sábado, 24 de setembro de 2016

Veríssimo faz 80 anos. Longa vida para o mestre!

Da série “não preciso odiar todo mundo que pensa diferente de mim”;
Segunda-feira será um dia de festa para a cultura e inteligência nacional; Luiz Fernando Veríssimo completa 80 anos, ainda em boa forma intelectual.
Minhas discordâncias com o Veríssimo começam muito antes do PT, afinal ele é colorado e eu gremista. Mas nem por isto vou deixar de ler tudo o que ele produz; na minha opinião é um dos melhores cronistas que este país já teve, um cara tão bom quanto Stanislaw Ponte Preta, Fernando Sabino e vários outros que já estão do lado de lá.
Hora de agradecer ao Globo, este órgão da dita “imprensa golpista” que, estranhamente, mantém em seu quadro de colaboradores um cara que fala sempre a favor do Lula e do PT. Tenho certeza que, em países muito mais próximos do ideal populista do que o nosso, como é o caso de Cuba, Venezuela e Coreia do Norte, o espaço de discordância é bem menor... (aviso; esta frase foi escrita com o modo Ironia “on”, prá quem não entendeu).
Ironias e discordância à parte, o Brasil inteligente precisa de Luiz Fernando Veríssimo e ainda vai precisar por muitos anos, por isto desejo; feliz aniversário, grande mestre! Só não desejo felicidades para seus amigos petistas e muito menos para o Internacional...

terça-feira, 6 de setembro de 2016

NEM MÁRTIR, NEM BANDIDA; DILMA FOI APENAS UMA GERENTA INCOMPETENTA

Na onda de radicalização burra e xiita que atravessamos, um dos aspectos quase divertidos (seria cômico, se não fosse trágico), é a briga de adjetivos travada entre os partidários da “Presidenta” deposta e os adversários dela.
Os Dilmistas a chamam de “brilhante”, “carismática”, “revolucionária”; os anti-Dilma respondem com “ladra”, “assassina”, “chefe de quadrilha” e outros que tais.
Pessoal, Dilma não é nada disto. Duvido que tenha se apropriado indevidamente de um centavo que fosse, e neste aspecto seu comportamento difere totalmente da grande maioria dos seus companheiros de partido (vá lá, roubar não é privilégio do PT; ela difere da maioria dos políticos, de todos os partidos, tá bom assim?). Mas, certamente, tinha conhecimento de tudo e deu cobertura aos “malfeitos”, portanto não deixa de ter sua parcela de culpa nesta história. Seu suposto “brilhantismo” é desmentido por seus discursos estapafúrdios, e seu carisma, que ninguém nos ouça, é equivalente ao de um saco de batatas.
Dilma participou de uma tentativa de revolução, uma luta armada em que seu grupo tentava combater a ditadura existente e substitui-la por outra, de orientação diferente. Numa luta armada pessoas morrem, portanto mesmo que seja verdadeira a versão que a coloca como participante de um atentado onde um soldado foi vítima, isto não a torna “assassina”; era uma guerra. No fim das contas, a turma de Dilma perdeu. Simples assim. No máximo podemos louvar sua coragem juvenil em lutar pelo que acreditava.
Na verdade, mesmo, o que fez Dilma cair em desgraça foi sua absoluta incompetência para exercer o cargo que ganhou de presente do “companheiro” Lula. Lula é, sem dúvida, inteligente e carismático, e escolheu Dilma para o que seria o seu “terceiro mandato” em 2010 por falta de opção, uma vez que os quadros mais qualificados do PT já àquela altura estavam enrolados em tenebrosas transações.
Dilma nunca se sentiu à vontade como comandante da economia e da política, sua falta de habilidade e incompetência ficou evidente desde o primeiro dia no emprego, e hoje nem seu criador pensa em defendê-la. Duvido que alguém no próprio PT levante a bandeira de “Dilma 2018”, ainda que seus direitos políticos tenham sido mantidos. Dilma passará à história como a primeira mulher a assumir a Presidência da República, o que seria uma coisa muito boa; infelizmente, também ficará registrada como uma das mais incompetentes figuras a ocupar o nobre cargo.
Aliás, uma boa comparação para o caso dela seria com outra mulher que chegou para marcar época e fez feio; Zélia Cardoso de Mello, ungida, em 1990, pelo então Presidente Collor como a mulher que colocaria a economia do Brasil nos eixos. Zélia seria a mulher mais “empoderada” da história do Brasil até então, se este termo horroroso existisse na época. E o que se lembra dela, hoje? Um desastre na economia, um “caso” rumoroso com outro ministro, depois mulher e ex-mulher do insaciável Chico Anísio e... sumiu.
Otimista que sou, acredito que, assim como depois de Zélia tivemos muitas mulheres de destaque em todos os campos da política e da economia, algum dia vamos ter uma mulher na presidência da República que fará um grande papel. E Dilma será lembrada apenas como a primeira, mas não das mais brilhantes.
E, se não for pedir muito, gostaria que nunca mais alguém ousasse pensar em utilizar a palavra “Presidenta”.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O OURO FOI PARA O FUTEBOL BRASILEIRO, MAS O MODELO ALEMÃO AINDA É O MELHOR. E NADA IMPEDE QUE O BRASIL O ADOTE

A conquista da inédita medalha de ouro no futebol masculino das Olimpíadas gerou uma justa euforia em todos nós, torcedores fanáticos da camisa amarela. Todavia, passado o momento de emoção, cabe refletir um pouco sobre o que aconteceu e quais os próximos passos.
A verdade dos fatos é a seguinte; conquistar este ouro era uma obsessão para o futebol brasileiro, e o fato dos jogos serem realizados no Brasil aumentava consideravelmente as nossas chances. Tenho quase certeza que ninguém levou esta competição mais a sério do que o Brasil. Foram feitos esforços diplomáticos para poder contar com jogadores que atuavam fora do País, entre os quais o fora de série Neymar, o homem que iria fazer a diferença em campo – e acabou fazendo, pelo menos nos jogos mais importantes e decisivos.
Numa final cheia de simbolismos, encontramos a velha Alemanha dos 7x1. Tudo bem, não eram os melhores alemães disponíveis, mas pelo menos era um time alemão. E conseguimos a tão sonhada vingança – tudo bem, foi nos pênaltis, mas vitória é vitória. Só que, se pensarmos no jogo em si, o time alemão não foi, em nenhum momento, inferior ao nosso. Certamente o Brasil pressionou mais, mas nunca foi soberano absoluto da partida, e esbarrou sempre na obstinação de um time claramente inferior, do ponto de vista técnico, mas organizado e consciente para atacar e defender. E que, cá prá nós, poderia perfeitamente ter ganho.
E é neste ponto que eu volto a pensar sobre o projeto e o modelo alemão. Acho que já escrevi algum dia sobre isto, mas vale repetir; o investimento pesado que o governo alemão vem fazendo há uns quinze anos no futebol não tem como objetivo principal apenas o sucesso nas competições esportivas; a ideia é integração racial e social. Num país marcado por problemas de xenofobia, eles entenderam que, se colocassem a meninada para jogar bola desde a infância, eles entenderiam a linguagem sagrada do futebol, onde não existem brancos, pretos, amarelos ou verdes. Deu certo, e hoje os ídolos destas crianças podem ser negros como Boateng, turcos como Ozil, poloneses como Klose, ou mesmo arianos legítimos como Neuer. Tudo junto e misturado, como sempre tem que ser. E, de quebra, ganharam um padrão de jogo que se estende desde as categorias de base até a seleção principal e, melhor ainda, inclui o futebol feminino – não por coincidência, as alemãs ganharam a medalha de ouro na modalidade. Ou seja, no fim das contas, o desempenho deles foi melhor que o nosso, fizeram as duas finais. Aliás, a Alemanha sempre está chegando nas finais em todo o torneio que disputa.
Neste ponto, é bom ressaltar que o sucesso do projeto também passa pelo comportamento inteligente do torcedor alemão; eles entendem que ser segundo ou terceiro não é vergonha, ao contrário dos nossos “craques de sofá”, que nunca jogaram nada na vida mas acham que, quando o Brasil não é campeão, o time é uma merda e tem que mudar tudo. Infelizmente estas pragas não ficam apenas no futebol; o que Bernardinho e o time de vôlei masculino, que acumularam vices nos últimos tempos, foram bombardeados por estes xiitas foi uma coisa doentia, capaz de tirar a paciência de um São Francisco de Assis. Felizmente ganharam agora, e calaram a boca desta turma, pelo menos por enquanto.
Resumindo, sempre procuro pensar em como será o Brasil no dia em que a gente juntar, ao nosso talento natural, a capacidade de planejar e executar um projeto que os alemães têm. Talvez seja um sonho, mas sonhar não custa nada...
Até a próxima.

domingo, 7 de agosto de 2016

O BOM DEBATE É A CHAVE DO SUCESSO – E NÓS, BRASILEIROS, TEMOS QUE APRENDER ISTO

Desde que me aposentei passei a ser um usuário bem ativo das redes sociais. Afinal, é um bom lugar para rever antigos amigos, e “conversar” sobre diversos assuntos. Como em todo o lugar onde o acesso é livre, sempre existem os tipos mal educados e grosseiros, mas, de um modo geral, sempre foram minoria e havia o recurso de bloqueá-los. Só que, nos últimos meses, estou vendo esta situação sair do controle.
Pouco depois da votação do impeachment, postei um artigo condenando a atitude do deputado Jean Wyllis, que cuspiu no deputado Jair Bolsonaro. Meu artigo não teve qualquer conotação política; se fosse o Bolsonaro a cuspir no Jean Wyllis, minha atitude de condenação seria exatamente a mesma, afinal entendo que ninguém pode cuspir em ninguém, muito menos em plena Câmara dos Deputados. Pois bem, um amigo de longa data me bloqueou, e ainda me deixou um comentário desaforado, dizendo que “não era possível conviver com um cara que defende o Bolsonaro”. E eu não estava defendendo o Bolsonaro, nem sou simpatizante dele...
Ontem, antes da cerimônia de abertura dos Jogos do Rio, um amigo colocou no Face algo como um chamamento para vaiar o Temer. Imediatamente a discussão virtual começou. Coxinha prá lá, petralha prá cá, até que uma moça, criticando um cara que postava “memes” anti-PT sem parar, mandou esta; “Fulano, o wi-fi do hospício deve ser bom, né? Porque você não para de postar”. A resposta do rapaz desceu alguns tons na escala de civilização; “a do puteiro também deve ser boa, porque você não para, também”. Parei de ler ali mesmo. Detalhe; eram dois engenheiros, cinquentões, meus ex-colegas de Petrobras, pessoas de “fino trato”, como se diria antigamente. Ela chamando o cara de louco, ele a chamando de puta.
Minha conclusão é que perdemos totalmente os parâmetros. Só que, otimista que sou, vejo esta crise como oportunidade; é bom que nossa falta de educação e civilidade venha logo para a vitrine, acabando com o mito do “brasileiro cordial e bem humorado” em que acreditamos durante muito tempo. Conforme eu digo sempre, se o brasileiro fosse assim não teríamos 50 mil homicídios por ano (medalha de ouro neste triste quesito). E penso que esta incapacidade de conviver com opiniões diferentes é responsável por boa parte do nosso atraso.
Buscando subsídios para a minha tese, li o excelente livro “Um país sem excelências e mordomias”, escrito pela jornalista Cláudia Vallim sobre a Suécia, onde ela mora há mais de quinze anos. Lá pelas tantas, ela diz que “o esporte preferido dos suecos é o debate”. Veja bem; eles adoram discutir, trocar ideias, e concluir algo. E a partir do momento em que a decisão é tomada, todo mundo trabalha para que seja um sucesso. Sem ressentimentos. Isto explica muito a diferença de nível entre a Suécia e o Brasil.
Outro exemplo que podemos citar é o povo judeu. Não sou judeu, mas acho estatisticamente fantástico que um povo que soma cerca de 15 milhões de pessoas no mundo todo (ou seja, míseros 0,2% da população do planeta) tenha ganho 20% dos prêmios Nobel até hoje, só para ficar em um item. Na área de gerenciamento de projetos, onde atuo, as duas grandes autoridades reconhecidas mundialmente são Aaron Shenhar e Harald Kerzner, ambos judeus. Tentando entender o sucesso deles, chamou-me a atenção uma frase de Jonathan Sacks, rabino-chefe da Comunidade Britânica; “No judaísmo estamos acostumados à discussão. Somos uma religião de debatedores. Só porque discutimos não quer dizer que não possamos ser amigos”. Perfeito. Agora ficou claro.
Enfim, poderia buscar outros milhares de exemplos, mas entendo que a tese é simples; o que faz a grandeza de um povo ou de um país são as boas discussões. E a boa discussão é aquela onde o objetivo não é ganhar nem humilhar o outro, mas chegar a uma boa conclusão. E é este o ponto em que estamos falhando. E cabe a nós mesmos modificar este estado de coisas. Independente de ser coxinha ou petralha.
Para concluir o artigo, uma opinião de “Pepe” Mujica, o folclórico presidente do Uruguai, sem dúvida uma das figuras mais interessantes e respeitáveis da política latina. Ontem, em um seminário em Curitiba, ele disse que a “conta pendente do povo brasileiro é não permitir que o ódio germine por divergências políticas”. Falou e disse, como se falava (e dizia) no meu tempo de jovem.
Resumindo, ou a gente aprende a respeitar a opinião alheia, ou vamos continuar no atoleiro, você decide.
Até a próxima.

sábado, 23 de julho de 2016

O DOPING, O “TUDO POR DINHEIRO” E A DEGRADAÇÃO DO CONCEITO DE ESPORTE

Desde que me entendo por gente sou um verdadeiro fanático por esportes, principalmente os jogos de bola, como futebol, basquete e vôlei. A ideia da competição esportiva me parece ser uma grande metáfora para a trajetória do ser humano na Terra, ou talvez mais ainda; é a demonstração da essência do darwinismo, onde alguns conseguem chegar ao primeiro lugar e os outros ficam pelo caminho. Tudo isto sem mortes, sem nem mesmo gerar inimizades, ao contrário, trazendo respeito e admiração mútua entre os que vencem e os que perdem, além das lições aprendidas (vou fazer melhor na próxima vez). Por tudo isto, sempre vi o esporte como, provavelmente, a mais nobre das atividades humanas.
Tentei jogar basquete, futebol e vôlei mas, infelizmente, minha paixão pela bola nunca foi correspondida, e não passei do estágio de “medíocre” em nada do que fiz. Independente do meu péssimo desempenho no campo e nas quadras, considero que o esporte me foi útil em diversos aprendizados importantes; a importância do trabalho em equipe, o respeito ao adversário, o esforço para melhorar sempre a minha competência (para quem não sabe, as palavras competição e competência têm a mesma origem), e, principalmente, o respeito pelo próprio corpo. Graças ao esporte desenvolvi hábitos saudáveis que são importantes para que eu goze de uma saúde muito boa até hoje, com mais de sessenta anos.
O problema é que o esporte, principalmente em nível de competição, mudou muito nos últimos quarenta anos. Com o desenvolvimento das telecomunicações, os eventos esportivos passaram a ter um impacto global; enquanto os jogos de Pelé e seus contemporâneos eram precariamente transmitidos por redes de TV incipientes, hoje cada gesto de Cristiano Ronaldo e seus pares, dentro ou fora do campo, tem repercussão imediata no mundo todo. Os outros esportes seguiram na mesma toada, e hoje um Usain Bolt, por exemplo, é figura presente, de alguma forma, na vida de todos nós.
As cifras e os interesses envolvidos, obviamente, subiram junto. Em princípio, um fanático por esportes como eu achou ótimo que atletas ficassem milionários e se tornassem referência para milhões de jovens no mundo todo. Só que, em paralelo com isto, o conceito de “competitividade” saiu de controle, transformando-se no “tudo por dinheiro”, imortalizado pelo nosso grande Sílvio Santos.
A nobreza da competição, exaltada por Coubertin no lema dos Jogos Olímpicos, foi substituída por um jogo em que o importante é ganhar, não interessa como. A justificativa são os milhões e milhões de dólares envolvidos. Como no mito de Fausto, atletas, treinadores e dirigentes vendem suas almas ao diabo em troca da fortuna. No caso específico dos atletas, além da alma, o próprio corpo entra na transação, uma vez que todos conhecem as consequências nefastas que estas substâncias causam no organismo no médio e longo prazo.
Resumindo, mais uma vez estamos assistindo ao triste espetáculo da degradação do ser humano quando não consegue ter uma visão maior de respeito aos outros e a si mesmo, que é a base da grandeza do esporte. Treinar, suar, competir, vencer, perder, tudo isto é bom e saudável, trazendo benefícios físicos e psicológicos para a vida toda; jogar sujo pode te levar à glória enganosa e momentânea, mas um dia a verdade vem à tona. E, por favor, poupem o esporte desta coisa suja. Ele é muito maior que isto.
Até a próxima.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

DECISOES POR PÊNALTIS NÃO SÃO JUSTAS. E EU TENHO UMA PROPOSTA PARA ACABAR COM ISTO

Um dos grandes problemas dos torneios de futebol nos últimos anos tem sido o número exagerado de decisões por pênaltis. Desde sempre, os torneios tipo mata-mata (ou seja, aqueles em que o jogo tem que ter um vencedor) sempre previam a existência da prorrogação no caso de empate no tempo normal, e a premissa era que, em trinta minutos extras de jogo, alguém faria um gol e decidiria a parada.
Este sistema funcionou muito bem durante um bom período de tempo, mas o problema é que as técnicas e táticas do futebol foram cada vez mais privilegiando a defesa, de forma que, de uns tempos para cá, as prorrogações raramente têm gols, e o jogo acaba indo para a decisão por pênaltis.
Só para contextualizar historicamente o que estamos falando, em termos de Copa do Mundo, a primeira decisão por pênaltis ocorreu na semifinal de 1982, quando Alemanha e França empataram no jogo e na prorrogação. De lá para cá temos tido decisões por pênaltis em todas as fases de todos os torneios mata-mata do mundo (Eurocopa, Copa América, Libertadores, Copa do Mundo e todos os outros).
O problema é que a decisão por pênaltis é uma coisa totalmente divorciada do jogo de futebol em si. E pode ser muito injusta. Se tomarmos as duas últimas finais de Copa América, por exemplo, o Chile bateu a Argentina duas vezes nos pênaltis, após 240 minutos sem um golzinho sequer, de parte a parte. Será que não teria um jeito de obrigar estes caras a jogar para frente e fazer gols?
Minha sugestão é simples; aplicar, para a prorrogação, regras diferentes das utilizadas para o jogo em si. Algo parecido com o que já se fez no vôlei e no tênis; o tie-break.
Seriam, basicamente, duas mudanças simples e, repito, que valeriam apenas para a prorrogação;
a) Na prorrogação não existiria mais a figura do impedimento. A única coisa que é proibida é o atacante ficar parado dentro da área, esperando a bola e atrapalhando a ação do goleiro.
b) Toda e qualquer falta que seja feita propositalmente, para parar um lance de ataque, será cobrada da meia-lua da área, sem barreira (chance de gol quase tão boa quanto um pênalti).
A ideia é facilitar a vida dos jogadores e times habilidosos e ofensivos. Sem impedimento, a área para troca de passes aumenta; e a segunda regra obrigaria os defensores a pensar duas vezes antes de fazer uma falta para “matar a jogada longe do gol”. Outro detalhe importante é que os bandeirinhas, sem a necessidade de observar os impedimentos, poderiam auxiliar mais ainda os juízes na marcação das faltas.
Enfim, sem mudar muito as regras, acho que teríamos prorrogações emocionantes, proporcionando muitas oportunidades de gol. E o jogo seria decidido de uma forma mais justa, privilegiando quem ataca mais e melhor. Podia dar certo...

quinta-feira, 23 de junho de 2016

INVADE, OCUPA, QUEBRA, XINGA – SERÁ QUE DEMOCRACIA TEM QUE TER BAGUNÇA?

No início dos anos 80 a ditadura militar brasileira apresentava claros sinais de que não iria durar muito. A “abertura democrática”, promovida pelo então ditador João Batista Figueiredo, nada mais era do que um sinal de que o modelo econômico dos militares estava esgotado e eles estavam ansiosos para passar a bola adiante – o que acabou sendo feito.
Neste momento, em que a palavra “democracia” aparecia como um sonho e a possível solução de todos os males do Brasil reuniu-se no time do Corinthians uma geração de jogadores com inegável talento para jogar bola, mas que acabou sobressaindo-se por outro motivo; liderados por Sócrates, um jogador pouco convencional, que juntava à sua técnica refinada dentro de campo uma cultura de alto nível e grande capacidade de liderança, com o apoio de outros craques como o inteligente Vladimir, o rebelde Casagrande e o carismático Biro-biro, criaram um movimento que ficou conhecido como a “democracia corintiana”.
Basicamente, o negócio deles era jogar bola e ganhar muitos campeonatos – coisa que fizeram com muita competência, diga-se. Se fossem jogadores medíocres ninguém lhes daria o mínimo crédito. Mas suas atitudes iam muito além do gramado. E o causo que vamos contar agora diz muito mais respeito a estas atitudes do que ao jogo de bola.
Jogava neste timaço um ponta-direita chamado Ataliba, que, mesmo sem ter a qualidade técnica dos craques do time, resolvia o jogo de vez em quando. Certa vez, ele foi substituído, não gostou (duvido que algum jogador do mundo goste de ser substituído) e saiu soltando palavrões contra o técnico da ocasião, que eu não lembro quem era. A câmera da TV pegou a imagem (é claro que não vivíamos a época de hoje, em que qualquer palavrãozinho que o jogador solte é filmado por todos os ângulos possíveis), e o fato alcançou alguma repercussão na imprensa (também não existiam as famigeradas redes sociais de hoje).
Pressionado, o treinador exigiu da diretoria uma punição para o atleta. Só que Sócrates e seus companheiros vieram em defesa de Ataliba. Até ai tudo normal, é o tipo do episódio que nunca deveria sair dos limites do campo; o cara pede desculpas, o treinador aceita e vida que segue. Mas o argumento que os outros jogadores usaram foi o da “democracia”. Na visão deles, a “democracia” dava ao jogador o direito de xingar o técnico na frente de todo mundo. E é por isto que fiquei com esta história na cabeça.
Este talvez seja um dos mais graves problemas do Brasil; a confusão de conceitos entre “democracia” e “bagunça”. Nenhuma democracia do mundo dá a alguém o direito de destratar o seu gerente, principalmente se estiverem em público; também não é democrático invadir escolas, parar avenidas, manter greves abusivas, xingar autoridades (por mais que eu considere que a administração petista foi um desastre para o Brasil, sempre achei que aquele coral de “Ei, Dilma, vai tomar no (*)” é coisa de selvagens imbecis). No Brasil, infelizmente, este tipo de barbaridade é enquadrado dentro dos limites do “direito sagrado de livre expressão”. E se a polícia bater em alguém, a culpa é da polícia.
O resultado prático de tudo isto é que a melhor característica da democracia, que é a existência do debate livre e saudável entre os divergentes, que pode nos levar a uma negociação boa para todos, fica totalmente prejudicada; e não é por outra coisa que muitos desinformados entendem que a volta da ditadura militar seria uma solução. Pessoal, não precisamos de ditadura (ninguém precisa); precisamos de disciplina e ordem. E isto pode (deve) ocorrer em qualquer estado democrático.
Resumindo, o que o Brasil precisa não é de mudança de regras, mas sim cumprir as mínimas regras de convivência, educação e responsabilidade, que são os pilares de uma estrutura democrática. Invadir, paralisar, quebrar, xingar, nada disto resolve o problema. E a mudança cabe a cada um de nós.
Até a próxima.