terça-feira, 12 de dezembro de 2017

O discurso do Tiririca, a preguiça de Macunaíma e a praga da teoria conspiratória; um retrato triste do Brasil

O título longo deste artigo procura apresentar uma praga tipicamente brasileira; a conclusão precipitada, por falta de vontade de buscar a informação correta. Mesmo num mundo que te possibilita acessar toda a informação necessária em um piscar de olhos.
Recapitulando a história, o deputado Tiririca (sei que dito assim parece até piada – e, de certa forma, é mesmo), resolveu fazer seu primeiro e último discurso na Câmara. O fato de um representante do povo fazer seu primeiro pronunciamento público quase sete anos após o início do mandato já é uma aberração. Mas tudo bem, seus eleitores estavam satisfeitos; afinal, mesmo sem ter feito qualquer discurso durante todo o seu primeiro mandato, Tiririca teve sua reeleição referendada por mais de um milhão de votos.
Mesmo diante de suas reconhecidas limitações ao lidar com o idioma, Tiririca não fez feio; seu discurso passou uma emoção prá lá de convincente, a imagem de um homem humilde e honesto estarrecido com o que assistiu ao longo destes anos todos, e dizendo adeus sem muita saudade à vida pública.
Entre os comentários de primeira hora, a grande maioria foi favorável ao palhaço (estou me referindo à profissão dele). Só que logo em seguida entrou em cena o grande representante de tudo o que temos de pior no Brasil; Macunaíma, o herói sem caráter.
Criado pelo escritor Mário de Andrade em 1928, Macunaíma seria o anti-herói brasileiro, caracterizado pela falta de caráter e uma preguiça endêmica (existem, é claro, diversas interpretações sobre o tema, mas não é intenção minha discutir isto). Infelizmente hoje, quase cem anos depois, ainda esbarramos com “Macunaímas” por todo o País.
O “mau-caratismo” macunaímico inventou que Tiririca, na verdade, estava servindo a outros interesses; sua renúncia favoreceria o suplente, ninguém menos que José Genoíno, uma das mais representativas estrelas decadentes do velho PT de guerra. Complementando a dupla de “qualidades” do herói, a preguiça fez com que ninguém se desse ao trabalho de verificar se a informação procedia.
O resultado foi uma enxurrada de xingamentos e grosserias para cima do pobre Tiririca. O ódio cego onipresente nas redes antissociais do País que mais mata gente no mundo (impossível dissociar uma coisa da outra) explodiu. E só depois de algum tempo alguém se deu ao trabalho de esclarecer; Tiririca não renunciou, apenas disse que não vai mais se candidatar, José Genoíno não era o suplente dele, enfim, como na velha anedota, não me chamo Manuel, não moro em Niterói, não sou casado...
O episódio ilustra com muita propriedade alguns aspectos muito tristes do nosso Brasil. O primeiro é a facilidade com que as pessoas estão dispostas a tomar posições exaltadas antes mesmo de conferir se a informação é verdadeira; o segundo é a nossa crença monolítica de que ninguém tem caráter, o que viabiliza as mais absurdas teorias conspiratórias – talvez a mais célebre seja a da “entrega” da final da Copa do Mundo de 1998 para os franceses. Provavelmente você tem vários amigos que acreditam piamente que um grupo de jogadores profissionais de alto nível seria capaz de entregar uma final de Copa do Mundo por dinheiro. E não adianta citar que no time jogavam, entre outros, Dunga, Tafarel, César Sampaio, Cafú, Leonardo e outros cidadãos acima de qualquer suspeita. Macunaíma não tem caráter, e sempre prefere acreditar que os outros são iguais a ele.
O resultado de tudo isto é triste. Mas, conforme eu digo sempre, o diagnóstico é o primeiro passo para a cura. O Brasil tem jeito, só precisa começar a aposentar a preguiça e o mau caráter de Macunaíma. Uma prescrição simples para começar a eliminar o mal é a seguinte; na próxima vez em que pensar em falar mal de alguém, seja na Internet ou em volta da máquina de café da empresa, procure primeiro apurar os fatos e seja ponderado. Não parta do princípio que todo o brasileiro é um filho da p(*). Afinal, sempre é bom lembrar que o mundo é feito de espelhos...
Até a próxima.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

QUEM DÁ CARRINHO “POR TRAZ” COMETE FALTA VIOLENTA CONTRA O IDIOMA, E MERECE CARTÃO VERMELHO

Uma das coisas que tenho feito ultimamente é preparar pessoas para fazer apresentações públicas, seja uma palestra ou apenas um relatório em uma reunião gerencial. Independente da situação, o primeiro ponto que sempre ressalto é; não cometa erros básicos de português.
Vejam bem, não estou falando de mistérios quase insondáveis como os que cercam o “à” craseado. Costumo brincar que para a minha cabeça de engenheiro a crase no a e a física quântica têm mais ou menos o mesmo nível de dificuldade. Também não é preciso saber a diferença entre um ditongo crescente e um tritongo, para este nível de dificuldade existem especialistas como o meu conterrâneo Sérgio Nogueira, craque com as palavras e com a bola de basquete, nos meus longínquos tempos de frequentador do Grêmio Náutico União, de Porto Alegre.
Estou falando de erros básicos, aqueles que saltam aos olhos do espectador e que podem reduzir ao ridículo todo um trabalho cuidadosamente elaborado.
Colhendo material para escrever este artigo, deparei com três casos na semana passada que, pelo nível das pessoas envolvidas, me chamou a atenção. Obviamente, por questões éticas, me reservo o direito de contar os milagres sem falar o nome dos santos, conforme dizia minha querida avó lá de Santa Maria.
O primeiro, citado no titulo, encontrei aqui mesmo no Linkedin. E olha que a frase veio assinada por um cara que não é pouca coisa; tem milhares de seguidores, é consultor, coach de carreira e tem mais um monte de titulações em inglês que eu nem faço ideia do que sejam. No meio de um texto, ele colocou esta pérola; “se o seu trabalho não lhe trás felicidade, mude!”. Quem mudou de artigo fui eu, na mesma hora. Afinal, quem traz as coisas é o verbo trazer, que é escrito com “z”. A palavra “trás” refere-se ao oposto da frente; todos os fãs de futebol sabem que carrinho por trás é uma falta desleal.
Mal tinha me refeito desta e vi, mais uma vez aqui no Linkedin, um interessante quadrinho sobre mudanças. Como dou aula de gestão de mudanças, resolvi analisar as propostas. Lá pelas tantas leio que não é o Uber que está matando com os táxis convencionais; foi o “mal serviço” dos táxis que proporcionou a abertura necessária para a entrada do aplicativo. Concordo 100% com o raciocínio, mas o serviço não é “mal”, é “mau” (que é o contrário de bom). Não me vejam como um velho ranzinza e mal humorado (o contrário de bem humorado), mas um erro destes num bom texto (e não num mau texto) deixa qualquer um se sentindo mal (porque estava se sentindo bem). E nunca pense que vai morrer de um mau súbito (isto só aconteceria se um sujeito malvado saísse de trás da árvore e te desse um tiro). Enfim, dá para brincar com estas palavras um tempão, só não pode errar tão feio assim em um artigo que se coloca para a leitura de um monte de gente.
Depois desta desisti do Linkedin, e estava no inocente Facebook quando fui atropelado por mais um erro absurdo. Faço parte de um grupo cujos membros são professores de algumas renomadas instituições, e onde trocamos experiências. Um deles contou sobre uma mal sucedida viagem para dar aula, e, nos comentários, alguém escreveu; “e o valor da hora aula não é reajustado a tempos”... Pessoal; este “a” deve ser escrito “há”, porque vem do verbo haver. Se tiver alguma dúvida, consulte a obra de Renato Russo; uma das suas mais belas canções chama-se exatamente “Há tempos”.
Resumindo; em três textos de pessoas supostamente com um alto nível de conhecimento, encontrei três erros grosseiros de português, coisa suficiente para desmoralizar qualquer apresentação. Mas tudo bem, você acha que isto é bobagem, coisa de velho chato, enfim, um comentário tipo assim “nada haver” (que muita gente escreve deste jeito. Pessoal, o certo é nada a ver. O pobre do verbo haver, já tão sofrido, não tem nada a ver com isto).
Enfim, amigo, se você é do time que acha que isto tudo são apenas detalhes, fecho o texto citando a velha dupla Roberto e Erasmo Carlos, nos seus bons tempos; “detalhes tão pequenos de nós dois, são coisas muito grandes prá esquecer, e a toda hora vão estar presentes, você vai ver”.
Até a próxima.
Observação; se você gosta destes meus causos, saiba que alguns neles foram reunidos no livro “Surfando a terceira onda em gerenciamento de projetos – um estudo de “causos” sobre gestão de pessoas e resultados”, já disponível no site da Editora Brasport, ver
Também tenho outros causos no meu blog, ver

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

A PRAGA DA TEORIA CONSPIRATÓRIA E SEUS PREJUÍZOS PARA O BRASIL

Pessoal, lá vou eu falar de futebol. De novo. Mas meu objetivo aqui é ressaltar é um fator cultural que, na minha visão, prejudica o Brasil em todas as áreas; a nossa obsessão por teorias conspiratórias.
Gremista de fé que sou, perdi ontem 90 minutos desta reencarnação assistindo ao jogo do meu time contra o Bahia. Para quem não sabe, o Grêmio era, até este jogo, o mais próximo perseguidor do líder Corinthians, e, provavelmente, o time com mais condições de tirar o título deste ano dos corintianos.
Pois ocorreu que o Grêmio perdeu por 1x0, graças a um pênalti controverso marcado pelo árbitro no último minuto do jogo.
Na internet hoje, pelo menos 90% (a estatística é minha) dos “internautas” que comentam nos principais sites de esporte falam, com absoluta certeza, que o árbitro faz parte da “máfia do apito amigo”, destinada a dar o título ao Corinthians.
Pessoal; sou torcedor fanático do Grêmio, mas este “fanatismo” não é capaz de cegar minha capacidade de raciocínio na hora de ver e entender um jogo de futebol. Partindo-se do princípio que havia mesmo má intenção por parte do árbitro, cabem algumas perguntas;
1) Porque ele esperou o último minuto do jogo para marcar o pênalti? Houve lances de choque na área do Grêmio muito antes disto. Se ele quisesse...
2) Na verdade, o lance só aconteceu porque o time do Grêmio perdeu uma bola boba no meio do campo nos últimos segundos da partida. Se alguém tivesse dado um bico para a lateral o jogo ia acabar ali mesmo. O juiz sabia que isto ia acontecer?
3) Na metade do segundo tempo o Grêmio chutou uma bola na trave do Bahia, em um lance totalmente normal. Ele iria anular o gol?
4) Pelo menos duas vezes durante o jogo Jael, o centroavante neandertal escalado pelo técnico do Grêmio, deixou acintosamente o cotovelo na cara dos adversários. Se o objetivo do juiz era prejudicar o Grêmio, porque não aproveitou para expulsá-lo? (Tudo bem que a diferença de produtividade entre o Jael e um cone é discutível, mas isto é apenas piadinha irônica de um torcedor irritado com a derrota).
Resumindo, o que é preciso entender é que o Grêmio não jogou nada, foi mal escalado e fez um jogo parelho com um dos piores times do campeonato. Jogos parelhos são decididos em detalhes. E um lance duvidoso na área, no finalzinho do jogo, pode ser interpretado pelo juiz de qualquer jeito. Basta dizer que até agora, duzentos “replays” depois, ainda não há consenso entre os comentaristas da TV.
O grande problema é que nós, brasileiros, levamos estas teorias conspiratórias para todas as áreas, por mais estapafúrdias que sejam. No futebol, a mais famosa envolve a suposta “entrega” da final da Copa de 98 para os franceses. Mais uma vez; um simples raciocínio lógico nos diz que nenhum jogador do mundo entregaria uma final de Copa, por dinheiro algum. E no grupo existiam jogadores como Dunga, Leonardo, Cafú, César Sampaio (só para citar alguns), todos cidadãos acima de qualquer suspeita. Só que o imaginário popular é tão forte que até pessoas que nem gostam de futebol “sabem” que aquele jogo foi entregue. Uma vez uma aluna chegou a discutir comigo em sala de aula porque dei este exemplo. Ela me olhou como se eu fosse o maior otário do mundo e despejou; “Ora, todo mundo sabe que este jogo foi comprado!”. E quando eu citei os nomes dos jogadores, ela me fulminou de vez; “eu não entendo nada de futebol, não adianta vir com esta conversa. Este jogo foi comprado, eu sei e todo mundo sabe!”. O jeito foi engolir em seco e prosseguir a aula... Afinal, tentar argumentar com pessoas que têm “certezas pétreas” pode ser perigoso.
Enfim, este é um problema que acontece todas as vezes que se tentar discutir seriamente qualquer coisa no Brasil. Logo vem alguém que “garante” que o Sérgio Moro foi treinado pelo FBI para acabar com a economia brasileira, que o resultado da urna eletrônica é manipulado pela rede Globo, que os incas venusianos já estão na Terra e o Trump é um deles, etc...
Não vou tentar entender este fenômeno, mas o fato é que isto atrapalha o desenvolvimento do Brasil. Assim como atribuir a derrota ao juiz ajuda a mascarar os problemas verdadeiros que o time do Grêmio vem enfrentando nos últimos jogos, depois de ter jogado o melhor futebol do Brasil durante um bom tempo. Na vida real, temos um tempo de mudanças radicais, onde “certezas pétreas” são um obstáculo quase intransponível para o progresso.
Fechando com poesia, fico com as palavras sábias de Caetano Veloso; “ou feia ou bonita, ninguém acredita, na vida real”. É isto aí. Enquanto a gente preferir viver na teoria conspiratória, a vida real só vai piorar.
Até a próxima.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Desconstruindo Maquiavel - uma velha história oriental (falsa) sobre chefes e líderes

Um dos meus passatempos de aposentado é inventar histórias e dizer que são fábulas orientais milenares, para ver se obtenho alguma credibilidade. Coisas de um velho meio doido e, no momento, profundamente mal humorado com a eliminação do Grêmio na Copa do Brasil. Meu personagem preferido é o mestre Bahgdavi Tunda, um homem santo, sábio, mas que não foi dotado da infinita paciência dos mestres orientais – na verdade, é capaz de respostas bem malcriadas quando está de mau humor, principalmente quando alguém pergunta sobre a origem de seu santo nome.
Apresentado o personagem, vamos à historinha.
Bahgdavi Tunda, o Mestre, estava bastante aborrecido com um de seus discípulos, que resolveu se apaixonar pelas ideias de Maquiavel. E um dia perdeu definitivamente a paciência quando o discípulo interrompeu uma de suas aulas sobre liderança e motivação para dizer que “Para um líder, é melhor ser temido do que amado, porque quem te ama pode te trair, mas quem te teme nunca vai te trair”. Reconhecendo a frase do Príncipe, Bahgdavi Tunda deu uma resposta que até hoje é lembrada;
- “Gafanhoto, meu filho, vou te ensinar alguma coisa sobre liderança, traição, medo, respeito e, principalmente, obtenção de resultados.
Basicamente, existem duas formas de alguém exercer a autoridade sobre um grupo; vou chama-los de ‘chefe’ e ‘líder’.
O chefe é aquele que não chegou onde está por mérito próprio, e sabe muito bem disto. Por isto sua maior preocupação na vida é manter-se no cargo. Por conta desta fragilidade, usa o poder como arma, e intimida a equipe. Ele dá ordens, não aceita sugestões nem discordâncias. A equipe o obedece, é claro; mas as tarefas são cumpridas com choro e ranger de dentes, e o resultado final sempre é ruim.
O líder é forte; sabe que alcançou o lugar onde está por competência e confia que seu trabalho pode leva-lo ainda mais longe. Por isto, quando a missão lhe é dada, procura explicar para os seus subordinados o que deve ser feito, discute com eles a melhor forma de executar as tarefas e acompanha atentamente o desenvolvimento do trabalho, preocupando-se com o desempenho de cada um e estando sempre pronto a apoiar os que fraquejam e elogiar os que atingem os objetivos, tudo isto sem perder o bom humor, muito menos a autoridade. A equipe trabalha motivada, e o resultado costuma ser muito bom.
Assim, gafanhoto, sua pequena anta, diga para o seu ridículo ‘Príncipe’ que as palavras dele se aplicam aos maus chefes; se o maior objetivo de sua vida medíocre é agarrar-se ao cargo que ocupa, tudo bem, faça tudo para ser temido e odiado. Mas nunca esqueça que, no dia em que cair, vai cair de quatro. (Nota do autor; conhecendo o temperamento de Bhagdavi Tunda – afinal, ele é um personagem criado por mim - tenho certeza que neste momento ele teve alguns pensamentos profanos e se sentiu tentado a levar adiante a digressão sobre o que acontece quando um cara odiado por todos cai de quatro. Felizmente ele se controlou a tempo e concluiu o raciocínio brilhante). Agora, se você quer realmente fazer um grande trabalho, se o seu objetivo é deixar o mundo melhor do que ele é hoje, se você quer ser feliz e fazer os outros felizes, então trate todos com respeito e humildade, seja firme sem nunca ser autoritário, respeite e se faça respeitar, e, acima de tudo, busque sempre o grande resultado. Pode ser que você tropece, pode ser que alguém algum dia te derrube; mas mesmo os tropeços de um justo acabam servindo como lições para que ele volte sempre melhor.”
E mais não disse, nem lhe foi perguntado.
Grande Mestre Bahgdavi Tunda! Qualquer hora volto para contar outro “causo” dele.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Você sabe a diferença entre educação e treinamento?

Existe, no mercado brasileiro, uma confusão muito grande entre os termos “educação” e “treinamento”. Já fiz esta pergunta para muitas turmas de MBA, e vejo que é difícil o entendimento correto da questão.
Fiel ao meu espírito de “velhinho metido a engraçadinho”, criei uma piada para ilustrar a resposta. A história é a seguinte; vamos supor que você tenha uma filha na faixa de dez anos de idade. Pois bem, um dia a sua filhinha chega em casa e diz que a escola vai começar a dar aulas de educação sexual. Entendo que, se você não for um ogro completo, vai gostar da ideia; afinal, vivemos em uma sociedade altamente erotizada, as crianças têm acesso a muito mais coisas do que antigamente, e a própria vida sexual começa bem mais cedo, portanto quanto mais informação melhor. É claro que você vai procurar se informar direito sobre o que vai ser proposto mas, de um modo geral, a ideia de educação sexual na escola é interessante. Agora imagine a sua querida filhinha chegando em casa e dizendo; papai, hoje estou muito cansada, tivemos um treinamento sexual na escola... Seguramente, não é uma perspectiva interessante, rsrsrs.
Piadinhas a parte, acho que é preciso deixar bem claro este ponto antes de qualquer discussão sobre o assunto. Escrevi recentemente um artigo sobre o “professor ideal” (ver ) e, entre os diversos comentários que recebi, alguns falavam sobre o problema da “interatividade”, ou seja, o aluno também precisa fazer a sua parte. E é exatamente aí que entendo que começa a divisão de águas entre a “educação” e um mero “treinamento”.
Procurando dar um exemplo prático da minha área específica, entendo que um curso de preparação para a certificação PMP é, tipicamente, um “treinamento”; o seu objetivo é passar na prova, e o curso vai ser direcionado para isto. É claro que sempre se aprende alguma coisa aplicável em outras situações, mas o objetivo maior é obter pontos no exame, e prá isto tome simulados e mais simulados. Já um curso de MBA me parece um exemplo típico de “educação”; não é apenas uma questão de transmitir conhecimentos aos alunos, mas sim fazer com que eles se tornem capazes de pensar e criar os seus próprios caminhos. É claro que isto é uma estrada de mão dupla; o melhor professor do mundo não vai colocar um aluno relapso para pensar, ao mesmo tempo em que não adianta o esforço do aluno se o professor não corresponder.
E é neste ponto que o aspecto da experiência do professor e sua capacidade de aceitar e incentivar a discussão em sala se torna muito relevante. Porque gerenciamento de projetos não é uma área que se presta a certezas “monolíticas”; assim como cada projeto é único e individual, cada situação pode ser abordada de várias formas, sem que exista uma única solução correta para que se aplique a todos os casos. O próprio PMBoK nunca se apresentou como uma “metodologia”, mas sim como uma fonte de “boas práticas”, ou seja, você não é obrigado a seguir tudo o que está ali, mas apenas escolher o que lhe parecer relevante para o seu projeto, e aplicar do seu jeito.
Já ouvi dizer que, nos cursos de MBA em algumas universidades americanas, existem aulas em que o professor não leva um material para exposição, apenas entra na sala e pergunta aos alunos; dentro do nosso tema (vamos supor que seja algo tipo “Gerenciamento de Riscos”), o que vocês querem discutir hoje? Pode ser que se trate de mera “lenda urbana”, mas acho a ideia fascinante. É claro que uma abordagem deste tipo exige um esforço muito maior do que o convencional, tanto de professores quanto de alunos, mas tenho certeza que levará a um resultado muito melhor. Usando outra de minhas piadinhas favoritas (realmente, eu sou um velhinho muito engraçadinho), costumo dizer que o processo de ensino e aprendizado, assim como o sexo e o vôlei de praia, é um jogo de dupla, e para obter bons resultados é necessário que um parceiro esteja sempre disposto a ajudar o outro (apenas para concluir a piadinha; é claro que tanto no sexo quanto no vôlei de praia existem os que gostam de colocar mais gente na quadra, mas isto foge ao escopo deste artigo, of course).
Tentando resumir tudo em uma frase só, eu diria que o treinamento te ajuda a aprender sobre história; a educação te torna capaz de mudar a história. E o que a gente mais precisa no Brasil de hoje são professores e alunos com vontade e capacidade para mudar a história.
Enfim, o tema é muito complexo e abrangente, não vai ser esgotado em um único artigo, mas gostaria, mais uma vez, de pedir o feedback dos amigos para esta questão.
Até a próxima.

domingo, 9 de julho de 2017

Em busca do professor ideal – o modelo CED (Conhecimento, Experiência, Didática)

Tivemos, há algum tempo no Linkedin, uma discussão interessante motivada por um questionamento levantado pelo meu amigo Américo Pinto, sobre a necessidade de um professor ter experiência no assunto que ensina. Algo do tipo; como alguém que nunca trabalhou em um projeto poderia dar aulas sobre o assunto? Como pesar os fatores experiência x conhecimento acadêmico (mestrado, doutorado) na hora de escolher um professor?
A pergunta, obviamente, não tem uma resposta objetiva. Meti a minha colher na discussão e propus um modelo semelhante ao CHA (Conhecimento, Habilidade, Atitude), que é aceito como o ideal para definir um bom profissional de gerenciamento de projetos. Minha proposta foi o CED (Conhecimento, Experiência, Didática), que definiria o professor ideal. Recebi comentários simpáticos à minha ideia, e outros nem tanto, mas acabei me sentindo encorajado a aprofundar o tema, que é a proposta central deste artigo.
Na verdade, este é um dilema que conheço desde a minha época de estudante universitário, na querida Escola de Engenharia da UFRGS, no início dos anos 1970. E lembro que sempre achei mais interessantes as aulas dos professores com vivência profissional do que dos “acadêmicos”. Usando os termos que foram popularizados na internet há pouco tempo atrás, achava muito melhor um engenheiro “de raiz” contando as suas histórias do que um “Nutella” enchendo o quadro-negro (quadro-negro? Meu Deus, como eu estou velho!) de equações.
Hoje, em um contexto completamente diferente, a discussão volta. Ao longo de mais de vinte anos dando aulas e assistindo cursos sobre gerenciamento de projetos, acabei desenvolvendo algumas convicções, que passo a expor agora.
O que seria o modelo CED (Conhecimento, Experiência, Didática)?
a) Conhecimento; Gerenciamento de projetos, seguramente, é uma área muito mais “empírica” do que “científica”. Em outras palavras, a construção do conhecimento na área de GP está muito mais atrelada ao acúmulo de experiências do que ao desenvolvimento acadêmico e científico. Desta forma entendo como altamente questionável a exigência de currículo acadêmico (tipo mestrado ou doutorado) para os professores desta área. Antes que alguém me tome como xiita do MSMsC (Movimento dos Sem Mestrado), uma vez que sou um deles, gostaria de esclarecer que considero o conhecimento acadêmico tão importante que resolvi começar um mestrado agora, aos 65 anos. Mas continuo sustentando que, para a área específica de gerenciamento de projetos (favor deixar isto bem claro) acho muito mais importante a vivência prática do que a acadêmica;
b) Experiência; sempre que ouço esta palavra lembro-me da definição de Aldous Huxley (“Experiência não é aquilo que aconteceu com você, mas sim o que você conseguiu aprender com isto”). Em outras palavras, podemos dizer que alguns velhos são experientes, outros apenas velhos. E a diferença está na vontade de aprender, de inovar, de se adaptar às novas realidades. A interação com os alunos é um ponto importante; acho sempre que o melhor professor é o que está disposto a aceitar ideias dos alunos e conduzir uma boa discussão com eles. Infelizmente, muitos ainda acham que são os donos da verdade (e posso afirmar, com toda a certeza do mundo, que com a idade isto só piora). Enfim, existe um “mix” ideal entre conhecimento e experiência. Mas nada disto funciona se não existir o “D”, que passamos a explicar abaixo;
c) Didática; O ponto mais importante de todos na hora de escolher um professor, pelo menos na minha visão, é a capacidade que ele tem de tornar a sua aula interessante e produtiva, que eu chamaria, genericamente, de “Didática”. Vejam bem, é muito importante, neste momento, saber distinguir “transmissão de conteúdo” de “stand-up comedy”. Conheço caras que são geniais como “animadores de plateia”, capazes de “energizar” os alunos com piadas, dinâmicas, jogos, mas, em termos de conteúdo passam muito pouco. Chamo isto de “efeito sabonete” – o cara faz espuma suficiente para encher a banheira toda, mas no final o que ficou de sólido é só uma barrinha deste tamanhinho. Por outro lado, existe o sujeito que sabe tudo, mas, como a água, é inodoro, insípido e incolor, e todo mundo dorme na aula dele. Obviamente o ideal é o equilíbrio – muito difícil de alcançar, seguramente.
Resumindo; o professor ideal teria doses equilibradas destas três qualidades. E nunca podemos esquecer que cursos são como projetos; cada um tem o seu contexto próprio e intransferível. Ou seja, dependendo da proposta do curso, cada uma delas vai ser mais ou menos importante.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

A GESTÃO DE MUDANÇAS NA FAMÍLIA REAL BRITÂNICA; UM “CASE” DE SUCESSO

Publiquei um artigo no mês passado sobre a gestão de pessoas (ver http://causosdoherve.blogspot.com.br/2017/05/a-terceira-onda-do-gerenciamento-de.html ). E prometi novos artigos falando sobre três itens que considero fundamentais neste assunto; gestão do conhecimento, gestão de mudanças e gestão de talentos. Resolvi começar pela gestão de mudanças, que é o item que me parece ter maior visibilidade neste momento conturbado do planeta.
Muito se fala sobre as mudanças que caracterizaram os últimos quarenta anos, quando o avanço tecnológico nos proporcionou situações que não eram nem sonhadas pelas gerações anteriores (lembrando sempre que eu tenho mais de sessenta anos e sou testemunha viva destas mudanças incríveis). Só que, além da tecnologia, ocorreram mudanças de pensamento e de atitude que também foram extremamente significativas. E o causo que vou contar agora ilustra muito bem a força dos novos paradigmas comportamentais.
Uma das grandes viradas que presenciei foi a do comportamento feminino. Sim, eu sou do tempo em que as mulheres casavam virgens, casamento era para sempre e a maior honra que uma mulher honesta poderia aspirar era o titulo de “Rainha do Lar”, com direito ao avental todo sujo de ovo, da melosa canção. Lá pelos anos 1960 as coisas começaram a mudar. Não tenho conhecimento suficiente de sociologia ou coisa semelhante para explicar o fenômeno com clareza, mas o fato é que vi acontecer. E posso garantir que foi impressionante verificar que, em pouco mais de trinta anos, a sociedade mudou o suficiente para aceitar um novo comportamento sexual das mulheres, que trouxe a reboque toda uma nova atitude delas diante da vida profissional e pessoal. O tal do empoderamento (eita palavrinha horrorosa!) funcionou e, num período muito curto, a sociedade experimentou uma mudança comportamental sem paralelo na história. E que, em minha opinião, foi benéfica para todos, homens e mulheres, embora ainda existam bolsões de resistência (machistas, religiosos fanáticos e outros. Mas que são hoje uma minoria. É preciso entender que, em termos históricos, meio século é muito pouco tempo, tem gente que não consegue se adaptar tão rapidamente).
Um exemplo bastante ilustrativo disto é o dos dois casamentos mais importantes realizados na atual família real britânica. Em 1981, o Príncipe Charles, herdeiro do trono, se uniu a Lady Diana num casamento de conveniência exatamente idêntico aos da era vitoriana; ela era de família nobre, como tinha que ser, e, entre outras situações anacrônicas e vexatórias, a futura princesa foi submetida a um exame ginecológico para confirmar a sua virgindade. Todos os casamentos reais tinham funcionado deste jeito, desde sempre; só que, fora dos muros do palácio, o mundo não era mais assim. O resultado foi desastroso; confrontados com a nova realidade, Charles e Lady Di protagonizaram um dramalhão que acabou na primeira separação na família real, vexames e traições para todos os lados e, no fim das contas, a trágica morte da princesa, em agosto de 1995.
A reação da família real diante da morte de Lady Di ainda seguiu os padrões tradicionais; ela não tinha direito a um funeral real, afinal era apenas a ex-mulher do príncipe herdeiro. Foi só quando este gesto gerou uma revolta popular quase derrubou uma das monarquias mais tradicionais do mundo, que a realeza britânica começou a entender que as coisas não eram mais como antigamente.
A Rainha Elizabeth foi perspicaz o suficiente para entender a mudança, deu um funeral real a Diana, e, alguns anos depois, teve a chance de conduzir um casamento totalmente diferente para o seu neto William.
William e Kate, uma plebeia, viveram uma história de amor igual à dos jovens de hoje; se conheceram na universidade, seguramente tiveram relações sexuais antes de casar (e muito provavelmente com outros parceiros, antes), enfim, um romance normal no século XXI. Sem neuroses. E o povo aplaudiu.
Talvez a imagem mais simbólica da evolução dos costumes foi a presença, na cerimônia, do grande ídolo do rock Elton John acompanhado de seu companheiro. Em tempos muito pouco distantes, posso assegurar que um casal assumidamente homossexual jamais passaria pela porta da abadia de Westminster, mas o recado do século XXI foi claro o suficiente para ser entendido por toda a família real; o preconceito acabou. Ninguém mais tem o direito de marginalizar alguém por causa de suas preferências sexuais. E Elton John era o melhor amigo da falecida mãe do noivo, portanto seu lugar era na igreja, entrando pela porta da frente, com direito a tapete vermelho. Simples assim.
No fundo, este é um grande “case” de gestão de mudanças bem sucedida. Como em um moderno conto de fadas, a Rainha teve a sabedoria necessária para entender que o mundo não era mais o que ela conhecera quando jovem, aceitou a mudança, e voltou a gozar de grande popularidade junto aos súditos. E demonstrou que mesmo uma instituição milenar como a monarquia britânica tem que entender que há um momento em que a mudança é necessária e não adianta se agarrar à falsa segurança “daquilo que funcionou até hoje”.
Antes de encerrar este artigo que já ficou muito longo, um recado para nós, brasileiros; será que estamos sabendo lidar com esta fantástica possibilidade de mudança que a “Lavajato” está nos proporcionando? Temos, pela primeira vez na história, a possibilidade de mudar nossos conceitos e paradigmas, acabando com a “velha sociedade”, que se reflete na “velha política”. E por isto vejo com muita tristeza que boa parte das pessoas ainda se agarra a teorias conspiratórias, pede a volta do Lula, a volta dos militares, enfim, deve ter gente sonhando até com a volta das capitanias hereditárias. Pessoal; o velho e bom Charles Darwin já nos ensinou que a sobrevivência de uma espécie não depende de sua força, mas sim de sua capacidade de adaptação a mudanças. Os ingleses mostraram o caminho. Cabe a nós aprender a lição. “O passado nunca mais”, cantava o saudoso Belchior, poeta genial que nos deixou recentemente. Eu concordo com ele. Gestão de mudanças já!
Pensem nisto. Até a próxima.

terça-feira, 23 de maio de 2017

A CORRUPÇÃO NOS REPRESENTA. E ADMITIR A DOENÇA É O PRIMEIRO PASSO PARA A CURA

A foto que ilustra este artigo mostra um típico comportamento brasileiro, que deveria nos envergonhar. Um caminhão carregado de caixas de cerveja virou, e podemos ver várias pessoas carregando para casa embalagens do precioso líquido. E não vamos ser preconceituosos e dizer que é coisa de pobres; enquanto a polícia não chega, tem muito classe média, e até alta, que é capaz de parar o carro e catar sua cervejinha de graça no meio da rua. Na verdade, existe uma visão comum de que saquear um caminhão que tombou é um comportamento absolutamente normal, e os policiais, que muitas vezes são obrigados a usar a força para impedir mais saques, são uns chatos, prá dizer o mínimo.
Este é, provavelmente, o pior aspecto da cultura brasileira; a visão de que não há problema em cometer atos ilícitos. Tenho certeza que vai aparecer um espertinho de plantão para dizer que a companhia não vai ter prejuízo, provavelmente existe um seguro para isto, portanto ninguém está lesando ninguém, mas o ponto não é este; o ponto é que você não tem o direito de pegar alguma coisa pela qual você não pagou. Simples assim.
Outra desculpa muito usada é “se eu não pegar alguém vai pegar, portanto estou fazendo papel de otário”. Também não é por aí; se você pensa assim, então deve achar perfeitamente normal que um deputado embolse alguns milhões de reais para aprovar uma emenda que favorece um rico empresário. Afinal, se ele não pegar os outros vão pegar e aprovar a emenda do mesmo jeito. A presunção de que os outros são safados não te dá o direito de ser safado. Em nenhum lugar do mundo.
Sem querer me alongar muito, acho que não precisa ser um gênio para entender que o que sustenta os grandes canalhas somos nós, os pequenos canalhas otários do dia a dia. O cara que se sente o máximo porque conseguiu furar a fila, sonegar imposto de renda usando recibo falso, arrumar um atestado médico para não ir trabalhar e outras cositas mas.
O mais trágico é que este não é apenas um comportamento tolerado, ou aceito; é um comportamento altamente valorizado. Conforme eu disse acima, o cara se sente o máximo. No nosso dia a dia nos comportamos assim, desde jovens; o sujeito que se mata de estudar para ter uma boa nota no colégio é visto como um “nerd” babaca, mas o que suborna o servente que tira a xerox da prova e consegue nota dez sem se esforçar vira o ídolo da turma. Parafraseando o mestre Cazuza, num contexto totalmente diferente; porque é que a gente é assim...
Citando o economista americano Douglass North, ganhador do Prêmio Nobel de 1993; “somos o reflexo das nossas crenças. Se um país valoriza a pirataria, vai produzir os melhores piratas”. O problema do Brasil são os valores cultivados pela sua sociedade (ou seja, nós). E só nós podemos resolver o problema. Entender e ensinar aos nossos filhos que pegar cerveja de um caminhão que virou é errado, não vai resolver tudo, mas, seguramente, vai ajudar muito.
Até a próxima.
Estes e outros textos estão em meu blog, ver http://causosdoherve.blogspot.com.br/2017/05/a-corrupcao-nos-representa-e-admitir.html

sábado, 6 de maio de 2017

O PIOR CEGO É O QUE ACHA QUE OS OUTROS NÃO ESTÃO VENDO - A SANTIDADE DE LULA

Uma das coisas que mais me emociona no cenário político atual do Brasil é a fé inabalável que alguns petistas têm na santidade da figura do Lula. Vou repetir mais uma vez; não tenho nada contra o sujeito achar que o Lula é o maior estadista de todos os tempos, querer que ele volte ao poder e tudo isto. Só não consigo aceitar a ideia de que o maior esquema de corrupção de todos os tempos aconteceu durante o governo dele, envolvendo todos os escalões do PT, e Lula não sabia de nada e não auferiu qualquer vantagem disto. É mais fácil acreditar em duendes (vá lá, tudo bem, também não tenho nada contra quem acredita em duendes)
E cada vez que um novo depoimento chega para comprovar o óbvio, os Lulistas de fé se desdobram em argumentos cada vez mais frágeis para tentar inocentar seu ídolo. As teorias conspiratórias vão incluindo cada vez mais gente, é o Sérgio Moro, o FMI, a rede Globo, as empreiteiras, o Saci Pererê e o Darth Vader, enfim, ninguém no mundo é confiável, só o Lula. Só me resta parafrasear o grande Lulu Santos (o poeta com nome de cachorrinho de madame); o Lula deve ser cheio de charme, afinal, paixão assim não acontece todo dia.
Neste contexto, lembrei uma velha piada de português (será que nestes tempos de histeria politicamente correta ainda é possível contar piada de português? Sei lá, se alguém se ofender eu dou o direito de contar uma piada de gaúcho. Sem rancores).
Mas dizia a anedota que o português ficou viúvo e casou de novo, com uma menina muito mais jovem que ele. Logo começaram as suspeitas e fofocas de que ela estava chifrando o gajo. A coisa chegou num ponto tal que o português resolveu contratar um detetive. Alguns dias depois, o cara chegou com a sua conclusão;
“Olha, seu Manuel, o senhor vai ter que ser forte. Fiquei disfarçado, em frente à sua casa, e fotografei tudo. Ontem mesmo, assim que o senhor saiu para trabalhar, chegou um rapaz alto e bonitão. Sua esposa abriu a porta, deu um beijo nele e colocou-o para dentro de casa. Foram para o quarto e, como se descuidaram e deixaram a janela aberta, eu pude registrar os dois trocando carícias cada vez mais intimas, tirando toda a roupa, e deitando na cama”.
O português, desesperado, perguntou; “E aí, o que aconteceu?”.
“Bom, seu Manuel, aí eles fecharam a janela e eu não consegui ver mais nada. Mas mesmo assim ouvi alguns gemidos lá dentro”.
E o português fuzilou; “Foi pra isto que eu te contratei, ó incompetente? Pra me deixar com dúvidas?”. E demitiu o detetive e continuou casado com a moça.
Não sei se me fiz entender...

quinta-feira, 4 de maio de 2017

A TERCEIRA ONDA DO GERENCIAMENTO DE PROJETOS CHEGOU. E QUEM NÃO SOUBER SURFAR, VAI TOMAR VACA...

Projetos existem desde sempre, e talvez a própria criação do mundo possa ser vista como um projeto – com a vantagem que Deus, o grande Gerente, tinha o poder de fazer milagres e ajeitar tudo do jeito que Ele quisesse. Conforme é do conhecimento geral, o poder dos gerentes de projetos de hoje é muito menor, mas a gente se vira do jeito que dá.
Analisando a caminhada da civilização humana, temos projetos muito antigos que chegaram em bom estado até os dias atuais, como é o caso das Pirâmides do Egito e da Muralha da China. Obviamente, estes projetos foram gerenciados de alguma forma, com as ferramentas disponíveis na época, e acabaram funcionando. É claro que nunca vamos saber quais eram o cronograma original e a estimativa de custos destes projetos, portanto não temos como avaliar o seu sucesso sob o ponto de vista da restrição tripla, mas o fato é que o produto foi entregue, e dura até hoje.
Foi mais ou menos a partir da metade do século XX que os projetos começaram a ganhar uma complexidade maior. As principais forças responsáveis por esta mudança foram o aumento da competitividade, a necessidade de envolver múltiplas disciplinas e os avanços tecnológicos. Muitos autores consideram que o grande marco desta transição foi a corrida espacial; afinal, colocar um homem na Lua era uma tarefa que envolvia desde matemáticos e físicos até nutricionistas e psicólogos, e tudo precisava ser feito num prazo exíguo, visando superar o “outro lado” (na época, as forças envolvidas eram Estados Unidos e União Soviética, representando cada um uma série de simbolismos, tais como capitalismo x comunismo, religiosidade x ateísmo oficial, enfim, vários conflitos que eram importantes na época mas hoje, em alguns casos, já se mostram superados). Em paralelo com o desenvolvimento tecnológico, ferramentas de gestão foram criadas e usadas em um cenário que, seguramente, não tinha paralelo com nenhum momento histórico anterior.
Este aumento exponencial na complexidade dos projetos levantou o questionamento sobre a qualificação específica dos gerentes de projetos – função que sempre existiu, mas era exercida de forma mais ou menos amadorística. É neste contexto que surgem duas organizações com a proposta de discutir gerenciamento de projetos de uma forma profissional; O IPMA, na Europa, em 1964 e o PMI, nos Estados Unidos, em 1969. A visão do gerente de projetos como um profissional diferenciado, com um corpo de conhecimentos próprio (consolidado pelo próprio PMI, alguns anos depois, no PMBoK, Project Management Body of Knowledge), constituiu um marco histórico. E gerou o que eu chamo de “primeira onda”, caracterizada pelo reconhecimento da importância da figura do gerente de projetos, busca de capacitação e certificações, e a certeza de que um gerente qualificado e certificado era a garantia para o sucesso de um projeto.
Em paralelo à capacitação do gerente, o desenvolvimento da informática trouxe um ferramental jamais imaginado; agora era possível construir cronogramas e orçamentos automaticamente, estimar caminhos críticos e sub-críticos, tudo a um simples toque dos dedos.
O resultado de tudo isto é que, durante algum tempo, vivemos a ilusão de que um PMP comandando um MSProject era tudo o que precisávamos para um projeto funcionar e produzir seus resultados a contento.
O problema é que, como diz aquele famoso vídeo humorístico, “a vida é uma caixinha de surpresas”, e logo os resultados começaram a provar que esta ideia era falsa. Era preciso mais que isto para que os projetos funcionassem. E isto nos levou à segunda onda.
Considero que a segunda onda se caracterizou por uma visão mais complexa da gestão de projetos, mas ainda focada em ferramentas. Neste momento, tivemos, entre outras coisas, o desenvolvimento de modelos diferentes dos adotados pelo PMI, outras certificações, a utilização de modelos de maturidade, além de conceitos como PMO, métodos ágeis, Canvas e outros. Esta onda começou no final dos anos 90 e está por aí até agora. É importante notar que ela de forma alguma cancelou a anterior; o PMBOK e a certificação PMP continuam como referências importantes, mas ficou claro que era necessário ir mais fundo na questão. Os resultados melhoraram, e esta onda ainda está em aperfeiçoamento, de modo que muitas pesquisas ainda vão ser concluídas e, seguramente, ainda há um longo caminho a percorrer no aperfeiçoamento destas técnicas e modelos..
Só que o mundo hoje evolui na velocidade da internet, e nem bem esta segunda onda atingiu o seu pico, já vemos surgir uma terceira onda, que, na minha visão, vai ser a mais revolucionária e decisiva de todas.
A base desta terceira onda é entender que projetos são atividades humanas, e não há como melhorar resultados sem colocar o ser humano no centro da ação. Esta nova onda não tem ferramentas computacionais (pelo menos até agora), mas baseia-se em estudos, experiência e visão sobre três assuntos que me parecem os mais importantes, hoje; Gestão de Mudanças, Gestão de Talentos e Gestão do Conhecimento. Como pano de fundo, ficam os aspectos culturais, que sempre influenciam o comportamento humano, para o bem e para o mal. Resumindo tudo em um só conceito, Gerenciamento de Pessoas.
Motivação, Comunicação, Cultura, Conflitos, Liderança, Riscos, enfim, muitas palavras que durante muito tempo foram associadas ao gerenciamento de projetos mas não chegavam a ser levadas a sério (talvez pela complexidade que envolvem e por não se submeterem a regras definidas), são cada vez mais reconhecidas como sendo os aspectos realmente decisivos para que projetos atinjam as suas metas. Colocar estas questões de forma simples e objetiva, demonstrando a todos os stakeholders envolvidos a sua importância, deve ser o grande diferencial do futuro. É fácil? Claro que não. Mas é um campo de estudos que se abre e para o qual teremos que prestar cada vez mais atenção.
Pretendo abordar o assunto com mais detalhe em um próximo artigo, uma vez que este já ficou muito grande. Mas tenho certeza que este será o foco do futuro do gerenciamento de projetos.
Quem viver, verá.

quinta-feira, 2 de março de 2017

O candidato Trump tinha um discurso “de raiz”. O Presidente Trump está começando a adotar um tom mais “Nutella”. Qual deles está certo? Os dois

A brincadeira comparando pessoas “de raiz” com pessoas “Nutella” viralizou nas primeiras semanas de 2017. Desde engenheiros até policiais, passando por mães e cachorros, todo mundo curtiu as versões “de raiz” (radicais e grosseiras) com as versões “Nutella” (politicamente corretas). Normalmente, a versão “de raiz” tinha a simpatia das pessoas o que mostra, mais uma vez, o quanto a sociedade, de um modo geral, está de saco cheio desta neurose “politicamente correta”.
Como sempre acontece com as boas piadas, esta brincadeira tinha um fundo de verdade. Até mesmo pessoas de bom senso não aguentam mais debates exagerados sobre o que é “apropriação cultural” e outras coisas cada vez mais desprovidas de sentido. Na vida real, o voto em Donald Trump, na minha visão, representou isto; a preferência de boa parte da população por um sujeito grosseiro, mas sincero nos seus pontos de vista, em relação a uma candidata-clichê (mulher, defensora de todas as minorias, etc...). Trump ganhou, e, para os que vivem na bolha politicamente correta, sua eleição representou o triunfo da boçalidade sobre a civilização. Menos, pessoal, muito menos. Tenho certeza que muitos dos que votaram em Trump são, efetivamente, racistas, homofóbicos ou machistas, e alguns isto tudo junto, mas uma boa parcela dos votos que ele recebeu foi de gente comum, sem grandes ódios no coração, que apenas se identificou mais facilmente com um candidato “de raiz” do que uma candidata totalmente “Nutella”.
O problema é que treino é treino e jogo é jogo, já dizia o grande craque botafoguense Waldir Pereira, o Didi, um dos maiores jogadores de futebol da história. O discurso de Trump foi forte o suficiente para leva-lo à Casa Branca, mas o dia a dia do poder exigia uma atitude mais moderada. Arrogante e acostumado a mandar e ser obedecido, Trump achou que podia usar na Casa Branca o mesmo estilo do empresário e do candidato. E, depois de um mês de atitudes catastróficas, acabou aprendendo pelo método mais duro; levando porrada.
O resultado é que ontem, na sua mensagem ao congresso, Trump se mostrou muito mais cordeiro do que lobo. Não é novidade; numa democracia, não é possível liderar sem estar disposto a ceder alguma coisa. Também é assim nas boas empresas e nos bons projetos; os melhores gerentes e executivos são aqueles que, mesmo tendo ideias próprias, estão sempre dispostos a ouvir equipes e clientes e buscar soluções de conjunto. É claro que não se pode ser “bonzinho” o tempo todo; mas não se lida com uma organização social (seja um país, uma empresa ou uma equipe de projeto) enfiando goela abaixo dos outros as suas verdades. Usando a frase antológica de Ernesto Che Guevara, “endurecerse, pero sin perder la ternura”.
É fácil fazer isto? Claro que não. Mas é a única saída, numa democracia. E, até prova em contrário, a democracia é a única forma de governo que leva ao progresso de forma duradoura. Trump dá a impressão que começou a entender isto, e ainda tem muito tempo para tentar transformar o que parecia ser a presidência mais atrapalhada da história americana em um governo pelo menos razoável (sinceramente, não acredito que ele tenha competência para uma nota maior que 6, mas... tudo pode acontecer). Espero, sinceramente, que ele entenda o quanto a sua capacidade de dialogar será importante para a paz e a prosperidade do mundo nos próximos quatro anos.
Quem viver, verá.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Quatro tipos que atrapalham a internet – e a espécie humana, de um modo geral

Faço parte de uma geração que cresceu discutindo política e ideologia. Impedidos pela ditadura de nos manifestar publicamente, discutíamos política na mesa do bar, na casa dos amigos, no colégio e na faculdade, enfim, todo lugar (sempre tomando o cuidado de verificar quem estava ouvindo, é claro). Nesta época aprendi duas coisas que foram importantes para a minha vida toda; respeitar as convicções alheias (tinha amigos reacionários, comunas, alienados, e todo mundo se dava bem) e procurar embasar sempre minhas opiniões com fatos e dados.
Hoje, livres da ditadura e com as infinitas probabilidades que a internet ofereceu, achei que viveríamos a era dourada do debate como fator de criação de entendimento e progresso. Só que, infelizmente, o nível da discussão caiu a tal ponto que cada vez mais tendo a concordar com a frase de Umberto Eco que diz que “a internet deu voz aos imbecis”. Não sei se eles são mesmo a maioria ou se apenas gritam mais alto, mas o fato é que cada vez tenho menos disposição para participar de discussões nas chamadas “redes (anti) sociais”.
Como não posso mudar o mundo, resolvi me divertir um pouco. E, só de brincadeira, imaginei que os culpados por esta situação seriam mosquitos (provavelmente parentes do Aedes Aegipt) que estariam contaminando as pessoas com o vírus da intolerância e da irracionalidade. Procurando sacanear igualmente todo o espectro político e cultural, caracterizei quatro tipos patológicos que circulam pela internet e impedem o debate civilizado. Peço antecipadamente desculpas para os que se sentirem atingidos, eu mesmo me identifiquei com alguns dos sintomas, mas a ideia é apenas tentar abordar a questão de um modo leve e engraçado. Só espero que nenhum fanático se irrite a ponto de querer fazer comigo o que fizeram com os humoristas franceses... bom, afinal eu não sou tão importante assim. Eis os quatro tipos;

1) O que acha que o problema da violência só se resolve com muita porrada;
Mosquito transmissor - Bolsonarum Trumpiaris
Sintomas da doença;
• Acha que se todos os cidadãos de bem andarem armados os bandidos serão mortos e os assaltos acabam;
• Homossexualismo é doença e se cura com porrada;
• Todo o cara que se preocupa com ecologia é boiola;
• Sente saudades do regime militar;
• Acha que o governo devia estimular as chacinas nos presídios porque não se perde nada.

2) O escravo neurótico do “Politicamente correto”
Mosquito transmissor; Minoritarium Rancorosus;
Sintomas da Doença;
• Acha que todo o cara que votou no Trump é machista, racista e homofóbico (não necessariamente nesta ordem);
• Torcedor de futebol que chama o goleiro adversário de “bicha” deveria pegar prisão perpétua;
• Exige sistema de cotas para toda e qualquer coisa (desde o ministério do Temer até a escolha dos atores do Oscar);
• Acha que todos os assaltantes e traficantes deveriam ser soltos, porque são apenas vítimas de uma sociedade preconceituosa e injusta, e a cadeia deveria ser apenas para racistas, homofóbicos e machistas (que, segundo os critérios dele, são cerca de 90% da humanidade);
• Quer proibir a circulação da obra infantil de Monteiro Lobato porque acha que a Tia Anastácia é um exemplo de negra escravizada.

3) O Petista obsessivo
Mosquito transmissor; Luladilmum Sapiens
Sintomas da doença;
• Independente de qual assunto esteja sendo discutido – pode ser futebol, culinária chinesa ou a vida sexual do urso panda – dá um jeito de encaixar a frase “Fora Temer!” e a expressão “mídia golpista” no meio;
• A Rede Globo é responsável por tudo de ruim que acontece no Brasil;
• A Lava Jato foi planejada por multinacionais com o objetivo de entregar o pré-sal para os americanos;
• Tudo de errado que aconteceu na Petrobras é culpa do governo FHC;
• Os filhos do Lula ficaram bilionários porque são talentosos.


4) O Coxinha obsessivo
Mosquito transmissor; Direitistum irrationalis
Sintomas da doença;
• Independente de qual assunto esteja sendo discutido – pode ser futebol, culinária chinesa ou a vida sexual do urso panda – dá sempre um jeito de dizer que a culpa é do PT;
• Antes do governo Lula não existia corrupção no Brasil;
• Jura que o Fidel Castro tinha uma fortuna no exterior;
• Acha que o Chico Buarque é um compositor de merda que ficou rico desviando dinheiro da Lei Roaunet;
• Não lê as crônicas do Veríssimo porque ele é “de esquerda”;
• Acha que todo o sujeito que quer votar no Lula é nordestino, analfabeto e vive de bolsa família.

Pessoal; é só uma brincadeira. Mas podemos pensar um pouco a respeito. Afinal, já dizia o inesquecível Millor Fernandes, “o objetivo do humor é fazer cócegas na inteligência alheia”.
Quem sabe conseguimos debater com um pouquinho menos de intolerância daqui para frente?
Abraço e até a próxima.