domingo, 28 de abril de 2013

O Barcelona e o gerenciamento de projetos – de novo!


Em dezembro de 2011, logo após a humilhante goleada (4x0) do Barcelona sobre o Santos de Neymar na final do mundial de clubes da FIFA, publiquei aqui neste espaço um post com algumas considerações sobre a história recente do clube espanhol e como um bom trabalho de gerenciamento o levou a atingir um patamar tão elevado no futebol mundial (ver


Esta semana foi a vez do Barça levar 4x0 do Bayern de Munique, e muita gente boa apregoar que o “ciclo de ouro” do time catalão acabou, entre outras bobagens escritas no calor do momento.

Analisando as coisas sob o prisma do gerenciamento de projetos, acredito que o que está acontecendo com o Barcelona é uma crise passageira, que tem vários motivos, mas de forma alguma invalida o prosseguimento de um modelo que está dando certo há vários anos. É claro que alguns ajustes são necessários, mas a ideia de que “o ciclo acabou” é, no mínimo, precipitada.

Usando minha lógica elementar de engenheiro, entendo que existem três pontos importantes que precisam ser levados em conta neste momento;

a)      O resultado foi atípico; embora o time nunca mais tenha alcançado o nível de 2011, quando ganhou tudo, o fato é que o Barcelona continua um time forte e respeitável. Está batendo recorde em cima de recorde na temporada espanhola, e está na semifinal da Champions mais uma vez. E o jogo, em si, teve pelo menos dois gols altamente duvidosos considerados válidos pelo juiz. E, “last but not the least”, o adversário não era exatamente um Zé ninguém; o Bayern é um time extremamente forte, e também adotou um modelo semelhante ao do Barcelona nos últimos anos (conforme palavras do próprio Paul Breitner, cracaço da década de 70 e hoje manager do time alemão).

b)      Alguém já disse que a vitória é má conselheira. Não tenho a menor dúvida que o sucesso alcançado pelo time levou o grupo a uma certa acomodação. Isto é muito próprio do ser humano, já vi acontecer com grandes equipes, desde o Santos de Pelé; o time vai se acostumando a ganhar tudo, e passa a achar que é só entrar em campo e fazer a mesma coisa de sempre que a vitória virá. Só que os adversários começam a estudar a sua forma de jogar, e acabam dificultando as coisas. Todos os grandes times que conheci passaram por fases assim. Às vezes um “sacode” destes ajuda a despertar os leões novamente.

c)       Aqui o ponto mais sensível e importante; desde o início do projeto, o Barça escolheu seus comandantes entre os ídolos do passado, pessoas com história no clube. A escolha de Tito Villanova como sucessor de Pep Guardiola teve, na minha visão, muito mais de sentimento do que de profissionalismo. Tito parece ser um bom rapaz, trabalhador, tem uma história de vida dramática – mas nada disto faz dele um técnico à altura de um time deste porte. No trágico jogo contra o Bayern ele parecia um espectador passivo e claramente intimidado (como é que um treinador vê o seu time levar um baile daqueles e só faz uma substituiçãozinha quando já estava 3x0 e a vaca já tinha ido pro brejo há tempos?). Em resumo, como dizia o meu avô, lobo só respeita lobo; Tito Villanova não é o gerente ideal para este projeto. É necessário um nome com peso. Guardiola tinha clara ascendência sobre os jogadores, com a força de sua história no clube; Tito, seguramente, não tem este poder. E na hora da crise isto é fundamental. É chato, triste, mas este tipo de decisão tem que ser muito mais racional do que sentimental; o Barça precisa de um técnico com mais força e, se possível, mais identificado com a história do clube. Tito pode, perfeitamente, ser um ótimo auxiliar para este novo gerente.
Eu sei que ninguém me perguntou nada, mas o meu palpite é este. O Barça não acabou, está apenas em um momento complicado. E dedico este post ao meu guru Don Calavera (quem frequenta o blog sabe quem é), que deve estar inconsolável, enchendo a caveira de vinho nas tabernas catalãs...
Até a próxima!

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Don Calavera ataca outra vez


    
Quem acompanha este blog (se é que alguém acompanha), conhece a história de Don Calavera, meu profeta e guru espiritual, que já foi personagem de dois posts anteriores. Só que ontem ele resolveu aparecer completamente fora de hora. Quando dei por mim estava na mesa da taverna, as taças de vinho na nossa frente, e ele mais agitado do que o habitual;
            - Mira, vos, onde consigo um título de eleitor no Brasil?
            - Como assim, Don Calavera? Você não é nem brasileiro, vive nos sacaneando, e agora quer votar aqui?
            Na pressa de falar, ele quase se engasgou com o vinho;
            - Porque no te callas? Quiero votar neste tal Pastor Feliciano. Para qualquer cargo que ele se candidatar; deputado, senador, presidente... Feliciano es el cara!!
            Don Calavera nunca foi exatamente um sujeito normal, mas agora acreditei que tinha enlouquecido de vez. Tentei argumentar;
            - Vamos devagar, Don Calavera. Feliciano é um pastor radical, seguramente se soubesse que você é um espírito desencarnado e está conversando comigo já mandaria nós dois para a fogueira, no mínimo...
            Don Calavera quase pulou no meu pescoço;
            - Tu és um tonto, mismo! Viste o que ele disse ontem?
            - Até onde sei, ele disse que aceitava sair da comissão de direitos humanos se os mensaleiros do PT (Genoíno e João Paulo Cunha) também abandonassem a comissão de justiça...
            - Entonces!!! No conseguiste entender que esta es una sacada de gênio?
            - Desculpe, Don Calavera, mas achei que foi um golpe baixo...
            - Dios mio, tu és mesmo uma virgem en el cabaré... Existe algum golpe baixo na política brasileira? Como pode se falar em golpe baixo se o nível moral é zero? Existe alguma coisa mais baixa que zero?
            - Você quer dizer que...
            - Bueno, me voy a explicar bem devagar porque sei que tua inteligência é muy limitada...
            Realmente, a marra dele é insuportável.
            - Mira vos; Feliciano, Genoíno, João Paulo e todos os outros pertencem a la misma laia; a dos representantes legítimos del pueblo brasileiro. Em otras palabras; se o Feliciano está lá, é porque recebeu os votos de um monte de gente que é racista e homofóbica que nem ele, así como os outros são safados que representam milhares de safados que, infelizmente, nunca tiveram a chance de dar um grande golpe, e tem que se satisfazer fazendo “gatos” de luz, oferecendo dinheiro para o guarda não multá-lo, falsificando recibos médicos para não pagar impostos...
            - OK, entendo. Cada povo tem o governo que merece...
            - Fenômeno! Finalmente conseguiste entender alguna cosa...
            Eu já estava quase pedindo para sair, mas ele tinha que fechar o raciocínio;
            - Asi, mi amigo, Feliciano colocou finalmente a grande question que o povo brasileiro terá que responder, já que es impossible sonhar com um governo honesto, por la simples razon que ustedes acham que gente honesta é babaca e não deve ocupar cargos eletivos. Sobram duas opções; ou um fanático religioso, homofóbico e racista que, pelo menos, é sincero na hora de arrancar o dinheiro alheio (pede o cartão e a senha educadamente, em nome de Deus), ou um bando de lobos fantasiados de ovelhas “politicamente corretas”, cheios de ideologias e discursos bonitos, mas que meteram a mão no dinheiro público como “nunca antes se fez na história deste país” (creo que esta frase era de alguien ligado a eles, quien mismo?).
            Don Calavera parou para tomar um gole de vinho. Estava tão frenético que nem notou que já falava quase tudo em português. E aí veio o golpe final;
            - E Yo hice mi escolha; Feliciano - 2014!  Nada mais lógico!
            Sem me dar tempo de dizer nada levantou da mesa apressado, tomou o último gole de vinho já em pé e começou a desfraldar uma bandeira azul e grená;
            - Desculpe-me, mas estoy atrasado para el juego de Barça – vamos a ganar de estos franceses ridículos, principalmente o tal Ibra, com aquele penteado de maricón...
            E saiu entoando gritos de guerra em catalão, rumo ao Camp Nou.
            Fiquei aqui, com a conta na mão e pensando no que ele falou. E o mais triste foi ter que admitir que, lá no fundo, o raciocínio todo é bem coerente... Quem viver, verá.
            Hasta la vista, Don Calavera!