segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

De Bolsonaro a Trump, a volta triunfal do “politicamente incorreto”

Cena carioca; domingo, por volta de meio-dia, estou na caminhada habitual pelo calçadão da praia da Barra, quando uma movimentação incomum me chama a atenção. Um sujeito de camiseta branca, que também faz seu exercício, é interrompido a toda hora para abraços, apertos de mão e diversas outras tietagens. Será um artista global? Um astro do esporte? Quando ele chega mais perto e passa praticamente ao meu lado, reconheço a figura do Deputado Jair Bolsonaro. Como estávamos caminhando na mesma direção, pude acompanhar o fenômeno durante mais alguns minutos; as pessoas se viram para olhar, um sujeito perto de mim comenta com outros dois; “Este é o Bolsonaro, aquele que disse que só não estuprava a Dilma porque não valia a pena. Eu tenho que dar um abraço neste cara!”. Na verdade, a frase não foi dirigida à Dilma, mas, conforme já disse alguém bem melhor que eu, quando a versão é melhor que os fatos, dane-se os fatos.
Meninos, eu vi. Ninguém me contou. E não me venham dizer que é coisa de emergente da Barra, porque o entusiasmo dos funcionários dos quiosques era o mesmo. Fiquei pensando; qual outro político de relevância no Brasil passaria por um teste destes hoje, andando pelo calçadão de uma praia cheia de gente? Lula? Dilma? Aécio? Sinceramente, tenho dúvidas.
Chegando em casa, abro o jornal e vejo que, embora esteja caindo nas pesquisas, Donald Trump ainda é um dos favoritos para indicação dos republicanos à Presidência dos Estados Unidos. E não posso deixar de ligar uma coisa à outra.
Trump e Bolsonaro têm em comum a ojeriza ao “politicamente correto”; são terrivelmente grosseiros, mas sinceros em seus posicionamentos. E o sucesso dos dois é uma demonstração clara de que existe muita gente de saco cheio disto.
Pausa para reflexão; será que a onda do “politicamente correto” não gerou alguns posicionamentos tão radicais quanto os anteriores? E que, conforme nos dizia o velho e bom Isaac Newton, a toda ação corresponde uma reação igual e contrária? Só para citar um exemplo, se nós somos contra qualquer tipo de preconceito, então não poderíamos aceitar uma fala como a do ex-presidente Lula quando ele disse que a culpa da desigualdade econômica era do pessoal “branco e de olhos claros”. Isto é preconceito; afinal, eu sou branco, neto de alemães, e não me considero culpado por porcaria nenhuma. Só que ninguém no mundo de hoje dá a um branco o direito de se sentir ofendido. Satanizar os heterossexuais pode; criticar homossexuais dá cadeia. Enfim, o racismo e o preconceito não mudaram; apenas mudou o lado que bate e o que apanha. E a impressão que tenho é que a ficha caiu e hoje as pessoas comuns começaram a dar a resposta; estamos de saco cheio disto. Esta confusão toda acaba aumentando a popularidade de gente radical como Bolsonaro ou Trump. Que, a meu ver, também não representam uma boa solução.
O grande Nelson Mandela provou, recentemente, que o único jeito de evoluir é através do perdão e do diálogo. Depois de sofrer na pele uma vida inteira de injustiças, não aproveitou sua subida ao poder para dar o troco nos brancos; ao contrário, chamou todo mundo para conversar, e mudou o destino de uma nação. Antes dele, Martin Luther King teve o sonho da igualdade, não da vingança. É preciso interpretar corretamente os sinais e entender que é preciso ceder dos dois lados. Bolsonaro e Trump são radicais, mas têm sua dose de razão, e podem contribuir para o debate. Só que os “politicamente corretos” também têm que aprender a negociar. Se isto não acontecer, podemos cair em um confronto puro e simples e acabar tendo um retrocesso perigosíssimo. Que, tenho certeza, não será bom para ninguém.