sábado, 29 de setembro de 2018

O estranho paradoxo de um povo que exige mudanças, mas não quer mudar

Fazendo uma breve reflexão sobre as pesquisas eleitorais, o panorama do Brasil é hoje desolador.
A nível nacional, anuncia-se um segundo turno entre os dois candidatos mais conservadores do espectro. De um lado o PT de Lula, que em catorze anos de poder conseguiu levar o País à maior recessão de sua história e, de quebra, implantou um esquema de corrupção cujos números são, para dizer o mínimo, impressionantes. No outro canto do ringue um capitão grosseiro, que promete trazer de volta os bons tempos(?) da ditadura militar. Em comum os dois grupos têm a visão de que bom era o passado, e nenhum projeto para o futuro.
Afora isto, a nível estadual, alguns nomes e figurinhas carimbadas continuam com eleitorados fieis e numerosos; Garotinho, Aécio, Calheiros, Dilma... enfim, a lista é longa. Isto sem contar os clãs familiares que se perpetuam com a benção dos eleitores; só no Rio temos filhos de Cabral, Eduardo Cunha, Roberto Jefferson, Picciani e do próprio casal Garotinho ascendendo a postos importantes no congresso nacional.
A qualidade dos debates, obviamente, segue a mesma regra; há pouco tempo as redes antissociais se digladiavam para saber se o nazismo era de direita ou esquerda, mais de setenta nos depois da morte de Hitler. Mais uma vez, a fixação no passado.
Resumindo, conforme sugeri no meu livro, acho que os versos ufanistas (e altamente complexos) do hino nacional deveriam ser substituídos por um samba antigo, de um baiano genial que passou à historia sob a alcunha de Batatinha; “Se eu deixar de sofrer, como é que vai ser, para me acostumar...”.
Enfim, todo mundo quer mudanças, mas sem mexer no que está aí. Fica difícil...

domingo, 23 de setembro de 2018

Será que debate e "dedo na cara" são sinônimos?

O debate totalmente extemporâneo e inútil sobre o nazismo ser destro ou canhoto chegou às paginas do Globo na edição de sábado, 22/09/2018. E um depoimento me chamou a atenção. Uma professora que ministra aulas de história há cerca de 20 anos em uma escola de Belford Roxo (RJ) afirmou que, de uns tempos para cá, “Os alunos passaram a colocar o dedo na cara dos professores e questionar fatos históricos com bases em achismos vistos na internet”.
O que me chamou a atenção não foi o questionamento, mas sim o dedo na cara. Sou professor e adoro quando os alunos me contestam, porque um debate é sempre mais interessante do que uma aula expositiva, só que a ideia de encarar com naturalidade o “dedo na cara” me parece inconcebível.
Extrapolando o raciocínio, entendo que este é um dos grandes problemas brasileiros; confundimos debate com dedo na cara. As grandes nações são forjadas no debate e na troca de ideias, na tese e antítese, no questionamento contínuo. Sem dedo na cara, por supuesto.
Não é preciso ser um gênio em politica para entender que é por isto que chegamos hoje a uma eleição polarizada entre um grupo que apoia cegamente um corrupto que está na cadeia e outro grupo que apoia cegamente um cara que idolatra torturadores. Tenho certeza que nenhum dos dois é uma boa solução para o Brasil, mas não temos debate, só dedo na cara.
Fé cega, faca amolada

domingo, 16 de setembro de 2018

As eleições e a triste escolha que vamos ter que fazer

Faltando três semanas para a eleição presidencial, as projeções das pesquisas ainda são nebulosas para o provável segundo turno. Bolsonaro vai estar lá, é quase certo, mas contra quem?
Neste ponto, entendo que cabe uma reflexão. A rejeição ao nome de Bolsonaro é histérica, mas eu – que não sou simpatizante dele, quero deixar claro – acho que chegou a hora de pensar de forma prática e objetiva, deixando preconceitos de lado.
Tive a pachorra de ouvir algumas falas do “Mito” – não deixa de ser um exercício de paciência, muitas vezes – e tirei uma conclusão; ele é realmente grosseiro, fã de torturadores, mas é preciso admitir que, em mais de vinte anos de vida pública, não pesa contra ele ou seus filhos qualquer acusação consistente de corrupção ou enriquecimento ilícito. E também jamais disse que pretende voltar com a ditadura militar ou algo parecido.
Já os partidos que chamaríamos de “esquerda” (PT e seus genéricos), deixam claro que seu primeiro ato, caso eleitos, será rasgar a constituição, achincalhar o Judiciário e tirar da cadeia Lula e os amiguinhos que estão presos por roubo e corrupção. Controlar a mídia e a liberdade de expressão não está descartado. Enfim, é a revanche do AI-5; quem é da nossa gangue pode tudo, e aí dos subversivos que quiserem salvar o Brasil de outro jeito! Ora, o nome técnico disto é ditadura. Tão ignóbil quanto a dos militares.
Resumindo, é quase certo que teremos que escolher entre um dos demônios acima. Sim, existe o Ciro Gomes, mas este pode ser o pior dos mundos; um cara tão grosseiro e destemperado quanto Bolsonaro, e com uma sede de poder que talvez o leve a aceitar a ideia de indultar Lula em troca dos votos da “esquerda”. É o que penso dele, posso estar errado.
Enfim, salvo novas facadas, canetadas ou intervenções divinas, este é o quadro. Não é grande coisa, mas é o que temos para o momento.
Que Deus ilumine a nossa escolha...

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Os “Trumpistas enrustidos” enganaram as pesquisas. Pode acontecer o mesmo com Bolsonaro...

Às vésperas da última eleição americana, todos os institutos de pesquisa de lá indicavam a vitória de Hillary Clinton sobre Donald Trump. A margem era estreita, mas garantida. Na hora da verdade, todo mundo sabe o que aconteceu; o topetudo escroto derrotou a princesinha do politicamente correto, para horror da plateia. E o mais incrível é que o governo dele, apesar dele, está dando certo; pelo menos a economia (que é o que conta), vai muito bem.
Li, não sei onde, uma teoria que me pareceu bem consistente; a repulsa histérica que cercava o nome de Donald Trump era tão grande que boa parte de seus eleitores omitia a sua escolha até para os pesquisadores e estatísticos. Como cantava a grande Amália Rodrigues, em um fado inesquecível, “de quem eu gosto, nem às paredes confesso...”. Pois os eleitores de Trump não confessavam, mas, na solidão da cabine, viraram o jogo.
Creio que o fenômeno pode se repetir com Bolsonaro. As reações a seu nome são histéricas e, muitas vezes, beiram o irracional. É claro que existem os que assumiram sua opção, sem medo do linchamento moral; são os vinte e tantos por cento do eleitorado que, praticamente, asseguram sua presença no segundo turno.
E é exatamente no segundo turno, onde Bolsonaro sempre aparece como perdedor, que eu vejo o fantasma do “eleitor enrustido”; afinal, é muito menos perigoso para a vida social de alguém dizer que vota em qualquer um, menos nele, do que assumir algo do tipo “se for para eleger um coronelão que nem o Ciro, aí vou de Bolsonaro e f(*)-se!” (isto vale para Marina, Alckmin, Haddad ou até o Lula, se acontecer ainda).
Resumindo; acho que a chance de Bolsonaro ganhar o segundo turno é muito maior do que se pensa. E tenho certeza que a maneira mais burra de combatê-lo é xingando os seus eleitores.
Quem viver, verá.