quarta-feira, 10 de abril de 2013

Don Calavera ataca outra vez


    
Quem acompanha este blog (se é que alguém acompanha), conhece a história de Don Calavera, meu profeta e guru espiritual, que já foi personagem de dois posts anteriores. Só que ontem ele resolveu aparecer completamente fora de hora. Quando dei por mim estava na mesa da taverna, as taças de vinho na nossa frente, e ele mais agitado do que o habitual;
            - Mira, vos, onde consigo um título de eleitor no Brasil?
            - Como assim, Don Calavera? Você não é nem brasileiro, vive nos sacaneando, e agora quer votar aqui?
            Na pressa de falar, ele quase se engasgou com o vinho;
            - Porque no te callas? Quiero votar neste tal Pastor Feliciano. Para qualquer cargo que ele se candidatar; deputado, senador, presidente... Feliciano es el cara!!
            Don Calavera nunca foi exatamente um sujeito normal, mas agora acreditei que tinha enlouquecido de vez. Tentei argumentar;
            - Vamos devagar, Don Calavera. Feliciano é um pastor radical, seguramente se soubesse que você é um espírito desencarnado e está conversando comigo já mandaria nós dois para a fogueira, no mínimo...
            Don Calavera quase pulou no meu pescoço;
            - Tu és um tonto, mismo! Viste o que ele disse ontem?
            - Até onde sei, ele disse que aceitava sair da comissão de direitos humanos se os mensaleiros do PT (Genoíno e João Paulo Cunha) também abandonassem a comissão de justiça...
            - Entonces!!! No conseguiste entender que esta es una sacada de gênio?
            - Desculpe, Don Calavera, mas achei que foi um golpe baixo...
            - Dios mio, tu és mesmo uma virgem en el cabaré... Existe algum golpe baixo na política brasileira? Como pode se falar em golpe baixo se o nível moral é zero? Existe alguma coisa mais baixa que zero?
            - Você quer dizer que...
            - Bueno, me voy a explicar bem devagar porque sei que tua inteligência é muy limitada...
            Realmente, a marra dele é insuportável.
            - Mira vos; Feliciano, Genoíno, João Paulo e todos os outros pertencem a la misma laia; a dos representantes legítimos del pueblo brasileiro. Em otras palabras; se o Feliciano está lá, é porque recebeu os votos de um monte de gente que é racista e homofóbica que nem ele, así como os outros são safados que representam milhares de safados que, infelizmente, nunca tiveram a chance de dar um grande golpe, e tem que se satisfazer fazendo “gatos” de luz, oferecendo dinheiro para o guarda não multá-lo, falsificando recibos médicos para não pagar impostos...
            - OK, entendo. Cada povo tem o governo que merece...
            - Fenômeno! Finalmente conseguiste entender alguna cosa...
            Eu já estava quase pedindo para sair, mas ele tinha que fechar o raciocínio;
            - Asi, mi amigo, Feliciano colocou finalmente a grande question que o povo brasileiro terá que responder, já que es impossible sonhar com um governo honesto, por la simples razon que ustedes acham que gente honesta é babaca e não deve ocupar cargos eletivos. Sobram duas opções; ou um fanático religioso, homofóbico e racista que, pelo menos, é sincero na hora de arrancar o dinheiro alheio (pede o cartão e a senha educadamente, em nome de Deus), ou um bando de lobos fantasiados de ovelhas “politicamente corretas”, cheios de ideologias e discursos bonitos, mas que meteram a mão no dinheiro público como “nunca antes se fez na história deste país” (creo que esta frase era de alguien ligado a eles, quien mismo?).
            Don Calavera parou para tomar um gole de vinho. Estava tão frenético que nem notou que já falava quase tudo em português. E aí veio o golpe final;
            - E Yo hice mi escolha; Feliciano - 2014!  Nada mais lógico!
            Sem me dar tempo de dizer nada levantou da mesa apressado, tomou o último gole de vinho já em pé e começou a desfraldar uma bandeira azul e grená;
            - Desculpe-me, mas estoy atrasado para el juego de Barça – vamos a ganar de estos franceses ridículos, principalmente o tal Ibra, com aquele penteado de maricón...
            E saiu entoando gritos de guerra em catalão, rumo ao Camp Nou.
            Fiquei aqui, com a conta na mão e pensando no que ele falou. E o mais triste foi ter que admitir que, lá no fundo, o raciocínio todo é bem coerente... Quem viver, verá.
            Hasta la vista, Don Calavera!

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