sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eu tive um sonho (que Martin Luther King me perdoe...)

Estava assistindo o debate entre os dois candidatos, dormi e sonhei...
Sonhei que o debate era entre dois candidatos de verdade, não produtos de marketing, vendidos como sabonete ou pasta de dentes...
Sonhei que neste debate se discutiam ideias relevantes, planos de governo, e não se a Dilma foi guerrilheira ou se a mulher do Serra fez um aborto...
Sonhei que Lula, o nosso primeiro mandatário, o líder máximo da nação, se portava como tal e, equidistante, dizia sobre a eleição; eu apoio minha candidata, mas tenho tarefas mais importantes na minha agenda do que tratar da eleição dela...
Sonhei também que as empresas estatais eram dirigidas por funcionários de carreira, escolhidos por sua capacitação técnica, e que estas empresas ficavam totalmente afastadas de todo o processo eleitoral...
Mais importante que tudo isto, sonhei que questões como união entre homossexuais, aborto e otras cositas mas eram tratadas estritamente sob o ponto de vista legal, sem interferência de fanatismos ou obtusidades religiosas...
Mais ainda; sonhei que o debate era totalmente político, e nenhum dos lados estava interessado em apesar o outro como “menos cristão”, ou ainda, “do demônio”...
Mas a melhor parte do sonho foi quando consegui imaginar que o povo brasileiro estava realmente interessado nas propostas dos candidatos, e assistia ao debate de forma ordeira e civilizada, preparando-se para eleger apenas mais um Presidente, em uma sucessão normal em um processo democrático, e não um novo Messias, propondo-se a reinventar o País, como fazemos a cada nova mudança...
O azar é que eu acordei. Exatamente a tempo de ouvir a candidata teleguiada psicografando seu mestre e dizendo, mais uma vez, “nunca na História deste País...”.
Recado final; a diferença entre um País sério e o nosso é que os outros não se reinventam a cada quatro anos. Lá existe um negócio chamado “processo democrático”, em que o poder se alterna, civilizadamente, e é perfeitamente possível e aceitável que os novos governantes reverenciem e deem continuidade ao trabalho de seus antecessores, independente do partido político ao qual sejam filiados. Mas isto talvez seja muito sonho pro nosso bico... E viva o Tiririca! (Aliás, perdão; Vossa Excelência, o Deputado Tiririca)!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Lula ganha um tempo para decidir entre o bem e o mal

O resultado do primeiro turno das eleições presidenciais representou uma dura derrota para o Presidente Lula. Ele apostou pesado que o seu carisma e a aprovação maciça de seu governo seriam suficientes para destroçar qualquer adversário – e perdeu feio. É claro que Dilma continua favorita, e deve se eleger naturalmente, mas o fato é que Lula teve que aprender que não era o senhor absoluto da vontade do povo brasileiro, e isto deve ter sido frustrante para o seu recente surto megalomaníaco. Na semana passada ouvi uma piadinha que dizia que a diferença entre Chavez e Lula era que Chavez achava que era Deus, e o Lula tinha certeza que era. Hoje, acredito que Lula acordou mais humano.
E espero que esta ressaca faça bem a ele. Porque não tenho a menor dúvida que Lula, pelo seu carisma, inteligência e história de vida tinha tudo para ser o grande líder que o Brasil precisava para finalmente sair do estado emergente para o de nação de primeira linha. Só que o que diferencia os grandes líderes dos meros caudilhos é justamente a grande visão, o sonho; “I have a dream”, dizia o grande Martin Luther King. Líderes de verdade sempre colocam o interesse das nações e dos povos acima dos seus; este foi o caminho de Gandhi, Luther King e Mandela, por exemplo. Só que Lula se deixou embriagar pelo poder (sem duplo sentido, por favor), e trocou a grande mudança pela eleição de sua candidata. Com isto, deixou a posição de condutor do processo (que, afinal, é a que cabe ao Presidente da República em um regime democrático) e virou um cabo eleitoral fanático, muitas vezes grosseiro e autoritário. Diga-se, em tempo; neste aspecto, ele ficou muito abaixo de seu antecessor, o tão criticado FHC, que portou-se como um verdadeiro lorde inglês no processo de transição democrática entre ele e o então opositor Lula, em 2002.
Assim, Lula não hesitou em aliar-se aos seus antigos inimigos e, inteligente que é, aprendeu rápido, e passou a agir como eles, acobertando casos evidentes de corrupção, culpando a imprensa por denúncias, enfim, trocou tudo o que poderia fazer de bom e construtivo para o Brasil por um projeto pessoal de poder eterno, acreditando que, ao contrário do que pregava o velho e bom Abraham Lincoln, poderia enganar todo o povo durante todo o tempo.
Hoje a conta chegou. A festa teve de ser adiada. E espero que Lula aproveite este intervalo entre o primeiro e o segundo turno para repensar a sua posição. E assumir o papel que está reservado para ele na história do Brasil; o de líder de uma grande mudança. A outra possibilidade é ser apenas mais um caudilhozinho latino americano, soltando bravatas e tentando convencer o povo que ele é o Senhor e Dilma a sua profeta. Ele decidirá o caminho a tomar; e o tempo, o implacável senhor da razão, vai julgá-lo. Que Deus o ilumine para que tome o rumo certo.