quarta-feira, 10 de novembro de 2010

E LÁ VEM ELES COM AS COTAS. DE NOVO...

Li hoje, na coluna do Ancelmo Goes, que Frei David dos Santos, descrito como “um grande batalhador da causa afrodescendente no Brasil”, teria escrito uma carta à futura Presidente Dilma Rousseff, pedindo um ministério com 30% de negros e 30% de mulheres.
Não conheço o Frei David dos Santos, mas já descobri que temos um ponto em comum, uma vez que eu sempre fui simpático à causa dos afrodescendentes (e também das mulheres, homossexuais e discriminados de uma forma geral), mas acho que esta criação de “cotas percentuais” é, seguramente, a forma menos adequada de solucionar o problema.
A premissa básica para a adoção de um sistema de cotas (seja ele qual for), é defender alguém que não conseguiria obter um determinado posto em função das suas limitações. Esta premissa é obviamente falsa, tanto com relação aos negros como quanto às mulheres. E acaba por criar uma espécie de preconceito às avessas, ao facilitar a vida de determinados grupos em detrimento de outros.
Ninguém pensa em criar uma cota para brancos na seleção brasileira de futebol ou uma cota para baixinhos na seleção de vôlei (imagino como reagiriam Mano Menezes e Bernardinho a este tipo de proposta). E um ministério, embora ninguém no Brasil ligue muito para isto, é uma espécie de seleção brasileira, onde os cargos devem ser preenchidos única e exclusivamente em função da competência e do mérito de cada um para exercer o cargo.
Neste ponto, a proposta de Frei David é tão indecente quanto o fisiologismo dos partidos políticos, que trocam apoio por “cotas” no poder executivo ou nas estatais.
Resumindo, tenho uma proposta simples; quem sabe a Presidente Dilma não assume um estilo totalmente inovador e nomeia o seu ministério (e, de quebra, todos os postos executivos de estatais e empresas públicas) baseando-se, unicamente, na competência das pessoas, sem levar em conta raça, sexo, partido político ou qualquer outro critério? Não sei qual seria o percentual que tocaria para cada um, mas tenho certeza que teríamos negros, brancos, mulheres, homens, homossexuais, jovens e velhos, e a coisa funcionaria perfeitamente integrada. Porque tenho certeza que a única coisa capaz de salvar este País é a valorização da competência, em todas as áreas de conhecimento. E, infelizmente, a adoção de sistemas de cotas (sejam eles quais forem) sempre será um entrave para este processo.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Planejamento familiar; um assunto para ser levado a sério

A nova pesquisa de IDH feita pela ONU e divulgada ontem não apresenta qualquer surpresa para nós, brasileiros; melhoramos um pouquinho, mas continuamos devendo (muito) na área de educação. E não é preciso ser muito esperto para entender que um País que fracassa nesta área está plantando o seu fracasso para o futuro. Ou seja; tudo o que foi conseguido de bom na área econômica nos últimos anos (procurando ser justo, temos que reconhecer como grandes avanços a estabilidade econômica de FHC e o desenvolvimento e melhor distribuição de renda do Lula); só que tudo isto corre o risco de se reduzir a pó nas próximas décadas se não for resolvido o grande nó da educação neste País.
E nesta hora não há como ignorar a importância do planejamento familiar (ou controle de natalidade, conforme queiram chamar). É impressionante o tabu que cerca este assunto. Chega a ser estranho ver como todo mundo fica impressionado com os resultados obtidos nas últimas décadas pela China e a Índia, e quase ninguém lembra que tudo começou com programas agressivos de controle de natalidade impostos pelos respectivos governos lá pelos idos de 1970, mais ou menos. Um simples raciocínio matemático nos mostra que, se não fosse por este controle, hoje a China, ao invés de ter uma população de 1,6 bilhão de habitantes vivendo um crescimento econômico exponencial teria, provavelmente, uns três bilhões, com pelo menos metade deles vivendo na miséria absoluta. O mesmo raciocínio vale para a Índia, e até para a minúscula Cingapura, uma cidade-estado de míseros seis milhões de habitantes, que hoje é uma das líderes mundiais em competitividade, e um dos melhores IDH do Mundo (só para citar um exemplo; boa parte das plataformas de petróleo da Petrobras são montadas lá). Cingapura, para quem não sabe, também estabeleceu regras rígidas de planejamento familiar na mesma época em que chineses e indianos.
O raciocínio é simples e lógico; se soubermos quantas crianças vão nascer nos próximos vinte anos, podemos estimar quantas escolas e quantos professores serão necessários, quais as especialidades que serão requeridas, e por aí vai. Isto se chama planejamento; e todo mundo sabe que ninguém chega a lugar nenhum sem planejamento. Não é preciso ser um gênio para entender que é muito mais fácil resolver o problema de escola, comida e emprego para dois mil jovens do que para cem mil.
Se a Presidente Dilma quiser marcar sua passagem pelo poder como uma verdadeira estadista, acho que é hora de deixar de ouvir seus marqueteiros, e tomar uma ação firme nesta área. A favor do controle de natalidade existem exemplos e argumentos sólidos; contra ele, alguns tabus religiosos e, por incrível que pareça, uma crença existente em boa parte do nosso povo que associa a capacidade de procriar à virilidade do homem (eu juro que já ouvi isto mais de uma vez). É hora de lançar luz sobre a questão, e espantar a treva da ignorância. As futuras gerações de brasileiros agradecerão.