quinta-feira, 4 de maio de 2017

A TERCEIRA ONDA DO GERENCIAMENTO DE PROJETOS CHEGOU. E QUEM NÃO SOUBER SURFAR, VAI TOMAR VACA...

Projetos existem desde sempre, e talvez a própria criação do mundo possa ser vista como um projeto – com a vantagem que Deus, o grande Gerente, tinha o poder de fazer milagres e ajeitar tudo do jeito que Ele quisesse. Conforme é do conhecimento geral, o poder dos gerentes de projetos de hoje é muito menor, mas a gente se vira do jeito que dá.
Analisando a caminhada da civilização humana, temos projetos muito antigos que chegaram em bom estado até os dias atuais, como é o caso das Pirâmides do Egito e da Muralha da China. Obviamente, estes projetos foram gerenciados de alguma forma, com as ferramentas disponíveis na época, e acabaram funcionando. É claro que nunca vamos saber quais eram o cronograma original e a estimativa de custos destes projetos, portanto não temos como avaliar o seu sucesso sob o ponto de vista da restrição tripla, mas o fato é que o produto foi entregue, e dura até hoje.
Foi mais ou menos a partir da metade do século XX que os projetos começaram a ganhar uma complexidade maior. As principais forças responsáveis por esta mudança foram o aumento da competitividade, a necessidade de envolver múltiplas disciplinas e os avanços tecnológicos. Muitos autores consideram que o grande marco desta transição foi a corrida espacial; afinal, colocar um homem na Lua era uma tarefa que envolvia desde matemáticos e físicos até nutricionistas e psicólogos, e tudo precisava ser feito num prazo exíguo, visando superar o “outro lado” (na época, as forças envolvidas eram Estados Unidos e União Soviética, representando cada um uma série de simbolismos, tais como capitalismo x comunismo, religiosidade x ateísmo oficial, enfim, vários conflitos que eram importantes na época mas hoje, em alguns casos, já se mostram superados). Em paralelo com o desenvolvimento tecnológico, ferramentas de gestão foram criadas e usadas em um cenário que, seguramente, não tinha paralelo com nenhum momento histórico anterior.
Este aumento exponencial na complexidade dos projetos levantou o questionamento sobre a qualificação específica dos gerentes de projetos – função que sempre existiu, mas era exercida de forma mais ou menos amadorística. É neste contexto que surgem duas organizações com a proposta de discutir gerenciamento de projetos de uma forma profissional; O IPMA, na Europa, em 1964 e o PMI, nos Estados Unidos, em 1969. A visão do gerente de projetos como um profissional diferenciado, com um corpo de conhecimentos próprio (consolidado pelo próprio PMI, alguns anos depois, no PMBoK, Project Management Body of Knowledge), constituiu um marco histórico. E gerou o que eu chamo de “primeira onda”, caracterizada pelo reconhecimento da importância da figura do gerente de projetos, busca de capacitação e certificações, e a certeza de que um gerente qualificado e certificado era a garantia para o sucesso de um projeto.
Em paralelo à capacitação do gerente, o desenvolvimento da informática trouxe um ferramental jamais imaginado; agora era possível construir cronogramas e orçamentos automaticamente, estimar caminhos críticos e sub-críticos, tudo a um simples toque dos dedos.
O resultado de tudo isto é que, durante algum tempo, vivemos a ilusão de que um PMP comandando um MSProject era tudo o que precisávamos para um projeto funcionar e produzir seus resultados a contento.
O problema é que, como diz aquele famoso vídeo humorístico, “a vida é uma caixinha de surpresas”, e logo os resultados começaram a provar que esta ideia era falsa. Era preciso mais que isto para que os projetos funcionassem. E isto nos levou à segunda onda.
Considero que a segunda onda se caracterizou por uma visão mais complexa da gestão de projetos, mas ainda focada em ferramentas. Neste momento, tivemos, entre outras coisas, o desenvolvimento de modelos diferentes dos adotados pelo PMI, outras certificações, a utilização de modelos de maturidade, além de conceitos como PMO, métodos ágeis, Canvas e outros. Esta onda começou no final dos anos 90 e está por aí até agora. É importante notar que ela de forma alguma cancelou a anterior; o PMBOK e a certificação PMP continuam como referências importantes, mas ficou claro que era necessário ir mais fundo na questão. Os resultados melhoraram, e esta onda ainda está em aperfeiçoamento, de modo que muitas pesquisas ainda vão ser concluídas e, seguramente, ainda há um longo caminho a percorrer no aperfeiçoamento destas técnicas e modelos..
Só que o mundo hoje evolui na velocidade da internet, e nem bem esta segunda onda atingiu o seu pico, já vemos surgir uma terceira onda, que, na minha visão, vai ser a mais revolucionária e decisiva de todas.
A base desta terceira onda é entender que projetos são atividades humanas, e não há como melhorar resultados sem colocar o ser humano no centro da ação. Esta nova onda não tem ferramentas computacionais (pelo menos até agora), mas baseia-se em estudos, experiência e visão sobre três assuntos que me parecem os mais importantes, hoje; Gestão de Mudanças, Gestão de Talentos e Gestão do Conhecimento. Como pano de fundo, ficam os aspectos culturais, que sempre influenciam o comportamento humano, para o bem e para o mal. Resumindo tudo em um só conceito, Gerenciamento de Pessoas.
Motivação, Comunicação, Cultura, Conflitos, Liderança, Riscos, enfim, muitas palavras que durante muito tempo foram associadas ao gerenciamento de projetos mas não chegavam a ser levadas a sério (talvez pela complexidade que envolvem e por não se submeterem a regras definidas), são cada vez mais reconhecidas como sendo os aspectos realmente decisivos para que projetos atinjam as suas metas. Colocar estas questões de forma simples e objetiva, demonstrando a todos os stakeholders envolvidos a sua importância, deve ser o grande diferencial do futuro. É fácil? Claro que não. Mas é um campo de estudos que se abre e para o qual teremos que prestar cada vez mais atenção.
Pretendo abordar o assunto com mais detalhe em um próximo artigo, uma vez que este já ficou muito grande. Mas tenho certeza que este será o foco do futuro do gerenciamento de projetos.
Quem viver, verá.

Um comentário:

  1. Meu amigo Herve, parabéns pelo breve e objetivo resumo da história do gerenciamento de projetos. Embora ache altamente relevante, eu não estou vendo, infelizmente, na prática, essa quarta onda, focada em pessoas, surgindo. Eu acrescentaria, aos três assuntos por você listados, o trabalho colaborativo, não só na equipe do projeto, mas entre os setores da empresa envolvidos no projeto. Acho também fundamental a tecnologia apoiando esse foco em pessoas.

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