quarta-feira, 10 de novembro de 2010

E LÁ VEM ELES COM AS COTAS. DE NOVO...

Li hoje, na coluna do Ancelmo Goes, que Frei David dos Santos, descrito como “um grande batalhador da causa afrodescendente no Brasil”, teria escrito uma carta à futura Presidente Dilma Rousseff, pedindo um ministério com 30% de negros e 30% de mulheres.
Não conheço o Frei David dos Santos, mas já descobri que temos um ponto em comum, uma vez que eu sempre fui simpático à causa dos afrodescendentes (e também das mulheres, homossexuais e discriminados de uma forma geral), mas acho que esta criação de “cotas percentuais” é, seguramente, a forma menos adequada de solucionar o problema.
A premissa básica para a adoção de um sistema de cotas (seja ele qual for), é defender alguém que não conseguiria obter um determinado posto em função das suas limitações. Esta premissa é obviamente falsa, tanto com relação aos negros como quanto às mulheres. E acaba por criar uma espécie de preconceito às avessas, ao facilitar a vida de determinados grupos em detrimento de outros.
Ninguém pensa em criar uma cota para brancos na seleção brasileira de futebol ou uma cota para baixinhos na seleção de vôlei (imagino como reagiriam Mano Menezes e Bernardinho a este tipo de proposta). E um ministério, embora ninguém no Brasil ligue muito para isto, é uma espécie de seleção brasileira, onde os cargos devem ser preenchidos única e exclusivamente em função da competência e do mérito de cada um para exercer o cargo.
Neste ponto, a proposta de Frei David é tão indecente quanto o fisiologismo dos partidos políticos, que trocam apoio por “cotas” no poder executivo ou nas estatais.
Resumindo, tenho uma proposta simples; quem sabe a Presidente Dilma não assume um estilo totalmente inovador e nomeia o seu ministério (e, de quebra, todos os postos executivos de estatais e empresas públicas) baseando-se, unicamente, na competência das pessoas, sem levar em conta raça, sexo, partido político ou qualquer outro critério? Não sei qual seria o percentual que tocaria para cada um, mas tenho certeza que teríamos negros, brancos, mulheres, homens, homossexuais, jovens e velhos, e a coisa funcionaria perfeitamente integrada. Porque tenho certeza que a única coisa capaz de salvar este País é a valorização da competência, em todas as áreas de conhecimento. E, infelizmente, a adoção de sistemas de cotas (sejam eles quais forem) sempre será um entrave para este processo.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Planejamento familiar; um assunto para ser levado a sério

A nova pesquisa de IDH feita pela ONU e divulgada ontem não apresenta qualquer surpresa para nós, brasileiros; melhoramos um pouquinho, mas continuamos devendo (muito) na área de educação. E não é preciso ser muito esperto para entender que um País que fracassa nesta área está plantando o seu fracasso para o futuro. Ou seja; tudo o que foi conseguido de bom na área econômica nos últimos anos (procurando ser justo, temos que reconhecer como grandes avanços a estabilidade econômica de FHC e o desenvolvimento e melhor distribuição de renda do Lula); só que tudo isto corre o risco de se reduzir a pó nas próximas décadas se não for resolvido o grande nó da educação neste País.
E nesta hora não há como ignorar a importância do planejamento familiar (ou controle de natalidade, conforme queiram chamar). É impressionante o tabu que cerca este assunto. Chega a ser estranho ver como todo mundo fica impressionado com os resultados obtidos nas últimas décadas pela China e a Índia, e quase ninguém lembra que tudo começou com programas agressivos de controle de natalidade impostos pelos respectivos governos lá pelos idos de 1970, mais ou menos. Um simples raciocínio matemático nos mostra que, se não fosse por este controle, hoje a China, ao invés de ter uma população de 1,6 bilhão de habitantes vivendo um crescimento econômico exponencial teria, provavelmente, uns três bilhões, com pelo menos metade deles vivendo na miséria absoluta. O mesmo raciocínio vale para a Índia, e até para a minúscula Cingapura, uma cidade-estado de míseros seis milhões de habitantes, que hoje é uma das líderes mundiais em competitividade, e um dos melhores IDH do Mundo (só para citar um exemplo; boa parte das plataformas de petróleo da Petrobras são montadas lá). Cingapura, para quem não sabe, também estabeleceu regras rígidas de planejamento familiar na mesma época em que chineses e indianos.
O raciocínio é simples e lógico; se soubermos quantas crianças vão nascer nos próximos vinte anos, podemos estimar quantas escolas e quantos professores serão necessários, quais as especialidades que serão requeridas, e por aí vai. Isto se chama planejamento; e todo mundo sabe que ninguém chega a lugar nenhum sem planejamento. Não é preciso ser um gênio para entender que é muito mais fácil resolver o problema de escola, comida e emprego para dois mil jovens do que para cem mil.
Se a Presidente Dilma quiser marcar sua passagem pelo poder como uma verdadeira estadista, acho que é hora de deixar de ouvir seus marqueteiros, e tomar uma ação firme nesta área. A favor do controle de natalidade existem exemplos e argumentos sólidos; contra ele, alguns tabus religiosos e, por incrível que pareça, uma crença existente em boa parte do nosso povo que associa a capacidade de procriar à virilidade do homem (eu juro que já ouvi isto mais de uma vez). É hora de lançar luz sobre a questão, e espantar a treva da ignorância. As futuras gerações de brasileiros agradecerão.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eu tive um sonho (que Martin Luther King me perdoe...)

Estava assistindo o debate entre os dois candidatos, dormi e sonhei...
Sonhei que o debate era entre dois candidatos de verdade, não produtos de marketing, vendidos como sabonete ou pasta de dentes...
Sonhei que neste debate se discutiam ideias relevantes, planos de governo, e não se a Dilma foi guerrilheira ou se a mulher do Serra fez um aborto...
Sonhei que Lula, o nosso primeiro mandatário, o líder máximo da nação, se portava como tal e, equidistante, dizia sobre a eleição; eu apoio minha candidata, mas tenho tarefas mais importantes na minha agenda do que tratar da eleição dela...
Sonhei também que as empresas estatais eram dirigidas por funcionários de carreira, escolhidos por sua capacitação técnica, e que estas empresas ficavam totalmente afastadas de todo o processo eleitoral...
Mais importante que tudo isto, sonhei que questões como união entre homossexuais, aborto e otras cositas mas eram tratadas estritamente sob o ponto de vista legal, sem interferência de fanatismos ou obtusidades religiosas...
Mais ainda; sonhei que o debate era totalmente político, e nenhum dos lados estava interessado em apesar o outro como “menos cristão”, ou ainda, “do demônio”...
Mas a melhor parte do sonho foi quando consegui imaginar que o povo brasileiro estava realmente interessado nas propostas dos candidatos, e assistia ao debate de forma ordeira e civilizada, preparando-se para eleger apenas mais um Presidente, em uma sucessão normal em um processo democrático, e não um novo Messias, propondo-se a reinventar o País, como fazemos a cada nova mudança...
O azar é que eu acordei. Exatamente a tempo de ouvir a candidata teleguiada psicografando seu mestre e dizendo, mais uma vez, “nunca na História deste País...”.
Recado final; a diferença entre um País sério e o nosso é que os outros não se reinventam a cada quatro anos. Lá existe um negócio chamado “processo democrático”, em que o poder se alterna, civilizadamente, e é perfeitamente possível e aceitável que os novos governantes reverenciem e deem continuidade ao trabalho de seus antecessores, independente do partido político ao qual sejam filiados. Mas isto talvez seja muito sonho pro nosso bico... E viva o Tiririca! (Aliás, perdão; Vossa Excelência, o Deputado Tiririca)!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Lula ganha um tempo para decidir entre o bem e o mal

O resultado do primeiro turno das eleições presidenciais representou uma dura derrota para o Presidente Lula. Ele apostou pesado que o seu carisma e a aprovação maciça de seu governo seriam suficientes para destroçar qualquer adversário – e perdeu feio. É claro que Dilma continua favorita, e deve se eleger naturalmente, mas o fato é que Lula teve que aprender que não era o senhor absoluto da vontade do povo brasileiro, e isto deve ter sido frustrante para o seu recente surto megalomaníaco. Na semana passada ouvi uma piadinha que dizia que a diferença entre Chavez e Lula era que Chavez achava que era Deus, e o Lula tinha certeza que era. Hoje, acredito que Lula acordou mais humano.
E espero que esta ressaca faça bem a ele. Porque não tenho a menor dúvida que Lula, pelo seu carisma, inteligência e história de vida tinha tudo para ser o grande líder que o Brasil precisava para finalmente sair do estado emergente para o de nação de primeira linha. Só que o que diferencia os grandes líderes dos meros caudilhos é justamente a grande visão, o sonho; “I have a dream”, dizia o grande Martin Luther King. Líderes de verdade sempre colocam o interesse das nações e dos povos acima dos seus; este foi o caminho de Gandhi, Luther King e Mandela, por exemplo. Só que Lula se deixou embriagar pelo poder (sem duplo sentido, por favor), e trocou a grande mudança pela eleição de sua candidata. Com isto, deixou a posição de condutor do processo (que, afinal, é a que cabe ao Presidente da República em um regime democrático) e virou um cabo eleitoral fanático, muitas vezes grosseiro e autoritário. Diga-se, em tempo; neste aspecto, ele ficou muito abaixo de seu antecessor, o tão criticado FHC, que portou-se como um verdadeiro lorde inglês no processo de transição democrática entre ele e o então opositor Lula, em 2002.
Assim, Lula não hesitou em aliar-se aos seus antigos inimigos e, inteligente que é, aprendeu rápido, e passou a agir como eles, acobertando casos evidentes de corrupção, culpando a imprensa por denúncias, enfim, trocou tudo o que poderia fazer de bom e construtivo para o Brasil por um projeto pessoal de poder eterno, acreditando que, ao contrário do que pregava o velho e bom Abraham Lincoln, poderia enganar todo o povo durante todo o tempo.
Hoje a conta chegou. A festa teve de ser adiada. E espero que Lula aproveite este intervalo entre o primeiro e o segundo turno para repensar a sua posição. E assumir o papel que está reservado para ele na história do Brasil; o de líder de uma grande mudança. A outra possibilidade é ser apenas mais um caudilhozinho latino americano, soltando bravatas e tentando convencer o povo que ele é o Senhor e Dilma a sua profeta. Ele decidirá o caminho a tomar; e o tempo, o implacável senhor da razão, vai julgá-lo. Que Deus o ilumine para que tome o rumo certo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

FUTEBOL SE GANHA NO CAMPO. E O CAMPO TEM QUE SER BOM

Muito se fala sobre as diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu – salários, organização, etc... Tenho um ponto de vista claro sobre o assunto; embora ainda exista um abismo entre estes dois mundos, o fato é que, a partir do momento em que o nosso futebol atingiu um patamar mínimo de organização (campeonato de pontos corridos, respeito às regras de acesso e descenso, calendários planejados e divulgados com antecedência) a situação dos nossos clubes melhorou muito. É claro que ainda estamos longe do ideal (muito por conta de um passivo monumental de dívidas, herdado de anos e anos de bagunça), mas não há dúvida que, hoje, clubes como o Internacional, São Paulo, Cruzeiro e outros já podem encarar de frente as propostas bilionárias dos europeus e manter algumas de suas grandes estrelas (o Santos acabou de provar isto, ao vencer uma queda de braço com o poderoso Chelsea, da Inglaterra, pelo craque Neymar). Mas o assunto que eu gostaria de abordar agora é outro, dentro do mesmo tema; se queremos manter os nossos melhores craques por aqui, temos que dar a eles, além de dinheiro, condições de trabalho. E um bom campo para jogar é a primeira condição. Neste ponto, ainda temos um espaço muito grande de melhoria.
Observem os jogos de qualquer campeonato europeu (hoje passam muitos na TV por assinatura), e verão que qualquer timeco recém promovido da segunda divisão da Rússia, Portugal ou Holanda possui um gramado em excelentes condições (nem vou falar nas grandes ligas da Inglaterra ou Alemanha, porque é covardia). Enquanto isto, por aqui, temos verdadeiros pastos, onde dá para fazer qualquer coisa, menos jogar futebol no nível que uma competição profissional exige.
Só para ficar em dois exemplos do fim-de-semana, o gramado(?) do Engenhão tirou pelo menos um gol do Botafogo (com Loco Abreu) e o do Brinco de Ouro tirou um do Fluminense (com Conca). Nas duas jogadas, a bola sobrou limpa na área e eles isolaram; uma observação mais cuidadosa do lance, em câmera lenta, mostra claramente que os dois jogadores foram traídos pela trajetória sempre imprevisível da bola em campos tão ruins. Fiquei até com pena de ver o Deco, depois de anos jogando em gramados “de golfe”, sendo obrigado a arriscar seus tornozelos milionários num campo esburacado daqueles.
Sinceramente, não consigo acreditar que as condições climáticas do Brasil sejam tão ruins que não permitam a boa conservação dos gramados. E só questão de trabalhar para isto. Afinal, existem também campos excelentes; Beira-Rio, Olímpico, Vila Belmiro, Morumbi... será que é tão difícil?
Por enquanto, acho que uma proposta interessante seria criar um critério pelo qual o time que não apresentasse um campo com o mínimo de condições para um bom jogo de bola fosse punido com a perda de seis pontos e alguns mandos de campo. Poderia ser nomeada uma comissão de ex-jogadores (para evitar pressões dos cartolas), que faria uma vistoria em cada campo, de preferência alguns meses antes do início do campeonato, para dar tempo ao clube de ajeitar as coisas, caso houvesse algum problema.
É uma sugestão simples, mas acho que funcionaria. E nos pouparia do terrível espetáculo de furadas e bolas isoladas (e até contusões) causadas pela má qualidade dos gramados. É claro que alguns jogadores continuariam furando e isolando a bola, mas aí poderíamos dizer que é por ruindade, mesmo. Só que, quando o gramado é muito ruim, até o Neymar chuta de canela e perde gol feito.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

UM PAÍS QUE NÃO RI NÁO É SÉRIO

Não há como ficar calado diante do absurdo que é a proibição, pelo TSE, do uso da imagem dos candidatos nos programas humorísticos da TV. Mais do que uma medida antipática e absurda, na contramão da democracia, representa uma tentativa de controlar e regular o uso da inteligência nos meios de comunicação. Afinal, já dizia o velho mestre Millor Fernandes, “fazer humor é fazer cócegas na inteligência dos outros”. Ou seja; a sátira, a ironia, são formas superiores de inteligência, e exigem também inteligência e informação por parte do espectador. Nada mais triste e desagradável do que contar uma piada e ver que as pessoas em volta não conseguiram entender. Acho que não estou exagerando ao dizer que o humor fino e inteligente é uma das características que diferenciam o ser humano dos animais.
Mas os gênios que dirigem o Brasil não pensam assim. E, usando o seu bordão preferido, podemos dizer que “nunca na história deste País” tivemos proibições tão estapafúrdias. Lembrando o antipático e grosseiro ex-treinador da nossa seleção, eu diria que estamos instalando a “era Dunga” na política brasileira; é proibido rir, o bom humor se tornou uma ameaça às instituições democráticas. Não sou profeta, mas posso garantir que, no fim, o legado desta proibição ridícula será o mesmo que Dunga deixou para a seleção, ou seja, nada. No fundo, é simples entender; todo o sujeito que ocupa uma posição de mando sem ter mérito para tal (e isto vale para políticos, técnicos de seleção, burocratas e toda esta turma) morre de medo da crítica inteligente e bem informada. Não é por outra razão que os repórteres do CQC (só para citar um exemplo de humoristas inteligentes) volta e meia são agredidos fisicamente. Só que agora chegamos ao fundo do poço; é proibido, por lei, ironizar e satirizar os poderosos – o próximo passo, obviamente, será banir o raciocínio inteligente de todo o território nacional.
É triste ter que insistir neste tema, mas a verdade é que, mais uma vez, vemos com tristeza a falta que faz um mínimo de cultura. Se os nossos poderosos conhecessem um mínimo de história universal, saberiam que mesmo os reis absolutistas da Idade Média mantinham no palácio o chamado bobo da corte – um artista inteligente e irônico, cuja função era fazer todo mundo rir, e que tinha o direito de fazer piadinhas até com a família real (é claro que era uma atividade de alto risco; de vez em quando o Rei perdia a esportiva e mandava enforcar um deles. Mas eram exceções). Dizem que os Césares de Roma também tinham alguma coisa parecida. Mas a nossa elite política não sabe disto. E prefere o estilo “prendo e arrebento”, consagrado pelo nosso último General-Presidente (que, justiça se faça, teve, ao longo de seu governo, atitudes bem mais democráticas do que alguns “representantes do povo” que andam por aí).
Resumindo, mais uma vez o Brasil toma o caminho errado. Acredito que alguma mente pouco iluminada de Brasília deve ter pensado que, calando os humoristas, iríamos nos tornar, finalmente, um País sério. Respondo citando o velho e bom Sérgio Jaguaribe, o Jaguar; “A seriedade é anti-humana. O Nazismo, por exemplo, era sério prá caramba”. Falou e disse, conforme se falava (e dizia) na época. Um País que cala os seus humoristas não se torna um País mais sério; vira um País mais triste. E mais burro. Muito burro.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Tecnologia x arbitragem - uma questão de bom-senso

Seguramente, nenhum esporte rivaliza com o futebol em termos de popularidade no mundo. E não há dúvidas que a simplicidade de suas regras está na base deste sucesso. Organizar um jogo de futebol é muito simples, não há a necessidade de equipamentos complicados, não existe nem mesmo um biótipo ideal (conhecem algum bom jogador de vôlei da altura do Romário?), enfim, o futebol agrada a todos. Só que não há como fechar os olhos ao fato de que estas mesmas regras, mantidas quase inalteradas por mais de um século, precisam de uma reforma urgente. O aumento da velocidade e da força dos jogadores, e a tecnologia que foi desenvolvida ao longo dos últimos anos fazem com que, cada vez mais, os erros de arbitragem aconteçam e fiquem expostos. E usar golpes baixos como proibir a reprodução dos lances polêmicos nos telões dos estádios, é tentar tapar o sol com uma peneira, como diria minha sábia avó.
Como sair desta? Acho que é possível alcançar um ponto de equilíbrio entre a tradição e o progresso. O Presidente da FIFA tem toda a razão quando diz que o futebol não é um jogo que possa ser interrompido a toda hora, e muito menos é possível voltar um ponto (como se faz no tênis ou no vôlei). Assim sendo, ficaria difícil parar o jogo em todos os lances “suspeitos”, para que os árbitros pudessem rever decisões. Desta forma, me parece que o mais racional seria tentar, pelo menos, aumentar o número de árbitros em campo, para que os lances pudessem ser observados mais de perto. A título de comparação, o basquete e o futsal, que são disputados em quadras bem menores, tem dois árbitros (três, no caso da NBA), além da mesa de cronometragem. No vôlei temos dois árbitros e quatro auxiliares.
No campo da tecnologia, acho que a bola com sensor de posição seria uma novidade interessante (fico na dúvida sobre o que acontecerá quando o sensor falhar e anotar um gol erradamente). O uso do replay talvez fosse bom, mas limitado a um ou dois lances por jogo. Enfim, acho que será difícil aplicar a tecnologia na prática, sem tornar o jogo monótono, com interrupções a toda hora.
Resumindo, minha proposta seria a adoção de três novidades simples;
- Dois árbitros em campo (cada um numa metade do gramado);
- Dois árbitros específicos para jogadas próximas ao gol;
- Mudar a lei do impedimento (só marcar impedimentos da linha da área para a frente, o que facilitaria muito a vida dos bandeirinhas).
Acho que com estas pequenas mexidas, teríamos um jogo mais dinâmico, e uma boa redução no número de erros de arbitragem.
Só para refrescar a memória, vale lembrar que as duas mudanças mais significativas que ocorreram nas centenárias regras do futebol foram introduzidas depois de Copas com algum tipo de problema. Lembrando;
a) As substituições e os cartões amarelos e vermelhos viraram regra depois da Copa de 1966 (quando, por força da evolução física dos atletas, os choques se tornaram mais freqüentes e o jogo mais violento);
b) A proibição do goleiro agarrar uma bola atrasada foi estabelecida após 1990 (a pior copa da história, com a média de gols mais baixa de todos os tempos).
Tomara que o excesso de erros de arbitragem e a falta de gols que estão sendo características desta copa de 2010 acabem por prestar um grande favor ao futebol, acelerando a introdução destas mudanças.
E, antes que eu me esqueça; dizer que erro de arbitragem faz parte da “magia do futebol” é dose... Fala sério!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Rei, o Anão Zangado e o Bobo da Corte

Sem dúvida, Diego Maradona é a figuraça desta Copa do Mundo. Ou, para usar o termo popularizado pelo filme “Tropa de Elite”, é o maior fanfarrão. Suas atitudes e declarações polêmicas fazem a alegria dos meios de comunicação. E o mais engraçado é que o seu time (que, apesar de desorganizado, tem a maior concentração de talento por metro quadrado do planeta) parece que resolveu acertar. De certa forma, don Diego tem lá sua parcela de mérito nesta história toda, uma vez que, com suas palhaçadas, acaba por atrair para si todos os refletores, diminuindo a pressão sobre os atletas, deixando-os à vontade para fazer o que sabem – jogar bola.
Maradona parece ter uma obsessão na vida; superar Pelé. Como o conjunto de seus feitos no futebol, embora respeitável, não se compara ao do brasileiro, ele utiliza sua ferina ironia para promover guerrilhas verbais com o Rei. E Pelé acaba caindo na provocação. É um grande erro; o Rei não deve discutir com um Bufão. Do Rei se espera coerência de atitudes; do Bufão, bobagens. No fim, Maradona sempre dá a impressão de se sair melhor que Pelé nestas briguinhas bobas. O fato é que ele precisa disto, e Pelé não.
De qualquer forma, não há dúvida que Maradona está dando a esta Copa um brilho que estava faltando. Lembro de uma frase que ouvi há algum tempo; “os ingleses bem educados inventaram o tênis, os mal educados inventaram o futebol”. Acho que o que torna o personagem Maradona fascinante é justamente a sua falta de modos. Quando baixa o nível na entrevista e manda os jornalistas “chuparem”, quando sai do treinamento fumando um charuto, quando demonstra ao Mundo sua simpatia pelos tiranos Fidel Castro e Hugo Chavez, ele nos traz o lado malcriado que todo o torcedor tem (para quem não acredita, sugiro a leitura do livro “Como o futebol explica o Mundo”, de Frederic Foer. Este jornalista americano prova que os gritos de guerra das torcidas, em todos os lugares do mundo, têm sempre algo de preconceituoso, ou homofóbico, ou racista, ou tudo junto. Resumindo; o ser humano, na média, não é lá grande coisa. E é no meio da torcida que ele solta o que tem de pior dentro de si).
Maradona se lixa para a praga do “politicamente correto”, e isto é ótimo. Existe coisa mais chata que uma entrevista do Dunga (o nosso anão zangado)? E o pior é que quase todos os técnicos desta Copa (mesmo os mais educados), são tão chatos quanto. O futebol jogado é reflexo disto tudo, falta emoção, todo mundo se borra de medo de perder. O que Maradona acaba por demonstrar é que o futebol não precisa desta seriedade toda; é só um jogo. E é muito mais lúdico tentar fazer gols do que evitá-los a todo custo.
Resumindo; ninguém quer que a Argentina seja campeã. Mas que os jogos deles são mais divertidos que os nossos, isto não tem dúvida...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Seleção sem graça

Posso jurar que jamais passará pela minha cabeça a idéia de torcer contra o Brasil. Mas não tenho a menor dúvida que Dunga e Jorginho formam a mais antipática dupla de treinadores que a nossa seleção já teve em uma Copa do Mundo. E o time, infelizmente, é o reflexo fiel disto. É muito difícil sentir empatia por esta equipe.
E, pelo amor de Deus, não façam comparações entre Dunga e Felipão. Pra começar, Felipão chegou no Japão em 2002 carregando uma bagagem de títulos que começava na Copa do Brasil do Criciúma, em 1991, e incluía, entre outras coisas, duas Libertadores (com o Grêmio, em 95, e o Palmeiras, em 99). Era um técnico consagrado. E, mesmo sendo às vezes carrancudo, nunca deixou de ter um sorriso e um abraço paternal para com seus comandados. Ele é o típico “Nonno” italiano, capaz de xingar todas as tuas gerações num momento de raiva, e depois chorar no teu ombro pedindo desculpas. A prova disto é que nunca ouvi falar de algum ex-jogador de Felipão que tenha mágoa dele (até mesmo o boquirroto Romário, cuja barração foi muito contestada na época, se diz amigo dele).
Já Dunga é uma figura quixotesca; nunca parece feliz, não sorri, e distila seu ódio e rancor contra tudo e todos. Em suas entrevistas, raramente fala de táticas e menos ainda de técnica; prefere usar termos como “patriotismo” e “espírito de guerreiros”. E, pior que tudo, sempre que pode deixa claro que não é possível ganhar e fazer um jogo agradável aos olhos. No fundo, Dunga passa a impressão de que odeia futebol. O que ele gosta mesmo é de guerra.
Na minha humilde visão, disciplina tática e criatividade podem (devem) conviver numa equipe. Dunga talvez tenha esquecido que, mesmo na ultra-pragmática equipe de 94, que parece ser o seu time dos sonhos, havia espaço para os solos artísticos de Romário, que foi quem desequilibrou a Copa a nosso favor. Em 2006 o erro do Brasil foi acreditar que o talento poderia superar a bagunça. Acho que Dunga está caindo no extremo oposto – o que pode ser um erro pior ainda.
Por fim, para provar definitivamente que tudo que está ruim sempre pode piorar, enquanto o Dom Quixote original tinha no escudeiro, o gordo e bonachão Sancho Pança, um ponto de contato com a realidade da vida, Dunga conseguiu arranjar um ajudante pior que ele; Jorginho, além de compartilhar o mau humor do chefe, ainda tem como característica marcante um fundamentalismo religioso quase doentio. Assim, ao invés de tentar convencer Dunga que os monstros que ele vê são apenas moinhos de vento, Jorginho ainda garante que, além de monstros, são demônios - e empunha sua espada sedenta do sangue dos infiéis. Por favor, que fique claro que não sou contra a religião de ninguém; só me dou o direito de não gostar de gente fanática, capaz de confundir um simples jogo de futebol com uma batalha contra os mouros.
Resumindo; vamos torcer pela nossa seleção, é claro. Mas, se a vitória vier (e tomara que venha!), que ninguém diga que foram os cruzados de Dunga e Jorginho que venceram o Mundo, muito menos que o exército dos cristãos purificados derrotou as hostes das trevas, aqueles devassos que (imaginem só!) gostam não só de futebol, mas também de bebida, chocolate e sexo (não necessariamente nesta ordem). E, principalmente, que não se estabeleça como verdade irreversível que não é possível ganhar e jogar bonito. Afinal, a própria FIFA se refere ao futebol como “the beautiful game”. Que continue assim.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

PROJETOS DO CAMPEONATO BRASILEIRO – 2010
Costumo dizer que, em projetos, não se deve trabalhar com valores fixos para prazo, custo e resultados. Isto pode até ser válido para casos específicos (projetos de curtíssimo prazo, por exemplo), mas, de um modo geral, acho que é mais razoável considerar os resultados de outra forma. A própria análise quantitativa de riscos nos conduz a isto; via de regra, o seu resultado final nos diz que o prazo (ou custo) do projeto pode variar de “x” a “y”, dentro de uma curva probabilística. Assim sendo, considero que é uma boa prática, ao fixarmos os chamados “objetivos” de um projeto, trabalhar com pelo menos três cenários; o principal, o pessimista e o otimista. Assim, ao invés de afirmar que o projeto vai durar dez meses e custar duzentos mil reais, prefiro acrescentar um “sujeito a pequenos desvios” (o que significa “pequenos desvios”? Varia caso a caso. Digamos que 10 a 20% é um chute razoável).
Além disto, sempre dependendo do caso, podemos criar cenários de “grande satisfação” (melhor que o otimista) e “grande insatisfação” (pior que o pessimista), estabelecendo os seus limites. E o que cair fora disto, pode ser enquadrado como "exceder expectativas" ou "tragédia" (lembrando sempre que estamos falando de uma forma genérica, e cada projeto é um projeto).
Procurando dar um exemplo prático, vamos de novo ao futebol. Neste momento, vinte clubes do Brasil lançam-se a um projeto que vai durar os próximos oito meses; o Campeonato Brasileiro. Embora o projeto seja o mesmo para todos, é claro que existem expectativas diferentes do clientes (torcedores), conforme a capacidade técnica ou a tradição do time. Para efeito didático, dividi os clubes em quatro grupos, usando para isto a minha sabedoria absoluta sobre o assunto (não abrirei discussões, é claro. Vale a minha opinião e acabou). Para cada grupo, fiz uma projeção de resultados prováveis, otimistas e pessimistas. Vamos ver em dezembro se eu tenho alguma vocação para oráculo...

Grupo A – Internacional(*), São Paulo(*), Cruzeiro, Santos(*)
Objetivo do projeto; Ser campeão
Vaga na Libertadores – não foi bem o que o cliente queria, mas... ainda é satisfatório;
Vaga na Sulamericana – cenário bem pessimista;
Escapar do rebaixamento – quase uma tragédia;
Rebaixamento - hipótese não prevista (desvio muito grande).

Grupo B – Grêmio, Corinthians, Atlético-MG, Flamengo
Objetivo do Projeto; Vaga na Libertadores
Ser campeão – cenário otimista;
Vaga na Sulamericana – cenário pessimista;
Escapar do rebaixamento – grande insatisfação;
Rebaixamento – tragédia

Grupo C – Avai, Fluminense, Botafogo, Vasco, Vitória(*), Palmeiras, Atlético-PR
Objetivo do projeto; Vaga na Sulamericana
Ser campeão – excederia a expectativa;
Vaga na Libertadores – cenário otimista;
Escapar do rebaixamento – cenário pessimista;
Rebaixamento – grande insatisfação (mas é uma hipótese razoável).

Grupo D – Goiás, Atlético-GO, Grêmio Prudente, Guarani, Ceará
Objetivo do projeto; escapar do rebaixamento
Ser campeão – fala sério... o cliente vai ter um infarto.
Vaga na Libertadores – excederia a expectativa;
Vaga na Sulamericana –cenário otimista;
Rebaixamento – cenário pessimista.

(*) – Detalhe importante; estes quatro clubes (Inter, São Paulo, Santos e Vitória) ainda estão envolvidos em torneios que dão vagas para a Libertadores-2011. Assim sendo, se algum deles garantir a vaga, já vai deixar o cliente feliz o suficiente. É só não ser rebaixado...

sábado, 15 de maio de 2010

Será que Lula vai salvar o Mundo?

O nosso presidente Lula resolveu agora que vai solucionar a eterna crise do Oriente Médio. Carisma e inteligência não lhe faltam mas, como diria a minha vó, acho que ele está dando um passo maior que as pernas. Lula cometeu, já neste primeiro encontro com o presidente russo, um erro crasso; falando em português, resolveu agarrar o braço dele, para mostrar intimidade. No Brasil, consideramos isto comum; na Europa, agarrar o braço de alguem enquanto conversa é quase um agressão. É só ver a foto do russo para entender que ele está assustado e surpreso.
E não é para menos; imagina um cara que fala uma linguagem totalmente desconhecida, e, de repente, agarra o teu braço e fala num tom engraçadinho...
Minha conclusão é que o nosso presidente está bem intencionado e confiante, mas não tem a cultura e o conhecimento necessários para ter sucesso nesta negociação. Por outro lado, conhecendo a história de vida dele, não dá para duvidar do cara...
Piadinha final; dizem que depois de pacificar o Oriente, Lula vai andar sobre as águas, curar um leproso e eleger a Dilma. Não necessariamente nesta ordem...