segunda-feira, 28 de setembro de 2015

REDUÇÃO DA EMISSÃO DE GASES; ENTRE A POESIA E O PROJETO

Infelizmente tenho um gosto musical totalmente diferente da maioria, e curto compositores que pouca gente conhece. Isto, provavelmente, vem desta minha mania (totalmente ultrapassada) de gostar de letras com significado, estruturadas em frases com sujeito, verbo e objeto. Isto me faz fã de nomes como Renato Teixeira, Paulo César Pinheiro, Luiz Vieira e outros que pouquíssima gente sabe que existem. Tudo bem, se a maioria absoluta prefere Valeska Popozuda e Michel Teló quem deve estar errado sou eu, mesmo.
Nesta minha busca por qualidade musical descobri, há algum tempo, um sujeito chamado Geraldo Azevedo, capaz de escrever uma coisa absolutamente linda, chamada “Dia Branco”. Para quem não conhece, a letra começa assim; “Se você vier, pro que der e vier comigo, eu te prometo o sol, se hoje o sol sair, ou a chuva, se a chuva cair...”. Nada mais lindo que o poeta pobretão dizendo à sua musa que nada tem a oferecer, além do que chamamos “amor”. Em tempos de “Material Girls”, acredito que nenhuma mulher mais acha interessante um papo destes, mas, enfim... poesia é a arte do impossível. Ou algo assim.
Antes que alguém pense que eu esclerosei de vez, gostaria de fazer o “link” entre o bom Geraldo Azevedo e o gerenciamento de projetos; é que, fiel ao meu espírito de velhinho metido a engraçado, elegi esta como a “Melô do Gerente de Projeto”; para quem não entendeu, acho que o bom gerente é aquele que não promete nada além do que pode cumprir. E, na grande maioria das vezes, nós só podemos prometer o sol e a chuva, desde que eles concordem com isto. Ou seja, nada.
Tudo isto me veio à cabeça ao ler o anúncio feito com pompa e circunstância, em plena ONU, pela nossa preclara “Presidenta” sobre as metas de redução de emissão de gases no Brasil; 35% até 2025, e 43% até 2030.
Minha longa experiência com gerenciamento de projetos me ensinou a duvidar deste tipo de números, por princípio. Além disto, a credibilidade da anunciante já anda abalada demais. Resumindo, gostaria de fazer apenas algumas perguntas;
a) De onde saíram estes números? Existem estudos conclusivos sobre o assunto? Estão disponíveis?
b) Teremos um cronograma com metas intermediárias (algo do tipo; até 2018 vamos reduzir em 5%, depois mais 10%, e assim por diante)? Ou o plano é empurrar com a barriga até 2024 e depois dizer “Ih, pessoal, foi mal, não deu, fica prá 2065, tá bom assim”?
c) Existe um plano de ações coordenadas definido? Ou depois a gente vai pensar nisto?
d) Existe um responsável pelo cumprimento do plano (gerente do projeto)? É a própria Dilma? E se o PT sair do poder em 2018, ninguém mais será responsável por nada?
e) Existe um plano de gerenciamento de riscos? Alguém já pensou nisto?
f) Resumindo, isto é um projeto ou um mero desejo (eu gostaria que a emissão de gases diminuísse)?
Só para livrar a cara dos meus amigos petistas, gostaria de dizer que tudo o que foi dito acima, sem tirar nem por, é o que aconteceu com o “Projeto de despoluição da Baía da Guanabara”, que já foi anunciado por diversos governantes de todos os partidos ao longo de muitos anos, e nunca saiu do papel. Na versão mais recente que lembro, o projeto foi anunciado como “prioritário” em 2002, quando o Rio de Janeiro foi escolhido como sede dos jogos Pan-americanos de 2007. Agora estamos em 2015, os atuais governantes jogaram a toalha e admitiram que a raia olímpica de 2016 vai ser a mesma porcaria que conhecemos. Depois a gente vê como é que fica.
Resumindo; uma meta de longo prazo, anunciada sem definição de cronograma, escopo e orçamento não é um projeto, é poesia. E se é para ser poesia, a Dilma que me perdoe, mas prefiro ouvir o bom Geraldo Azevedo, prometendo à amada “um dia branco, se branco ele for, este tanto, este canto de amor...”.
Até a próxima.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A Síndrome do Coelho da Alice

Da série “reflexões de um desocupado profissional”;
Sempre gostei de dois personagens do livro Alice no País das Maravilhas; o coelho branco e a rainha de copas. O primeiro vivia correndo de um lado para outro, carregando um relógio e dizendo que tinha pressa, mesmo sem saber direito para onde ia. Já a rainha, sempre que contrariada, só sabia ordenar; “cortem a cabeça!”.
Muitas vezes, durante projetos encrencados em que estive envolvido, alertei os colegas para o que eu batizava como “Síndrome do Coelho da Alice”; o cara ficava tão pressionado que tentava fazer tudo ao mesmo tempo e acabava fazendo tudo errado. Eu mesmo procurava organizar as minhas preocupações usando um método simples; anotava tudo em um caderninho, dividindo em “incêndios”, “importantes” e “VPMT – vou pensar mais tarde”. Havia uma última coluninha secreta, com o título “DPL (deixa prá lá)”, onde eu colocava tudo aquilo que me incomodava, mas eu não tinha como resolver, portanto não devia ocupar meu tempo. Diga-se que, nos meus últimos anos de Petrobras, esta era a coluna mais cheia... Enfim, deu no que deu.
Hoje o Brasil é muito parecido com o reino de Alice; Dilma cabe exatamente no papel da rainha desorientada e mandona, enquanto o Ministro Levy, provavelmente o único cara com um mínimo de bom-senso na corte dos malucos, é o coitado do coelhinho, que corre para todos os lados, mas não consegue resolver nada. Seria até divertido, se nós não fossemos os passageiros deste ônibus sem freio, ladeira abaixo.
Até a próxima.