sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

O VAR E O CRONÔMETRO – O FUTEBOL CHEGA AO SÉCULO XXI SEM PASSAR PELO XX

As regras do futebol, em sua grande maioria, foram codificadas no século XIX. E sempre houve grande resistência à mudança. Lembro do então Presidente da FIFA João Havelange dizendo, lá pelo início dos anos 1990, que as regras deveriam permanecer intocadas porque “os erros de arbitragem eram parte da magia do futebol”. Meu Deus...
Felizmente o avanço tecnológico acabou obrigando a FIFA a mudar seus conceitos. Os pobres juízes humanos não podiam competir com os milhares de olhos das câmeras cada vez mais detalhistas e precisas. A adoção do VAR e da Goal Line Technology ajudaram a diminuir os erros, tornando os resultados mais justos e o jogo mais confiável.
Só que tenho a impressão que, no meio deste salto “disruptivo”, para usar a palavra da moda, um detalhe prosaico foi esquecido; a cronometragem do jogo continua sendo feita como no século XIX, com um árbitro todo poderoso decidindo, através de critérios totalmente pessoais, quantos minutos serão acrescidos aos 90 regulamentares para compensar possíveis paralisações de jogo.
Afinal, a tecnologia dos cronômetros que podem ser travados e depois acionados novamente está disponível desde os anos 1950, pelo menos, e é utilizada com sucesso em esportes como basquete, futsal e handebol há décadas.
Enquanto isto, no reino do futebol, temos distorções absurdas, com jogadores simulando contusões, demora nas substituições, e o próprio tempo necessário para análise do VAR sendo absorvido na conta totalmente subjetiva dos tais de “acréscimos”.
Afinal, se a própria FIFA admite que 60 minutos de bola em jogo é o “tempo ideal”, porque não oficializar isto? Dois tempos de trinta minutos marcados por uma mesa de cronometragem, livrando o árbitro desta incômoda carga. Poderíamos até pensar em conceder dois pedidos de tempo para cada treinador durante o jogo. A própria televisão agradeceria (mais espaço para inserções comerciais).
Uma última dica; para evitar que o jogo termine durante um ataque promissor, ou algo parecido, adotar o critério consagrado nas velhas peladas de rua; o jogo só acaba na “primeira bola fora” após zerar o cronômetro. Mais uma discussão evitada.
Será que vale conversar sobre isto? Acho que sim.

domingo, 20 de janeiro de 2019

Barcelona, Grêmio e Arthur; uma pequena aula prática sobre riscos e oportunidades

Quem já teve aula comigo sabe que gosto muito de usar exemplos práticos, e que o futebol é minha grande paixão, mais especificamente o futebol do Grêmio, da minha Porto Alegre.
Juntando riscos e futebol, podemos dizer que um bom exemplo prático sobre transações de alto risco são os investimentos milionários que os ricos clubes europeus fazem para adquirir os direitos de jovens jogadores de várias partes do mundo. Afinal, as fortunas pagas pelos clubes por jogadores muitas vezes ainda adolescentes frequentemente apresentam retorno zero. Os motivos são variados; lesões, deslumbramento do jovem com a súbita riqueza, avaliação precipitada (o cara não era tão bom assim), entre outras coisas.
Já escrevi algo sobre o assunto em meu blog há alguns anos, quando o goleiro Cássio surgiu como ídolo no Corinthians (ver http://causosdoherve.blogspot.com/2012/12/cassio-o-corinthians-o-gremio-e-as.html).
Neste cenário, a negociação entre o Grêmio e o Barcelona pelo jovem e promissor meio campista Arthur apresentou uma visão diferente da habitual e bem interessante.
Resumindo a história, Grêmio e Barcelona fecharam o negócio por 32 milhões de euros, um valor já bastante significativo, mas, em função das boas probabilidades de valorização do craque, estabeleceram algumas “cláusulas de produtividade” que podem levar este valor para até 40 milhões.
A coisa funciona assim; se Arthur se revelasse apenas um blefe, ou seja, jogador de uma temporada só, como muitos outros, o Barça ficaria com o “mico” e o Grêmio com seus 32 milhões de euros, como acontece em várias destas negociações. Este é o risco do negócio. Tudo normal.
Só que Arthur está mostrando que suas perspectivas realmente são grandiosas. E, ao contrário do que acontece nos negócios convencionais, não é apenas o Barça que está esfregando as mãos com isto; o Grêmio também está cada vez mais feliz.
Duas das metas já foram atingidas (e devidamente pagas); mais de dez jogos como titular e conquista de um título (a Recopa da Espanha). Também contam pontos a condição de titular da seleção brasileira, possíveis novos títulos pelo Barcelona (que no momento, disputa o espanhol, a Copa do Rey e a Champions League), e até uma possível indicação futura para o prêmio de melhor jogador da Europa e/ou do Mundo. Caso sejam cumpridas, o Grêmio pode ganhar até 8 milhões de euros acima do valor original. Um dinheirinho nada desprezível, é claro.
Tecnicamente isto é conhecido como “contrato de preço fixo com incentivos por desempenho”, ou algo parecido. Também pode ser utilizado como um bom exemplo de “negociação ganha-ganha”; quanto mais Arthur crescer, mais Barcelona e Grêmio (além do próprio Arthur, é claro), ficarão felizes.
Enfim, é um exemplo prático interessante para usar em aula. Riscos mitigados e oportunidade compartilhada.
Até a próxima!