Em dezembro de 2011, logo após a humilhante goleada (4x0) do
Barcelona sobre o Santos de Neymar na final do mundial de clubes da FIFA,
publiquei aqui neste espaço um post com algumas considerações sobre a história
recente do clube espanhol e como um bom trabalho de gerenciamento o levou a
atingir um patamar tão elevado no futebol mundial (ver
Esta semana foi a vez do Barça levar 4x0 do Bayern de
Munique, e muita gente boa apregoar que o “ciclo de ouro” do time catalão
acabou, entre outras bobagens escritas no calor do momento.
Analisando as coisas sob o prisma do gerenciamento de
projetos, acredito que o que está acontecendo com o Barcelona é uma crise
passageira, que tem vários motivos, mas de forma alguma invalida o
prosseguimento de um modelo que está dando certo há vários anos. É claro que
alguns ajustes são necessários, mas a ideia de que “o ciclo acabou” é, no
mínimo, precipitada.
Usando minha lógica elementar de engenheiro, entendo que existem
três pontos importantes que precisam ser levados em conta neste momento;
a)
O resultado foi atípico; embora o time nunca
mais tenha alcançado o nível de 2011, quando ganhou tudo, o fato é que o
Barcelona continua um time forte e respeitável. Está batendo recorde em cima de
recorde na temporada espanhola, e está na semifinal da Champions mais uma vez.
E o jogo, em si, teve pelo menos dois gols altamente duvidosos considerados
válidos pelo juiz. E, “last but not the least”, o adversário não era exatamente
um Zé ninguém; o Bayern é um time extremamente forte, e também adotou um modelo
semelhante ao do Barcelona nos últimos anos (conforme palavras do próprio Paul
Breitner, cracaço da década de 70 e hoje manager do time alemão).
b)
Alguém já disse que a vitória é má conselheira.
Não tenho a menor dúvida que o sucesso alcançado pelo time levou o grupo a uma certa acomodação. Isto é muito próprio do ser humano, já vi acontecer com
grandes equipes, desde o Santos de Pelé; o time vai se acostumando a ganhar
tudo, e passa a achar que é só entrar em campo e fazer a mesma coisa de sempre que a
vitória virá. Só que os adversários começam a estudar a sua forma de jogar, e
acabam dificultando as coisas. Todos os grandes times que conheci passaram por
fases assim. Às vezes um “sacode” destes ajuda a despertar os leões novamente.
c)
Aqui o ponto mais sensível e importante; desde o
início do projeto, o Barça escolheu seus comandantes entre os ídolos do
passado, pessoas com história no clube. A escolha de Tito Villanova como
sucessor de Pep Guardiola teve, na minha visão, muito mais de sentimento do que
de profissionalismo. Tito parece ser um bom rapaz, trabalhador, tem uma
história de vida dramática – mas nada disto faz dele um técnico à altura de um
time deste porte. No trágico jogo contra o Bayern ele parecia um espectador
passivo e claramente intimidado (como é que um treinador vê o seu time levar um
baile daqueles e só faz uma substituiçãozinha quando já estava 3x0 e a vaca já
tinha ido pro brejo há tempos?). Em resumo, como dizia o meu avô, lobo só
respeita lobo; Tito Villanova não é o gerente ideal para este projeto. É
necessário um nome com peso. Guardiola tinha clara ascendência sobre os
jogadores, com a força de sua história no clube; Tito, seguramente, não tem
este poder. E na hora da crise isto é fundamental. É chato, triste, mas este tipo de decisão tem que ser muito mais racional do que sentimental; o Barça precisa de um técnico com mais força
e, se possível, mais identificado com a história do clube. Tito pode,
perfeitamente, ser um ótimo auxiliar para este novo gerente.
Eu sei que ninguém me perguntou nada, mas o meu palpite é este. O Barça não acabou, está apenas em um momento complicado. E dedico este post ao meu guru Don Calavera (quem frequenta o blog sabe quem é), que deve estar inconsolável, enchendo a caveira de vinho nas tabernas catalãs...Até a próxima!
Nenhum comentário:
Postar um comentário