quarta-feira, 25 de maio de 2011

CAUSOS, CULTURAS E RESULTADOS – PARTE 1 (de muitas)

Fiel ao espírito do blog, vou começar hoje a contar uma série (que espero seja interminável) de “causos” que demonstram minha tese (quase minha obsessão), sobre a influência da cultura e das crenças em nosso dia a dia – incluindo aí nossos projetos, sucessos e fracassos. Aliás, antes que eu me esqueça, a tese não é exatamente minha; Douglass North, economista que já ganhou até um Prêmio Nobel, disse que “somos prisioneiros de nossas próprias crenças”. E mais adiante acrescentou; “um País que valoriza a pirataria, vai produzir os melhores piratas”. Ou seja; cada um colhe o que planta. E as crenças são a nossa bússola.
Primeiro exemplo; o dragão da inflação brasileira começa a despertar. E o remédio prescrito é o de sempre; subir as taxas de juros. E aí vem uma pergunta que não quer calar; será que é preciso mesmo subir uma taxa de juros que já é a maior do mundo?
A resposta, infelizmente, é sim. E a explicação é muito simples; está nas nossas crenças, na nossa cultura. Fazendo um paralelo entre o Brasil e o Japão (só para citar um País onde a taxa de juros é baixíssima, independente de terremotos e tsunamis), vamos partir para um “causo” comparativo.
Talvez a maior característica do japonês seja a disciplina. Isto foi cantado em prosa e verso depois da tragédia de 11 de março (meu aniversário, por triste coincidência). Então imaginem um japonês que ganhe o equivalente a R$ 5.000,00 por mês. Posso dizer, sem medo de errar, que o máximo que ele vai gastar mensalmente serão R$ 4.000,00; os mil restantes vão para a poupança. E ai ele resolve comprar uma TV nova, por R$ 1.500,00. Pensam que ele vai tirar o dinheiro da poupança? Never. O japonês aperta o cinto durante os três meses seguintes, reduzindo seu gasto para R$ 3.500,00 mensais. Assim, ao final dos três meses, ele chega na loja com os R$ 1.500,00 que poupou a mais e compra a TV. Simples assim.
Já o brasileiro... bom, se o cara ganha R$ 5.000,00 por mês, tenho certeza que o mínimo que ele gasta é o salário todo. Você não leu errado; eu falei o mínimo, mesmo. Isto na melhor das hipóteses. E aí ele resolve comprar uma TV nova. O que ele faz? Descobre uma oferta sensacional do Magazine do Ricardão, ou das Casas Paraíba; zero de entrada, e comece a pagar depois da Copa América (ou do dia dos Namorados, ou do Natal, enfim, qualquer evento que esteja mais ou menos a três meses de distância). Dali prá frente serão apenas 36 prestações de R$ 100,00. Moleza completa! A única coisa que ele não vê é que vai pagar mais de duas vezes o valor da TV. Mas alguém está preocupado com isto?
As crenças ajudam a explicar isto. Japoneses são profundamente religiosos – este é um valor muito sério para eles. E, para os budistas a pior coisa que pode acontecer a alguém é morrer e deixar a família em dificuldades – dizem que o espírito irá sofrer muito, e a família também. Isto gera, na economia japonesa, um efeito que às vezes é danoso; eles odeiam consumir. Mas é só comparar a nossa situação com a deles para ver que isto não é de todo ruim.
Já o brasileiro, mesmo se dizendo religioso (em alguns casos), é o hedonista por princípio. O grande medo do brasileiro é morrer e não ter curtido o suficiente. Ninguém tem paciência de esperar; queremos tudo ao mesmo tempo agora. É só a situação melhorar um pouquinho, para termos verdadeiros estouros de boiada em termos de consumo. O resultado é que hoje estamos com uma situação que não tem como se sustentar (não precisa ser um gênio em economia para entender isto); o Brasil é um dos lugares mais caros do Mundo para viver. Já passamos por isto antes; no início dos anos 70, o Presidente Médici saiu do governo com uma aprovação muito semelhante à que Lula teve; na época do Plano Cruzado, Sarney virou ídolo nacional. As receitas foram semelhantes; gastança de dinheiro público, um crescimento inflado pelo aumento estratosférico da dívida pública, e lá vamos nós, de novo. Infelizmente, o consumidor brasileiro insiste em se comportar como uma criança mal educada, que não pode ver a mesa cheia que já quer comer todos os doces ao mesmo tempo. Depois vem uma dor de barriga... Aliás, a expressão “criança mal educada” não apareceu no texto por acaso; a única coisa que poderá salvar este País é a educação. E o começo da educação é a reforma dos paradigmas.
Moral da história; cada um chega aonde tem que chegar – ou onde suas crenças o levam. Demonstramos nosso teorema. Mas, conforme eu disse, esta é só a primeira história. Outras virão, se Deus quiser...

sábado, 21 de maio de 2011

Projetos do Campeonato Brasileiro - 2011

Repetindo o que fiz no ano passado, seguem as nossas previsões para os projetos dos times brasileiros para o campeonato que começa hoje. Para quem não leu o post anterior, repito o texto introdutório. A única (e significativa) modificação é que trata-se de um novo campeonato, com novos times... Vamos lá.
Costumo dizer que, em projetos, não se deve trabalhar com valores fixos para prazo, custo e resultados, de um modo geral. Isto pode até ser válido para casos específicos (projetos de curtíssimo prazo, por exemplo), mas, de um modo geral, acho que é mais razoável considerar os resultados de outra forma. A própria análise quantitativa de riscos nos conduz a isto; via de regra, o seu resultado final nos diz que o prazo (ou custo) do projeto pode variar de “x” a “y”, dentro de uma curva probabilística. Assim sendo, considero que é uma boa prática, ao fixarmos os chamados “objetivos” de um projeto, trabalhar com pelo menos três cenários; o principal, o pessimista e o otimista. Assim, ao invés de afirmar que o projeto vai durar dez meses e custar duzentos mil reais, prefiro acrescentar um “sujeito a pequenos desvios” (o que significa “pequenos desvios”? Varia caso a caso. Digamos que 10 a 20% é um chute razoável).
Além disto, podemos ter cenários de “grande satisfação” (melhor que o otimista) e “grande insatisfação” (pior que o pessimista), para os quais poderíamos fixar um desvio de até 50% (chute). O que cair fora disto, pode ser felicidade total ou tragédia, mas é uma probabilidade muito baixa.
Procurando dar um exemplo prático, vamos de novo ao futebol. Neste momento, vinte clubes do Brasil lançam-se a um projeto que vai durar os próximos oito meses; o Campeonato Brasileiro. Para efeito didático, dividi os clubes em quatro grupos, usando para isto a minha sabedoria absoluta sobre o assunto (não abrirei discussões, é claro. Vale a minha opinião e acabou). Para cada grupo, fiz uma projeção de resultados prováveis, otimistas e pessimistas e, em alguns casos, tragédias e felicidades totais. Vamos ver em dezembro qual o meu índice de acertos...

Grupo A – Internacional, Cruzeiro, Santos(*)
Objetivo do projeto; Ser campeão
Vaga na Libertadores – não foi bem o que o cliente queria, mas... ainda é satisfatório;
Vaga na Sulamericana – hipótese pessimista;
Menos que isto – grande insatisfação, tragédia

Grupo B – Grêmio, Corinthians, Fluminense, Flamengo, Coritiba (*)
Objetivo do Projeto; Vaga na Libertadores
Ser campeão – hipótese otimista;
Vaga na Sulamericana – hipótese pessimista;
Escapar do rebaixamento – grande insatisfação;
Rebaixamento – tragédia

Grupo C – Avai (*), Botafogo, Vasco (*), São Paulo, Palmeiras, Atlético-MG
Objetivo do projeto; Vaga na Sulamericana
Ser campeão – excederia a expectativa;
Vaga na Libertadores – hipótese otimista;
Escapar do rebaixamento – hipótese pessimista;
Rebaixamento – grande insatisfação.

Grupo D – Figueirense, Atlético-GO, Atlético-PR, Ceará (*), Bahia, América-MG
Objetivo do projeto; escapar do rebaixamento
Ser campeão – fala sério... o cliente vai ter um infarto.
Vaga na Libertadores – excederia a expectativa;
Vaga na Sulamericana – hipótese otimista;
Rebaixamento – hipótese pessimista.

(*) – Detalhe importante; estes cinco clubes (Santos, Vasco, Avaí, Ceará e Coritiba) ainda estão envolvidos em torneios que dão vagas para a Libertadores-2012. Assim sendo, se algum deles garantir a vaga, já vai deixar o cliente feliz o suficiente. É só não ser rebaixado...

Notas importantes; no ano passado, o campeão foi o Fluminense, que eu havia colocado no grupo “C”. Já o Vitória que, no início do campeonato, estava disputando a final da Copa do Brasil (perdeu para o Santos), acabou sendo rebaixado... Enfim, como diria Júlio Cesar (o Imperador romano, não o goleiro do Corinthians); alea jacta est!