação em gerenciamento de projetos! Só que não conhecia sequer o básico para conversar com um especialista da área off-shore. Logo após a reunião eu pedi para sair (ninguém ia respeitar um gerente de projeto que ficava numa reunião com cara de babaca, sem entender nada de nada), e sugeri que indicassem alguém com experiência na área. Posso dizer que funcionou muito bem.
Resumindo; não acredito muito na idéia que um profissional possa gerenciar projetos em uma área em que seja totalmente “cego”. E, conforme frisou muito bem o Mestre Farhad, gerente de projetos não é profissão; é uma função, e tenho certeza que uma das qualificações requeridas para o exercício desta função é o conhecimento técnico. Detalhe importante; quando falo “conhecimento técnico” não estou exigindo que o cara seja especialista no assunto. Colocar um especialista técnico para gerenciar projetos costuma ser uma fórmula perfeita para atingir o fracasso, porque ele certamente vai querer se meter nas discussões técnicas, o que não é função dele, e acaba não fazendo bem nem uma coisa nem outra. Já vi muito projeto naufragar por causa disto, mas este “causo” fica para uma próxima, porque o post já ficou longo demais para o meu gosto...
Abraços e sucesso para todos.
terça-feira, 19 de novembro de 2013
O “causo” das biografias não autorizadas – o que eu procuro saber
Poucas vezes na vida ouvi tanta gente inteligente falando tanta bobagem quanto no caso das biografias autorizadas (ou não, como diria o Caetano). O volume de pronunciamentos sem sentido foi tão grande que pude constatar, mais uma vez, a sabedoria da frase de Einstein; “só existem duas coisas infinitas; o universo, e a estupidez humana. E sobre o primeiro ainda tenho algumas dúvidas”.
O cerne do debate é a questão sobre até onde um biógrafo tem o direito de invadir a intimidade de um biografado. Minha resposta é simples; não existe este limite. Porque? Pela simples razão que, a partir do momento em que uma pessoa deixa a sua marca na história, seja em que campo for, toda e qualquer revelação que ajude o comum dos mortais a entender a sua vida e obra tem que estar disponível.
Dando um exemplo prático; a melhor biografia que li foi “Estrela Solitária”, escrita por Ruy Castro sobre Garrincha, o grande craque de futebol. Mané Garrincha teve uma história de ascensão e queda impressionante; ídolo máximo do Brasil inteiro depois do bicampeonato mundial de futebol em 1962, morreu pobre e alcoólatra antes de completar 50 anos. Para muitos que acompanharam a sua vida (como é o meu caso), a decadência dele estaria associada, em grande parte, ao seu romance com a cantora Elza Soares. O livro de Ruy Castro mudou completamente meu ponto de vista. Só que, para esclarecer o caso, o autor chega a divulgar detalhes muito íntimos; fala que Garrincha era uma verdadeira máquina de fazer sexo, e dá até as dimensões do pênis dele (ficou curiosa, santa? Vai lá e lê o livro!). Porque isto é importante? Porque ajuda a entender que o caso entre ele e Elza Soares foi, basicamente, um amor baseado em sedução e atração física – coisa absolutamente intolerável para o puritanismo hipócrita da sociedade brasileira dos anos 60, principalmente levando-se em conta que Garrincha era casado e pai de sete meninas. Assim, o livro abriu meus olhos para novas ideias (como, aliás, sempre fazem os bons livros), demonstrando que Elza Soares foi muito mais um anjo do que um demônio na vida do Mané. E fazendo supor que, na sociedade mais evoluída que temos hoje, este caso talvez tivesse um desfecho bem mais feliz.
Entendo, portanto, que a obrigação de uma biografia é tentar entender decisões e atitudes do biografado – e, obviamente, isto passa pela intimidade dele (ou dela). A suposição de que o grande escritor Saint Exupéry fosse homossexual (numa época em que era melhor um homem morrer do que admitir esta “doença”) me permitiu um olhar um pouco diferente sobre seus livros. Suspeita semelhante levantada sobre Santos Dumont ajuda a entender a sua extraordinária sensibilidade e pode até nos levar a questionar as verdadeiras razões de seu suicídio. Ou seja; a curiosidade das pessoas sobre detalhes íntimos dos ídolos nem sempre é gratuita ou imbecil, pode ser apenas uma forma de tentar entender as suas vidas. E é justamente isto o que torna uma biografia diferente de um livro de história. Ninguém vai ler uma biografia sobre John Kennedy, com o objetivo de saber quando ele nasceu, foi eleito presidente ou assassinado; é só consultar a Wikipédia. A biografia tem que ir alem de datas e estatísticas. E o mergulho na vida íntima do biografado é absolutamente inevitável.
Concluindo, e tomando como exemplo uma das principais cabeças pensantes do grupo “Procure Saber” (e deste País, diga-se), o já citado Caetano Veloso; na qualidade de fã declarado da obra dele, desde os meus quinze anos, eu teria muita curiosidade de saber qual foi o processo criativo que o levou a compor uma música linda para uma moça que passava na praia (“Você é linda, e sabe viver...”), e, em outra ocasião, para um surfista (“Menino do Rio...”). Veja bem, não estou nem aí para a vida sexual dele, mas gostaria muito de saber como esta possível atração (ou não) por meninos e meninas se refletiu em toda a obra do mestre baiano, que eu tanto admiro. E isto, entendo eu, nenhuma personalidade pública tem o direito de impedir. É claro que, se o biógrafo mentir, que seja processado e tirem dele tudo o que o desgraçado tiver; mas proibir a divulgação, nunca. Afinal, quem foi mesmo que disse que “É proibido proibir”?
O cerne do debate é a questão sobre até onde um biógrafo tem o direito de invadir a intimidade de um biografado. Minha resposta é simples; não existe este limite. Porque? Pela simples razão que, a partir do momento em que uma pessoa deixa a sua marca na história, seja em que campo for, toda e qualquer revelação que ajude o comum dos mortais a entender a sua vida e obra tem que estar disponível.
Dando um exemplo prático; a melhor biografia que li foi “Estrela Solitária”, escrita por Ruy Castro sobre Garrincha, o grande craque de futebol. Mané Garrincha teve uma história de ascensão e queda impressionante; ídolo máximo do Brasil inteiro depois do bicampeonato mundial de futebol em 1962, morreu pobre e alcoólatra antes de completar 50 anos. Para muitos que acompanharam a sua vida (como é o meu caso), a decadência dele estaria associada, em grande parte, ao seu romance com a cantora Elza Soares. O livro de Ruy Castro mudou completamente meu ponto de vista. Só que, para esclarecer o caso, o autor chega a divulgar detalhes muito íntimos; fala que Garrincha era uma verdadeira máquina de fazer sexo, e dá até as dimensões do pênis dele (ficou curiosa, santa? Vai lá e lê o livro!). Porque isto é importante? Porque ajuda a entender que o caso entre ele e Elza Soares foi, basicamente, um amor baseado em sedução e atração física – coisa absolutamente intolerável para o puritanismo hipócrita da sociedade brasileira dos anos 60, principalmente levando-se em conta que Garrincha era casado e pai de sete meninas. Assim, o livro abriu meus olhos para novas ideias (como, aliás, sempre fazem os bons livros), demonstrando que Elza Soares foi muito mais um anjo do que um demônio na vida do Mané. E fazendo supor que, na sociedade mais evoluída que temos hoje, este caso talvez tivesse um desfecho bem mais feliz.
Entendo, portanto, que a obrigação de uma biografia é tentar entender decisões e atitudes do biografado – e, obviamente, isto passa pela intimidade dele (ou dela). A suposição de que o grande escritor Saint Exupéry fosse homossexual (numa época em que era melhor um homem morrer do que admitir esta “doença”) me permitiu um olhar um pouco diferente sobre seus livros. Suspeita semelhante levantada sobre Santos Dumont ajuda a entender a sua extraordinária sensibilidade e pode até nos levar a questionar as verdadeiras razões de seu suicídio. Ou seja; a curiosidade das pessoas sobre detalhes íntimos dos ídolos nem sempre é gratuita ou imbecil, pode ser apenas uma forma de tentar entender as suas vidas. E é justamente isto o que torna uma biografia diferente de um livro de história. Ninguém vai ler uma biografia sobre John Kennedy, com o objetivo de saber quando ele nasceu, foi eleito presidente ou assassinado; é só consultar a Wikipédia. A biografia tem que ir alem de datas e estatísticas. E o mergulho na vida íntima do biografado é absolutamente inevitável.
Concluindo, e tomando como exemplo uma das principais cabeças pensantes do grupo “Procure Saber” (e deste País, diga-se), o já citado Caetano Veloso; na qualidade de fã declarado da obra dele, desde os meus quinze anos, eu teria muita curiosidade de saber qual foi o processo criativo que o levou a compor uma música linda para uma moça que passava na praia (“Você é linda, e sabe viver...”), e, em outra ocasião, para um surfista (“Menino do Rio...”). Veja bem, não estou nem aí para a vida sexual dele, mas gostaria muito de saber como esta possível atração (ou não) por meninos e meninas se refletiu em toda a obra do mestre baiano, que eu tanto admiro. E isto, entendo eu, nenhuma personalidade pública tem o direito de impedir. É claro que, se o biógrafo mentir, que seja processado e tirem dele tudo o que o desgraçado tiver; mas proibir a divulgação, nunca. Afinal, quem foi mesmo que disse que “É proibido proibir”?
domingo, 25 de agosto de 2013
O “Causo” de um goleiro sobrenatural...
A notícia que um dos meus grandes ídolos de
infância, o goleiro Gylmar dos Santos Neves, um dos herois do bi-campeonato
mundial de 58 e 62, está em situação irreversível em um hospital de São Paulo após
um infarto, deixou o meu dia um pouco mais triste. Só que, ao mesmo tempo,
lembrou-me de um “causo” que é, no mínimo, fantástico e curioso. Quem conta com
precisão a história é o conhecido e polêmico comentarista Milton Neves que, acima
de suas opiniões muitas vezes desrespeitosas para com o meu Grêmio, tem que ser
reverenciado por mim e por todos os fanáticos por futebol como um dos maiores
preservadores da memória nacional sobre ex-jogadores e fatos históricos. Está
tudo lá, no endereço http://terceirotempo.bol.uol.com.br/quefimlevou,
mas vou resumir o “causo” aqui.
Além de grande goleiro, ídolo da torcida do
Corinthians, Gylmar era um rapaz boa-pinta e com um nível de educação e
conhecimentos bem superior à média dos jogadores de sua época. E estas
qualidades impressionaram muito a menina Rachel, de 17 anos, filha de um grande
empresário de São Paulo, Nagib Izar. Foi um caso de “amor à primeira vista”, conforme
se dizia na época, e que começou na piscina de um hotel de Águas de Lindóia
onde o Corinthians estava concentrado e paulistanos ricos passavam férias. Dizem
que o velho Nagib ficou tão horrorizado com a atitude da filha e daquele “jogadorzinho
de bola” que no mesmo dia fechou a conta, abreviou sua estada de férias e levou
toda a família de volta para São Paulo.
Pausa para um comentário rápido; sim, houve um tempo em que jogadores de futebol não ganhavam rios de dinheiro, e os pais de família não queriam que suas filhas namorassem estes tipos mal-educados e sem futuro. Zagallo viveu algo parecido. Que distância do mundo das marias-chuteiras de hoje... Mas voltemos ao “causo”.
Pausa para um comentário rápido; sim, houve um tempo em que jogadores de futebol não ganhavam rios de dinheiro, e os pais de família não queriam que suas filhas namorassem estes tipos mal-educados e sem futuro. Zagallo viveu algo parecido. Que distância do mundo das marias-chuteiras de hoje... Mas voltemos ao “causo”.
Rachel resolveu afrontar o pai e o namoro, começado
em 1954, virou casamento em 1960, do qual nasceram três filhos. Fiel aos seus
conceitos, “seu” Nagib passou exatos 17 anos sem falar com a filha, não
compareceu ao casamento e nem quis conhecer os três netos. Só que agora é que a
história começa a ficar interessante.
No dia 25 de outubro de 1971, de repente, Nagib ligou e convidou Rachel, o marido Gylmar (já então aposentado do futebol) e os filhos para que todos passassem o dia com ele e com sua esposa Najla, na sua mansão, no bairro do Paraíso, em São Paulo.
Almoçaram juntos, brincaram e se abraçaram como se nada tivesse acontecido naqueles 17 anos. No fim da noite, já na sua casa e ainda tentando entender as emoções do dia, Rachel recebeu telefonema da mãe comunicando que “seu” Nagib Izar tinha acabado de morrer de infarto! Detalhe; tudo isto é fato, comprovado por todos eles. Foi premonição, remorso ou coincidência? Só isto já seria uma história interessante; mas, por incrível que pareça, o “causo” ainda teve outros desdobramentos.
Na hora de tratar do inventário, Rachel e seus irmãos (entre os quais havia um deputado federal, o falecido Ricardo Izar) se reuniram na sede da empresa. Obviamente, ninguém esquecia a estranha história do reencontro entre pai e filha no último dia da vida dele, e o agora perdoado Gylmar também foi chamado para a reunião da família.
No dia 25 de outubro de 1971, de repente, Nagib ligou e convidou Rachel, o marido Gylmar (já então aposentado do futebol) e os filhos para que todos passassem o dia com ele e com sua esposa Najla, na sua mansão, no bairro do Paraíso, em São Paulo.
Almoçaram juntos, brincaram e se abraçaram como se nada tivesse acontecido naqueles 17 anos. No fim da noite, já na sua casa e ainda tentando entender as emoções do dia, Rachel recebeu telefonema da mãe comunicando que “seu” Nagib Izar tinha acabado de morrer de infarto! Detalhe; tudo isto é fato, comprovado por todos eles. Foi premonição, remorso ou coincidência? Só isto já seria uma história interessante; mas, por incrível que pareça, o “causo” ainda teve outros desdobramentos.
Na hora de tratar do inventário, Rachel e seus irmãos (entre os quais havia um deputado federal, o falecido Ricardo Izar) se reuniram na sede da empresa. Obviamente, ninguém esquecia a estranha história do reencontro entre pai e filha no último dia da vida dele, e o agora perdoado Gylmar também foi chamado para a reunião da família.
Como era comum na era pré-digital, “seu” Nagib
tinha no escritório um cofre daqueles bem antigos, pesadões, cuja combinação só
ele conhecia. Ali ficavam os documentos mais importantes do patriarca e da
empresa. O diabo é que ninguém conseguia abrir o tal do cofre. Chamaram
arrombadores profissionais, fabricantes de cofre, e nada. Quando a hipótese de
uma explosão já estava sendo cogitada, Gylmar, com a sua discrição habitual, pediu
licença aos cunhados e começou a mexer no relógio de controle da fechadura.
Girou umas sete ou oito vezes, sempre depois apertando a maçaneta e de repente… o cofre se abriu! Inacreditavelmente, Gylmar desafiou todas as leis da estatística e acertou a combinação do cofre. Ou será que algum espírito soprou no ouvido dele? Acredite se quiser...
Prá completar a história, só faltava mesmo saber o conteúdo do cofre. E agora foi a vez da emoção falar mais alto. Ao lado de escrituras, ações e outros documentos importantes, existiam diversas pastas, cuidadosamente catalogadas, com recortes de todas as notícias e fotos de revistas e jornais que falavam em Gylmar, Rachel e os filhos nos últimos 17 anos. Foi então que dona Baije, a fiel secretária do velho há muitos anos, contou que, por todo este tempo, o turrão Nagib Izar, ao chegar logo cedinho para o trabalho, TODO DIA ficava por uma hora folheando suas pastas, vendo página por página e foto por foto da família da filha e do genro famoso. Não preciso dizer que, a esta altura do campeonato, o escritório era um mar de lágrimas...
Pessoal; a história é verdadeira, insisto mais uma vez, e confirmada por todos os envolvidos. Hoje, só me resta rezar por Gylmar e pelo velho Nagib que, com toda a certeza, já está de prontidão para receber o genro de braços abertos na sua chegada lá do outro lado. Ou para morrer de rir se ele, lembrando os seus tempos de goleiro de seleção, conseguir fazer uma defesa milagrosa e mandar a morte para escanteio...
Girou umas sete ou oito vezes, sempre depois apertando a maçaneta e de repente… o cofre se abriu! Inacreditavelmente, Gylmar desafiou todas as leis da estatística e acertou a combinação do cofre. Ou será que algum espírito soprou no ouvido dele? Acredite se quiser...
Prá completar a história, só faltava mesmo saber o conteúdo do cofre. E agora foi a vez da emoção falar mais alto. Ao lado de escrituras, ações e outros documentos importantes, existiam diversas pastas, cuidadosamente catalogadas, com recortes de todas as notícias e fotos de revistas e jornais que falavam em Gylmar, Rachel e os filhos nos últimos 17 anos. Foi então que dona Baije, a fiel secretária do velho há muitos anos, contou que, por todo este tempo, o turrão Nagib Izar, ao chegar logo cedinho para o trabalho, TODO DIA ficava por uma hora folheando suas pastas, vendo página por página e foto por foto da família da filha e do genro famoso. Não preciso dizer que, a esta altura do campeonato, o escritório era um mar de lágrimas...
Pessoal; a história é verdadeira, insisto mais uma vez, e confirmada por todos os envolvidos. Hoje, só me resta rezar por Gylmar e pelo velho Nagib que, com toda a certeza, já está de prontidão para receber o genro de braços abertos na sua chegada lá do outro lado. Ou para morrer de rir se ele, lembrando os seus tempos de goleiro de seleção, conseguir fazer uma defesa milagrosa e mandar a morte para escanteio...
quarta-feira, 19 de junho de 2013
AS MANIFESTAÇÕES DO NADA, QUE NÃO VÃO CHEGAR A LUGAR ALGUM
Começo confessando que utilizei deliberadamente palavras semelhantes às do roqueiro Lobão no título de seu livro absolutamente genial (Manifesto do Nada na Terra do Nunca). E, infelizmente, a conclusão a que chego é a mesma dele; o Brasil não consegue evoluir. E este "movimento" que está em curso é mais uma prova desta triste realidade.
Contando o "causo" desde o início, tenho que confessar
que tenho um trauma com relação a manifestações de massa no Brasil desde as
“Diretas já!”, em 1984. E o meu trauma se deve ao desencanto que experimentei
naquela ocasião. Afinal, ali tínhamos (ao contrário do que acontece nas
manifestações de hoje), uma causa perfeitamente definida; queríamos,
simplesmente, escolher o Presidente da República através de voto direto,
procedimento utilizado em todos os países civilizados do mundo.
O
movimento tinha tudo para dar certo, houve comícios antológicos com a presença
de milhões de pessoas, as grandes figuras da república estavam conosco, a mídia
toda apoiava, e aí... bom, aí, em 25/04/1984, a emenda “Dante de Oliveira”, que
propunha a adoção imediata de eleições diretas para presidente, foi pura e
simplesmente derrotada na votação do Congresso Nacional. E o mais triste é que
a história terminou aí; botamos o rabo no meio das pernas e entubamos a
derrota, sem reação. Não teve um quebra-quebra, uma manifestação de revolta,
nada. A segurança do Congresso Nacional não teve trabalho nenhum. E a parte
mais triste ainda é que a grande maioria dos opositores da emenda, os que a
gente chamava de “inimigos do povo”, foram sistematicamente reeleitos desde
então e só fizeram aumentar sua influência política. O exemplo mais
significativo é o “Highlander” José Sarney, que manda até hoje neste País e
foi, seguramente, o mais firme opositor das “Diretas já!”, na época.
Desde
então me convenci que não tem jeito; por algum mecanismo que eu não consigo
entender, o brasileiro médio não quer mudanças, odeia qualquer perspectiva de
novidades, quer que as coisas continuem do jeito que estão, para sempre. Adora
reclamar, mas é incapaz de mover um dedo para mudar o “status” (mesmo que este
dedo seja o que ele usa para acionar a urna eletrônica). A melhor explicação
que encontrei veio do gênio-louco Tim Maia; “o Brasil é o único lugar do mundo
em que pobre é de direita”. Acho que é por aí.
Não
pude deixar de pensar nisto quando começaram estas novas manifestações. O
movimento é, em si, totalmente irracional; protesta-se contra a corrupção,
contra o aumento da tarifa de ônibus, contra os gastos da Copa, contra a Globo,
contra todos os partidos políticos, são xingados com igual intensidade a Dilma,
o Alckmin, o Cabral... Mas, afinal, o que estes caras querem?
Infelizmente,
minha visão é extremamente negativa. Depois de alguns anos embalados no sonho
de que o Brasil estava melhorando sem ninguém precisar fazer força prá isto, o
inevitável choque de realidade chegou; afinal, nunca se soube de algum país que
tenha passado do terceiro para o primeiro mundo através de concessão de
bolsa-família e aumento do crédito para a classe pobre. Revoltados, e sem
cultura suficiente para propor alternativas, as hordas de bárbaros invadem as
ruas. Mesmo os que se dizem “pacíficos” estão interrompendo atividades
produtivas (alguém já calculou o prejuízo que estes “passeios” estão causando
para o comércio, os mega-engarrafamentos, enfim, o ônus que quem trabalha de
verdade está sofrendo com esta papagaiada?). E, obviamente, no meio da turba
sempre aparecem os marginais que, graças à cobertura ideológica dada pelo
movimento, aproveitam para fazer o que sabem; agredir, quebrar, apedrejar,
pichar paredes...
Se
estes caras querem, realmente, mudar alguma coisa, tenho algumas dicas fáceis;
a)
Contra a Globo – é só parar de ver a novela e fazer
alguma coisa mais útil. Se não tiver mais audiência, a Globo acaba. Simples
assim;
b)
Contra a corrupção – podem começar parando de dar
propina para o guarda não multar vocês;
c)
Contra a Dilma, o Alckmin, os partidos políticos –
comecem a participar da vida política, estudem, se informem melhor, usem a
internet para fiscalizar as votações, discutam alternativas (o voto distrital,
por exemplo, sempre me pareceu interessante). Afinal, estamos em uma democracia
plena, você pode votar em quem bem entender e/ou se candidatar para qualquer
coisa. Ou será que vocês preferem a ditadura?
d)
Contra a Copa e as Olimpíadas – Ué, mas não era todo
mundo a favor? O desabafo surpreso do presidente da FIFA chegou a ser um
momento cômico (ele disse algo do tipo; “Não estou entendendo nada, afinal foi
o Brasil que pediu para sediar a Copa...”). Vocês acharam o que, que não ia ter
gastos? Que os estádios iam sair de graça? Eu, pelo menos, tenho a consciência tranqüila;
sempre fui contra. Mas acho que protestar e fazer bagunça, agora, é a pior
atitude possível; vai mostrar para o mundo que somos um povo que não é capaz de
organizar um grande evento destes. Tudo o que não precisamos é transformar a
Copa em um fracasso.
Enfim, a única
certeza que tenho é que discordo totalmente da Presidente Dilma Rousseff, que
disse que o “Brasil acordou mais forte” depois do primeiro dia de manifestações;
só consigo achar que o Brasil acordou mais bagunçado. E o povo está se
comportando da forma mais irracional possível. Enfim... ninguém me perguntou
nada, mesmo.
Recado final;
só tem um jeito de mudar um País; com trabalho e estudo. E não é de um dia para
o outro. Parar as atividades produtivas, quebrar coisas e bagunçar um
campeonato que está sendo visto pelo mundo todo não vai ajudar em nada.
domingo, 28 de abril de 2013
O Barcelona e o gerenciamento de projetos – de novo!
Em dezembro de 2011, logo após a humilhante goleada (4x0) do
Barcelona sobre o Santos de Neymar na final do mundial de clubes da FIFA,
publiquei aqui neste espaço um post com algumas considerações sobre a história
recente do clube espanhol e como um bom trabalho de gerenciamento o levou a
atingir um patamar tão elevado no futebol mundial (ver
Esta semana foi a vez do Barça levar 4x0 do Bayern de
Munique, e muita gente boa apregoar que o “ciclo de ouro” do time catalão
acabou, entre outras bobagens escritas no calor do momento.
Analisando as coisas sob o prisma do gerenciamento de
projetos, acredito que o que está acontecendo com o Barcelona é uma crise
passageira, que tem vários motivos, mas de forma alguma invalida o
prosseguimento de um modelo que está dando certo há vários anos. É claro que
alguns ajustes são necessários, mas a ideia de que “o ciclo acabou” é, no
mínimo, precipitada.
Usando minha lógica elementar de engenheiro, entendo que existem
três pontos importantes que precisam ser levados em conta neste momento;
a)
O resultado foi atípico; embora o time nunca
mais tenha alcançado o nível de 2011, quando ganhou tudo, o fato é que o
Barcelona continua um time forte e respeitável. Está batendo recorde em cima de
recorde na temporada espanhola, e está na semifinal da Champions mais uma vez.
E o jogo, em si, teve pelo menos dois gols altamente duvidosos considerados
válidos pelo juiz. E, “last but not the least”, o adversário não era exatamente
um Zé ninguém; o Bayern é um time extremamente forte, e também adotou um modelo
semelhante ao do Barcelona nos últimos anos (conforme palavras do próprio Paul
Breitner, cracaço da década de 70 e hoje manager do time alemão).
b)
Alguém já disse que a vitória é má conselheira.
Não tenho a menor dúvida que o sucesso alcançado pelo time levou o grupo a uma certa acomodação. Isto é muito próprio do ser humano, já vi acontecer com
grandes equipes, desde o Santos de Pelé; o time vai se acostumando a ganhar
tudo, e passa a achar que é só entrar em campo e fazer a mesma coisa de sempre que a
vitória virá. Só que os adversários começam a estudar a sua forma de jogar, e
acabam dificultando as coisas. Todos os grandes times que conheci passaram por
fases assim. Às vezes um “sacode” destes ajuda a despertar os leões novamente.
c)
Aqui o ponto mais sensível e importante; desde o
início do projeto, o Barça escolheu seus comandantes entre os ídolos do
passado, pessoas com história no clube. A escolha de Tito Villanova como
sucessor de Pep Guardiola teve, na minha visão, muito mais de sentimento do que
de profissionalismo. Tito parece ser um bom rapaz, trabalhador, tem uma
história de vida dramática – mas nada disto faz dele um técnico à altura de um
time deste porte. No trágico jogo contra o Bayern ele parecia um espectador
passivo e claramente intimidado (como é que um treinador vê o seu time levar um
baile daqueles e só faz uma substituiçãozinha quando já estava 3x0 e a vaca já
tinha ido pro brejo há tempos?). Em resumo, como dizia o meu avô, lobo só
respeita lobo; Tito Villanova não é o gerente ideal para este projeto. É
necessário um nome com peso. Guardiola tinha clara ascendência sobre os
jogadores, com a força de sua história no clube; Tito, seguramente, não tem
este poder. E na hora da crise isto é fundamental. É chato, triste, mas este tipo de decisão tem que ser muito mais racional do que sentimental; o Barça precisa de um técnico com mais força
e, se possível, mais identificado com a história do clube. Tito pode,
perfeitamente, ser um ótimo auxiliar para este novo gerente.
Eu sei que ninguém me perguntou nada, mas o meu palpite é este. O Barça não acabou, está apenas em um momento complicado. E dedico este post ao meu guru Don Calavera (quem frequenta o blog sabe quem é), que deve estar inconsolável, enchendo a caveira de vinho nas tabernas catalãs...Até a próxima!
quarta-feira, 10 de abril de 2013
Don Calavera ataca outra vez
Quem acompanha este blog (se é
que alguém acompanha), conhece a história de Don Calavera, meu profeta e guru
espiritual, que já foi personagem de dois posts anteriores. Só que ontem ele
resolveu aparecer completamente fora de hora. Quando dei por mim estava na mesa
da taverna, as taças de vinho na nossa frente, e ele mais agitado do que o
habitual;
-
Mira, vos, onde consigo um título de eleitor no Brasil?
-
Como assim, Don Calavera? Você não é nem brasileiro, vive nos sacaneando, e
agora quer votar aqui?
Na
pressa de falar, ele quase se engasgou com o vinho;
-
Porque no te callas? Quiero votar neste tal Pastor Feliciano. Para qualquer
cargo que ele se candidatar; deputado, senador, presidente... Feliciano es el
cara!!
Don
Calavera nunca foi exatamente um sujeito normal, mas agora acreditei que tinha
enlouquecido de vez. Tentei argumentar;
-
Vamos devagar, Don Calavera. Feliciano é um pastor radical, seguramente se
soubesse que você é um espírito desencarnado e está conversando comigo já
mandaria nós dois para a fogueira, no mínimo...
Don
Calavera quase pulou no meu pescoço;
-
Tu és um tonto, mismo! Viste o que ele disse ontem?
-
Até onde sei, ele disse que aceitava sair da comissão de direitos humanos se os
mensaleiros do PT (Genoíno e João Paulo Cunha) também abandonassem a comissão
de justiça...
-
Entonces!!! No conseguiste entender que esta es una sacada de gênio?
-
Desculpe, Don Calavera, mas achei que foi um golpe baixo...
-
Dios mio, tu és mesmo uma virgem en el cabaré... Existe algum golpe baixo na
política brasileira? Como pode se falar em golpe baixo se o nível moral é zero?
Existe alguma coisa mais baixa que zero?
-
Você quer dizer que...
-
Bueno, me voy a explicar bem devagar porque sei que tua inteligência é muy
limitada...
Realmente,
a marra dele é insuportável.
-
Mira vos; Feliciano, Genoíno, João Paulo e todos os outros pertencem a la misma
laia; a dos representantes legítimos del pueblo brasileiro. Em otras palabras;
se o Feliciano está lá, é porque recebeu os votos de um monte de gente que é
racista e homofóbica que nem ele, así como os outros são safados que
representam milhares de safados que, infelizmente, nunca tiveram a chance de
dar um grande golpe, e tem que se satisfazer fazendo “gatos” de luz, oferecendo
dinheiro para o guarda não multá-lo, falsificando recibos médicos para não
pagar impostos...
-
OK, entendo. Cada povo tem o governo que merece...
-
Fenômeno! Finalmente conseguiste entender alguna cosa...
Eu
já estava quase pedindo para sair, mas ele tinha que fechar o raciocínio;
-
Asi, mi amigo, Feliciano colocou finalmente a grande question que o povo
brasileiro terá que responder, já que es impossible sonhar com um governo
honesto, por la simples razon que ustedes acham que gente honesta é babaca e não
deve ocupar cargos eletivos. Sobram duas opções; ou um fanático religioso,
homofóbico e racista que, pelo menos, é sincero na hora de arrancar o dinheiro
alheio (pede o cartão e a senha educadamente, em nome de Deus), ou um bando de
lobos fantasiados de ovelhas “politicamente corretas”, cheios de ideologias e
discursos bonitos, mas que meteram a mão no dinheiro público como “nunca antes se
fez na história deste país” (creo que esta frase era de alguien ligado a eles,
quien mismo?).
Don
Calavera parou para tomar um gole de vinho. Estava tão frenético que nem notou
que já falava quase tudo em
português. E aí veio o golpe final;
-
E Yo hice mi escolha; Feliciano - 2014!
Nada mais lógico!
Sem
me dar tempo de dizer nada levantou da mesa apressado, tomou o último gole de
vinho já em pé e começou a desfraldar uma bandeira azul e grená;
-
Desculpe-me, mas estoy atrasado para el juego de Barça – vamos a ganar de estos
franceses ridículos, principalmente o tal Ibra, com aquele penteado de
maricón...
E
saiu entoando gritos de guerra em catalão, rumo ao Camp Nou.
Fiquei
aqui, com a conta na mão e pensando no que ele falou. E o mais triste foi ter
que admitir que, lá no fundo, o raciocínio todo é bem coerente... Quem viver, verá.
Hasta
la vista, Don Calavera!
terça-feira, 19 de março de 2013
O “CAUSO” DO JAPONÊS INCONVENIENTE
Esta quem me contou foi meu amigo
Diomedes Cesário da Silva, colega da velha guarda da engenharia básica do
CENPES (Centro de Pesquisas da Petrobras), uma das pessoas mais inteligentes
que conheço e que tem uma visão crítica e irônica do mundo corporativo com a
qual eu me identifico muito.
O “causo” aconteceu lá pelo final
dos anos 80. Estávamos no auge da “febre da qualidade total”, e este era o
assunto único nas conversas dos gerentes da época. Na Petrobras estávamos buscando todas as
padronizações e certificações possíveis, as normas ISO eram a nossa Bíblia, e Juran e
Deming os nossos profetas, os famosos CCQ (Círculos de Controle da
Qualidade) funcionavam a todo vapor, enfim, qualidade era a palavra de ordem.
E aí alguém teve a brilhante
ideia de chamar para uma visita ao CENPES um dos grandes gurus da qualidade – ninguém
menos que o japonês Kaoru Ishikawa, o homem do diagrama causa-efeito, um dos mais
conhecidos e respeitados nomes do ramo.
Pois o nosso bom Ishikawa passou
o dia todo assistindo apresentações de diversas áreas da empresa, todo mundo
fazendo questão de mostrar as suas padronizações, os seus procedimentos e aquele
papo todo. O japa assistiu a tudo calado, com aquele ar enigmático que só um
oriental consegue ter (na verdade, a gente nunca sabe se ele está profundamente
concentrado ou se está dormindo, mesmo), até que, no final, pediram a opinião
dele.
Diz o Diomedes que o cara olhou,
pensou um pouquinho, e falou algo do tipo; OK, pessoal, muito bom tudo isto,
mas...o que vocês apresentaram aqui eu já conheço, está nos livros, inclusive
nos que eu mesmo escrevi. O que eu gostaria de perguntar é; qual foi a melhora
nos resultados de vocês a partir da aplicação destas práticas?
Ainda segundo a narrativa do
Diomedes, o que se seguiu foi um silêncio constrangedor. Depois de alguns
segundos que pareceram uma eternidade, alguém conseguiu emendar algo do tipo
“estamos começando agora, ainda não foi possível aferir”, enfim, uma conversa
estilo Rolando Lero, o imortal personagem da escolinha do não menos imortal
Professor Raimundo, o grande Chico Anysio. Completando a história, diz a lenda que, durante muito tempo,
os gerentes da qualidade do CENPES se referiram ao mestre Ishikawa como “aquele
japonês inconveniente”...
Hoje, quando penso no “boom” do
gerenciamento de projetos nos últimos anos, esta historinha deliciosa me parece
mais atual do que nunca. Afinal, de uns dez anos para cá, a Petrobras passou de
meia dúzia de PMPs (eu, que me certifiquei em novembro/2001, fui um dos
pioneiros) para algumas centenas, tivemos no Brasil uma proliferação de cursos
de MBA, pós-graduação, criamos dezenas de “chapters” do PMI, e quais foram os
resultados? Projetos atrasadíssimos, orçamentos estourados, escopos mal
definidos, enfim, estamos pagando mico perante o mundo todo, tanto nas novas
refinarias como na Copa, Olimpíadas, e por aí vai.
Isto significa que esta história
de gerenciamento de projetos e qualidade total não passa de uma papagaiada,
destinada apenas a enriquecer alguns consultores? É claro que não. É provado que as boas
práticas do PMI melhoraram os resultados de milhares de projetos no mundo todo,
da mesma forma que a correta aplicação dos princípios da qualidade total
transformou o destroçado Japão do pós-guerra em uma potência mundial de
primeira linha em pouco mais de duas décadas.
Qual é o problema, então? Responder
a esta pergunta vai exigir pelo menos um post inteiro, na verdade talvez uma
tese de mestrado ou um livro. Numa visão simplista e resumida, acredito que nós, brasileiros,
continuamos os mesmos índios de tanga, querendo bugigangas, que Cabral
encontrou há cinco séculos. Damos um
valor imenso a quem é bom em fingir, enganar, falar bonito; adoramos enfeitar
nossos nomes com títulos e certificações (você sabe com quem está falando? José
Mané, PMP, IPMA, MBA, Msc, PhD e mais sei lá o quê). Só que nos sentimos
mortalmente ofendidos quando alguém cobra resultados. Isto nos diferencia profundamente dos
povos "pragmáticos", como americanos, alemães e japoneses, por exemplo. E é só ver onde eles chegaram e onde nós
estamos para ver qual das duas abordagens é melhor.
Enfim, pretendo ir mais adiante
nesta análise em um próximo post, porque este já ficou muito grande.
Até a próxima!
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013
Santa Maria e a minha dor
Confesso que só agora, um mês depois da tragédia, consegui escrever alguma coisa sobre Santa Maria.
Quem me conhece há algum tempo sabe da minha relação afetiva com esta cidade, terra da minha mãe, da casa da Vó Tina (na rua André Marques, em frente à pracinha), do Sítio do Pinhal, dos melhores momentos da minha infância. E a cidade onde, mais tarde, voltei para disputar (e ganhar) dois torneios de vôlei, o primeiro em 1970 pelo Colégio de Aplicação, e o segundo em 1973, pela equipe da Escola de Engenharia da UFRGS. Não pensem que eu fui um grande jogador, muito pelo contrário, eu nunca passei de um medíocre esforçado. No Aplicação-70 eu era um mero colaborador dos craques do time, o “Nêgo” Ciro Sirângelo, o “Gordo” Renan Oliveira, Mauro Penter, Renato Futuro e outros. Naqueles felizes tempos nem se sonhava com a neurose politicamente correta de hoje, e todo mundo tinha algum apelido depreciativo (antes que perguntem, o meu era “Caveira”). E a gente sobreviveu sem maiores traumas... Guardo com carinho esta foto, tirada pelo Roberto Giugliani, que só não foi fotógrafo profissional porque a vida o transformou em um médico dos bons. O magrelo de camiseta branca, tentando acertar a bola, sou (fui) eu. O time era comandado com mão de ferro pelo professor Jaime Werner dos Reis, o “Peixinho”, que me transmitiu lições sobre o valor da disciplina e do treinamento que utilizo até hoje nas minhas aulas e palestras.
Um pouco mais tarde, em 1973, já na escola de Engenharia, eu completava uma equipe onde brilhavam o Hugo Pinto Ribeiro, Duio Fossati, Ricardo Felizola e mais alguns. Foi esta a última vez em que estive em Santa Maria. Afinal, dois anos depois me formei engenheiro, passei no concurso para a Petrobras e vim parar no Rio de Janeiro, onde nasceram meus dois filhos e estou radicado até hoje. Não perdi contato com o pessoal de Santa Maria, encontrei em algumas ocasiões esparsas meus primos Walter, Marlene e Marta, que vivem lá até hoje, com seus filhos e netos. Mas a prometida volta foi sempre adiada...
Por coincidência, foi de Santa Maria que veio para o Rio de Janeiro um dos personagens mais importantes da história recente desta cidade; o secretário de segurança José Mariano Beltrame. Lembro da profecia da minha mãe, no dia em que ele tomou posse; “Agora o Rio vai tomar jeito. Chamaram um cara de Santa Maria...”. Na época a gente riu muito disto; eu só não esperava é que o “cara de Santa Maria” fosse tão bom. E sempre que converso com amigos e colegas sobre as melhoras evidentes da segurança na cidade nos últimos anos, nunca deixo de dizer, com orgulho; precisou chamar um cara de Santa Maria...
Mais uma; enganei vários amigos metidos a entender de futebol, perguntando qual o primeiro jogador gaúcho campeão do mundo com a seleção brasileira. E dava logo uma dica; era lateral esquerdo. “Foi o Everaldo, em 1970”, respondiam sempre. Errado, dizia eu, feliz da vida. E demonstrava meu teorema; quem era o lateral esquerdo do primeiro título do Brasil, em 1958? O grande Nilton Santos, todos sabem. E o reserva dele? Aí, normalmente, eles se atrapalhavam. E eu liquidava o jogo; era o Oreco, jogador do Corinthians, gaúcho de onde, mesmo? Santa Maria, é claro! Não chegou a jogar (afinal, ser reserva do maior jogador de defesa de todos os tempos não envergonha a biografia de ninguém), mas foi campeão do mundo. Doze anos antes do Everaldo.
Enfim, se existe um lugar que, na minha memória afetiva, sempre esteve associado à palavra “felicidade”, este lugar é Santa Maria. E o fato de não ir lá há quase quarenta anos na verdade até ajudava; afinal, as recordações traziam o gosto da juventude, e talvez fosse melhor mesmo que a cidade nunca conhecesse o sexagenário barrigudo e careca de hoje, guardando para sempre a imagem do jovem atlético e campeão.
Tudo isto acabou no trágico domingo da boate Kiss. As minhas melhores lembranças foram embora, para sempre; afinal, por mais anos de vida que Deus ainda queira me conceder, sei que nunca mais vou recordar Santa Maria com um sorriso feliz, como antes.
O genial Carlos Drummond de Andrade, no seu poema “Confidência do Itabirano”, descrevia assim a saudade de sua cidade; “Itabira é apenas uma fotografia na parede – mas como dói”. Hoje, posso dizer que Santa Maria é apenas uma imagem na tela do meu computador. Só que, pedindo desculpas ao poeta, tenho que dizer que a minha dor é muito maior. E é para sempre.
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
A VOLTA (TRIUNFAL) DE DON CALAVÊRA
Em janeiro do ano passado publiquei, neste mesmo blog, um post com as previsões para 2012, ditadas por meu guru espiritual, Don Calavêra, um nobre espanhol contemporâneo de Don Quixote e Sancho Pança (para maiores detalhes favor ver o post, no link http://www.causosdoherve.blogspot.com.br/2012/01/previsoes-mal-humoradas-para-2012.html).
Don Calavêra acertou em cheio duas de três previsões, o que é um índice muito alto para um profeta. Levando-se em conta que ele é marrento por natureza, fiquei com as piores expectativas para o nosso encontro deste ano – e elas se confirmaram.
Ele já chegou falando alto, entornando a primeira taça de vinho, e garantindo que a única previsão que errou (sobre a queda do mercado imobiliário) ainda está no prazo de validade;
- Te disse que no daria dos años para que los precios desabem... solamente pasó un año. Vai despencar, não tenha dúvida!
Tive que admitir que meu guru acertou quase tudo.
- É verdade. A Petrobras perdeu valor, e o nosso amigo Eike já não é mais nem o mais rico do Brasil. Não tenho porque duvidar dos teus dons de profeta. Pode deixar que não vou comprar apartamento, mesmo porque não posso...
- E quieres saber más? Esto es solamente la pontita del iceberg... Realmente, foi uma pena para vocês que o mundo não tenha acabado em 2012.
- A coisa vai ser tão feia assim, don Calavêra?
Eu não devia ter perguntado. Don Calavêra só ficou calado o tempo suficiente para terminar um gole de vinho, e disparou logo sua metralhadora giratória;
- Mucho peor! As obras da Copa vão atrasar mais ainda, e os custos subirão a la estratosfera! Ustedes van a pagar por estas brincadeiras até o século XXII. A classe emergente vai começar a perder o fôlego. El gobierno de los obreros vai tentar maquiar todos los índices de inflação. Los industriales van a parar de investir. Los mensaleros vão cumprir alguns dias de prisão, e logo estarán de volta, nos braços del pueblo. Ustedes não aprendem... Despues que España ganar la Copa de las Confederaciones e la Copa del Mundo, todas las ilusiones estaran acabadas.O caos é o limite...
- Bom, tentei argumentar, ainda temos o pré-sal, os grandes projetos de infraestrutura, as Olimpíadas...
Don Calavêra deu uma gargalhada tão forte que quase caiu no chão.
- Usted es impagable! Nem Chaves e Chapolim juntos conseguem ser tão engraçados! Acreditas mismo que alguma coisa vai andar neste su pais? Lembre-se que, aqui, para cada organização que quer executar um projeto, existem pelo menos trinta órgãos do governo, ONGs e outros malucos que quieren parar tudo? Primeiro serão os índios, depois os defensores da natureza, depués os tradicionalistas... Toda a obra de vocês custa mucho más caro e leva mucho más tiempo que em qualquer outro lugar...
Confesso que já estava ficando incomodado com a marra de dom Calavêra. Arrisquei uma provocação para ver se conseguia desestabilizá-lo um pouco, mas não adiantou muito;
- Do jeito que falas, parece que tua Espanha está muito melhor...
- Estamos nos recuperando! Temos milhares de años de civilização! Não puedes tentar comparar a nossa riqueza cultural com os teus emergentes endividados...
Definitivamente, não tinha mais jeito. Senti que ele ia embora, e ainda tentei uma última esperança;
- Escuta, don Calavêra, pelo menos para o meu Grêmio há alguma esperança?
A resposta dele veio com a força arrasadora de um saque do seu conterrâneo Rafael Nadal;
- Desculpa, amigo, mas agora não posso perder tempo falando de medíocres. Creo que teniemos um juego de Barcelona daqui a pouco... Ya me voy a el Camp Nou! Quando ustedes tiverem em campo quatro jugadores como Messi, Iniesta, Xavi e Fabregas me vuelvo para conversarmos sobre futbol...
Disse isto e levantou correndo, deixando, mais uma vez, a conta para mim.
Bem, estão são as previsões (péssimas, por sinal) de Don Calavêra. E o pior é que, no ano passado, ele não errou uma...
Quem viver, verá!
Hasta la vista, Don Calavêra!
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