sábado, 23 de julho de 2016

O DOPING, O “TUDO POR DINHEIRO” E A DEGRADAÇÃO DO CONCEITO DE ESPORTE

Desde que me entendo por gente sou um verdadeiro fanático por esportes, principalmente os jogos de bola, como futebol, basquete e vôlei. A ideia da competição esportiva me parece ser uma grande metáfora para a trajetória do ser humano na Terra, ou talvez mais ainda; é a demonstração da essência do darwinismo, onde alguns conseguem chegar ao primeiro lugar e os outros ficam pelo caminho. Tudo isto sem mortes, sem nem mesmo gerar inimizades, ao contrário, trazendo respeito e admiração mútua entre os que vencem e os que perdem, além das lições aprendidas (vou fazer melhor na próxima vez). Por tudo isto, sempre vi o esporte como, provavelmente, a mais nobre das atividades humanas.
Tentei jogar basquete, futebol e vôlei mas, infelizmente, minha paixão pela bola nunca foi correspondida, e não passei do estágio de “medíocre” em nada do que fiz. Independente do meu péssimo desempenho no campo e nas quadras, considero que o esporte me foi útil em diversos aprendizados importantes; a importância do trabalho em equipe, o respeito ao adversário, o esforço para melhorar sempre a minha competência (para quem não sabe, as palavras competição e competência têm a mesma origem), e, principalmente, o respeito pelo próprio corpo. Graças ao esporte desenvolvi hábitos saudáveis que são importantes para que eu goze de uma saúde muito boa até hoje, com mais de sessenta anos.
O problema é que o esporte, principalmente em nível de competição, mudou muito nos últimos quarenta anos. Com o desenvolvimento das telecomunicações, os eventos esportivos passaram a ter um impacto global; enquanto os jogos de Pelé e seus contemporâneos eram precariamente transmitidos por redes de TV incipientes, hoje cada gesto de Cristiano Ronaldo e seus pares, dentro ou fora do campo, tem repercussão imediata no mundo todo. Os outros esportes seguiram na mesma toada, e hoje um Usain Bolt, por exemplo, é figura presente, de alguma forma, na vida de todos nós.
As cifras e os interesses envolvidos, obviamente, subiram junto. Em princípio, um fanático por esportes como eu achou ótimo que atletas ficassem milionários e se tornassem referência para milhões de jovens no mundo todo. Só que, em paralelo com isto, o conceito de “competitividade” saiu de controle, transformando-se no “tudo por dinheiro”, imortalizado pelo nosso grande Sílvio Santos.
A nobreza da competição, exaltada por Coubertin no lema dos Jogos Olímpicos, foi substituída por um jogo em que o importante é ganhar, não interessa como. A justificativa são os milhões e milhões de dólares envolvidos. Como no mito de Fausto, atletas, treinadores e dirigentes vendem suas almas ao diabo em troca da fortuna. No caso específico dos atletas, além da alma, o próprio corpo entra na transação, uma vez que todos conhecem as consequências nefastas que estas substâncias causam no organismo no médio e longo prazo.
Resumindo, mais uma vez estamos assistindo ao triste espetáculo da degradação do ser humano quando não consegue ter uma visão maior de respeito aos outros e a si mesmo, que é a base da grandeza do esporte. Treinar, suar, competir, vencer, perder, tudo isto é bom e saudável, trazendo benefícios físicos e psicológicos para a vida toda; jogar sujo pode te levar à glória enganosa e momentânea, mas um dia a verdade vem à tona. E, por favor, poupem o esporte desta coisa suja. Ele é muito maior que isto.
Até a próxima.

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