quarta-feira, 28 de novembro de 2018

OS TORCEDORES CEARENSES PODEM DAR UMA BELA LIÇÃO AO BRASIL EM 2019

Um dos melhores livros que li foi “Como o futebol explica o mundo”, de Franklin Foer. Ele lança um olhar sobre a globalização a partir do futebol. Foer demonstra, entre outras coisas, que o futebol acabou sendo um fator importante para a integração racial na Europa; afinal, torcidas que eram abertamente racistas (e, em muitos casos, se orgulhavam disto), foram se derretendo diante do talento de craques como Drogba, por exemplo. Assim, a contratação de atletas negros, que foi até proibida durante muito tempo, tornou-se perfeitamente normal. É claro que ainda existem torcedores racistas, mas são cada vez menos representativos.
Falo tudo isto para introduzir o assunto da violência relacionada ao futebol, e o que é possível fazer para acabar com ela. O mico de nível mundial que estamos pagando neste episódio da final da Libertadores talvez possa servir como ponto de partida para uma mudança de atitude. Não custa lembrar que os hooligans ingleses eram até mais terríveis que os nossos, e patrocinaram episódios sangrentos até que as altas autoridades do país, comandadas pela própria Rainha Elizabeth, resolveram tomar providências firmes, que praticamente erradicaram o problema.
Na América do Sul, como de hábito, a palavra de ordem é permissividade. Cedemos a tal ponto que hoje encaramos com naturalidade uma situação absurda como os jogos com “torcida única”. Entendo que negar acesso a um torcedor que quer apenas ver seu time jogar é uma espécie de falência moral da sociedade. E o episódio do ataque quase homicida contra o ônibus do Boca Juniors mostra que nem isto resolve o problema da barbárie.
Com tudo isto, entendo que o povo cearense tem, no momento, uma oportunidade de ouro nas mãos. Afinal, o momento é de justo orgulho; o estado consegue, pela primeira vez, emplacar seus dois times entre os vinte da primeira divisão brasileira. E tenho certeza que o país todo estará de olho nos clássicos cearenses pelo Brasileirão.
E o que poderia ser mais bonito? Que os nossos irmãos nordestinos, tão injustamente criticados muitas vezes, mostrassem para a sociedade “do sul” que é possível realizar um clássico de futebol com disputa, emoção, festa, mas sem violência, com as duas torcidas dividindo o estádio e voltando prá casa em paz. Seria um exemplo inesquecível de civilidade, que, acredito, traria reflexos positivos para todos nós.
Enfim, pode ser só um sonho, mas, como diz o poeta, sonho que se sonha junto vira realidade... Fica a dica deste gaúcho gremista, radicado no Rio e apaixonado pelo Nordeste (mal posso esperar a próxima chamada para dar aula em Fortaleza!).