Tenho uma pequena casa de veraneio em Teresópolis, exatamente no Parque do Imbuhy – um dos bairros mais atingidos pela tragédia. Por pura sorte, nem eu nem nenhum membro de minha família estava lá naquele dia, e por mais sorte ainda fiquei sabendo que minha casa praticamente não foi atingida. Assim sendo, embora não tenha praticamente nada a lamentar do ponto de vista pessoal, o convívio de quase uma década com as belezas naturais e o povo desta linda cidade fez com que eu sentisse a dor desta tragédia com muita intensidade. Preocupado com o futuro desta terra que, de certa forma, também é minha, lembrei de uma pequena história que costumo usar em minhas aulas sobre gerenciamento de projetos e que, neste momento, pode ser preciosa para a nossa orientação.
Dizem que passado o terremoto de Lisboa (1755), o Rei perguntou ao General o que se havia de fazer.
Ele respondeu ao Rei: 'Sepultar os mortos, fechar os portos e cuidar dos vivos'.
Essa resposta simples, franca e direta tem muito a nos ensinar.
Sepultar os mortos significa que não adianta ficar reclamando e chorando o passado. É preciso 'sepultar' o passado. As marcas, a saudade, o respeito, tudo isto fica; mas não adianta mais chorar. Isto inclui a inútil busca por culpados, neste momento. Tenho certeza que nunca mais vou ficar olhando pela janela de minha casa, contemplando o espetáculo das montanhas iluminadas pelo sol da manhã com a mesma despreocupação de antes, mas é preciso conviver com isto.
Fechar os portos significa não deixar as 'portas' abertas para que novos problemas possam surgir ou 'vir de fora' enquanto estamos cuidando e salvando o que restou do terremoto de nossa vida. Significa concentrar-se na reconstrução, no novo. E não deixar que algum dia, isto se repita. E isto tudo nos leva à terceira frase, a mais importante de todas.
Cuidar dos vivos significa que, depois de enterrar o passado, em seguida temos que cuidar do presente. Cuidar do que sobrou, e dos que sobraram. E o primeiro passo é o aprendizado. Porque deixamos a coisa chegar onde chegou? Podemos xingar os políticos, estes safados, corruptos, mas quem elege estes caras? O que cada um de nós pode fazer melhor daqui para diante? O nome mais simples deste processo é EDUCAÇÃO. Não só no sentido de educação formal, mas principalmente de criar uma cultura diferente nos nossos relacionamentos diários; prestar mais atenção aos outros, ser solidário, participar mais das decisões referentes à nossa comunidade. Apenas dar de ombros e dizer que “o Brasil é assim mesmo e não vai mudar nunca” é muito fácil. E covarde. Se voltarmos a fazer as coisas do mesmo jeito que sempre fizemos, os resultados serão sempre os mesmos, não é preciso ser um gênio para entender isto.
É assim que a história, a mestra da vida, nos ensina. Que a dura lição que a força da natureza nos impôs não seja esquecida. E que, caso ocorra um novo fenômeno parecido, que desta vez nós estejamos muito mais preparados para enfrenta-lo. Depende só de nós.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
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