terça-feira, 28 de julho de 2015

Será que Deus joga futebol?

Da série “pequenas coisas que têm o dom de me irritar”; jogador de futebol que começa a entrevista dizendo “toda a glória ao Senhor”.
Não sei se é porque estou ficando velho e ranzinza, mas eu não aguento mais isto. Tenho o maior respeito pela religião de todo mundo, mas acho que existe lugar e hora para tudo. Quando ouço um jogador, quero que ele fale sobre futebol. O goleiro Fábio chegou a dizer, certa vez, ao explicar a defesa de um pênalti, que “foi Deus quem defendeu!”. Desculpe, mas eu entendo que Deus não pega pênalti, nem faz gol. E também não tem time favorito.
E o mais triste é que estes caras, na minha visão, mesmo sem perceber (ou, às vezes, até percebendo) fazem um papel de “marqueteiros” da sua igreja. O que fica implícito é; só a minha igreja faz de você um vencedor. Não aceite similares! É quase como o velho "só Esso dá ao seu carro o máximo", o primeiro bordão de marketing da TV brasileira (esta é só para quem tem mais de cinquenta).
Eu acredito na força de Deus, mas entendo que Ele está ao lado de todos nós, sem distinção. E o que decide um jogo de futebol não é Deus (Ele tem coisas mais importantes prá fazer, tenho certeza), mas talento, treinamento, dedicação e até sorte, às vezes. E é sobre isto que eu quero ouvir os jogadores falando.
Enfim, como sou uma pessoa que acredita, antes de qualquer coisa, no bom humor e no entendimento entre as pessoas de todas as crenças, fico imaginando o que vai ser quando um jogador umbandista fizer o gol da vitória e disser, na entrevista; “foi meu Pai Oxum que me iluminou!”. De preferência ao vivo, na TV do Bispo Macedo... Enfim, são coisas malucas que passam pela minha cabeça desocupada.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

MAIS UMA REFLEXÃO SOBRE FUTEBOL E PROJETOS

A derrota do Internacional para o Tigres, do México, na semifinal da Copa Libertadores de América, além de encher de alegria o meu malvado coração gremista, me fez refletir mais uma vez sobre o problema dos projetos mal planejados e/ou mal executados.
Ganhar a Libertadores era o grande projeto do Internacional para 2015. O clube não mediu gastos para adquirir um elenco de jogadores altamente qualificado, e, na hora de escolher o gerente do projeto (treinador) optou por uma solução inovadora; um técnico uruguaio, ex-jogador do time, alguém com ideias novas e arejadas. Até aí, tudo certo.
Diego Aguirre chegou e propôs logo uma revolução; não vou ter um time titular. A alegação era que alguns grandes da Europa (o famoso Bayern de Munique, dirigido pelo não menos famoso Pep Guardiola era o exemplo mais citado), fazem isto e funciona. Os primeiros resultados foram acontecendo, e o time chegou às semifinais da Libertadores; só que quem conhece um mínimo de futebol sabe que resultados podem ser enganosos, às vezes. E o fato é que, enquanto esperava a chegada dos jogos mais importantes do ano, o time foi colecionando tropeços no campeonato brasileiro e, pior ainda, jogando muito mal, sem conseguir definir uma equipe e um padrão de jogo.
“Esperem, que na hora certa as coisas vão engrenar!”, diziam os dirigentes.
Pois vieram os dois jogos com o Tigres, e o que aconteceu? O time fez duas atuações pífias, nada além do que vinha apresentando. Não conseguiu construir uma boa vantagem no jogo em casa, mesmo tendo um homem a mais durante boa parte do tempo, e levou um banho de bola no segundo jogo (o placar de 3x1 foi até leve diante da realidade da partida). O resultado é que hoje o Internacional acordou sem título, sem time definido, sem confiança no seu gerente e sem saber de onde vai tirar o dinheiro para pagar o seu elenco milionário. Até para tentar conquistar alguma coisa nos campeonatos que restam (Brasileirão e Copa do Brasil) ficou complicado.
Lições aprendidas no processo;
a) Muito cuidado ao copiar modelos estrangeiros. Não dá para comparar a cultura do futebol alemão com o nosso, por exemplo. Além disto, não é verdade que o Bayern “não tem um time titular”; eles têm uma base, sim, e promovem um rodizio planejado para poupar titulares e dar chance a quem está no banco. Ou seja; o projeto é planejado e a execução, seguida à risca. Isto pode levar a mudanças, como quando um jogador reserva entra e prova que tem qualidade para ser titular, mas o padrão do time não muda. Em outras palavras, uma coisa é fazer o planejamento do projeto e controlar as mudanças, outra coisa é não ter plano algum e achar que as coisas vão acabar se resolvendo.
b) Não coloque todos os ovos em um mesmo cesto, já dizia a minha avó. Todo o bom projeto inclui uma cuidadosa análise de riscos e previsão de caminhos alternativos. Isto é básico.
c) Muita atenção quando as coisas começam a dar errado. A pior coisa é acreditar que “no fim tudo vai se resolver”. Infelizmente, isto é uma cultura muito nossa. Citando um exemplo que conheço bem, se a Petrobras tivesse revisado a sua carteira de investimentos há uns cinco anos, quando o balanço já demonstrava que o endividamento era grande demais, não chegaria à situação em que está hoje. Mas a gente sempre prefere acreditar em milagres...
Enfim; o futebol continua nos dando lições sobre gestão de projetos. E vice-versa. Como são dois assuntos que me agradam, vou continuar escrevendo sobre isto...

terça-feira, 14 de julho de 2015

A escala de valores do Brasil e seus reflexos na vida real

Da série “Por que que a gente é assim?” (obrigado, Cazuza);
Tentando explicar a crise brasileira, lembro um economista chamado Douglass North, prêmio Nobel em 1993. Segundo ele, o que define o desenvolvimento (ou não) de um País são as crenças de seu povo. Este fator é mais importante que qualquer outro (recursos naturais, clima, raça, religião, etc...). Uma das melhores frases dele é; “Se um País valoriza a pirataria, vai produzir os melhores piratas”. Pensando no caso brasileiro, criei quatro cenas domésticas que podem explicar muitas das nossas mazelas.
Cena doméstica um; O filho chega da escola e diz; “Pai, eu sou o melhor jogador de futebol da minha turma!”. Papai-ogro dá um abraço nele e diz, orgulhoso; “garoto bom!”.
Cena doméstica dois; O filho chega da escola e diz; “Pai, eu já peguei todas as meninas da minha turma, só deixei de lado as feias!”. Papai-ogro, explodindo de felicidade, berra; “Este puxou a mim!”.
Cena doméstica três; O filho chega da escola e diz; “Pai, eu sou o melhor aluno de matemática da minha turma!”. Papai-ogro dá um sorriso amarelo e pensa; “O que que eu fiz de errado prá ter um filho nerd?”.
Cena doméstica quatro; O filho chega da escola e diz; “Pai, eu ganhei o concurso de poesia do colégio!”. Papai-ogro perde o controle, dá-lhe logo um tabefe e grita; “Acaba logo com isto, que eu não vou criar boiola aqui em casa!”.
Tá certo, pode ser que eu esteja sendo radical, mas acho que, na grande maioria dos nossos lares, a cena seria mais ou menos assim. Conclusão; somos, provavelmente, o País que mais valoriza a sensualidade, ainda produzimos bons futebolistas, mas temos uma produção científica e tecnológica baixíssima, um índice de analfabetismo funcional assustador, nenhum Prêmio Nobel na estante... Tudo em função das nossas crenças e valores.
Neste caso, não adianta botar a culpa no PT; a gente sempre foi assim. Mas é possível mudar... Eu acredito!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Legalize já!

Da série “se está faltando ideia, eu tenho uma”;
Tenho muita dificuldade de entender porque os cassinos e jogos de azar são proibidos no Brasil. A lei foi assinada pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra, em 1946 (ou seja, vai fazer 70 anos em 2016), e, dizem os mais antigos que eu, atendia a um apelo da esposa dele, senhora católica devota que via baralhos e roletas como instrumentos do demônio para destruir a família. Não sei se isto é verdade ou não, mas o fato é que os cassinos são permitidos em quase todo o mundo civilizado, de Mônaco ao Paraguai, representando impostos, atração turística e geração de empregos.
Pesquisei sobre o assunto e descobri que existe um projeto de lei com esta proposta circulando no Senado (o número é 186/2014, se alguém quiser fazer uma fezinha no bicho, rsrs), e seu autor é o senador Ciro Nogueira (PP-PI). O projeto está encalhado há mais de um ano em uma daquelas subcomissões feitas especificamente para atrapalhar toda e qualquer mudança que se queira fazer neste País.
Catei alguns números interessantes na internet (não me responsabilizo por eles, mas achei razoáveis), que me parecem mostrar, com toda a certeza que, num momento de crise como o atual, a aprovação deste projeto ajudaria a nossa trôpega economia a dar alguns passinhos para frente. Os números são;
- O jogo só é considerado ilegal em cerca de 30 países no mundo. E quase todos eles são dominados pelo fundamentalismo islâmico. Mesmo assim na Turquia e no Egito, países de maioria muçulmana, os cassinos funcionam normalmente.
- O jogo ilegal movimenta algo em torno de R$ 18 bilhões por ano no Brasil;
- O número de empregos diretos que seriam gerados em todo o território nacional é estimado em cerca de 300 mil;
- Apenas no fim de semana em que foi realizada a luta entre Floyd Mayweather e Manny Pacquiao, circularam pela cidade de Las Vegas cerca de 2 bilhões de dólares!
Junte-se a isto a beleza natural de várias cidades deste Brasilzão imenso, e estou certo que teríamos muito lucro com esta pequena mudança na lei (que, repito, não tem nada de inédito; funciona no mundo inteiro). Argumentos contrários lembram que cassinos estão, muitas vezes, associados a fraudes, drogas e prostituição (coisas que, na visão deles, não existem no Brasil hoje). Outros falam que o vício do jogo pode destruir famílias (se for assim, temos que proibir as bebidas alcoólicas, corridas de cavalo, e mais não sei o quê). Eu acho que, pelo menos do ponto de vista estatístico, a legalização do jogo não aumentaria significativamente os problemas que já temos hoje.
Resumindo; a ideia é simples, comprovada, e tem futuro. Como diria Caetano Veloso, na sua imortal “Alegria, alegria”; Por que não? Por que não?

A dama e a vagabunda

Hoje um sujeito mostrou com orgulho, nas famigeradas redes sociais, como conseguiu driblar a segurança, se aproximar da Presidente Dilma Rousseff e chama-la de “vagabunda” (para quem está curioso, é só ver https://br.noticias.yahoo.com/-foi-uma-honra---diz-jovem-que-chamou--cara-a-cara--dilma-de--vagabunda-151903587.html).
Por maiores que sejam os fatos que comprovam todo o dia a incompetência e, em muitos casos, a desonestidade do governo atual, não consigo achar bonito um sujeito chamar uma mulher de “vagabunda”, qualquer que seja a circunstância. E o número de pessoas que apoiam este ato me leva à triste conclusão que vivemos tempos de ódio e irracionalidade.
Há uns vinte e poucos anos, o Brasil inteiro cantava; “Lá vem o negão, cheio de paixão”. Era um sambinha ao melhor estilo brasileiro; bem-humorado, malicioso, inconsequente. Ninguém virou racista por causa disto. Na TV, Didi Mocó matava a gente de rir dizendo para um irritado Dedé; “calma, santa!”. E ninguém virou homofóbico por causa disto.
Hoje existe um mau humor generalizado, um ódio raivoso por tudo o que sempre foi natural e descontraído. Até o todo-poderoso apresentador do Jornal Nacional, William Bonner, teve que se retratar, quase de joelhos, porque ousou dizer no ar, num raro momento de descontração, que um sujeito “tinha cara de maluco”. A reação da massa frequentadora das redes antissociais foi imediata e carregada de ódio. E o pior é que o sujeito era maluco, mesmo (estava ameaçando derrubar aviões usando o controle remoto da TV, ou algo parecido).
Na política, o saudável enfrentamento democrático deu lugar a uma polarização irracional (que, diga-se a bem da verdade, foi muito atiçada pelo próprio PT, que sempre apostou na estratégia de jogar brasileiros contra brasileiros), que chega agora a um nível de estupidez absurdo.
Bons tempos em que o Brasil não era um país sério. Agora viramos um país chato, raivoso e burro. Muito burro.