terça-feira, 23 de maio de 2017

A CORRUPÇÃO NOS REPRESENTA. E ADMITIR A DOENÇA É O PRIMEIRO PASSO PARA A CURA

A foto que ilustra este artigo mostra um típico comportamento brasileiro, que deveria nos envergonhar. Um caminhão carregado de caixas de cerveja virou, e podemos ver várias pessoas carregando para casa embalagens do precioso líquido. E não vamos ser preconceituosos e dizer que é coisa de pobres; enquanto a polícia não chega, tem muito classe média, e até alta, que é capaz de parar o carro e catar sua cervejinha de graça no meio da rua. Na verdade, existe uma visão comum de que saquear um caminhão que tombou é um comportamento absolutamente normal, e os policiais, que muitas vezes são obrigados a usar a força para impedir mais saques, são uns chatos, prá dizer o mínimo.
Este é, provavelmente, o pior aspecto da cultura brasileira; a visão de que não há problema em cometer atos ilícitos. Tenho certeza que vai aparecer um espertinho de plantão para dizer que a companhia não vai ter prejuízo, provavelmente existe um seguro para isto, portanto ninguém está lesando ninguém, mas o ponto não é este; o ponto é que você não tem o direito de pegar alguma coisa pela qual você não pagou. Simples assim.
Outra desculpa muito usada é “se eu não pegar alguém vai pegar, portanto estou fazendo papel de otário”. Também não é por aí; se você pensa assim, então deve achar perfeitamente normal que um deputado embolse alguns milhões de reais para aprovar uma emenda que favorece um rico empresário. Afinal, se ele não pegar os outros vão pegar e aprovar a emenda do mesmo jeito. A presunção de que os outros são safados não te dá o direito de ser safado. Em nenhum lugar do mundo.
Sem querer me alongar muito, acho que não precisa ser um gênio para entender que o que sustenta os grandes canalhas somos nós, os pequenos canalhas otários do dia a dia. O cara que se sente o máximo porque conseguiu furar a fila, sonegar imposto de renda usando recibo falso, arrumar um atestado médico para não ir trabalhar e outras cositas mas.
O mais trágico é que este não é apenas um comportamento tolerado, ou aceito; é um comportamento altamente valorizado. Conforme eu disse acima, o cara se sente o máximo. No nosso dia a dia nos comportamos assim, desde jovens; o sujeito que se mata de estudar para ter uma boa nota no colégio é visto como um “nerd” babaca, mas o que suborna o servente que tira a xerox da prova e consegue nota dez sem se esforçar vira o ídolo da turma. Parafraseando o mestre Cazuza, num contexto totalmente diferente; porque é que a gente é assim...
Citando o economista americano Douglass North, ganhador do Prêmio Nobel de 1993; “somos o reflexo das nossas crenças. Se um país valoriza a pirataria, vai produzir os melhores piratas”. O problema do Brasil são os valores cultivados pela sua sociedade (ou seja, nós). E só nós podemos resolver o problema. Entender e ensinar aos nossos filhos que pegar cerveja de um caminhão que virou é errado, não vai resolver tudo, mas, seguramente, vai ajudar muito.
Até a próxima.
Estes e outros textos estão em meu blog, ver http://causosdoherve.blogspot.com.br/2017/05/a-corrupcao-nos-representa-e-admitir.html

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