quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Seleção sem graça

Posso jurar que jamais passará pela minha cabeça a idéia de torcer contra o Brasil. Mas não tenho a menor dúvida que Dunga e Jorginho formam a mais antipática dupla de treinadores que a nossa seleção já teve em uma Copa do Mundo. E o time, infelizmente, é o reflexo fiel disto. É muito difícil sentir empatia por esta equipe.
E, pelo amor de Deus, não façam comparações entre Dunga e Felipão. Pra começar, Felipão chegou no Japão em 2002 carregando uma bagagem de títulos que começava na Copa do Brasil do Criciúma, em 1991, e incluía, entre outras coisas, duas Libertadores (com o Grêmio, em 95, e o Palmeiras, em 99). Era um técnico consagrado. E, mesmo sendo às vezes carrancudo, nunca deixou de ter um sorriso e um abraço paternal para com seus comandados. Ele é o típico “Nonno” italiano, capaz de xingar todas as tuas gerações num momento de raiva, e depois chorar no teu ombro pedindo desculpas. A prova disto é que nunca ouvi falar de algum ex-jogador de Felipão que tenha mágoa dele (até mesmo o boquirroto Romário, cuja barração foi muito contestada na época, se diz amigo dele).
Já Dunga é uma figura quixotesca; nunca parece feliz, não sorri, e distila seu ódio e rancor contra tudo e todos. Em suas entrevistas, raramente fala de táticas e menos ainda de técnica; prefere usar termos como “patriotismo” e “espírito de guerreiros”. E, pior que tudo, sempre que pode deixa claro que não é possível ganhar e fazer um jogo agradável aos olhos. No fundo, Dunga passa a impressão de que odeia futebol. O que ele gosta mesmo é de guerra.
Na minha humilde visão, disciplina tática e criatividade podem (devem) conviver numa equipe. Dunga talvez tenha esquecido que, mesmo na ultra-pragmática equipe de 94, que parece ser o seu time dos sonhos, havia espaço para os solos artísticos de Romário, que foi quem desequilibrou a Copa a nosso favor. Em 2006 o erro do Brasil foi acreditar que o talento poderia superar a bagunça. Acho que Dunga está caindo no extremo oposto – o que pode ser um erro pior ainda.
Por fim, para provar definitivamente que tudo que está ruim sempre pode piorar, enquanto o Dom Quixote original tinha no escudeiro, o gordo e bonachão Sancho Pança, um ponto de contato com a realidade da vida, Dunga conseguiu arranjar um ajudante pior que ele; Jorginho, além de compartilhar o mau humor do chefe, ainda tem como característica marcante um fundamentalismo religioso quase doentio. Assim, ao invés de tentar convencer Dunga que os monstros que ele vê são apenas moinhos de vento, Jorginho ainda garante que, além de monstros, são demônios - e empunha sua espada sedenta do sangue dos infiéis. Por favor, que fique claro que não sou contra a religião de ninguém; só me dou o direito de não gostar de gente fanática, capaz de confundir um simples jogo de futebol com uma batalha contra os mouros.
Resumindo; vamos torcer pela nossa seleção, é claro. Mas, se a vitória vier (e tomara que venha!), que ninguém diga que foram os cruzados de Dunga e Jorginho que venceram o Mundo, muito menos que o exército dos cristãos purificados derrotou as hostes das trevas, aqueles devassos que (imaginem só!) gostam não só de futebol, mas também de bebida, chocolate e sexo (não necessariamente nesta ordem). E, principalmente, que não se estabeleça como verdade irreversível que não é possível ganhar e jogar bonito. Afinal, a própria FIFA se refere ao futebol como “the beautiful game”. Que continue assim.

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