Postei este texto no Linkedin, ao participar de uma discussão sobre este tema;
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Sempre acho importante situar as coisas dentro de um contexto, por isto gostaria de convidar os colegas para uma pequena reflexão.
Na virada do século XXI, pouca gente no Brasil tinha ouvido falar em PMI, certificação PMP e coisas assemelhadas. Lembro que quando me certifiquei, em novembro/2001, o “status” de PMP estabeleceu um diferencial para a minha carreira, porque existiam poucos no Brasil. Acredito (não posso afirmar com certeza) que nesta época nem existiam cursos de MBA específicos sobre gerenciamento de projetos no Brasil, e tenho certeza que o interesse sobre este assunto era infinitamente menor que hoje.
O tempo passou, e hoje temos mais de mil PMPs no País, dezenas de cursos de MBA em GP que colocam centenas de profissionais capacitados no mercado todos os anos, enfim, tudo mudou. E olha que foi apenas uma década...
Assim, a visão que tenho é mais ou menos a mesma do Farhad (*); a certificação PMP já não é mais um diferencial, é quase uma exigência mínima para competir. E também concordo com ele que praticamente qualquer profissional que faça um bom curso preparatório consegue passar no exame. Aliás, acho até preocupante que no próprio “site” do PMI e nas publicações vinculadas à instituição, sejam publicados anúncios que prometem coisas do tipo “passe no exame ou receba o seu dinheiro de volta”, o que significa, na prática, que se o sujeito tiver o QI um pouquinho superior ao de uma ameba adolescente, mas for bem adestrado, ele vai passar na prova. Isto, na minha visão, desvaloriza muito a certificação que, afinal de contas, ainda é um dos pilares da popularidade do próprio PMI. Enfim, ninguém me perguntou nada, portanto... segue o jogo.
O grande problema é que, no caso do Brasil, as mudanças culturais ocorrem com a agilidade de uma tartaruga com artrite. Assim, as empresas ainda acham mais fácil acreditar em um título (no caso, o PMP) do que no currículo e na competência do candidato. Vi um exemplo prático disto em um Congresso do PMI-Rio, em junho do ano passado, quando o Marcus Vinícius (ex-jogador de vôlei e hoje executivo do Comitê Olímpico Brasileiro) disse em sua apresentação que precisava de “um PMP” para organizar o trabalho do COB, fazer a intermediação com as diversas federações dos diversos esportes e coordenar o projeto que visa aumentar o número de medalhas do Brasil nos Jogos do Rio, em 2016. Lembro que, na hora, comentei com alguns colegas; ele não precisa de um PMP, ele precisa do Harry Potter! Ou seja; a visão do mercado (representado, no caso, por um executivo muito competente) ainda é de que a certificação PMP transforma um profissional comum em um indivíduo com superpoderes...
Resumindo; o Farhad (*), mais uma vez, tem toda a razão (é preciso certificação, MBA, experiência e competência, uma coisa não exclui as outras); o triste é que, na vida real, a maioria das empresas brasileiras ainda não entendeu isto e prefere usar critérios burocráticos para contratar empregados (tipo; se tem PMP serve, se não tem não serve).
Talvez isto tudo tenha a ver com a nossa mentalidade cartorial, mas isto já é assunto para um próximo “post”, porque este aqui ficou enorme...
Abraços a todos e vamos continuar discutindo (educadamente, é claro), porque isto é muito proveitoso!
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(*) - Detalhe importante; o Farhad, a quem me refiro várias vezes, é o Professor Farhad Abdollajan (eu sei vou errar no sobrenome dele, não adianta), da FGV. É uma das mais ilustres figuras do Gerenciamento de Projetos no Brasil e sempre nos dá a honra e o prazer de compartilhar seu vasto conhecimento nas nossas discussões sobre o tema.
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