domingo, 26 de agosto de 2018

Claudiomiro, as Brahmas da Polar e a lembrança de um tempo menos neurótico

Da série “depois de velho eu virei sentimental”;
Fiquei emocionado com a morte de Claudiomiro, um dos maiores centroavantes da história do Internacional e autor do primeiro gol do Estádio Beira-Rio, em 1969. E o que me emocionou foi lembrar uma historinha folclórica dele, da qual sou testemunha.
Na Porto Alegre da época havia um programa esportivo conhecido; Jogo Aberto, na extinta TV Difusora. O programa era patrocinado pela cerveja Polar, até hoje uma das melhores do Brasil, e o jogador escolhido como “o melhor da rodada” ganhava uma caixa de cervejas.
O problema é que a liderança de mercado da onipresente Brahma era tão grande que o pessoal já tinha criado o hábito de usar Brahma como sinônimo de cerveja. O papo era; domingo vamos tomar umas Brahmas (que podia ser de qualquer marca).
Pois o nosso bom Claudiomiro ganhou o prêmio e, na hora de agradecer, com o programa ao vivo, lascou esta; “Queria agradecer à Polar pela caixa de Brahma que me mandou...”. Quase morri de rir vendo a cara dos apresentadores. No dia seguinte, sacaneamos muito os amigos colorados com a mancada do ídolo deles.
Mais do que um “causo” divertido, esta história marca prá mim uma época em que o mundo era mentalmente mais saudável. Sim, um jogador podia ganhar cervejas de presente, sim, a gente curtia com a cara dos outros torcedores e eles com a nossa e tava tudo bem, sim, jogadores falavam coisas erradas e tava tudo certo.
Hoje, a pressão doentia das redes antissociais e do terrível “politicamente correto” obriga jogadores a ter assessores que orientam o que pode e o que não podem falar, porque qualquer erro pode virar cavalo de batalha para gente estúpida e cheia de ódio no coração.
Vai em paz, meu bom Claudiomiro. Tenho certeza que lá no paraíso estão te esperando com uma caixa de Brahma da Polar, bem gelada.
Até a próxima!

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Lulistas e Bolsonarianos têm uma coisa em comum; o desprezo pelas instituições democráticas. E isto é um perigo

O cenário polarizado e grosseiro que envolve a atual campanha eleitoral deriva, de certa forma, da visão totalitária dos seguidores dos dois nomes mais importantes do cenário; o candidato Bolsonaro e Lula, o candidato a candidato.
Bolsonaro pelo menos é sincero e explícito; apoia abertamente a volta da ditadura militar, torce o nariz para tudo o que represente “direitos humanos”, cita torturadores como exemplos de conduta... Enfim, quem vota nele sabe exatamente o que ele pensa.
Já os que exigem a libertação de Lula são um pouco mais sutis, mas não menos perigosos. Afinal, acreditar que a condenação de Lula é um gesto político e não se baseia em provas reais significa pensar que o todo o sistema judiciário brasileiro não vale nada. E não é preciso ser um gênio para saber que a primeira coisa que qualquer regime ditatorial faz é acabar com o judiciário e estabelecer suas próprias leis. Juntando A com B...
Outro sintoma desta distorção pode ser visto na devoção que a maioria dos Lulistas tem por Fidel Castro. Não há como negar o carisma e a força de Fidel como líder, mas, por outro lado, é preciso entender que ele sempre foi um ditador, incapaz de conviver com o contraditório. Isto o coloca num nível muito abaixo de verdadeiros líderes democráticos, como Churchill e Mandela, só para citar dois. Resumindo; quem louva a trajetória de Fidel Castro não acredita em soluções democráticas, simples assim.
Enfim, o que une os dois lados aparentemente opostos desta moeda é o fascínio por líderes messiânicos e a incapacidade de conviver com quem ousa ter opiniões diferentes. Um lado quer a volta da ditadura dos militares, o outro acredita que Lula é o ditador “bonzinho e amigo do povo” que vai transformar o Brasil na grande e feliz Cuba dos sonhos deles.
O que me deixa mais preocupado é que, somados, Lulistas e Bolsonarianos representam mais da metade dos eleitores brasileiros. A conclusão é triste; democraticamente, a maioria dos brasileiros decide que é contra a democracia. Como é que a gente sai desta?
Quem viver, verá.