segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

As lições do Barcelona vão muito além do futebol

Soube, há algum tempo, da existência de um livro chamado “A bola não entra por acaso”, de autoria de um tal Ferran Soriano. Pesquisando sobre o assunto, descobri que este cidadão foi o gerente de futebol do FC Barcelona entre os anos de 2003 e 2008, e conseguiu transformar um clube que tinha uma dívida absurdamente grande em uma organização lucrativa e eficiente.
O título do livro, segundo ele, veio de uma frase que ouviu de seu antecessor no cargo. Segundo este, trabalhar no futebol era uma coisa muito fácil; quando a bola entrava no gol, você era um gênio, quando a bola não entrava você era um idiota. Pensando no assunto, Soriano chegou à conclusão que, embora o componente de sorte seja bastante significativo no futebol (é muito maior que no basquete ou no vôlei, por exemplo), não se poderia atribuir o sucesso ou fracasso de um clube aos meros caprichos de uma bola. Em outras palavras; pode-se ganhar ou perder um jogo por pura obra do acaso, sem dúvida, mas isto não vai ocorrer ao longo de uma temporada inteira, muito menos de várias temporadas. Partindo desta idéia, e das dificuldades financeiras, o Barcelona resolveu que não era produtivo correr ao mercado todo ano disputando craques em leilões milionários, para tentar formar uma equipe competitiva; valia mais a pena investir em jogadores jovens e talentosos que, desde as categorias de base, fossem educados dentro de uma filosofia de jogo, de preferência passada por ex-ídolos do time (não por acaso, o técnico atual, Pep Guardiola, foi um dos grandes jogadores do Barça nos anos 90).
Como em todo o projeto que se preza, os resultados não viriam a curto prazo; mas a idéia era que, em menos de uma década (afinal, para torcedores de futebol um ano é uma eternidade), o Barça formaria uma equipe-base homogênea, com uma filosofia de jogo implantada, e na qual bastaria acrescentar um ou outro jogador extra-classe, que seria buscado no mercado (e que teria de se enquadrar no espírito do grupo, é claro).
Os resultados obtidos falam por si. O Barcelona tem sido protagonista de destaque em todos os grandes torneios mundiais nos últimos tempos. Não ganhou todos, é claro, porque os acasos do futebol existem (principalmente em torneios mata-mata, decididos em um jogo só), mas, principalmente nas duas finais que disputou neste ano de 2011, o melhor ano de todo o projeto (na Champions, contra o Manchester United, e no Mundial de Clubes, contra o Santos) estabeleceu uma superioridade técnica tão absurdamente grande dentro do campo que não deu qualquer chance ao azar.
Resumindo; o futebol “mágico” do Barcelona não surgiu de um dia para o outro. É fruto de um projeto cuidadosamente planejado, executado e controlado. E acho muito engraçado ouvir, hoje, na ressaca da humilhante derrota de um dos melhores times do Brasil, muitos “luminares” do futebol pregando que “os times brasileiros precisam jogar como o Barcelona, a nossa seleção tem que ser igual ao Barcelona”, e outras bobagens do mesmo gênero. Pessoal, isto não é assim; infelizmente, a nossa cultura nunca foi de planejar-executar-controlar. O brasileiro acredita piamente que é possível fazer as coisas acontecerem de uma hora para a outra. É assim em todas as áreas; o nosso foco é no curtíssimo prazo. Por isto nossos projetos não cumprem prazo, custo, escopo (ver as obras da Copa, as obras do Pan-2007, etc...). Ninguém acredita em planejamento no Brasil. No futebol, o reflexo disto é a rotatividade absurda de técnicos e jogadores que vemos nos nossos clubes; ninguém parece disposto a investir em um planejamento inteligente. E todo mundo acredita que é possível juntar, de uma hora para outra, um grupo de atletas que nunca atuaram juntos, botar no comando um treinador qualquer, e começar imediatamente a “jogar como o Barcelona”.
Só que a bola não entra por acaso...

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Hoje sou um gremista feliz - minha teoria sobre o perfil psicológico de Ronaldinho

Pessoal; tenho mania de dar palpite em tudo, principalmente sobre futebol. E tenho um santo ódio de teorias conspiratórias. Assim, ao ler hoje o excelente blog de André Kfouri, no Lancenet, onde ele comenta a rodada do Brasileirão salientando, naturalmente, a extraordinária vitória do meu Grêmio em cima do Flamengo e, principalmente, a vingança contra o Ronaldinho (que eu não admito mais que seja chamado de gaúcho), resolvi participar do debate. E fiquei impressionado ao ver um leitor tentando associar a "bronca" dos torcedores gremistas com o R10 do Flamengo a uma atitude racista. Minha resposta (postada lá) foi a seguinte;

Antes que criem uma nova teoria conspiratória; ver racismo na atitude da torcida do Grêmio contra R10 é alucinação pura. Contando a história desde o início, R10 perdeu o pai cedo e, pelo que parece, o irmão mais velho (que, com seu talento, conseguiu dar à família uma boa condição financeira) assumiu a condição de dono da sua vida. Roberto Assis foi um grande jogador, mas ao ver a joia que tinha em casa, transformou-se num negociante muito pouco ético, para dizer o mínimo. O Grêmio foi enganado por ele duas vezes; nas negociações com o PSG e na volta ao Brasil.
Na verdade, Roberto Assis parece ter tirado do irmão todo e qualquer poder de decisão sobre a própria vida; é por isto que, aos 31 anos, R10, fora do campo, tem atitudes quase infantilóides (só quer saber de festas, nunca teve uma namorada fixa, só fala frases óbvias e, mesmo no episódio em que teriam descoberto um filho seu, nunca abriu a boca para dizer nada).
Assim, a explosão de ódio da torcida do Grêmio (que, tirando por um ou outro exagero, até que manteve um nível razoável para uma torcida de futebol), era uma reação normal e previsível, fosse R10 branco, negro, amarelo ou verde.
Para terminar, um tema para conversa de botequim; será que toda esta alienação não atrapalhou a carreira do R10? Digo isto porque, em quase todas as ocasiões em que ele foi desafiado e precisou daquele “algo mais” que diferencia os "heróis" dos que são apenas "grandes" (raça, poder de decisão, superação) ele fracassou. Ficando apenas em alguns exemplos, temos a Olimpíada de 2000, Copa de 2006, final do mundial da FIFA contra o Inter, e, pelo Flamengo, Copa do Brasil contra o Ceará, Sulamericana contra LaU, e até este jogo com o Grêmio, onde, no segundo tempo, ele se acomodou visivelmente. Fico imaginando como reagiriam Romário e Pelé numa situação destas; tenho quase certeza que dariam o seu máximo para vencer e calar a boca dos adversários, eles cansaram de fazer isto. Resumindo; acho R10 o jogador com maior potencial técnico que vi jogar, desde Pelé. Mas, ao contrário do Rei, ele parece ser um homem fraco e sem vontade. Por isto eu temo pela ideia de Mano Menezes de coloca-lo como “líder” na seleção brasileira... mas isto é outro papo.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Certificação PMP versus MBA em Gerenciamento de Projetos - eis a questão

Postei este texto no Linkedin, ao participar de uma discussão sobre este tema;
--------------------------------------------------------
Sempre acho importante situar as coisas dentro de um contexto, por isto gostaria de convidar os colegas para uma pequena reflexão.
Na virada do século XXI, pouca gente no Brasil tinha ouvido falar em PMI, certificação PMP e coisas assemelhadas. Lembro que quando me certifiquei, em novembro/2001, o “status” de PMP estabeleceu um diferencial para a minha carreira, porque existiam poucos no Brasil. Acredito (não posso afirmar com certeza) que nesta época nem existiam cursos de MBA específicos sobre gerenciamento de projetos no Brasil, e tenho certeza que o interesse sobre este assunto era infinitamente menor que hoje.
O tempo passou, e hoje temos mais de mil PMPs no País, dezenas de cursos de MBA em GP que colocam centenas de profissionais capacitados no mercado todos os anos, enfim, tudo mudou. E olha que foi apenas uma década...
Assim, a visão que tenho é mais ou menos a mesma do Farhad (*); a certificação PMP já não é mais um diferencial, é quase uma exigência mínima para competir. E também concordo com ele que praticamente qualquer profissional que faça um bom curso preparatório consegue passar no exame. Aliás, acho até preocupante que no próprio “site” do PMI e nas publicações vinculadas à instituição, sejam publicados anúncios que prometem coisas do tipo “passe no exame ou receba o seu dinheiro de volta”, o que significa, na prática, que se o sujeito tiver o QI um pouquinho superior ao de uma ameba adolescente, mas for bem adestrado, ele vai passar na prova. Isto, na minha visão, desvaloriza muito a certificação que, afinal de contas, ainda é um dos pilares da popularidade do próprio PMI. Enfim, ninguém me perguntou nada, portanto... segue o jogo.
O grande problema é que, no caso do Brasil, as mudanças culturais ocorrem com a agilidade de uma tartaruga com artrite. Assim, as empresas ainda acham mais fácil acreditar em um título (no caso, o PMP) do que no currículo e na competência do candidato. Vi um exemplo prático disto em um Congresso do PMI-Rio, em junho do ano passado, quando o Marcus Vinícius (ex-jogador de vôlei e hoje executivo do Comitê Olímpico Brasileiro) disse em sua apresentação que precisava de “um PMP” para organizar o trabalho do COB, fazer a intermediação com as diversas federações dos diversos esportes e coordenar o projeto que visa aumentar o número de medalhas do Brasil nos Jogos do Rio, em 2016. Lembro que, na hora, comentei com alguns colegas; ele não precisa de um PMP, ele precisa do Harry Potter! Ou seja; a visão do mercado (representado, no caso, por um executivo muito competente) ainda é de que a certificação PMP transforma um profissional comum em um indivíduo com superpoderes...
Resumindo; o Farhad (*), mais uma vez, tem toda a razão (é preciso certificação, MBA, experiência e competência, uma coisa não exclui as outras); o triste é que, na vida real, a maioria das empresas brasileiras ainda não entendeu isto e prefere usar critérios burocráticos para contratar empregados (tipo; se tem PMP serve, se não tem não serve).
Talvez isto tudo tenha a ver com a nossa mentalidade cartorial, mas isto já é assunto para um próximo “post”, porque este aqui ficou enorme...
Abraços a todos e vamos continuar discutindo (educadamente, é claro), porque isto é muito proveitoso!
------------------------------------------
(*) - Detalhe importante; o Farhad, a quem me refiro várias vezes, é o Professor Farhad Abdollajan (eu sei vou errar no sobrenome dele, não adianta), da FGV. É uma das mais ilustres figuras do Gerenciamento de Projetos no Brasil e sempre nos dá a honra e o prazer de compartilhar seu vasto conhecimento nas nossas discussões sobre o tema.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A nossa teoria conspiratória de cada dia

Acho que nenhum país do mundo tem tantas teorias conspiratórias quanto o Brasil. Obcecado que sou por aspectos culturais no comportamento das pessoas, vejo isto como um reflexo da nossa aversão à meritocracia; somos incapazes de acreditar que é possível vencer na vida apenas pelo trabalho e pela competência, portanto estamos sempre dispostos a aceitar como verdadeira qualquer hipótese que negue este fato.
No futebol, nossa obsessão maior, isto é quase um dogma; sempre que um time é campeão de qualquer coisa, logo aparecem os famigerados teóricos da conspiração, demonstrando, por A mais B, que houve favorecimento de arbitragem, ou da Rede Globo, ou sabe Deus de quem.
Neste particular, adoro a teoria (adotada como verdade absoluta por um monte de gente boa que conheço) sobre uma possível entrega, por parte do Brasil, da final da Copa de 98 para a França (aquele jogo em que o Ronaldo Fenômeno teve uma estranha convulsão). Um simples raciocínio lógico nos mostra que nunca, em tempo algum, um jogador iria aceitar entregar um jogo como aquele (final de Copa do Mundo), e depois ficar calado para sempre. Só para ter uma ideia, naquele grupo estavam Tafarel, Cafu, Leonardo, Dunga, Bebeto, enfim, um monte de profissionais sérios, que jamais aceitariam participar de uma marmelada destas. Mas o brasileiro sempre prefere acreditar na vitória das forças do mal...
Enfim, como o meu objetivo não é ser sério, pelo menos com relação a este tipo de palhaçada, aproveitei um destes textos apócrifos que circulam na Internet, dei uma ajeitada e apresento, abaixo, a maior de todas as teorias conspiratórias; a que prova que não apenas esta, ams todas as dezenove copas já realizadas foram decididas fora do campo de jogo. E o mais engraçado é que muitas coisas se encaixam... Enfim, leia e acredite... se quiser.
-----------------------------------------------------
Uruguai 1930: Para popularizar o novo esporte, nada como uma vitória do time da casa, não é mesmo? A Argentina entregou a final, porque a FIFA garantiu que ela sediaria uma Copa 48 anos depois, e seria campeã nem que fosse na marra.
Itália 1934: A FIFA já tinha combinado com o Uruguai em 1930 que ele ficaria fora das duas próximas copas. Mais uma vez o vencedor foi o time da casa (ou vocês acham que o Mussolini ia deixar barato?).
França 1938: Jules Rimet, então presidente da FIFA, convence o governo de seu país que a França deve dar um exemplo de fair-play, sendo o primeiro time a perder uma copa em casa. Hitler invade a Áustria só para enfraquecer o time deles e deixar o caminho livre para o bi da Itália (que fazia parte do Eixo, não esqueçam).
Brasil 1950: O Brasil entrega a final, em troca de um tri-campeonato nos próximos vinte anos. O goleiro Barbosa ganha um monte de dinheiro da FIFA para deixar entrar o segundo gol do Uruguai, mas finge ser pobre até o fim da vida, para disfarçar.
Suíça 1954: A FIFA, seguindo o plano Marshall, arruma as coisas para a Alemanha ganhar, para compensar um pouco as humilhações do final da guerra.
Suécia 1958: A FIFA paga o primeiro dos títulos ao Brasil, e, depois da semifinal (entregue pela França), sela mais um acordo, pelo qual os franceses não perderão para os brasileiros nas próximas doze copas.
Chile 1962: Foi acertado que chegou a hora da América do Sul ter um bicampeão consecutivo (afinal, a Europa já tinha um). Pelé simula uma contusão, para que o torneio pareça mais equilibrado, mas é tudo mentira.
Inglaterra 1966: Afinal o país que inventou o futebol ganha a sua copa. Os alemães aceitam ser roubados na final com a promessa de sediar a Copa e ganhá-la em 74.
México 1970: Fechado o pacote de recompensas ao Brasil pela entrega da final de 50. João Havelange é indicado para presidente da FIFA; em troca, fica acertado que o Brasil não será campeão pelos próximos 24 anos.
Alemanha 1974: Repete-se a fórmula de 1954; um time encanta, mas não ganha, e os pragmáticos alemães levam o título, cumprindo o acordo de 1966.
Argentina 1978: A conta de 1930 é paga finalmente. A coisa era prá ser discreta, mas os peruanos exageraram no fingimento, o que obriga a FIFA a prometer que os argentinos ainda vão ganhar mais uma, só que desta vez jogando bola.
Espanha 1982: Está na hora da Itália voltar a vencer. Para ganhar dinheiro com apostas, o presidente da FIFA manda os italianos se classificarem na primeira fase com três empates sofridos, e os adversários do Brasil levarem goleadas. É claro que isto gera uma dívida com o Brasil, que será paga em 94.
México 1986: Esta copa era pra ser na Colômbia, mas a FIFA manda os guerrilheiros criarem um caos e leva o campeonato para o México. Os adversários são orientados a deixar o Maradona passar sempre por eles, e “Don Diego” se torna campeão no mesmo estádio que aplaudiu Pelé em 70, só para satisfazer seu ego ridículo.
Itália 1990: Nada melhor que comemorar a unificação alemã com um título, ou vocês acham que a FIFA ia deixar passar uma oportunidade destas? Em troca os alemães acertam que, quando a copa for na Alemanha, a Itália será campeã.
Estados Unidos 1994: A idéia era que os americanos chegassem à final (porque vocês acham que o Leonardo agrediu aquele jogador deles?). Só que esqueceram de avisar o Romário, e o Brasil venceu o jogo. A FIFA manda o Baggio chutar o seu pênalti por cima da trave, por achar que um sujeito com um penteado ridículo daqueles não merecia erguer a taça. Em troca, o Brasil promete perder a próxima.
França 1998: A FIFA paga a dívida de 1958 com os franceses. A defesa brasileira deixa Zidane fazer dois gols de cabeça, mas ele jura que vai dar uma cabeçada em alguém se algum dia a França voltar a uma final de copa. Ronaldo finge uma convulsão para atrapalhar o time; em troca, a FIFA, a Nike e o Galvão Bueno garantem que ele será o artilheiro e campeão na próxima Copa.
Coreia do Sul e Japão 2002: A vitória do Brasil já era certa, mas a FIFA manobra para que a Coreia chegue até a semifinal, de olho no mercado asiático. Isto obriga a roubalheiras incríveis nos jogos dos coreanos contra Itália e Espanha, que aceitam a sujeira com a promessa de que serão os próximos campeões.
Alemanha 2006: Cumpridos os acordos de 1990, 1998 e 2002; Itália campeã e Zidane expulso na final. Materazzi ganha uma indenização milionária, além de um fim de semana com a irmã do Zidane numa ilha de nudismo.
África do Sul 2010: Cumprido o acordo de 2002 (só faltava acertar com a Espanha, mesmo). O polvo Paul é uma farsa; como a FIFA já sabia todos os resultados, a comida colocada na caixinha dos times perdedores é de plástico. Alguns dirigentes ficam milionários com apostas.
Brasil 2014; As negociações estão em andamento. Para dar o título ao Brasil, a FIFA exige, entre outras coisas, que o Dunga seja contratado como comentarista pela Rede Globo, e que o Mick Jagger não receba visto de entrada no País durante a Copa. Os paraguaios querem ser no mínimo semifinalistas, e para isto garantem que a Larissa Riquelme vai participar da troca de camisas no fim dos jogos. Já os espanhois querem o bicampeonato e para isto aceitam que o Neymar fique jogando no Santos até a copa. E além disto (invente qualquer outra coisa. No fim, sempre vai ter alguém que vai acreditar...).
Um abraço e até a próxima.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Minutos de sabedoria

Pessoal;
É claro que, num blog anarquista como este, você jamais vai encontrar algum tipo de auto-ajuda (no máximo auto-atrapalhação), por isto não se impressione com o título deste post.
Trata-se de uma coletânea de frases que fui juntando ao longo da vida, algumas inventadas por mim mesmo, outras que ouvi por aí. Podem olhar que é de graça.
----------------------------------------------------------
MINUTOS DE SABEDORIA
- Melhor conversar com passarinho que brincar com o pinto dos outros.
(Frase atribuída a São Francisco de Assis, num raro momento de raiva)

- Pobre só vai prá frente quando o ônibus freia.
(Do editorial da revista “Caras”, intitulado “Pior que pobre, só se for pobre, feio e corno”)

- Nunca confie em uma mulher. Um ser que consegue simular um orgasmo é capaz de qualquer coisa.
(Da trilogia “Pobre, Feio e Corno”, de José Mané)

- É a grande verdade; quem morre de tesão por homem é viado. O que excita uma mulher, mesmo, é dinheiro.
(Complemento, óbvio, da frase anterior. Da mesma fonte)

- Já que estamos falando nisto, orgasmo masculino é como gol de pênalti; vale, mas não tem graça nenhuma. Analisando bem, perder pênalti e brochar tem muita coisa em comum... Agora o orgasmo feminino, muitas vezes, é um verdadeiro gol de placa (tem até “replay” instantâneo, coisa que o homem não consegue). E o mais interessante é que nem o parceiro consegue saber foi gol mesmo, se teve mão no meio do lance, se a bandeirinha subiu ou não, enfim, tem um monte de duplos sentidos interessantes nesta história.
(Do livro “Pérolas de mesa de bar”, que ainda será escrito um dia – assim que o autor curar o porre)

- No futebol, como na suruba, é preciso tomar muito cuidado com o homem que vem de trás.
(De Tim Rabeau, ex-meia-esquerda e ator pornográfico francês)

- Reunião de Coordenação é o local onde se juntam várias pessoas que, sozinhas, não tem poder para decidir nada mas, em conjunto, são capazes de resolver que nada será decidido.
(Adaptado de uma frase de Fred Allen)

- Manter o crescimento duradouro e auto-sustentável é um sonho dos economistas liberais quase impossível de se realizar – principalmente depois de uma certa idade.
(De Caio Brochado Pinto, analista econômico ativo, mas sexólogo aposentado)

- O cego é cego porque não vê; o surdo é surdo porque não ouve; agora, o mudo é mudo porque não fala – falou?
(Extraído do livro “Issa! – Uma Antologia da Filosofia Surfista” (o livro, na verdade, só tem uma página, com letras grandes e muitas figuras))

- Uma corça não deve banhar-se no mesmo rio que os tigres – a não ser, é claro, que ela esteja louquinha prá ser comida, e aí o problema é só dela.
(Do milenar ensaio filosófico hindu “Cada um dá o que tem”, de Yogay Yogayhan – conhecido como “o boiola do Ganges”)

- Com mulher brava e cachorro louco não adianta tentar discutir. Aliás, pensando bem, com mulher louca e cachorro bravo também não. Resumindo, o melhor mesmo é nunca tentar discutir com mulheres e cachorros.
(De John B. Mailman, no “Manual de Sobrevivência de Carteiros – e Maridos”)

- O bom-humor e a boa saúde são os maiores presentes que Deus pode dar a um homem – a menos, é claro, que Ele esteja num dia excepcionalmente generoso, e resolva mandar logo a Larissa Riquelme, embrulhada em celofane.
(Do artigo “Interpretando os Sinais Divinos”, de Frei Juquinha, Sacerdote-mor dos Monges da Perpétua Sacanagem)

- Deus só conseguiu completar o Universo em seis dias porque não foi obrigado a fazer cópia de verificação.
(Trecho do manifesto anarquista “Ou nós acabamos com a ISO, ou ela acaba com a gente”)

- O grande problema na hora de fazer um cronograma é aquele tipo de gerente que tem certeza que, se colocarmos nove mulheres em paralelo, conseguiremos produzir um bebê em um mês.
(Extraído do “Livro Sagrado do Gerente de Projetos”)

- Ainda sobre o mesmo tema: cronograma é mais ou menos como o hímen – só existe para ser furado.
(Da mesma fonte)

- Fechando o assunto: a diferença entre os dois é que o hímen não tem “Revisão A”.
(Da mesma fonte – só que na “Revisão A”)

terça-feira, 19 de julho de 2011

Mais uma sobre sucesso e fracasso

Hoje, participando de uma discussão sobre a avaliação do trabalho de um gerente de projetos, no grupo de gerenciamento de projetos do Linkedin, postei o seguinte;
--------------------------------------------------
Costumo dizer que a forma mais prática de saber que o seu trabalho no gerenciamento de um projeto foi considerado muito bom é quando, no fim do projeto, o cliente sorri e diz; quero que você seja o gerente do meu próximo projeto!
Na mesma linha, fracasso é quando o cliente não quer ver a tua cara no fim do projeto (ou mesmo durante o projeto, o que é pior ainda) ou, em casos extremos, quando ele manda você conversar diretamente com o advogado da empresa.
E posso dizer, com segurança, que esta avaliação da atuação do gerente do projeto nem sempre é uma função direta do resultado obtido pelo projeto, propriamente dito (embora um sucesso sempre ajude a obter o outro, of course).
Pode parecer piada, mas até hoje não achei um SPI, CPI, KPI, XPTO ou qualquer outra destas intrincadas e complexas combinações de letrinhas que fosse tão eficiente quanto este método simples.
Mas vamos continuar tentando. Quem sabe não achamos, algum dia, a Pedra Filosofal? Os alquimistas estão chegando, diria o grande Jorge Benjor...
------------------------------------------
Continuando com a tese, agora "off the records", um desabafo; não aguento mais alguns consultores, sábios e eruditos de plantão que ganham a vida complicando o que é simples. Os caras nunca trabalharam em um projeto de verdade e saem inventando índices para isto e para aquilo. Uma verdadeira masturbação mental, e o pior é que ainda têm coragem de cobrar caro por ela. No fim das contas, resultado, que é bom, não acontece. Chamo isto de "efeito sabonete"; o cara é capaz de encher o banheiro de espuma, mas o conteúdo, mesmo, cabe na palma da mão...
Talvez eu esteja ficando velho e ranzinza.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O famoso gol de Ghiggia teve uma prévia... e ninguém viu!

Em época de Copa América, final de Libertadores entre Santos e Penharol e várias outras evocações do passado, tenho certeza que alguém vai falar, mais cedo ou mais tarde, em Maracanazo. E ainda mais que a data fatídica (16 de julho) está se aproximando. Para quem não sabe, Maracanazo foi como ficou conhecida a mais terrível tragédia da história do nosso futebol; a derrota para o Uruguai na final da Copa de 1950, disputada no Brasil.
Estou prestes a completar 60 anos, e tenho verdadeira fascinação pelo futebol dos anos 50 e 60, minha infância e adolescência. E agora com a ferramenta maravilhosa do “Youtube” e outras, fico às vezes um bom tempo na Internet caçando jogos dos timaços do Santos, Real Madrid, Penharol e outros desta época maravilhosa.
Um dia destes, nesta busca, procurei achar jogos da Copa de 50, e fiz uma descoberta que, para os fanáticos por futebol como é o meu caso, é bem interessante; no jogo Uruguai 2x2 Espanha, pela fase final do torneio, o ponta uruguaio Ghiggia fez um gol igual ao que nos derrotou na final. Esclarecendo mais uma vez para os que não têm a cultura futebolística muito aprofundada, o Brasil perdeu a final por 2x1, e o gol da vitória do Uruguai foi marcado por Ghiggia chutando quase sem ângulo, entre a trave e o goleiro, após penetrar na área em diagonal. O goleiro brasileiro Barbosa foi quase crucificado pela sua suposta falha no lance, e esta maldição o perseguiu até morrer pobre e doente no final dos anos 90. Observem o vídeo (não sei se o link funciona, sou muito ruim de informática, mas procurem no Youtube que vocês acham rapidinho). O detalhe engraçado é que a narração é em inglês.
http://www.youtube.com/watch?v=pSl-QOffEVc
A conclusão a que cheguei é bem simples; se algum integrante da comissão técnica brasileira se desse ao trabalho de assistir ao jogo do Uruguai, teria alertado o nosso goleiro sobre este tipo de jogada (que era característica do Ghiggia, pelo jeito). E talvez a história fosse diferente...
Detalhe importante; ninguém chamou o goleiro espanhol Ramallets (que era excelente, por sinal) de frangueiro por causa deste gol. Já o nosso pobre Barbosa, que, diga-se, fechou o gol durante toda a Copa e foi titular durante mais de dez anos do Vasco da Gama, em um time tão bom que chegou a ser chamado “Expresso da Vitória”, acabou ficando marcado por toda a eternidade por uma falha que não cometeu...
Usando isto como um “case” (acho que isto está virando uma obsessão para mim), mais uma vez temos aqui dois aspectos muito tristes da cultura brasileira e que, diga-se, não mudaram nem um pouquinho de 1950 para cá; primeiro, o desprezo por qualquer tipo de planejamento (ninguém se preocupou em observar os uruguaios, nossos adversários na final). Em segundo lugar, a mania de, depois do leite derramado, ficar caçando culpados ao invés de tentar aprender a lição.
Mas um dia a gente se conserta...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Da série "Histórias engraçadinhas" - a competência necessária

Um dos debates mais interessantes entre os que são propostos no mundo do gerenciamento de projetos é o das competências necessárias para o gerente de projetos – esta estranha figura. Normalmente (eu diria até que por uma distorção histórica), os gerentes de projeto sempre foram recrutados na área técnica das organizações. Assim, por algum tipo de “determinismo biológico”, eles sempre acabavam por ter sólidos conhecimentos e apresentavam competência comprovada na área técnica. O problema é que, na medida em que o conhecimento sobre a atividade aumentava (e continua aumentando, porque isto é um processo, não vai acabar nunca), as habilidades “soft” comprovavam cada vez mais a sua importância. No fim das contas, o próprio PMI, sem dúvida a mais reconhecida autoridade mundial no tema, adota hoje uma posição meio em cima do muro; por um lado, valoriza muito a certificação PMP (Project Management Professional), a qual é obtida através de uma prova (ou seja, fundamentalmente representa conhecimento técnico), mas, por outro, no seu livro “sagrado” PMBoK Guide, defende que existem habilidades muito importantes do tipo Liderança, Comunicação, Gerenciamento de Conflitos, e outras, sem as quais o gerente de projetos não consegue realizar seu trabalho de forma satisfatória.
E aí, perguntamos nós, pobres mortais, como é que fica? São mais importantes o conhecimento técnico e a certificação, ou as habilidades de relacionamento? Ou será que o gerente de projeto, como se fosse uma pizza, pode ser “mezzo calabresa, mezzo muzzarela”?
É claro que a resposta está mais ou menos no meio do caminho mas, como não nos move o nobre propósito de esclarecer as pessoas, mas sim o de rir um pouco, trago, mais para confundir do que para explicar, uma história que envolve futebol e macumba, e que foi maravilhosamente contada pelo brilhante escritor Plínio Marcos, na revista Placar, lá pelos idos de setenta e poucos (estou citando de memória, portanto me dou o direito de cometer alguns equívocos em relação ao original).
Segundo a narrativa, em algum ano do início da década de sessenta, o time do Botafogo do Rio, apesar de contar com craques do nível de Didi, Nilton Santos, Garrincha e outros, atravessava uma fase complicada no torneio Rio-São Paulo (que, na época, era a mais importante competição interestadual existente. O Campeonato Brasileiro só viria alguns anos mais tarde, em 1971). Contava o autor de “Dois perdidos em uma noite suja” que o Botafogo vinha de três derrotas seguidas, a torcida cobrava providências, e o próximo jogo era no domingo seguinte, em São Paulo, contra a (na época) perigosa Portuguesa de Desportos. Lá pelas tantas, como sempre ocorre nestas situações, apareceu uma cabeça iluminada na diretoria botafoguense para decretar que o problema do time era espiritual; havia algum tipo de “amarração” que impedia a bola de entrar no gol inimigo. Ato contínuo, resolveram contratar um pai-de-santo de competência comprovada para ajudar a resolver a crise do time. Vamos batizá-lo de Pai Joaquim, para continuar contando a história.
Como os tempos eram de vacas gordas, Pai Joaquim recebeu do clube passagens e hotel, além de um adiantamento para comprar o seu material de trabalho (velas, farofa, etc...). Foi para São Paulo já na sexta-feira, aproveitando a noite para deixar seus despachos botafoguenses nas devidas encruzilhadas da capital paulistana. Só que um detalhe importante foi esquecido; ele não entendia absolutamente nada de futebol. Não lia, não acompanhava, e a única coisa que sabia é que tinha sido contratado para ajudar um time chamado Botafogo a vencer um determinado jogo. E este detalhe foi fatal para o desfecho da história. Sim, porque, no sábado, ao sair para dar uma volta pela manhã paulistana, o nosso bom Pai Joaquim viu, na banca de jornais, uma manchete da seção esportiva anunciando; hoje, no estádio da rua Javari, Juventus x Botafogo. Surpreso (o jogo do Botafogo não era domingo? Puxa vida, me deram uma informação errada!), deve ter atribuído a feliz coincidência de ler a notícia a seus bons mentores espirituais. Mal ele sabia que, na verdade, aquilo era uma armação das forças da maldade. Sim, porque, na sua total ingenuidade sobre o bretão esporte, ele não fazia a menor idéia de que existia, em Ribeirão Preto, um outro Botafogo, e era este que ia enfrentar o Juventus, por um torneiozinho mixuruca que os times pequenos paulistas jogavam, enquanto os grandes estavam envolvidos no Rio-São Paulo.
Pai Joaquim foi para a rua Javari, preparado para completar o seu bom trabalho. Ao chegar (provavelmente pela primeira vez na vida) na arquibancada do estádio, foi assombrado por uma dúvida; afinal, qual dos dois times em campo era o Botafogo? Pediu a informação para um torcedor próximo (no caso, devíamos ter umas dez ou quinze testemunhas, dada a pouquíssima importância do jogo). O cara deve ter estranhado o despropósito da pergunta mas, gentilmente, informou que o time de branco era o Botafogo, e o de vermelho, o Juventus. Pai Joaquim agradeceu a informação, procurou um canto isolado da arquibancada (coisa não muito difícil, diga-se), e ali ficou o jogo todo, fazendo suas rezas. Não sei se por competência dele, ou incompetência do Juventus, ou tudo junto, o resultado final do jogo foi Botafogo 4x0 – o simpático time da rua Javari foi humilhado com uma goleada em sua própria casa. Satisfeito, Pai Joaquim voltou para o Rio no mesmo dia, com sua missão cumprida (pelo menos na opinião dele).
No jogo de domingo, imaginem o que aconteceu? O Botafogo (o do Rio, é claro) levou uma goleada de 4x0 da Portuguesa. Sem saber de nada, o nosso herói foi na segunda-feira à sede de General Severiano, para receber seus honorários. Obviamente, foi quase jogado porta afora; afinal, a gente perde de quatro e você ainda quer dinheiro, seu safado? Resultado final (lições aprendidas, diria o PMBoK Guide); Pai Joaquim acreditou, até o último de seus dias neste planeta, que foi vítima de uma gozação por parte do torcedor da rua Javari – que, trocando a identidade dos times, o teria induzido a usar toda a sua força espiritual em favor do lado errado. Dizem que rogou uma praga para o sujeito que deve ter estragado completamente a vida dele, mas isto pode ser apenas um boato. O fato é que nunca passou pela cabeça dele que, na verdade, eram dois Botafogos, em dois jogos diferentes, um ganhando e outro perdendo pelo mesmo escore.
O moral desta história, colocada como um “case” de gerenciamento de projetos, é simples; procure sempre conhecer as competências e fraquezas de um profissional antes de contratá-lo, e tome muito cuidado com os detalhes, nesta hora. Nosso bom Pai Joaquim era, provavelmente, muito competente nos assuntos da área espiritual, mas tinha limitações no conhecimento específico de futebol – e, no caso, quem o contratou não deu a devida atenção a este fato. Uma velha história que se repete; detalhes esquecidos na fase de planejamento, inexistência de procedimentos para autorização e gerenciamento de mudanças (ele devia ter ligado para alguém para confirmar se a data do jogo havia sido trocada para sábado, mesmo), atribuições mal definidas (alguém devia ter se responsabilizado por aferir o conhecimento que ele tinha sobre futebol e, constatada a absoluta falta deste conhecimento, explicar, em detalhe, quem era o Botafogo e onde era o jogo), e várias outras coisinhas que fazem um projeto aparentemente sólido desabar deste jeito. Não foi o primeiro caso, nem será o último – mas que foi um dos mais divertidos que eu já ouvi falar, lá isto foi.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

CAUSOS, CULTURAS E RESULTADOS – PARTE 1 (de muitas)

Fiel ao espírito do blog, vou começar hoje a contar uma série (que espero seja interminável) de “causos” que demonstram minha tese (quase minha obsessão), sobre a influência da cultura e das crenças em nosso dia a dia – incluindo aí nossos projetos, sucessos e fracassos. Aliás, antes que eu me esqueça, a tese não é exatamente minha; Douglass North, economista que já ganhou até um Prêmio Nobel, disse que “somos prisioneiros de nossas próprias crenças”. E mais adiante acrescentou; “um País que valoriza a pirataria, vai produzir os melhores piratas”. Ou seja; cada um colhe o que planta. E as crenças são a nossa bússola.
Primeiro exemplo; o dragão da inflação brasileira começa a despertar. E o remédio prescrito é o de sempre; subir as taxas de juros. E aí vem uma pergunta que não quer calar; será que é preciso mesmo subir uma taxa de juros que já é a maior do mundo?
A resposta, infelizmente, é sim. E a explicação é muito simples; está nas nossas crenças, na nossa cultura. Fazendo um paralelo entre o Brasil e o Japão (só para citar um País onde a taxa de juros é baixíssima, independente de terremotos e tsunamis), vamos partir para um “causo” comparativo.
Talvez a maior característica do japonês seja a disciplina. Isto foi cantado em prosa e verso depois da tragédia de 11 de março (meu aniversário, por triste coincidência). Então imaginem um japonês que ganhe o equivalente a R$ 5.000,00 por mês. Posso dizer, sem medo de errar, que o máximo que ele vai gastar mensalmente serão R$ 4.000,00; os mil restantes vão para a poupança. E ai ele resolve comprar uma TV nova, por R$ 1.500,00. Pensam que ele vai tirar o dinheiro da poupança? Never. O japonês aperta o cinto durante os três meses seguintes, reduzindo seu gasto para R$ 3.500,00 mensais. Assim, ao final dos três meses, ele chega na loja com os R$ 1.500,00 que poupou a mais e compra a TV. Simples assim.
Já o brasileiro... bom, se o cara ganha R$ 5.000,00 por mês, tenho certeza que o mínimo que ele gasta é o salário todo. Você não leu errado; eu falei o mínimo, mesmo. Isto na melhor das hipóteses. E aí ele resolve comprar uma TV nova. O que ele faz? Descobre uma oferta sensacional do Magazine do Ricardão, ou das Casas Paraíba; zero de entrada, e comece a pagar depois da Copa América (ou do dia dos Namorados, ou do Natal, enfim, qualquer evento que esteja mais ou menos a três meses de distância). Dali prá frente serão apenas 36 prestações de R$ 100,00. Moleza completa! A única coisa que ele não vê é que vai pagar mais de duas vezes o valor da TV. Mas alguém está preocupado com isto?
As crenças ajudam a explicar isto. Japoneses são profundamente religiosos – este é um valor muito sério para eles. E, para os budistas a pior coisa que pode acontecer a alguém é morrer e deixar a família em dificuldades – dizem que o espírito irá sofrer muito, e a família também. Isto gera, na economia japonesa, um efeito que às vezes é danoso; eles odeiam consumir. Mas é só comparar a nossa situação com a deles para ver que isto não é de todo ruim.
Já o brasileiro, mesmo se dizendo religioso (em alguns casos), é o hedonista por princípio. O grande medo do brasileiro é morrer e não ter curtido o suficiente. Ninguém tem paciência de esperar; queremos tudo ao mesmo tempo agora. É só a situação melhorar um pouquinho, para termos verdadeiros estouros de boiada em termos de consumo. O resultado é que hoje estamos com uma situação que não tem como se sustentar (não precisa ser um gênio em economia para entender isto); o Brasil é um dos lugares mais caros do Mundo para viver. Já passamos por isto antes; no início dos anos 70, o Presidente Médici saiu do governo com uma aprovação muito semelhante à que Lula teve; na época do Plano Cruzado, Sarney virou ídolo nacional. As receitas foram semelhantes; gastança de dinheiro público, um crescimento inflado pelo aumento estratosférico da dívida pública, e lá vamos nós, de novo. Infelizmente, o consumidor brasileiro insiste em se comportar como uma criança mal educada, que não pode ver a mesa cheia que já quer comer todos os doces ao mesmo tempo. Depois vem uma dor de barriga... Aliás, a expressão “criança mal educada” não apareceu no texto por acaso; a única coisa que poderá salvar este País é a educação. E o começo da educação é a reforma dos paradigmas.
Moral da história; cada um chega aonde tem que chegar – ou onde suas crenças o levam. Demonstramos nosso teorema. Mas, conforme eu disse, esta é só a primeira história. Outras virão, se Deus quiser...

sábado, 21 de maio de 2011

Projetos do Campeonato Brasileiro - 2011

Repetindo o que fiz no ano passado, seguem as nossas previsões para os projetos dos times brasileiros para o campeonato que começa hoje. Para quem não leu o post anterior, repito o texto introdutório. A única (e significativa) modificação é que trata-se de um novo campeonato, com novos times... Vamos lá.
Costumo dizer que, em projetos, não se deve trabalhar com valores fixos para prazo, custo e resultados, de um modo geral. Isto pode até ser válido para casos específicos (projetos de curtíssimo prazo, por exemplo), mas, de um modo geral, acho que é mais razoável considerar os resultados de outra forma. A própria análise quantitativa de riscos nos conduz a isto; via de regra, o seu resultado final nos diz que o prazo (ou custo) do projeto pode variar de “x” a “y”, dentro de uma curva probabilística. Assim sendo, considero que é uma boa prática, ao fixarmos os chamados “objetivos” de um projeto, trabalhar com pelo menos três cenários; o principal, o pessimista e o otimista. Assim, ao invés de afirmar que o projeto vai durar dez meses e custar duzentos mil reais, prefiro acrescentar um “sujeito a pequenos desvios” (o que significa “pequenos desvios”? Varia caso a caso. Digamos que 10 a 20% é um chute razoável).
Além disto, podemos ter cenários de “grande satisfação” (melhor que o otimista) e “grande insatisfação” (pior que o pessimista), para os quais poderíamos fixar um desvio de até 50% (chute). O que cair fora disto, pode ser felicidade total ou tragédia, mas é uma probabilidade muito baixa.
Procurando dar um exemplo prático, vamos de novo ao futebol. Neste momento, vinte clubes do Brasil lançam-se a um projeto que vai durar os próximos oito meses; o Campeonato Brasileiro. Para efeito didático, dividi os clubes em quatro grupos, usando para isto a minha sabedoria absoluta sobre o assunto (não abrirei discussões, é claro. Vale a minha opinião e acabou). Para cada grupo, fiz uma projeção de resultados prováveis, otimistas e pessimistas e, em alguns casos, tragédias e felicidades totais. Vamos ver em dezembro qual o meu índice de acertos...

Grupo A – Internacional, Cruzeiro, Santos(*)
Objetivo do projeto; Ser campeão
Vaga na Libertadores – não foi bem o que o cliente queria, mas... ainda é satisfatório;
Vaga na Sulamericana – hipótese pessimista;
Menos que isto – grande insatisfação, tragédia

Grupo B – Grêmio, Corinthians, Fluminense, Flamengo, Coritiba (*)
Objetivo do Projeto; Vaga na Libertadores
Ser campeão – hipótese otimista;
Vaga na Sulamericana – hipótese pessimista;
Escapar do rebaixamento – grande insatisfação;
Rebaixamento – tragédia

Grupo C – Avai (*), Botafogo, Vasco (*), São Paulo, Palmeiras, Atlético-MG
Objetivo do projeto; Vaga na Sulamericana
Ser campeão – excederia a expectativa;
Vaga na Libertadores – hipótese otimista;
Escapar do rebaixamento – hipótese pessimista;
Rebaixamento – grande insatisfação.

Grupo D – Figueirense, Atlético-GO, Atlético-PR, Ceará (*), Bahia, América-MG
Objetivo do projeto; escapar do rebaixamento
Ser campeão – fala sério... o cliente vai ter um infarto.
Vaga na Libertadores – excederia a expectativa;
Vaga na Sulamericana – hipótese otimista;
Rebaixamento – hipótese pessimista.

(*) – Detalhe importante; estes cinco clubes (Santos, Vasco, Avaí, Ceará e Coritiba) ainda estão envolvidos em torneios que dão vagas para a Libertadores-2012. Assim sendo, se algum deles garantir a vaga, já vai deixar o cliente feliz o suficiente. É só não ser rebaixado...

Notas importantes; no ano passado, o campeão foi o Fluminense, que eu havia colocado no grupo “C”. Já o Vitória que, no início do campeonato, estava disputando a final da Copa do Brasil (perdeu para o Santos), acabou sendo rebaixado... Enfim, como diria Júlio Cesar (o Imperador romano, não o goleiro do Corinthians); alea jacta est!

sábado, 5 de março de 2011

SUCESSO E FRACASSO - O PARADIGMA BRASILEIRO

Resolvi escrever esta historinha a partir de uma tirinha genial que foi publicada no jornal "O Globo" de domingo passado (27/02). O autor chama-se Bruno Drummond, e, para mim é um dos mais brilhantes cartunistas do Brasil. E a história tem tudo a ver com algumas coisas que gosto de falar em minhas aulas, sobre a influência da cultura e dos valores de um grupo nos resultados obtidos. E o Brasil, sem dúvida, é um País com uma cultura e valores muito próprios...
Vamos à historinha;

A mulher chega em casa com cara de poucos amigos. Na verdade, seu semblante é a personificação da chamada “Dona Encrenca”. O marido está respondendo um e-mail do filho e nem percebe que ela está à beira de um ataque de nervos. Os dois estão na faixa etária dos quarenta e muitos, quase cinquenta.
Muito feliz, o marido fala;
- Ainda bem que você chegou! Olha que boa notícia; o Júnior disse que a tese de doutorado que ele está concluindo na Alemanha vai ser publicada em uma revista científica europeia...
Mas a mulher não que saber de sorrisos;
- Sabe quem eu encontrei agora? A Carmen, nossa colega de faculdade, lembra dela?
- É claro que lembro... só que a gente não se vê há uns dez anos. Lembro que ela tinha uma filha pequena, a Suellen... que hoje deve estar com uns vinte anos, mais ou menos...
- Pois é. O problema é este. Nós começamos a falar dos filhos. Eu nunca fui tão humilhada na minha vida! (neste momento, o marido repara que a mulher está a um passo da histeria total).
- Mas porque?
- Pois é. Eu falei para ela que o Júnior se formou em Física Nuclear, e está fazendo doutorado na Alemanha, que a Nanda é engenheira ambiental e dá aulas em diversas faculdades, além de ser consultora de empresas na área...
- E aí?
- Aí eu perguntei sobre a Suellen. Ela deu uma risadinha cínica e perguntou; você não tem televisão em casa, baby?
- A Suellen está na televisão?
- Na TV, na internet, na mídia toda... Você lembra do último “Big Brother”?
- Sei lá. Devo ter visto uma ou duas vezes...
- Lembra de uma menina conhecida como “Su”, que aprontou todas?
- Acho que sim... não é uma que, na mesma festa, beijou dois rapazes e duas meninas, depois se jogou nua na piscina, e quando foi eliminada ainda deu uma lambida na orelha do Pedro Bial?
- Ela mesma... Pois é a Suellen! E não parou por aí; ela apareceu no Faustão, na Luciana Jimenez, já fez três ensaios eróticos para revistas masculinas, saiu como destaque em duas escolas de samba, namorou vários jogadores de futebol e agora parece que está grávida de um cantor sertanejo de sucesso!
- Meu Deus!
- E os nossos filhos... físico nuclear, engenheira ambiental... que coisa mais sem graça!
- Fracasso total...
O casal se abraça, chorando;
- Onde foi que nós erramos?

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

PARA QUE A TRAGÉDIA NÃO TENHA SIDO EM VÃO...

Tenho uma pequena casa de veraneio em Teresópolis, exatamente no Parque do Imbuhy – um dos bairros mais atingidos pela tragédia. Por pura sorte, nem eu nem nenhum membro de minha família estava lá naquele dia, e por mais sorte ainda fiquei sabendo que minha casa praticamente não foi atingida. Assim sendo, embora não tenha praticamente nada a lamentar do ponto de vista pessoal, o convívio de quase uma década com as belezas naturais e o povo desta linda cidade fez com que eu sentisse a dor desta tragédia com muita intensidade. Preocupado com o futuro desta terra que, de certa forma, também é minha, lembrei de uma pequena história que costumo usar em minhas aulas sobre gerenciamento de projetos e que, neste momento, pode ser preciosa para a nossa orientação.
Dizem que passado o terremoto de Lisboa (1755), o Rei perguntou ao General o que se havia de fazer.
Ele respondeu ao Rei: 'Sepultar os mortos, fechar os portos e cuidar dos vivos'.
Essa resposta simples, franca e direta tem muito a nos ensinar.
Sepultar os mortos significa que não adianta ficar reclamando e chorando o passado. É preciso 'sepultar' o passado. As marcas, a saudade, o respeito, tudo isto fica; mas não adianta mais chorar. Isto inclui a inútil busca por culpados, neste momento. Tenho certeza que nunca mais vou ficar olhando pela janela de minha casa, contemplando o espetáculo das montanhas iluminadas pelo sol da manhã com a mesma despreocupação de antes, mas é preciso conviver com isto.
Fechar os portos significa não deixar as 'portas' abertas para que novos problemas possam surgir ou 'vir de fora' enquanto estamos cuidando e salvando o que restou do terremoto de nossa vida. Significa concentrar-se na reconstrução, no novo. E não deixar que algum dia, isto se repita. E isto tudo nos leva à terceira frase, a mais importante de todas.
Cuidar dos vivos significa que, depois de enterrar o passado, em seguida temos que cuidar do presente. Cuidar do que sobrou, e dos que sobraram. E o primeiro passo é o aprendizado. Porque deixamos a coisa chegar onde chegou? Podemos xingar os políticos, estes safados, corruptos, mas quem elege estes caras? O que cada um de nós pode fazer melhor daqui para diante? O nome mais simples deste processo é EDUCAÇÃO. Não só no sentido de educação formal, mas principalmente de criar uma cultura diferente nos nossos relacionamentos diários; prestar mais atenção aos outros, ser solidário, participar mais das decisões referentes à nossa comunidade. Apenas dar de ombros e dizer que “o Brasil é assim mesmo e não vai mudar nunca” é muito fácil. E covarde. Se voltarmos a fazer as coisas do mesmo jeito que sempre fizemos, os resultados serão sempre os mesmos, não é preciso ser um gênio para entender isto.

É assim que a história, a mestra da vida, nos ensina. Que a dura lição que a força da natureza nos impôs não seja esquecida. E que, caso ocorra um novo fenômeno parecido, que desta vez nós estejamos muito mais preparados para enfrenta-lo. Depende só de nós.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Projetos dos times brasileiros em 2010 – quais foram os clientes felizes?

No início do campeonato brasileiro de 2010, escrevi um “post” fixando as metas dos clubes para o ano. Agora é hora da prova final. Recordando, dividi os clubes em quatro grupos (ver abaixo). Na época ainda não haviam sido definidas as finais da copa do Brasil e da Libertadores (os clubes marcados com (*) ainda disputavam). Conforme sabemos, o Inter foi campeão da Libertadores e o Santos da Copa do Brasil. A nossa previsão era esta;

Grupo A – Internacional(*), São Paulo(*), Cruzeiro, Santos(*)
Objetivo do projeto; Ser campeão

Grupo B – Grêmio, Corinthians, Atlético-MG, Flamengo
Objetivo do Projeto; Vaga na Libertadores

Grupo C – Avai, Fluminense, Botafogo, Vasco, Vitória(*), Palmeiras, Atlético-PR
Objetivo do projeto; Vaga na Sulamericana

Grupo D – Goiás, Atlético-GO, Grêmio Prudente, Guarani, Ceará
Objetivo do projeto; escapar do rebaixamento

Hoje, acho que podemos classificar os clientes (torcedores) no seguinte “ranking”;

Ultra-mega-feliz – Fluminense (sem comentários);
Muito feliz – Grêmio (obteve a vaga na Libertadores de forma espetacular, e ainda viu o Inter pagar mico no Mundial de Clubes);
Satisfeitos – Cruzeiro, Corinthians, Santos (campeão da Copa do Brasil, fez um Brasileirão meia boca), Ceará, Atlético-GO, Atlético-PR, Botafogo, Palmeiras, Avaí. Estes times fizeram mais ou menos o papel esperado.
Insatisfeitos – São Paulo e Vasco (campanhas decepcionantes), Goiás, Guarani e Grêmio Prudente (rebaixados)
Muito insatisfeitos - Atlético-MG e Flamengo (quase rebaixados, escaparam na última hora), Vitória (afundou no segundo semestre e acabou rebaixado).
Restou o torcedor do Internacional, que viveu, em um ano, duas sensações muito distintas; depois de comemorar a conquista de sua segunda Libertadores em menos de cinco anos (coisa que só o Santos de Pelé e o São Paulo conseguiram até hoje), viu o time fazer uma péssima campanha no Brasileiro e, no fim do ano, conseguir o “feito” inédito de perder para um time africano no Mundial da FIFA. Do infinito ao zero em um ano. Fiquei em dúvida sobre como classificá-lo, mas tenho certeza que a decepção foi maior que a satisfação.