Começo confessando que utilizei deliberadamente palavras semelhantes às do roqueiro Lobão no título de seu livro absolutamente genial (Manifesto do Nada na Terra do Nunca). E, infelizmente, a conclusão a que chego é a mesma dele; o Brasil não consegue evoluir. E este "movimento" que está em curso é mais uma prova desta triste realidade.
Contando o "causo" desde o início, tenho que confessar
que tenho um trauma com relação a manifestações de massa no Brasil desde as
“Diretas já!”, em 1984. E o meu trauma se deve ao desencanto que experimentei
naquela ocasião. Afinal, ali tínhamos (ao contrário do que acontece nas
manifestações de hoje), uma causa perfeitamente definida; queríamos,
simplesmente, escolher o Presidente da República através de voto direto,
procedimento utilizado em todos os países civilizados do mundo.
O
movimento tinha tudo para dar certo, houve comícios antológicos com a presença
de milhões de pessoas, as grandes figuras da república estavam conosco, a mídia
toda apoiava, e aí... bom, aí, em 25/04/1984, a emenda “Dante de Oliveira”, que
propunha a adoção imediata de eleições diretas para presidente, foi pura e
simplesmente derrotada na votação do Congresso Nacional. E o mais triste é que
a história terminou aí; botamos o rabo no meio das pernas e entubamos a
derrota, sem reação. Não teve um quebra-quebra, uma manifestação de revolta,
nada. A segurança do Congresso Nacional não teve trabalho nenhum. E a parte
mais triste ainda é que a grande maioria dos opositores da emenda, os que a
gente chamava de “inimigos do povo”, foram sistematicamente reeleitos desde
então e só fizeram aumentar sua influência política. O exemplo mais
significativo é o “Highlander” José Sarney, que manda até hoje neste País e
foi, seguramente, o mais firme opositor das “Diretas já!”, na época.
Desde
então me convenci que não tem jeito; por algum mecanismo que eu não consigo
entender, o brasileiro médio não quer mudanças, odeia qualquer perspectiva de
novidades, quer que as coisas continuem do jeito que estão, para sempre. Adora
reclamar, mas é incapaz de mover um dedo para mudar o “status” (mesmo que este
dedo seja o que ele usa para acionar a urna eletrônica). A melhor explicação
que encontrei veio do gênio-louco Tim Maia; “o Brasil é o único lugar do mundo
em que pobre é de direita”. Acho que é por aí.
Não
pude deixar de pensar nisto quando começaram estas novas manifestações. O
movimento é, em si, totalmente irracional; protesta-se contra a corrupção,
contra o aumento da tarifa de ônibus, contra os gastos da Copa, contra a Globo,
contra todos os partidos políticos, são xingados com igual intensidade a Dilma,
o Alckmin, o Cabral... Mas, afinal, o que estes caras querem?
Infelizmente,
minha visão é extremamente negativa. Depois de alguns anos embalados no sonho
de que o Brasil estava melhorando sem ninguém precisar fazer força prá isto, o
inevitável choque de realidade chegou; afinal, nunca se soube de algum país que
tenha passado do terceiro para o primeiro mundo através de concessão de
bolsa-família e aumento do crédito para a classe pobre. Revoltados, e sem
cultura suficiente para propor alternativas, as hordas de bárbaros invadem as
ruas. Mesmo os que se dizem “pacíficos” estão interrompendo atividades
produtivas (alguém já calculou o prejuízo que estes “passeios” estão causando
para o comércio, os mega-engarrafamentos, enfim, o ônus que quem trabalha de
verdade está sofrendo com esta papagaiada?). E, obviamente, no meio da turba
sempre aparecem os marginais que, graças à cobertura ideológica dada pelo
movimento, aproveitam para fazer o que sabem; agredir, quebrar, apedrejar,
pichar paredes...
Se
estes caras querem, realmente, mudar alguma coisa, tenho algumas dicas fáceis;
a)
Contra a Globo – é só parar de ver a novela e fazer
alguma coisa mais útil. Se não tiver mais audiência, a Globo acaba. Simples
assim;
b)
Contra a corrupção – podem começar parando de dar
propina para o guarda não multar vocês;
c)
Contra a Dilma, o Alckmin, os partidos políticos –
comecem a participar da vida política, estudem, se informem melhor, usem a
internet para fiscalizar as votações, discutam alternativas (o voto distrital,
por exemplo, sempre me pareceu interessante). Afinal, estamos em uma democracia
plena, você pode votar em quem bem entender e/ou se candidatar para qualquer
coisa. Ou será que vocês preferem a ditadura?
d)
Contra a Copa e as Olimpíadas – Ué, mas não era todo
mundo a favor? O desabafo surpreso do presidente da FIFA chegou a ser um
momento cômico (ele disse algo do tipo; “Não estou entendendo nada, afinal foi
o Brasil que pediu para sediar a Copa...”). Vocês acharam o que, que não ia ter
gastos? Que os estádios iam sair de graça? Eu, pelo menos, tenho a consciência tranqüila;
sempre fui contra. Mas acho que protestar e fazer bagunça, agora, é a pior
atitude possível; vai mostrar para o mundo que somos um povo que não é capaz de
organizar um grande evento destes. Tudo o que não precisamos é transformar a
Copa em um fracasso.
Enfim, a única
certeza que tenho é que discordo totalmente da Presidente Dilma Rousseff, que
disse que o “Brasil acordou mais forte” depois do primeiro dia de manifestações;
só consigo achar que o Brasil acordou mais bagunçado. E o povo está se
comportando da forma mais irracional possível. Enfim... ninguém me perguntou
nada, mesmo.
Recado final;
só tem um jeito de mudar um País; com trabalho e estudo. E não é de um dia para
o outro. Parar as atividades produtivas, quebrar coisas e bagunçar um
campeonato que está sendo visto pelo mundo todo não vai ajudar em nada.
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