quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Rei, o Anão Zangado e o Bobo da Corte

Sem dúvida, Diego Maradona é a figuraça desta Copa do Mundo. Ou, para usar o termo popularizado pelo filme “Tropa de Elite”, é o maior fanfarrão. Suas atitudes e declarações polêmicas fazem a alegria dos meios de comunicação. E o mais engraçado é que o seu time (que, apesar de desorganizado, tem a maior concentração de talento por metro quadrado do planeta) parece que resolveu acertar. De certa forma, don Diego tem lá sua parcela de mérito nesta história toda, uma vez que, com suas palhaçadas, acaba por atrair para si todos os refletores, diminuindo a pressão sobre os atletas, deixando-os à vontade para fazer o que sabem – jogar bola.
Maradona parece ter uma obsessão na vida; superar Pelé. Como o conjunto de seus feitos no futebol, embora respeitável, não se compara ao do brasileiro, ele utiliza sua ferina ironia para promover guerrilhas verbais com o Rei. E Pelé acaba caindo na provocação. É um grande erro; o Rei não deve discutir com um Bufão. Do Rei se espera coerência de atitudes; do Bufão, bobagens. No fim, Maradona sempre dá a impressão de se sair melhor que Pelé nestas briguinhas bobas. O fato é que ele precisa disto, e Pelé não.
De qualquer forma, não há dúvida que Maradona está dando a esta Copa um brilho que estava faltando. Lembro de uma frase que ouvi há algum tempo; “os ingleses bem educados inventaram o tênis, os mal educados inventaram o futebol”. Acho que o que torna o personagem Maradona fascinante é justamente a sua falta de modos. Quando baixa o nível na entrevista e manda os jornalistas “chuparem”, quando sai do treinamento fumando um charuto, quando demonstra ao Mundo sua simpatia pelos tiranos Fidel Castro e Hugo Chavez, ele nos traz o lado malcriado que todo o torcedor tem (para quem não acredita, sugiro a leitura do livro “Como o futebol explica o Mundo”, de Frederic Foer. Este jornalista americano prova que os gritos de guerra das torcidas, em todos os lugares do mundo, têm sempre algo de preconceituoso, ou homofóbico, ou racista, ou tudo junto. Resumindo; o ser humano, na média, não é lá grande coisa. E é no meio da torcida que ele solta o que tem de pior dentro de si).
Maradona se lixa para a praga do “politicamente correto”, e isto é ótimo. Existe coisa mais chata que uma entrevista do Dunga (o nosso anão zangado)? E o pior é que quase todos os técnicos desta Copa (mesmo os mais educados), são tão chatos quanto. O futebol jogado é reflexo disto tudo, falta emoção, todo mundo se borra de medo de perder. O que Maradona acaba por demonstrar é que o futebol não precisa desta seriedade toda; é só um jogo. E é muito mais lúdico tentar fazer gols do que evitá-los a todo custo.
Resumindo; ninguém quer que a Argentina seja campeã. Mas que os jogos deles são mais divertidos que os nossos, isto não tem dúvida...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Seleção sem graça

Posso jurar que jamais passará pela minha cabeça a idéia de torcer contra o Brasil. Mas não tenho a menor dúvida que Dunga e Jorginho formam a mais antipática dupla de treinadores que a nossa seleção já teve em uma Copa do Mundo. E o time, infelizmente, é o reflexo fiel disto. É muito difícil sentir empatia por esta equipe.
E, pelo amor de Deus, não façam comparações entre Dunga e Felipão. Pra começar, Felipão chegou no Japão em 2002 carregando uma bagagem de títulos que começava na Copa do Brasil do Criciúma, em 1991, e incluía, entre outras coisas, duas Libertadores (com o Grêmio, em 95, e o Palmeiras, em 99). Era um técnico consagrado. E, mesmo sendo às vezes carrancudo, nunca deixou de ter um sorriso e um abraço paternal para com seus comandados. Ele é o típico “Nonno” italiano, capaz de xingar todas as tuas gerações num momento de raiva, e depois chorar no teu ombro pedindo desculpas. A prova disto é que nunca ouvi falar de algum ex-jogador de Felipão que tenha mágoa dele (até mesmo o boquirroto Romário, cuja barração foi muito contestada na época, se diz amigo dele).
Já Dunga é uma figura quixotesca; nunca parece feliz, não sorri, e distila seu ódio e rancor contra tudo e todos. Em suas entrevistas, raramente fala de táticas e menos ainda de técnica; prefere usar termos como “patriotismo” e “espírito de guerreiros”. E, pior que tudo, sempre que pode deixa claro que não é possível ganhar e fazer um jogo agradável aos olhos. No fundo, Dunga passa a impressão de que odeia futebol. O que ele gosta mesmo é de guerra.
Na minha humilde visão, disciplina tática e criatividade podem (devem) conviver numa equipe. Dunga talvez tenha esquecido que, mesmo na ultra-pragmática equipe de 94, que parece ser o seu time dos sonhos, havia espaço para os solos artísticos de Romário, que foi quem desequilibrou a Copa a nosso favor. Em 2006 o erro do Brasil foi acreditar que o talento poderia superar a bagunça. Acho que Dunga está caindo no extremo oposto – o que pode ser um erro pior ainda.
Por fim, para provar definitivamente que tudo que está ruim sempre pode piorar, enquanto o Dom Quixote original tinha no escudeiro, o gordo e bonachão Sancho Pança, um ponto de contato com a realidade da vida, Dunga conseguiu arranjar um ajudante pior que ele; Jorginho, além de compartilhar o mau humor do chefe, ainda tem como característica marcante um fundamentalismo religioso quase doentio. Assim, ao invés de tentar convencer Dunga que os monstros que ele vê são apenas moinhos de vento, Jorginho ainda garante que, além de monstros, são demônios - e empunha sua espada sedenta do sangue dos infiéis. Por favor, que fique claro que não sou contra a religião de ninguém; só me dou o direito de não gostar de gente fanática, capaz de confundir um simples jogo de futebol com uma batalha contra os mouros.
Resumindo; vamos torcer pela nossa seleção, é claro. Mas, se a vitória vier (e tomara que venha!), que ninguém diga que foram os cruzados de Dunga e Jorginho que venceram o Mundo, muito menos que o exército dos cristãos purificados derrotou as hostes das trevas, aqueles devassos que (imaginem só!) gostam não só de futebol, mas também de bebida, chocolate e sexo (não necessariamente nesta ordem). E, principalmente, que não se estabeleça como verdade irreversível que não é possível ganhar e jogar bonito. Afinal, a própria FIFA se refere ao futebol como “the beautiful game”. Que continue assim.