terça-feira, 28 de abril de 2020

Previsão para o pós-apocalipse - parte I

Sábado, 18/04, 15 horas. Estou fazendo uma palestra para mais de setenta pessoas, sentado na sala da casa do meu genro, em Niterói, usando bermuda e chinelos. A cinco metros de mim, meu neto Caetano, de dois meses, no colo da vovó, observa admirado o vovô falando sozinho.
Sim, são os tempos de “isolamento social”, que um dia talvez eu consiga explicar para ele. Grandes crises, grandes oportunidades, grandes mudanças.
O melhor efeito da pandemia foi mostrar que uma nova maneira de trabalho é possível; a tecnologia já existia há algum tempo, faltava um empurrão. E a melhor notícia de todas foi que esta nova maneira de trabalho pode diminuir significativamente a emissão de gases do efeito estufa. E esta é uma oportunidade que não pode ser perdida.
Resumindo, o home office se firma como a nova realidade do planeta. É claro que alguns ajustes serão necessários, mas o fato é que nada será como antes. E, como em toda a crise, quem souber se adaptar mais rápido vai levar vantagem.
O ponto mais importante é que não teremos mais o “portal” entre trabalho e casa. Para quem não entendeu, isto vai exigir uma verdadeira revolução comportamental. Você não vai mais ao trabalho; o trabalho veio até você, portanto é preciso estar pronto para ele. A família agora está ao seu lado nas suas reuniões, portanto serão necessárias negociações com filhos e cônjuges, uma vez que o espaço de moradia e de trabalho serão os mesmos. A oportunidade de almoçar a comidinha de casa é bem interessante, mas dá trabalho. O tempo que se perdia no trânsito pode ser usado para tarefas domésticas, mas a divisão terá que ser muito bem estudada. Arrisco a previsão que o nicho de trabalhadores para o lar será bem aquecido. Talvez as famílias também procurem casas maiores.
O certo é que não haverá mais espaço para aquelas pessoas que mudavam de personalidade quando cruzavam o portal; escroto em casa, arrumadinho no trabalho. A frase “você pensa que está em casa?”, que ouvi tantas vezes quando alguém falava ou fazia alguma coisa desagradável no ambiente de trabalho, não faz mais sentido; o cara vai estar em casa, mesmo.
Enfim, há muito que pensar neste tema. Prometo um segundo (e talvez um terceiro) artigo.
Citando o poeta Lulu Santos, eu vejo um novo começo de era...