quarta-feira, 7 de junho de 2017

A GESTÃO DE MUDANÇAS NA FAMÍLIA REAL BRITÂNICA; UM “CASE” DE SUCESSO

Publiquei um artigo no mês passado sobre a gestão de pessoas (ver http://causosdoherve.blogspot.com.br/2017/05/a-terceira-onda-do-gerenciamento-de.html ). E prometi novos artigos falando sobre três itens que considero fundamentais neste assunto; gestão do conhecimento, gestão de mudanças e gestão de talentos. Resolvi começar pela gestão de mudanças, que é o item que me parece ter maior visibilidade neste momento conturbado do planeta.
Muito se fala sobre as mudanças que caracterizaram os últimos quarenta anos, quando o avanço tecnológico nos proporcionou situações que não eram nem sonhadas pelas gerações anteriores (lembrando sempre que eu tenho mais de sessenta anos e sou testemunha viva destas mudanças incríveis). Só que, além da tecnologia, ocorreram mudanças de pensamento e de atitude que também foram extremamente significativas. E o causo que vou contar agora ilustra muito bem a força dos novos paradigmas comportamentais.
Uma das grandes viradas que presenciei foi a do comportamento feminino. Sim, eu sou do tempo em que as mulheres casavam virgens, casamento era para sempre e a maior honra que uma mulher honesta poderia aspirar era o titulo de “Rainha do Lar”, com direito ao avental todo sujo de ovo, da melosa canção. Lá pelos anos 1960 as coisas começaram a mudar. Não tenho conhecimento suficiente de sociologia ou coisa semelhante para explicar o fenômeno com clareza, mas o fato é que vi acontecer. E posso garantir que foi impressionante verificar que, em pouco mais de trinta anos, a sociedade mudou o suficiente para aceitar um novo comportamento sexual das mulheres, que trouxe a reboque toda uma nova atitude delas diante da vida profissional e pessoal. O tal do empoderamento (eita palavrinha horrorosa!) funcionou e, num período muito curto, a sociedade experimentou uma mudança comportamental sem paralelo na história. E que, em minha opinião, foi benéfica para todos, homens e mulheres, embora ainda existam bolsões de resistência (machistas, religiosos fanáticos e outros. Mas que são hoje uma minoria. É preciso entender que, em termos históricos, meio século é muito pouco tempo, tem gente que não consegue se adaptar tão rapidamente).
Um exemplo bastante ilustrativo disto é o dos dois casamentos mais importantes realizados na atual família real britânica. Em 1981, o Príncipe Charles, herdeiro do trono, se uniu a Lady Diana num casamento de conveniência exatamente idêntico aos da era vitoriana; ela era de família nobre, como tinha que ser, e, entre outras situações anacrônicas e vexatórias, a futura princesa foi submetida a um exame ginecológico para confirmar a sua virgindade. Todos os casamentos reais tinham funcionado deste jeito, desde sempre; só que, fora dos muros do palácio, o mundo não era mais assim. O resultado foi desastroso; confrontados com a nova realidade, Charles e Lady Di protagonizaram um dramalhão que acabou na primeira separação na família real, vexames e traições para todos os lados e, no fim das contas, a trágica morte da princesa, em agosto de 1995.
A reação da família real diante da morte de Lady Di ainda seguiu os padrões tradicionais; ela não tinha direito a um funeral real, afinal era apenas a ex-mulher do príncipe herdeiro. Foi só quando este gesto gerou uma revolta popular quase derrubou uma das monarquias mais tradicionais do mundo, que a realeza britânica começou a entender que as coisas não eram mais como antigamente.
A Rainha Elizabeth foi perspicaz o suficiente para entender a mudança, deu um funeral real a Diana, e, alguns anos depois, teve a chance de conduzir um casamento totalmente diferente para o seu neto William.
William e Kate, uma plebeia, viveram uma história de amor igual à dos jovens de hoje; se conheceram na universidade, seguramente tiveram relações sexuais antes de casar (e muito provavelmente com outros parceiros, antes), enfim, um romance normal no século XXI. Sem neuroses. E o povo aplaudiu.
Talvez a imagem mais simbólica da evolução dos costumes foi a presença, na cerimônia, do grande ídolo do rock Elton John acompanhado de seu companheiro. Em tempos muito pouco distantes, posso assegurar que um casal assumidamente homossexual jamais passaria pela porta da abadia de Westminster, mas o recado do século XXI foi claro o suficiente para ser entendido por toda a família real; o preconceito acabou. Ninguém mais tem o direito de marginalizar alguém por causa de suas preferências sexuais. E Elton John era o melhor amigo da falecida mãe do noivo, portanto seu lugar era na igreja, entrando pela porta da frente, com direito a tapete vermelho. Simples assim.
No fundo, este é um grande “case” de gestão de mudanças bem sucedida. Como em um moderno conto de fadas, a Rainha teve a sabedoria necessária para entender que o mundo não era mais o que ela conhecera quando jovem, aceitou a mudança, e voltou a gozar de grande popularidade junto aos súditos. E demonstrou que mesmo uma instituição milenar como a monarquia britânica tem que entender que há um momento em que a mudança é necessária e não adianta se agarrar à falsa segurança “daquilo que funcionou até hoje”.
Antes de encerrar este artigo que já ficou muito longo, um recado para nós, brasileiros; será que estamos sabendo lidar com esta fantástica possibilidade de mudança que a “Lavajato” está nos proporcionando? Temos, pela primeira vez na história, a possibilidade de mudar nossos conceitos e paradigmas, acabando com a “velha sociedade”, que se reflete na “velha política”. E por isto vejo com muita tristeza que boa parte das pessoas ainda se agarra a teorias conspiratórias, pede a volta do Lula, a volta dos militares, enfim, deve ter gente sonhando até com a volta das capitanias hereditárias. Pessoal; o velho e bom Charles Darwin já nos ensinou que a sobrevivência de uma espécie não depende de sua força, mas sim de sua capacidade de adaptação a mudanças. Os ingleses mostraram o caminho. Cabe a nós aprender a lição. “O passado nunca mais”, cantava o saudoso Belchior, poeta genial que nos deixou recentemente. Eu concordo com ele. Gestão de mudanças já!
Pensem nisto. Até a próxima.