As conquistas da Libertadores e do Mundial de Clubes pelo Corinthians fizeram de 2012 um ano especial para os malucos por futebol, como é o caso deste escriba. Esclareço, desde logo, que, embora todas as tormentas que frequentam o coração dos fanáticos, eu fiz a escolha pelo “bando de loucos” desde a eliminação do Vasco (para decepção do meu filho); senti que aquele time ia até o fim. E um dos fatores que me fez decidir torcer pelo Corinthians foi um personagem com uma história digna de um filme; o goleiro Cássio.
Cássio foi uma surpresa para boa parte dos torcedores brasileiros, mas os gremistas, como é o meu caso, já o conheciam de longa data. Cássio surgiu nas categorias de base do Grêmio lá por 2003, descoberto por acaso num amistoso dos juniores contra um time de Veranópolis, enfim, aquela típica história do menino pobre que de repente tem uma oportunidade de ouro pela frente. Ele logo se destacou, e foi titular de várias seleções brasileiras de sub-qualquer coisa. Profissionalizado em 2006, não chegou a se firmar como titular do time, mas seu potencial era tão grande que chamou a atenção de empresários europeus e, no final de 2007, o Grêmio ficou diante de uma típica situação de análise de riscos; recebeu uma boa proposta pelo jovem craque, à época com 20 anos.
Cheguei a usar este exemplo em sala de aula; um clube tem um ativo interessante, um jogador jovem, com um potencial enorme, que algum dia poderá valer muitos milhões; só que é preciso levar em conta todos os riscos da profissão (todo o torcedor conhece dezenas de histórias de jogadores que eram considerados gênios nas categorias de base e nunca se firmaram no profissional). De repente, surge uma oferta boa. Vender hoje, ou investir nele? Dá até para calcular o VPL disto tudo. Em tempo; antes que algum chato politicamente correto venha me dizer que estou tratando o jogador como mercadoria, eu aproveito e digo; gafanhoto, meu filho, o mundo real é assim. Não só jogadores de futebol; todos nós somos “commodities”, e temos nosso valor de mercado. Se você não sabia disto, só posso lamentar. Welcome to the jungle, my son. E, por favor, me deixe continuar contando o “causo”.
O fato é que o Grêmio escolheu vender, e ele ficou alguns anos no ostracismo em um time holandês. Confesso que eu nem sabia que ele tinha voltado para o Brasil, e estava como terceiro goleiro do Corinthians. Só que, quando eu soube que ele assumiria o posto de titular no perigoso jogo com o Emelec, comecei a apostar minhas fichas no Corinthians (é pena que não tenha testemunhas; só comentei com meu filho e alguns amigos). O resto é história. Belíssima história, por sinal.
O causo podia fechar por aqui; quanto vale o Cássio hoje? Quanto o Grêmio perdeu na decisão que tomou? Quanto o Corinthians ganhou? E se ele tivesse ficado no Grêmio, como seria a história? Enfim, dá para fazer várias análises. E, só para apimentar um pouco a discussão, o Grêmio agora resolveu investir num goleiro (Dida) que tem inegáveis qualidades, uma história de respeito, mas está com quase quarenta anos... Enfim, são estes “causos” que me fazem um fanático por futebol. E por análise de riscos, é claro.
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
sábado, 22 de dezembro de 2012
O meu conto de natal
Pessoal, agora é hora de esquecer o gerenciamento de projetos, a política, a cultura, e até o futebol (como se isto fosse possível). E vou encher o saco de vocês com a minha visão do natal, num conto que escrevi há algum tempo. Pode parecer meio depressivo para alguns, mas é o que eu vejo. E contem uma mensagem de amor - meio sutil demais, vá lá, mas é uma mensagem de amor e fraternidade.
Um bom natal prá todos nós!
- É preciso amar/ as pessoas/ como se não houvesse amanhã...
A voz de um morto. Um morto, no rádio do carro, dizendo que é preciso amar as pessoas - e ainda por cima como se não houvesse amanhã. Um maluco, drogado, que morreu de AIDS... Bom, este, pelo menos, já resolveu a vida dele. Para mim, existe amanhã. Infelizmente. E, pior ainda, amanhã é Natal.
Dirigir um táxi, no dia de Natal... Só pode ser coisa de corno. Além de corno, endividado. É preciso pagar o aluguel, pagar as contas, pagar a diária, pagar os remédios, pagar o presente dos filhos (e alguém agüenta olhar para a cara deles e dizer que está sem grana?). É preciso amar, as pessoas... Será?
Dirigir um táxi, no Rio de Janeiro... Eu devia ter estudado. Ou ter jogado futebol, ou ter feito alguma coisa na vida... Mas agora não dá prá pensar nisto. Correr perigo na Linha Vermelha, na Linha Amarela, no Aterro, em cada sinal, em cada passageiro... Aquela mão estendida pode ser o pão nosso de cada dia ou o fim da féria, o fim da vida... Precisava ter lido sobre aquele motorista de táxi que os traficantes executaram na Tijuca?
Mas agora não dá para pensar. Afinal, podia ser pior. Mais um sinal vermelho, mais daqueles meninos fazendo malabarismos, no dia de Natal, quem é que agüenta? As mãozinhas estendidas, meu filho, não tenho trocado, o passageiro se encolhendo no banco de trás e vociferando “são bandidos, vivem cheirando cola, onde está a polícia que não faz nada...”. Será que é possível amar estas pessoas? Aquele bando vindo ali, uma menina grávida no meio deles, quase uma criança carregando outra na barriga, ainda têm disposição prá sacanagem, os desgraçados...
Não dá para pensar muito. O dia vai raiar daqui a pouco, mal deu prá pagar a diária, hoje ainda tem o jantar na casa da sogra, com aqueles parentes chatos da mulher, toda aquela pentelhação... Gente que bebe demais, fala alto demais, gosta de pagode demais, no ano que vem juro que dou um jeito de juntar dinheiro para ir prá casa do meu pai, lá em Minas... Coitado do velho vai ficar naquela tristeza toda, desde que mamãe morreu ele sempre fica assim, no ano que vem vou lá, nem que seja sozinho, que se foda minha mulher e toda a família dela...Os meus filhos vão ter que entender... Sei lá...
De novo na mesma esquina. Os mesmos meninos, bandidos, infelizes, drogados. Só que tem alguma coisa acontecendo... Paro o carro num impulso. Deitada na calçada, a menina grávida, os outros apavorados em volta, mais meninos e menos bandidos do que nunca, será que ninguém vai ajudar? Tenho experiência, já levei muita mulher em trabalho de parto para o hospital antes. Só que agora não tem mais tempo para nada; o bebê já está saindo. Ainda ouço, no fundo da cabeça, a voz chata da minha mulher dizendo “porque você foi se meter nisto...” mas não posso mais parar. Tento pegar uma toalha no carro, mas o bichinho já está nos meus braços, berrando. Corto o cordão umbilical com um canivete velho, meus gestos são mecânicos, estou com sono, porque fui me meter nesta? Lembro de um médico que levei pro Miguel Couto um dia, me dizendo que este pessoal não pega infecção, tem imunidade completa, só que eu podia pelo menos ter limpado o canivete... Bem, azar, agora já foi. Serviço terminado, o dia clareando, o moleque berrando nos meus braços, porque me deu esta coisa de chorar de repente?
Mais um esfomeado no Mundo... prá nos assaltar, prá cheirar cola, prá ser vítima de bala perdida, prá perder pênalti em final de campeonato... Mais um filho da puta prá atrapalhar a nossa vida, prá ser avião de traficante, prá bolinar a professora, prá estuprar, matar, morrer...
Mais um filho da puta no Mundo! Sem fralda, sem teto, sem terra, sem vergonha, sujando minha roupa com esta porra deste sangue, minha mulher vai me matar quando eu chegar em casa, mais um desgraçado prá compartilhar da nossa sujeira, da nossa fome, da nossa injustiça...
Tudo, menos dizer que alguém pode olhar nos olhos desta coisinha de forma quase humana, querer pensar em se apaixonar por um filho da puta destes, e ficar aqui como um ridículo, abraçado neste filhote de coisa nenhuma, chorando feito um babaca...
Já é dia claro. Viro as costas para a cena. A vida não é um conto de Natal, não vai ter milagre nem presente, muito menos estrela de Belém, os reis magos não vão aparecer, nem se dignar a mandar um recado, dando a desculpa de que ficaram presos no engarrafamento. Quase jogo o moleque nos braços da mãe, que balbucia um “obrigado, moço”. Não vou levar ninguém para a porra de hospital nenhum. Deixo o filho da puta com a puta que o pariu, cercado dos filhos da puta que vão conviver com ele. E eu – o maior filho da puta de todos – vou voltar para casa, tirar esta maldita roupa suja do sangue fedorento deste filhote de coisa ruim, e ainda ouvir um sermão da minha mulher. Um bando de infelizes que a vida juntou num momento de merda, chafurdando na miséria humana, na desgraça de uma cidade desgraçada.
A música no rádio insiste em dizer que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Se eu não parar de chorar vou acabar batendo com o carro, e aí vai ser muito pior. Será que eu ajudei no parto do Menino Jesus? Deixa de ser burro, seu babaca, era só mais um filho da puta!
É dia de Natal. O locutor agora fala em amar o próximo como a si mesmo. Eu sei que é só uma propaganda a mais, mas de repente tudo começa a fazer sentido, na minha cabeça que já raciocina com dificuldade (preciso chegar logo em casa, tô morrendo de sono); é preciso amar as pessoas, amar o próximo - mesmo que ele seja um filho da puta. Sim, porque eu também sou um filho da puta. É o milagre de Natal; todos somos filhos de Deus. Inclusive – especialmente, talvez – os filhos da puta. Como este desgraçado, sem nome, sem teto, que eu ajudei a botar neste Mundo, e que talvez vá me assaltar e me matar um dia. Ter amor por quem a gente odeia, por quem odeia a gente. Como este filho da puta que acaba de cortar a minha frente – só faltava bater com o carro, agora!
O sol está forte, o calor já começa a incomodar. E eu vou ter que dormir suando, porque o ar condicionado do quarto está quebrado e eu não tenho dinheiro prá consertar. Pior que eu, só o menino Jesus e a mãe dele, que vão ficar ali pela rua mesmo. É dia de Natal. Na esquina, um cartaz qualquer fala em paz na Terra aos homens de boa vontade – e fico pensando se isto inclui todos os filhos da puta. Como eu e este moleque, e a mãe dele, e os outros do bando, e até a minha mulher, que vai me encher o saco quando eu chegar em casa, e toda a família dela. Todos nós.
Estou chegando em casa. Meus olhos estão vermelhos, de choro e de sono. Vou tirar esta roupa, vou dormir, a vida vai recomeçar. O menino Jesus vai passar o seu primeiro dia neste Mundo, nesta rua, neste calor. Não vai ser fácil para ele, não é fácil para mim. Mas é preciso amar, ter esperança, mais um ano vai, mais um ano vem... Não consigo nem pensar mais. O locutor no rádio começa a rezar a Ave Maria. Dentro da minha mente, as palavras se completam. Santa Maria, mãe de Jesus, rogai por nós, os filhos da puta. Os filhos de Deus.
Amém.
Um bom natal prá todos nós!
Um filho de Deus
- É preciso amar/ as pessoas/ como se não houvesse amanhã...
A voz de um morto. Um morto, no rádio do carro, dizendo que é preciso amar as pessoas - e ainda por cima como se não houvesse amanhã. Um maluco, drogado, que morreu de AIDS... Bom, este, pelo menos, já resolveu a vida dele. Para mim, existe amanhã. Infelizmente. E, pior ainda, amanhã é Natal.
Dirigir um táxi, no dia de Natal... Só pode ser coisa de corno. Além de corno, endividado. É preciso pagar o aluguel, pagar as contas, pagar a diária, pagar os remédios, pagar o presente dos filhos (e alguém agüenta olhar para a cara deles e dizer que está sem grana?). É preciso amar, as pessoas... Será?
Dirigir um táxi, no Rio de Janeiro... Eu devia ter estudado. Ou ter jogado futebol, ou ter feito alguma coisa na vida... Mas agora não dá prá pensar nisto. Correr perigo na Linha Vermelha, na Linha Amarela, no Aterro, em cada sinal, em cada passageiro... Aquela mão estendida pode ser o pão nosso de cada dia ou o fim da féria, o fim da vida... Precisava ter lido sobre aquele motorista de táxi que os traficantes executaram na Tijuca?
Mas agora não dá para pensar. Afinal, podia ser pior. Mais um sinal vermelho, mais daqueles meninos fazendo malabarismos, no dia de Natal, quem é que agüenta? As mãozinhas estendidas, meu filho, não tenho trocado, o passageiro se encolhendo no banco de trás e vociferando “são bandidos, vivem cheirando cola, onde está a polícia que não faz nada...”. Será que é possível amar estas pessoas? Aquele bando vindo ali, uma menina grávida no meio deles, quase uma criança carregando outra na barriga, ainda têm disposição prá sacanagem, os desgraçados...
Não dá para pensar muito. O dia vai raiar daqui a pouco, mal deu prá pagar a diária, hoje ainda tem o jantar na casa da sogra, com aqueles parentes chatos da mulher, toda aquela pentelhação... Gente que bebe demais, fala alto demais, gosta de pagode demais, no ano que vem juro que dou um jeito de juntar dinheiro para ir prá casa do meu pai, lá em Minas... Coitado do velho vai ficar naquela tristeza toda, desde que mamãe morreu ele sempre fica assim, no ano que vem vou lá, nem que seja sozinho, que se foda minha mulher e toda a família dela...Os meus filhos vão ter que entender... Sei lá...
De novo na mesma esquina. Os mesmos meninos, bandidos, infelizes, drogados. Só que tem alguma coisa acontecendo... Paro o carro num impulso. Deitada na calçada, a menina grávida, os outros apavorados em volta, mais meninos e menos bandidos do que nunca, será que ninguém vai ajudar? Tenho experiência, já levei muita mulher em trabalho de parto para o hospital antes. Só que agora não tem mais tempo para nada; o bebê já está saindo. Ainda ouço, no fundo da cabeça, a voz chata da minha mulher dizendo “porque você foi se meter nisto...” mas não posso mais parar. Tento pegar uma toalha no carro, mas o bichinho já está nos meus braços, berrando. Corto o cordão umbilical com um canivete velho, meus gestos são mecânicos, estou com sono, porque fui me meter nesta? Lembro de um médico que levei pro Miguel Couto um dia, me dizendo que este pessoal não pega infecção, tem imunidade completa, só que eu podia pelo menos ter limpado o canivete... Bem, azar, agora já foi. Serviço terminado, o dia clareando, o moleque berrando nos meus braços, porque me deu esta coisa de chorar de repente?
Mais um esfomeado no Mundo... prá nos assaltar, prá cheirar cola, prá ser vítima de bala perdida, prá perder pênalti em final de campeonato... Mais um filho da puta prá atrapalhar a nossa vida, prá ser avião de traficante, prá bolinar a professora, prá estuprar, matar, morrer...
Mais um filho da puta no Mundo! Sem fralda, sem teto, sem terra, sem vergonha, sujando minha roupa com esta porra deste sangue, minha mulher vai me matar quando eu chegar em casa, mais um desgraçado prá compartilhar da nossa sujeira, da nossa fome, da nossa injustiça...
Tudo, menos dizer que alguém pode olhar nos olhos desta coisinha de forma quase humana, querer pensar em se apaixonar por um filho da puta destes, e ficar aqui como um ridículo, abraçado neste filhote de coisa nenhuma, chorando feito um babaca...
Já é dia claro. Viro as costas para a cena. A vida não é um conto de Natal, não vai ter milagre nem presente, muito menos estrela de Belém, os reis magos não vão aparecer, nem se dignar a mandar um recado, dando a desculpa de que ficaram presos no engarrafamento. Quase jogo o moleque nos braços da mãe, que balbucia um “obrigado, moço”. Não vou levar ninguém para a porra de hospital nenhum. Deixo o filho da puta com a puta que o pariu, cercado dos filhos da puta que vão conviver com ele. E eu – o maior filho da puta de todos – vou voltar para casa, tirar esta maldita roupa suja do sangue fedorento deste filhote de coisa ruim, e ainda ouvir um sermão da minha mulher. Um bando de infelizes que a vida juntou num momento de merda, chafurdando na miséria humana, na desgraça de uma cidade desgraçada.
A música no rádio insiste em dizer que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Se eu não parar de chorar vou acabar batendo com o carro, e aí vai ser muito pior. Será que eu ajudei no parto do Menino Jesus? Deixa de ser burro, seu babaca, era só mais um filho da puta!
É dia de Natal. O locutor agora fala em amar o próximo como a si mesmo. Eu sei que é só uma propaganda a mais, mas de repente tudo começa a fazer sentido, na minha cabeça que já raciocina com dificuldade (preciso chegar logo em casa, tô morrendo de sono); é preciso amar as pessoas, amar o próximo - mesmo que ele seja um filho da puta. Sim, porque eu também sou um filho da puta. É o milagre de Natal; todos somos filhos de Deus. Inclusive – especialmente, talvez – os filhos da puta. Como este desgraçado, sem nome, sem teto, que eu ajudei a botar neste Mundo, e que talvez vá me assaltar e me matar um dia. Ter amor por quem a gente odeia, por quem odeia a gente. Como este filho da puta que acaba de cortar a minha frente – só faltava bater com o carro, agora!
O sol está forte, o calor já começa a incomodar. E eu vou ter que dormir suando, porque o ar condicionado do quarto está quebrado e eu não tenho dinheiro prá consertar. Pior que eu, só o menino Jesus e a mãe dele, que vão ficar ali pela rua mesmo. É dia de Natal. Na esquina, um cartaz qualquer fala em paz na Terra aos homens de boa vontade – e fico pensando se isto inclui todos os filhos da puta. Como eu e este moleque, e a mãe dele, e os outros do bando, e até a minha mulher, que vai me encher o saco quando eu chegar em casa, e toda a família dela. Todos nós.
Estou chegando em casa. Meus olhos estão vermelhos, de choro e de sono. Vou tirar esta roupa, vou dormir, a vida vai recomeçar. O menino Jesus vai passar o seu primeiro dia neste Mundo, nesta rua, neste calor. Não vai ser fácil para ele, não é fácil para mim. Mas é preciso amar, ter esperança, mais um ano vai, mais um ano vem... Não consigo nem pensar mais. O locutor no rádio começa a rezar a Ave Maria. Dentro da minha mente, as palavras se completam. Santa Maria, mãe de Jesus, rogai por nós, os filhos da puta. Os filhos de Deus.
Amém.
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Quem não se comunica...
Um dos poucos elogios que lembro de ter recebido ao longo de minha vida profissional foi com relação a uma suposta habilidade que eu possuiria de me “expressar bem”, ou "comunicar bem". Não sei se fui merecedor dos elogios mas posso dizer que sempre tive uma grande preocupação com isto; acho que uma boa capacidade de comunicação é, hoje, uma vantagem competitiva importante, principalmente depois que a internet tornou tudo praticamente instantâneo.
Tentando estabelecer alguns conceitos sobre o assunto, vamos começar do começo; não custa lembrar que o verbo “comunicar” vem do latim “communicare”, que significa “tornar comum”. Assim sendo, uma comunicação pode ser considerada eficiente quando todos conseguem chegar a um entendimento comum sobre um determinado assunto. E qual o segredo para que todos cheguem a este entendimento? É claro que eu não tenho a resposta, mas estabeleci para mim mesmo quatro mandamentos que compartilho com vocês (ninguém precisa concordar comigo, mas posso dizer que funcionam).
1 – Evitarás erros graves de português – todo mundo comete erros, mas tem certas coisas que são inaceitáveis. Até no LinkedIn (que, é um site de relacionamento profissional e, portanto, deveria ter um nível melhor do que blog de torcida de futebol, por exemplo) eu vejo coisas assustadoras, de vez em quando. Não custa nada prestar atenção na “hortografia” e “nas concordância” antes de enviar sua mensagem para o universo.
2 – Não complicarás a vida do teu próximo – tão ruim quanto um texto cheio de erros crassos é um texto confuso. Seja prático e objetivo, não misture fatos com opiniões, comece pelo começo e termine pela conclusão, que deve ser expressa de forma clara. Simples assim.
3 – Não enganarás o teu próximo – escrever bonito é para quem é do ramo, como Zuenir Ventura, Luis Fernando Veríssimo e outros deste calibre. Tem gente que adora inventar, enfia um “outrossim” no meio da frase, refere-se a si mesmo como “o signatário destas mal-traçadas” e por aí vai. Muito cuidado; o seu texto, que deveria ser profissional, pode ficar ridículo. Guarde as prosopopéias filosóficas para quando quiser impressionar as moçoilas assanhadas no Facebook.
4 – Respeitarás o saco alheio – texto bom é texto curto. Seja sempre conciso. Aliás, na verdade, este já está ficando muito longo para o meu gosto. Melhor parar por aqui.
Até o próximo post!
quarta-feira, 1 de agosto de 2012
Rafaela Silva e a nossa Avenida Brasil de cada dia
Certa vez ouvi a famosa autora de novelas Glória Perez dizer que “se alguém quiser entender os Estados Unidos deve assistir aos filmes de Hollywood; e se quiser entender o Brasil, deve assistir a uma novela”. Não lembro se a frase foi exatamente esta, estou citando de memória, mas a ideia ficou clara. Se isto é verdade (e eu acredito que é), tenho certeza que ninguém entendeu melhor a alma do brasileiro, nos últimos tempos, que os autores e diretores de “Avenida Brasil”; a novela é um sucesso absoluto, bate recordes de audiência todos os dias, dita modas e costumes, enfim, influencia a sociedade em todos os níveis. Ponto para eles.
Rafaela Silva também tem uma história de sucesso. De origem muito humilde, foi “descoberta” a partir de um projeto de levar o esporte a comunidades carentes, revelou-se uma judoca de talento raro e, com apenas vinte anos, conseguiu chegar ao seleto grupo dos melhores atletas do mundo na sua modalidade, indo disputar sua primeira Olimpíada com chances reais de medalha.
Na segunda-feira, de alguma forma, as duas histórias se cruzaram. No momento de maior exposição de sua carreira, Rafaela foi desclassificada em uma luta decisiva por ter aplicado um suposto “golpe ilegal”. Os próprios árbitros da competição não chegaram a um consenso no momento da punição à atleta brasileira e, até onde um leigo como eu conseguiu entender o assunto, ficou a impressão de que a pena aplicada foi excessivamente rigorosa. Em termos de futebol (que eu conheço bem melhor), foi como se o juiz resolvesse dar um cartão vermelho em uma jogada que mereceria, no máximo, um amarelo. Desclassificada, Rafaela desabou em choro que foi registrado por todos os meios de comunicação do País.
A coisa poderia ter terminado por aí, mas o desdobramento foi cruel. Pelo twitter (ah, estas maquininhas do demônio), Rafaela recebeu algumas mensagens de apoio e de consolo mas, em paralelo, leu coisas do tipo “lugar de macaca é na jaula”, ou “você é um traste, um nada, e vai ser lembrada apenas como um nada”. Provocada, em um momento de descontrole (muito justificado, diga-se), reagiu da pior forma possível, com palavrões e xingamentos.
E onde entra a novela nesta história? Simples; por algum motivo que escapa à minha compreensão, a audiência da novela aumentou exponencialmente quando começaram as sessões de humilhação mútua entre as duas heroínas da trama (Nina e Carminha). Primeiro uma tenta enterrar a outra viva, depois a outra chantageia a primeira, e por aí vai. E o que me chama a atenção é o linguajar utilizado; traste, vagabunda, piranha, e por aí vai. E a platéia vibra, enquanto eu, pobre de espírito, tento trocar de canal e fingir que isto não existe. E é exatamente este o linguajar que os críticos de Rafaela usam no twitter; traste, vagabunda, macaca (este último só não é colocado na TV por causa do policiamento do “politicamente correto”. Pela primeira vez na vida eu aplaudo os “politicamente corretos”).
Resumindo; para alguns, como é o caso deste escriba, Rafaela é o máximo, uma prova de que é possível vencer na vida, mesmo começando muito de baixo, com esforço, trabalho e dedicação. Mas para a grande maioria do nosso povo, que prefere o ambiente egoísta, ignorante, agressivo e hiper-erotizado da novela, Rafaela é um lixo. Afinal, o que ela faz? Trabalha e luta. Não se envolve em tramas escabrosas, não tem visual de periguete, jamais será convidada para posar nua. Ou seja; é um nada. E, tenho certeza, a sua derrota encheu de alegria a turma da Avenida Brasil, que aproveitou para fazer o que mais gosta; humilhar quem está por baixo.
Para tentar entender isto, só recordando o maior frasista brasileiro de todos os tempos; Nelson Rodrigues. Foi ele quem disse que “o brasileiro é o Narciso às avessas; se puder, ele cospe na própria imagem”. Nada mais certo; o brasileiro não aceita o sucesso de quem trabalha. Por isto nossos melhores projetos nunca vão prá frente; o próprio brasileiro não quer. Entre Rafaela e Avenida Brasil, o povão fica com Avenida Brasil. E sente um prazer quase orgásmico quando vê o trabalho dos outros fracassando. Vá entender...
De qualquer maneira, mesmo sendo minoria, prefiro ficar solidário com Rafaela, não só na sua luta como também (porque não), na sua reação indignada. Um dia a nossa cultura melhora um pouquinho, e o povão aprende a reconhecer o trabalho e a luta das nossas muitas Rafaelas, e esquece um pouco das armações das Ninas e Carminhas... Eu só espero estar vivo para assistir.
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Admitir a doença é o primeiro passo para a cura
A apresentação ao mercado da revisão do plano de negócios da Petrobras para os próximos cinco anos, feita na segunda-feira, 25/06, teve alguns momentos que podem ser classificados como muito interessantes, principalmente para quem, com é o meu caso, trabalha na área de gerenciamento de projetos há alguns anos.
Uma das frases ditas pela Presidente Graça Foster me chamou particularmente a atenção. Ao comentar o ousado plano de investimentos na área de refino, no qual temos a previsão de construção de quatro refinarias novas (COMPERJ, Refinaria do Nordeste, Premium-I e Premium-II), ela teria dito que “As refinarias são fundamentais, mas eu preciso saber quanto custa e quanto já fiz” (fonte; site do jornal O Globo).
Minha primeira reação foi de surpresa; afinal, na minha forma de ver, não é aceitável que a Presidente da Petrobras confesse, publicamente, que não conhece nem o custo nem a curva de avanço de alguns dos projetos mais importantes de sua própria empresa.
Só que, antes de condenar a sua atitude, cabe pelo menos uma reflexão sobre o assunto. Acho que, mais uma vez, estamos diante de uma situação que reflete a cultura (ou a falta de cultura) de gerenciamento de projetos no Brasil. Afinal, tenho certeza que ninguém sabe, com um mínimo de certeza, qual é o custo previsto e/ou quanto já foi realizado nos outros grandes projetos do Brasil (Copa-2014, Olimpíadas-2016 e outros). Porque no Brasil não existe a cultura de planejar, executar, controlar; as coisas vão sendo feitas sempre na empolgação do momento, em função de orientações quase sempre políticas, e sufocadas pela visão imediatista (quero ganhar esta eleição, quero salvar o orçamento deste ano, e por aí vai). E todos nós sabemos que a cultura de gerenciamento de projetos propõe exatamente o contrário; investir hoje, para receber a recompensa amanhã. Japoneses e alemães podem dar aulas disto.
No fim das contas, podemos dizer que hoje o Brasil começa a viver a ressaca da euforia que foi sustentada por endividamento e visões de curtíssimo prazo, nos anos mais recentes. E, olhando por este aspecto, a fala de Graça Foster merece os maiores elogios. Finalmente uma executiva de alto nível, com voz ativa no governo, assumiu publicamente que o rei está nu. Espero que a sua fala seja o início de um trabalho de reestruturação da carteira de investimentos da Petrobras, empresa que é fundamental para o equilíbrio das contas do País. E que todo o potencial de competência dos quadros da empresa, que eu conheço muito bem, seja utilizado para produzir uma revisão desta carteira, baseado em expectativas realistas, e não mais em delírios políticos, conforme ocorreu, infelizmente, nos últimos anos.
E, se não for sonhar demais, que esta mudança cultural se estenda aos demais mega-projetos em que o Brasil se meteu.
Afinal, como já dizia a minha sábia avó, admitir a doença é o primeiro passo para a cura.
Uma das frases ditas pela Presidente Graça Foster me chamou particularmente a atenção. Ao comentar o ousado plano de investimentos na área de refino, no qual temos a previsão de construção de quatro refinarias novas (COMPERJ, Refinaria do Nordeste, Premium-I e Premium-II), ela teria dito que “As refinarias são fundamentais, mas eu preciso saber quanto custa e quanto já fiz” (fonte; site do jornal O Globo).
Minha primeira reação foi de surpresa; afinal, na minha forma de ver, não é aceitável que a Presidente da Petrobras confesse, publicamente, que não conhece nem o custo nem a curva de avanço de alguns dos projetos mais importantes de sua própria empresa.
Só que, antes de condenar a sua atitude, cabe pelo menos uma reflexão sobre o assunto. Acho que, mais uma vez, estamos diante de uma situação que reflete a cultura (ou a falta de cultura) de gerenciamento de projetos no Brasil. Afinal, tenho certeza que ninguém sabe, com um mínimo de certeza, qual é o custo previsto e/ou quanto já foi realizado nos outros grandes projetos do Brasil (Copa-2014, Olimpíadas-2016 e outros). Porque no Brasil não existe a cultura de planejar, executar, controlar; as coisas vão sendo feitas sempre na empolgação do momento, em função de orientações quase sempre políticas, e sufocadas pela visão imediatista (quero ganhar esta eleição, quero salvar o orçamento deste ano, e por aí vai). E todos nós sabemos que a cultura de gerenciamento de projetos propõe exatamente o contrário; investir hoje, para receber a recompensa amanhã. Japoneses e alemães podem dar aulas disto.
No fim das contas, podemos dizer que hoje o Brasil começa a viver a ressaca da euforia que foi sustentada por endividamento e visões de curtíssimo prazo, nos anos mais recentes. E, olhando por este aspecto, a fala de Graça Foster merece os maiores elogios. Finalmente uma executiva de alto nível, com voz ativa no governo, assumiu publicamente que o rei está nu. Espero que a sua fala seja o início de um trabalho de reestruturação da carteira de investimentos da Petrobras, empresa que é fundamental para o equilíbrio das contas do País. E que todo o potencial de competência dos quadros da empresa, que eu conheço muito bem, seja utilizado para produzir uma revisão desta carteira, baseado em expectativas realistas, e não mais em delírios políticos, conforme ocorreu, infelizmente, nos últimos anos.
E, se não for sonhar demais, que esta mudança cultural se estenda aos demais mega-projetos em que o Brasil se meteu.
Afinal, como já dizia a minha sábia avó, admitir a doença é o primeiro passo para a cura.
terça-feira, 8 de maio de 2012
Duas historinhas rápidas – só prá matar as saudades
Fazia tempo que eu não
postava mas, para terminar este período de abstinência, mando logo duas
piadinhas que pretendo patentear em breve. No fundo são histórias tristes,
porque narram o final de duas amizades... Vamos a elas;
História 1 – a tristeza
de ser eternamente vice...
Peço desculpas aos vascaínos
(começando pelo meu filho), mas a piada é boa.
Dizem que eram dois
amigos de infância, inseparáveis, concordavam em tudo, só que um era vascaíno e
o outro rubro-negro.
Depois do mais recente
vice-campeonato do Vasco, o flamenguista – que havia assistido ao jogo junto
com o amigo – começou a tradicional zoação.
A brincadeira foi ficando
pesada, o vascaíno já estava muito irritado e quase partindo prá briga.
Foi aí que o flamenguista
resolveu acalmar a situação e falou;
- Tá certo, desculpe, vou
parar por aqui. Somos velhos amigos, não vamos brigar por tão pouco...
O vascaíno concordou;
- É isto aí. A nossa
amizade em primeiro lugar!
Aí o rubro-negro não
resistiu, começou a rir e emendou de primeira;
- A nossa amizade em
primeiro lugar... e o Vasco em segundo!
Depois desta, não é
necessário dizer que a porrada comeu.
Moral da história; perco
o amigo, mas não perco a piada...
História 2; Dona Dilma e
os neologismos do lulopetismo
O governo Dilma vai
passar à história, entre outras coisas, pela capacidade de inventar palavras e
expressões novas.
Depois do insuportável
“Presidenta”, agora estamos sendo informados que no Brasil não existe mais
corrupção, safadeza, desvio de dinheiro; apenas “malfeitos”. Dona Dilma só usa
esta palavra; o mensalão foi um “malfeito”, agora o causo do Carlinhos
Cachoeira é outro “malfeito”.
Vai daí que dois amigos,
um petista fã da Dilma e do Lula e outro desiludido, estavam conversando.
O lulopetista começou a
repetir o discurso oficial de que agora o País ia tomar jeito;
- Dilma não tolera
corrupção.
O outro balançou a
cabeça, descrente;
- É claro. Para ela
corrupção não existe; só existe “malfeito”. E sabe porque ela fala assim?
O outro não entendeu a
armadilha onde estava se metendo, e apenas balançou a cabeça, negativamente.
- Vou explicar; ela fica
fula da vida quando o negócio é “malfeito”, porque aí deixa pistas, a mídia descobre e ela tem que se desgastar vindo a público, tentando explicar o inexplicável. O recado é claro; se querem roubar, que façam "bem feito". Em outras palavras, ela não está exigindo honestidade, mas sim competência na hora de roubar. “Malfeito” ela não
tolera!
Obviamente que a conversa
– e boa parte da amizade – acabou ali.
Segunda moral; muitas
vezes, uma boa piada vale muito mais que uma amizade mais ou menos...
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Mais uma da série "meus pitacos no Linkedin" - gestão do conhecimento - parte 2
A discussão deste tema evoluiu, e eu acabei postando mais esta;
Pessoal;
Talvez eu esteja viajando para muito além da cidade de Mayonne, mas acho que chegamos a um ponto nesta discussão em que precisamos questionar os valores humanos de cada um. E vou arriscar alguns palpites no assunto.
Falei, em meu post anterior, sobre a diferença entre a visão imediatista e a de longo prazo. E a escolha entre as duas propostas (quero ganhar tudo hoje ou vou contribuir para que todos ganhem ao longo do tempo) passa por uma série de valores culturais do indivíduo e de seu grupo (seja empresa, país, time de futebol, ou o que for).
Costumo dizer em minhas aulas que o que diferencia um grande líder é o que chamo de “grande visão”. Citando os exemplos clássicos de Jesus Cristo, Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr (meus grandes heróis), sabemos que uma característica comum aos três é que todos foram brutalmente assassinados, ou seja, não viveram para ver a concretização de suas obras (projetos). E aí eu pergunto; valeu a pena? Se qualquer um deles escolhesse o conforto da visão de curto prazo, não iria bater de frente com o “status” da época – Cristo poderia ter sido carpinteiro, como seu pai, Gandhi um advogado de sucesso e Luther King um pastor de televisão. Mas eles resolveram ir além disto, ganhando, por um lado, o nosso reconhecimento eterno, mas pagando com suas próprias vidas.
E nós, como ficamos? Da mesma forma que eles, temos algumas opções. Podemos escolher a prostituição pura e simples (faço qualquer coisa, lícita ou não, desde que me paguem muito bem), a mediocridade com ética (não vou cometer crimes, mas faço apenas aquilo para o que estou sendo pago; se quiser mais, pague mais), ou o desprendimento (vou procurar fazer sempre o meu melhor, porque acredito que esta é a atitude certa, independente da remuneração que estou recebendo). É claro que estes são os extremos do espectro; todos nós buscamos o nosso ponto de equilíbrio em algum lugar entre estes pontos.
A gestão do conhecimento passa muito mais por esta visão cultural e humana do que por softwares ou coisa que o valia. Porque estamos falando em deixar alguma coisa para as gerações futuras, pela qual não seremos recompensados (pelo menos nesta vida – e aí podemos entrar em divagações maiores ainda). A simples atitude de compartilhar e discutir nossas idéias em um espaço virtual como este mostra que existe neste grupo a intenção de transmitir e acumular conhecimento, ainda que ninguém esteja ganhando para isto. Na mesma linha de raciocínio, penso que existem instituições (empresas, países, clubes de futebol) que, na visão de seus colaboradores (empregados, povo, torcedores) transcendem os meros interesses dos poderosos do momento. Procurando demonstrar minha tese com um exemplo bem chinfrim, eu posso dizer que nunca recebi um centavo para torcer pelo Grêmio; ao contrário, mesmo considerando que os dirigentes atuais não são lá estas coisas e que o time de hoje é medíocre, eu continuo comprando camisetas no site oficial, pagando o pay-per-view e, sempre que estou em Porto Alegre, procuro assistir a um jogo. Ou seja; por algum motivo, que passa muito longe da minha lógica de engenheiro, eu acredito que esta instituição merece que eu dedique a ela parte do meu tempo de folga e do meu rico dinheirinho, ganho com trabalho honesto. Talvez eu seja louco, mas, afinal, mais louco é quem me diz, que não é feliz (eu sou feliz)...
Resumindo; cada um de nós pode escolher o seu caminho. E ajudar o outro compartilhando o seu conhecimento (na medida em que isto é possível, é claro), é uma das opções.
Acho que viajei muito, desta vez...
Abraços e sucesso a todos
Pessoal;
Talvez eu esteja viajando para muito além da cidade de Mayonne, mas acho que chegamos a um ponto nesta discussão em que precisamos questionar os valores humanos de cada um. E vou arriscar alguns palpites no assunto.
Falei, em meu post anterior, sobre a diferença entre a visão imediatista e a de longo prazo. E a escolha entre as duas propostas (quero ganhar tudo hoje ou vou contribuir para que todos ganhem ao longo do tempo) passa por uma série de valores culturais do indivíduo e de seu grupo (seja empresa, país, time de futebol, ou o que for).
Costumo dizer em minhas aulas que o que diferencia um grande líder é o que chamo de “grande visão”. Citando os exemplos clássicos de Jesus Cristo, Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr (meus grandes heróis), sabemos que uma característica comum aos três é que todos foram brutalmente assassinados, ou seja, não viveram para ver a concretização de suas obras (projetos). E aí eu pergunto; valeu a pena? Se qualquer um deles escolhesse o conforto da visão de curto prazo, não iria bater de frente com o “status” da época – Cristo poderia ter sido carpinteiro, como seu pai, Gandhi um advogado de sucesso e Luther King um pastor de televisão. Mas eles resolveram ir além disto, ganhando, por um lado, o nosso reconhecimento eterno, mas pagando com suas próprias vidas.
E nós, como ficamos? Da mesma forma que eles, temos algumas opções. Podemos escolher a prostituição pura e simples (faço qualquer coisa, lícita ou não, desde que me paguem muito bem), a mediocridade com ética (não vou cometer crimes, mas faço apenas aquilo para o que estou sendo pago; se quiser mais, pague mais), ou o desprendimento (vou procurar fazer sempre o meu melhor, porque acredito que esta é a atitude certa, independente da remuneração que estou recebendo). É claro que estes são os extremos do espectro; todos nós buscamos o nosso ponto de equilíbrio em algum lugar entre estes pontos.
A gestão do conhecimento passa muito mais por esta visão cultural e humana do que por softwares ou coisa que o valia. Porque estamos falando em deixar alguma coisa para as gerações futuras, pela qual não seremos recompensados (pelo menos nesta vida – e aí podemos entrar em divagações maiores ainda). A simples atitude de compartilhar e discutir nossas idéias em um espaço virtual como este mostra que existe neste grupo a intenção de transmitir e acumular conhecimento, ainda que ninguém esteja ganhando para isto. Na mesma linha de raciocínio, penso que existem instituições (empresas, países, clubes de futebol) que, na visão de seus colaboradores (empregados, povo, torcedores) transcendem os meros interesses dos poderosos do momento. Procurando demonstrar minha tese com um exemplo bem chinfrim, eu posso dizer que nunca recebi um centavo para torcer pelo Grêmio; ao contrário, mesmo considerando que os dirigentes atuais não são lá estas coisas e que o time de hoje é medíocre, eu continuo comprando camisetas no site oficial, pagando o pay-per-view e, sempre que estou em Porto Alegre, procuro assistir a um jogo. Ou seja; por algum motivo, que passa muito longe da minha lógica de engenheiro, eu acredito que esta instituição merece que eu dedique a ela parte do meu tempo de folga e do meu rico dinheirinho, ganho com trabalho honesto. Talvez eu seja louco, mas, afinal, mais louco é quem me diz, que não é feliz (eu sou feliz)...
Resumindo; cada um de nós pode escolher o seu caminho. E ajudar o outro compartilhando o seu conhecimento (na medida em que isto é possível, é claro), é uma das opções.
Acho que viajei muito, desta vez...
Abraços e sucesso a todos
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