quarta-feira, 4 de março de 2015

A eterna questão sobre o valor do gerenciamento de projetos

A discussão, proposta pelo prof. José Finocchio, da FGV, um dos caras que mais entende de gerenciamento de projetos neste país, era sobre o valor da certificação PMP. Como não podia deixar de ser, resolvi me meter na história, e fiz o post que reproduzo abaixo;
Aproveitando esta discussão, gostaria de ir um pouco mais fundo e perguntar; quanto vale um gerente de projetos? Entendo que o valor de um profissional deve ser proporcional aos resultados que ele proporciona para a empresa. E é exatamente aí que vejo, no Brasil, uma distorção cultural que pode ser muito perigosa para todos nós que militamos na área, independente de ter certificação ou não.
Tentando ser bem conciso, minha tese é; para que um bom gerente realmente agregue valor a um projeto, é preciso que ele receba condições para fazer um trabalho condizente com a sua capacitação. Infelizmente, no Brasil, ainda temos uma cultura em que “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, portanto o que o GP normalmente recebe é um “prato pronto”, onde alguém acima dele já determinou prazos, custos e escopo (normalmente impossíveis de realizar). Assim, a função dele passa a ser exigir tudo da equipe para conseguir o que todo mundo sabe que não é possível, e levar esporro dos superiores porque não cumpre as metas. Para isto, é claro, não precisa qualificação nenhuma.
Usando a Petrobras como exemplo, posso dizer que em 2001, quando obtive a certificação, eu era um dos poucos (talvez o único), PMP da empresa. Hoje temos centenas de profissionais certificados, cursos de MBA internos, enfim, a capacitação da Petrobras nesta área é imensa. E o que aconteceu com os projetos da empresa? Acho que não preciso dizer. E porque aconteceu? Pura e simplesmente porque, na cultura brasileira, o profissional técnico é ignorado na hora das grandes decisões. Nem mesmo o Presidente da Petrobras tem o direito de discordar das ordens do Planalto. Detalhe importante; isto não é exclusividade do PT. Entrei na Petrobras em 1976, em plena ditadura militar, e posso garantir que esta ingerência sempre aconteceu - nunca tão exageradamente quanto agora, é certo. Na verdade, conforme colocado acima, trata-se de um traço cultural do país.
Assim, entendo que talvez a discussão mais importante seja esta; como fazer para implantar no Brasil uma mudança cultural de forma que o GP possa realmente desenvolver o seu potencial e se tornar uma figura importante dentro da estrutura de poder das empresas (governamentais ou não). O workshop que tenho ministrado em algumas turmas da FGV é justamente sobre isto.
Resumindo, entendo que, nesta situação, a diferença entre ter ou não o PMP é apenas um detalhe. E o pior cenário é que o mercado entenda que esta coisa toda de gerenciamento de projetos não serve prá nada, porque não apresenta resultados concretos. Temos que defender a nossa posição; um bom gerente de projetos é importante para uma empresa, desde que deixem ele participar das decisões e não apenas correr atrás de metas absurdas. Não adianta ter o Neymar no time, se ele é obrigado a jogar de zagueiro.

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