segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O NOCAUTE VOCÊ VIU. E O PROJETO POR TRÁS DO NOCAUTE?

O assunto mais importante para os fãs de esporte durante as últimas semanas foi a preparação para a luta feminina de MMA mais esperada da história, entre a americana Ronda Rousey e a brasileira Bethe Correia. E o resultado foi, até certo ponto, decepcionante; meses e meses de provocações, xingamentos e guerra de nervos, resultaram em míseros 34 segundos de combate – tempo necessário para a americana nocautear a brasileira com dois socos bem dados.
A vitória de Ronda não chegou a ser surpreendente, mas a forma pela qual foi obtida sim. Porque a aposta de todos os comentaristas especializados era que a brasileira, fisicamente mais forte, poderia vencer na troca de socos, e que Ronda, especialista em judô, tentaria levar a luta para o chão. Na hora, Ronda fez exatamente o contrário do que era esperado, e se deu muito bem. Nas entrevistas pós-massacre, a lourinha com cara de anjo, mas boa de briga, disse que foi tudo meticulosamente planejado e executado justamente com o objetivo de pegar Bethe de surpresa – e foi aí que eu comecei a me interessar por analisar o assunto sob o ponto de vista de gerenciamento de projetos.
Realmente, uma luta é um projeto interessante, uma vez que o atleta passa meses treinando (fase de planejamento) e a fase de execução pode durar apenas alguns segundos. Se me permitem a piadinha, no caso, a executada foi a pobre da Bethe, que ainda não deve ter achado o rumo de casa. Agora, se pensarmos em termos de projeto, o da americana foi bem planejado e muito bem executado. Já a brasileira me pareceu muito mais preocupada em fazer guerra de nervos e tentar desconcentrar a adversária (o que, num esporte individual e violento como este, faz parte do jogo), mas não conseguiu, na hora da verdade, apresentar qualquer alternativa tática para a proposta da adversária. A impressão que tive (aviso, desde já, que não sou especialista no assunto), foi que a única estratégia de Bethe era “acertar um bom soco na carinha dela”, conforme disse em várias entrevistas. Acredito que isto não é suficiente para disputar um título mundial.
Este “causo” todo acabou por me trazer à memória o folclórico Adilson “Maguila” Rodrigues, boxeador que chegou a ter seus momentos de fama há uns trinta anos. Ao contrário da grosseira e malcriada Bethe, o simplório Maguila era uma figura muito tranquila e, sempre que era provocado por algum rival nas entrevistas antes das lutas, usava uma frase que era quase um mantra; “este cara vai “tumá” é “muincha” porrada”, dizia ele, com aquele simpático sotaque carregado dos sergipanos, que eu aprendi quando morei em Aracaju e me traz boas lembranças até hoje. E o mais legal é que ele dizia isto sem se exaltar, quase com preguiça...
Maguila teve uma bela carreira, chegou a ser campeão sul-americano e um dos dez mais bem ranqueados do mundo, mas, na hora em que enfrentou adversários mais qualificados, que exigiriam uma preparação e alternativas táticas mais criativas do que “dar muincha porrada”, se deu mal. O caso de Bethe é semelhante (ela estava invicta, lembrem). Enfim, dois exemplos que nos servem de lições aprendidas, que devem ser aplicadas ao mundo do gerenciamento de projetos; você pode até realizar alguns projetinhos com sucesso só na base da intuição e do bom senso, mas, se quiser realmente ser competitivo e dar um salto de qualidade, é preciso se capacitar e buscar apoio de quem conhece mais o assunto.
O maior lutador da história, Muhammad Ali, na sua luta mais brilhante, contra George Foreman, em 1974, fez melhor ainda; mudou o plano do projeto no meio da luta. Isto, obviamente, é só para os gênios; mas este “causo” eu vou contar outro dia...

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