sexta-feira, 29 de junho de 2018

Não temos mais líderes dentro do campo. E a culpa não é dos jogadores

Esta imagem, de 1958, virou um ícone para os brasileiros, dentro e fora do futebol; um país com fama de vira-lata e amarelão nas decisões chega à final da Copa contra a anfitriã Suécia – e já leva um gol com apenas quatro minutos de jogo! Antes que o pânico tomasse conta de todos o meia Didi, então o craque do time (favor lembrar que Pelé era um adolescente, ainda), pega a bola no fundo das redes e vem trazendo-a para o meio de campo, falando para os colegas; calma, nós somos muito melhores e vamos ganhar fácil. O fim da história todo mundo conhece, goleada de 5x2 e o inicio de uma trajetória de sucesso do futebol brasileiro.
Corta para 2002; na estreia na Copa, finalzinho de um jogo complicadíssimo contra a Turquia, 1x1 no placar e o arbitro nos presenteia com um pênalti que, seguramente, não resistiria ao VAR caso existisse na época. O técnico Felipão tinha dois batedores; Ronaldo Fenômeno (que já não estava mais em campo) e Ronaldinho Gaúcho. O próprio Felipão contou que olhou para o dentuço e não sentiu muita firmeza de parte dele. No meio da indecisão, Rivaldo incorporou o Didi de 58, botou a bola embaixo do braço, olhou para o técnico e disse; deixa comigo, professor. Felipão deixou e Rivaldo bateu com perfeição. Ali começava o penta.
E agora, em 2018, o que temos? Não sei se é impressão minha, mas acho que, se por um acaso o técnico Tite for abduzido por marcianos e desaparecer no meio do jogo, o time vai parar de jogar. Não vejo nada parecido com Didi, ou Gerson, ou Carlos Alberto, nem mesmo um Dunga ou um Cafu. E tenho uma teoria sobre isto.
O problema é que quase todos estes garotos têm uma história semelhante; vindos de uma origem humilde, são subitamente promovidos a ídolos e, muitas vezes ainda adolescentes, deixam o país ganhando fortunas consideráveis. Nada contra isto, é claro, mas o fato é que esta transição acaba castrando o desenvolvimento da personalidade necessário para a criação de um líder; o dinheiro vem muito rápido (por favor, nunca digam que vem fácil, eles são talentosos, esforçados e não estão roubando ninguém), e a mudança precoce para um ambiente estranho faz com que eles acabem adquirindo uma personalidade frágil e conformada. A lição é; joga a tua bola, ganha a tua grana e cala a boca. Some-se a isto o ambiente doentiamente policialesco desta praga chamada “redes sociais”, e temos um bando de jovens milionários que só são capazes de repetir os bordões “politicamente corretos” que são ditados pelos seus incontáveis assessores.
Não consigo enxergar nem mesmo um protótipo de líder dentro do nosso time. Thiago Silva talvez seja o que mais se aproxima disto, mas o descontrole emocional que demonstrou em 2014 ainda pesa muito contra ele. Neymar poderia ser este líder, só que, neste aspecto, ele me lembra muito o Ronaldinho Gaúcho; um par de pés geniais, a serviço de uma cabeça conturbada. Não resolve. O próprio “rodizio de capitães”, promovido pelo técnico Tite me parece um reflexo desta situação toda; procura-se um líder.
Enfim, torço sinceramente para que dê tudo certo e o hexa venha, mas vejo com muita preocupação o fato de que não temos um só jogador que pareça capaz de botar a bola embaixo do braço e resolver a parada, quando as coisas não estiverem indo bem.
Quem viver, verá.