segunda-feira, 14 de abril de 2014

Da série "meus pitacos no linkedin" - o causo da Curva S

Mais uma vez me meti nas intermináveis (e saudáveis) discussões no grupo de gerenciamento de projetos do LinkedIn.
O assunto era a importância da curva S e do gráfico de Gantt para o acompanhamento do projeto. A discussão estava, mais uma vez, dividida entre os fãs das ferramentas e os "cascudos", que acham que gerenciar é muito mais que isto. Para não deixar dúvidas sobre o meu lado na briga, entrei logo com o pé por cima da bola, e tasquei lá;
- Esta discussão toda me lembrou um “causo” que aconteceu comigo há uns dez anos, mais ou menos. Um aluno metido a espertinho me fez a seguinte pergunta;
- “Mestre, na Petrobras vocês gerenciam projetos com MSProject?”
Eu lembro que estava muito mal humorado neste dia (acho que, na véspera, o Grêmio tinha perdido um jogo importante), e respondi na lata;
- “Não, a gente usa o cérebro!”.
É claro que imediatamente pedi desculpas pela grossura, mas o fato é que esta confusão que algumas pessoas fazem entre “ferramentas” e “gerenciamento de projetos” tem o dom de despertar o pior do meu mau humor.
Vemos isto todo dia até aqui no LinkedIn; poucas pessoas se habilitam a participar de discussões realmente relevantes, mas é só falar em “template” que aparece logo um monte de interessados. Infelizmente, tem muita gente boa que acredita que para ser um bom gerente de projetos o sujeito só precisa decorar o PMBoK e conhecer um monte de templates e aplicativos.
Falei tudo isto para dizer que o grande problema é achar que a curva S e o gráfico de Gantt vão resolver o seu problema de planejamento e monitoração do projeto. Sem chegar ao radicalismo do Finocchio (prá quem não conhece; Prof. José Finocchio, da FGV, uma das maiores autoridades brasileiras na área de GP), que diz que “são ilusões”, eu diria que são “imagens” que, de alguma forma, te ajudam a ter uma ideia de como está o projeto; mas a vida real, sem dúvida, é muito mais que isto.
Finalizando, e falando em futebol, como de hábito, eu diria que a curva S é como uma imagem do jogo na TV; por mais que a técnica evolua, e hoje a gente tenha HD, 3D, Realidade Virtual e o escambau, a verdadeira realidade do jogo só sabe quem está dentro do campo, sentindo a chuva, o sol, o vento, a grama, a batida da bola, a pressão da torcida, etc... Não existe ferramenta, nem template, nem software que passe isto para o espectador; então o jeito é mostrar as imagens.
Resumindo, ferramentas servem para te ajudar; mas quem ganha ou perde o jogo é quem está dentro do campo. E é aí que a vida começa a ficar complicada...
Abraços e sucesso para todos.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

MANIFESTO DOS GERENTES DE PROJETOS DO BRASIL

Podemos dizer, sem medo de errar, que nenhuma área de conhecimento cresceu tanto no Brasil no século XXI quanto a de gerenciamento de projetos. Qualquer que seja o critério de medição (número de profissionais certificados, cursos de MBA, chapters do PMI, etc...), podemos ver que houve uma verdadeira explosão entre 2001 e a data atual. E, no entanto, qual foi o resultado prático disto? Nossos projetos estão tendo sucesso? Os cronogramas, escopos e orçamentos estão sendo cumpridos à risca? Acho que a resposta óbvia é NÃO, assim, em letras maiúsculas.
Agora tenho a impressão que chegamos ao fundo do poço; o Comitê Olímpico Internacional nomeou uma espécie de interventor estrangeiro para garantir que os projetos da Rio-2016 sejam devidamente monitorados e controlados.
Não sei se os colegas entenderam a gravidade da situação; na prática, isto significa que eles entenderam que não existe, no Brasil, gente capacitada para exercer a função. Tiveram motivos para isto? Não podemos dizer que não. É só olhar a vergonha que estamos passando com os projetos dos estádios, dos aeroportos, das refinarias, enfim, parece que nada funciona no Brasil. Assim, a última coisa que precisamos, neste momento, é partir para a xenofobia histérica e dizer que nós é que estamos certos e que eles não entendem o Brasil. Quando o secretário da FIFA disse, há mais de um ano atrás, que estávamos merecendo um “kick in the ass” ele estava prá lá de certo. O tempo é o senhor da razão.
Assim sendo, acho que está na hora de nós, que militamos na área de gerenciamento de projetos, tomarmos uma atitude séria. Não, nem pensem que vou sugerir passeatas e quebra-quebra, não é a nossa especialidade. Acho que temos inteligência e capacidade para propor uma atitude muito mais construtiva que isto. A ideia seria tentar divulgar, em todos os meios de comunicação possíveis (redes sociais, blogs, portais, jornais, etc...), um manifesto de poucas linhas, cujo texto básico seria algo do tipo;

“Nós, profissionais brasileiros que trabalhamos na área de gerenciamento de projetos, temos certeza que existe no País conhecimento e capacidade mais do que suficiente para fazer com que os nossos projetos tenham um desempenho muito melhor que o que temos hoje. Neste momento a imagem do Brasil nesta área é a pior possível, e entendemos que isto atinge a todos nós, independente de simpatias partidárias ou ideológicas; trata-se de defender os interesses da nação brasileira, seja qual for a agremiação política que ocupe o poder executivo neste momento.
A proposta que temos é simples, e obedece aos princípios mais básicos de gerenciamento de projetos. Usaríamos a Olimpíada-2016 como projeto-teste; depois, em caso de sucesso, a proposta seria estendida a outros grandes projetos. Os pontos básicos são;
a) Que sejam disponibilizadas, em um site da internet com livre acesso, os seguintes documentos referentes aos diversos projetos que integram o mega-projeto Olimpíada-2016;
- Definição do escopo e entregas principais
- Cronograma detalhado;
- Custo previsto e curvas de desembolso;
- Matriz de responsabilidades (quem é o responsável por cada etapa, o que depende da área pública e o que depende da empreiteira, etc...);
- Principais riscos identificados.
b) Que estas informações sejam atualizadas com uma periodicidade nunca superior a dois meses.
c) Que todas as mudanças significativas do projeto sejam acompanhadas de um relatório que as justifique (informando ainda quem propôs, quem aprovou, etc...).”

Pessoal; qualquer um que conheça um pouquinho que seja de gerenciamento de projetos sabe que estas são informações básicas, sem as quais ninguém consegue planejar, executar e controlar um projeto. E entendo que o acesso a estas informações é um direito mínimo de quem trabalha e paga seus impostos. Eu procurei isto em diversos lugares e não achei, e tenho razões sérias para acreditar que não estejam disponíveis; se não fosse assim o COI não teria tomado atitude tão radical.