segunda-feira, 25 de setembro de 2017

A PRAGA DA TEORIA CONSPIRATÓRIA E SEUS PREJUÍZOS PARA O BRASIL

Pessoal, lá vou eu falar de futebol. De novo. Mas meu objetivo aqui é ressaltar é um fator cultural que, na minha visão, prejudica o Brasil em todas as áreas; a nossa obsessão por teorias conspiratórias.
Gremista de fé que sou, perdi ontem 90 minutos desta reencarnação assistindo ao jogo do meu time contra o Bahia. Para quem não sabe, o Grêmio era, até este jogo, o mais próximo perseguidor do líder Corinthians, e, provavelmente, o time com mais condições de tirar o título deste ano dos corintianos.
Pois ocorreu que o Grêmio perdeu por 1x0, graças a um pênalti controverso marcado pelo árbitro no último minuto do jogo.
Na internet hoje, pelo menos 90% (a estatística é minha) dos “internautas” que comentam nos principais sites de esporte falam, com absoluta certeza, que o árbitro faz parte da “máfia do apito amigo”, destinada a dar o título ao Corinthians.
Pessoal; sou torcedor fanático do Grêmio, mas este “fanatismo” não é capaz de cegar minha capacidade de raciocínio na hora de ver e entender um jogo de futebol. Partindo-se do princípio que havia mesmo má intenção por parte do árbitro, cabem algumas perguntas;
1) Porque ele esperou o último minuto do jogo para marcar o pênalti? Houve lances de choque na área do Grêmio muito antes disto. Se ele quisesse...
2) Na verdade, o lance só aconteceu porque o time do Grêmio perdeu uma bola boba no meio do campo nos últimos segundos da partida. Se alguém tivesse dado um bico para a lateral o jogo ia acabar ali mesmo. O juiz sabia que isto ia acontecer?
3) Na metade do segundo tempo o Grêmio chutou uma bola na trave do Bahia, em um lance totalmente normal. Ele iria anular o gol?
4) Pelo menos duas vezes durante o jogo Jael, o centroavante neandertal escalado pelo técnico do Grêmio, deixou acintosamente o cotovelo na cara dos adversários. Se o objetivo do juiz era prejudicar o Grêmio, porque não aproveitou para expulsá-lo? (Tudo bem que a diferença de produtividade entre o Jael e um cone é discutível, mas isto é apenas piadinha irônica de um torcedor irritado com a derrota).
Resumindo, o que é preciso entender é que o Grêmio não jogou nada, foi mal escalado e fez um jogo parelho com um dos piores times do campeonato. Jogos parelhos são decididos em detalhes. E um lance duvidoso na área, no finalzinho do jogo, pode ser interpretado pelo juiz de qualquer jeito. Basta dizer que até agora, duzentos “replays” depois, ainda não há consenso entre os comentaristas da TV.
O grande problema é que nós, brasileiros, levamos estas teorias conspiratórias para todas as áreas, por mais estapafúrdias que sejam. No futebol, a mais famosa envolve a suposta “entrega” da final da Copa de 98 para os franceses. Mais uma vez; um simples raciocínio lógico nos diz que nenhum jogador do mundo entregaria uma final de Copa, por dinheiro algum. E no grupo existiam jogadores como Dunga, Leonardo, Cafú, César Sampaio (só para citar alguns), todos cidadãos acima de qualquer suspeita. Só que o imaginário popular é tão forte que até pessoas que nem gostam de futebol “sabem” que aquele jogo foi entregue. Uma vez uma aluna chegou a discutir comigo em sala de aula porque dei este exemplo. Ela me olhou como se eu fosse o maior otário do mundo e despejou; “Ora, todo mundo sabe que este jogo foi comprado!”. E quando eu citei os nomes dos jogadores, ela me fulminou de vez; “eu não entendo nada de futebol, não adianta vir com esta conversa. Este jogo foi comprado, eu sei e todo mundo sabe!”. O jeito foi engolir em seco e prosseguir a aula... Afinal, tentar argumentar com pessoas que têm “certezas pétreas” pode ser perigoso.
Enfim, este é um problema que acontece todas as vezes que se tentar discutir seriamente qualquer coisa no Brasil. Logo vem alguém que “garante” que o Sérgio Moro foi treinado pelo FBI para acabar com a economia brasileira, que o resultado da urna eletrônica é manipulado pela rede Globo, que os incas venusianos já estão na Terra e o Trump é um deles, etc...
Não vou tentar entender este fenômeno, mas o fato é que isto atrapalha o desenvolvimento do Brasil. Assim como atribuir a derrota ao juiz ajuda a mascarar os problemas verdadeiros que o time do Grêmio vem enfrentando nos últimos jogos, depois de ter jogado o melhor futebol do Brasil durante um bom tempo. Na vida real, temos um tempo de mudanças radicais, onde “certezas pétreas” são um obstáculo quase intransponível para o progresso.
Fechando com poesia, fico com as palavras sábias de Caetano Veloso; “ou feia ou bonita, ninguém acredita, na vida real”. É isto aí. Enquanto a gente preferir viver na teoria conspiratória, a vida real só vai piorar.
Até a próxima.