terça-feira, 31 de março de 2015

Recordar é viver - artigo meu publicado no site do Globo em fevereiro/2010

Dando uma olhada em arquivos antigos no meu computador, achei este artigo que escrevi em fevereiro/2010 e que foi publicado no site do jornal "O Globo" (naquela época eles abriam esta tribuna para os leitores. Depois acabou, não sei bem porque). Só para lembrar, Lula iniciava o último ano de seu segundo mandato, e procurava pavimentar o caminho para o seu sucessor (que provavelmente nem ele sabia ainda que seria a Dilma. Na verdade pouquíssima gente no Brasil sabia quem era Dilma Rousseff, nesta época). Modéstia a parte, minha profecia foi totalmente confirmada...
'Não há nada que o Brasil precise menos do que um ridículo joguinho de comparações'
Publicada em 11/02/2010 às 13h32m
Artigo do leitor Márcio Hervé
Não há nada que o Brasil precise menos, agora, do que este ridículo joguinho de comparação de obras entre o governo atual e o anterior. Em primeiro lugar, porque não tem como nem o que comparar. O grande salto que o Brasil deu nos últimos 15 anos não se deve ao governo A ou ao partido B, muito menos ao líder Fulano ou Beltrano. O que nós tivemos foi continuidade administrativa (como é comum nos países ditos civilizados). Muitos dos resultados que Lula apresenta como seus são frutos colhidos a partir de projetos dos governos anteriores (se analisarmos bem, até Collor e Sarney têm sua parcela de mérito, em alguns casos). Não se muda um país em quatro ou oito anos, tudo ocorre no médio e longo prazo.
É muito triste que Lula escolha esta linha de confronto com os antecessores. Faria melhor se seguisse o exemplo de Mandela (só para citar um estadista de verdade), que começou o seu governo perdoando as barbaridades cometidas pelos desgovernos anteriores (a começar pela sua própria prisão), e lançou-se a uma bem-sucedida construção de uma África do Sul única e sem revanchismos.
Mas parece que Lula prefere espelhar-se no nosso vizinho Chávez, que prega o ódio e o divisionismo, e dá mais importância a um projeto pessoal de poder eterno do que aos destinos da nação. Tenho certeza que, pela biografia, inteligência e carisma que tem, Lula tinha plenas condições de procurar exemplos melhores. Mas parece que a sua vaidade, neste momento, está falando mais alto. A história, seguramente, reservará lugares diferentes para Mandela e Chávez. E seria muito bom para o Brasil que Lula fizesse uma escolha inteligente sobre ao lado de quem ele quer ficar nesta foto.
Por enquanto, para manter o bom humor, nos resta parodiar Chico Buarque, em seu maravilhoso "Fado Tropical": "Ai esta terra ainda irá cumprir sua sina bela / ainda irá tornar-se uma enorme Venezuela...". Quem viver verá.

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