domingo, 15 de maio de 2016

Uma pequena aula de história para frear a histeria “politicamente correta”

“Não é possível corrigir o passado, mas, a cada dia, podemos começar a construir um novo futuro” - Chico Xavier.
Diz uma historinha dos anos 1970 que, certa vez, perguntaram a Mao Tse Tung, o grande líder chinês, o que ele achava da influência da Revolução Francesa na História da Humanidade. Mao teria respondido algo do tipo; “ainda é muito cedo para se avaliar as consequências, afinal se passaram menos de dois séculos”. Verdadeiro ou não, o “causo” pode servir de base para algumas conclusões sobre a onda histérica que se levantou a partir do momento em que o Presidente interino Michel Temer anunciou o seu ministério composto apenas por homens brancos – um retrocesso, ou até um crime, na visão de alguns.
Meninos, o tempo é o senhor da razão. Mudanças comportamentais ou de paradigmas acontecem aos poucos, e seus efeitos só serão efetivamente implementadas ao longo de décadas, ou até séculos, conforme observou Mao Tse Tung com muita propriedade (se a historinha for verdadeira, of course). E corrigir o passado é impossível, conforme disse o nosso velho e bom Chico Xavier.
A evolução da participação das mulheres na sociedade começou a acontecer com alguma intensidade a partir da metade do século XX. Só para vocês terem uma ideia, citando dois “causos” particulares, quando entrei para a Escola de Engenharia da UFRGS, em 1971, de um contingente de 400 alunos, apenas 20 (isto mesmo, 5%) eram mulheres. Pior ainda; quando passei no concurso e entrei para a Petrobras, em janeiro/1976, o cargo de “Engenheiro de Equipamentos” era vedado para mulheres, sob a suposição (totalmente estúpida, diga-se), de que elas não poderiam trabalhar em plataformas por correrem o risco de sofrer violência sexual. E como vivíamos uma ditadura militar (que alguns idiotas ainda insistem que “é a solução” para o Brasil), não tinha conversa; era proibido e fim de papo, não tinha a possibilidade de recorrer à justiça (que só existe em estados democráticos). Esta proibição maluca só foi revogada no início dos anos 80, se a memória não me falha.
Numa situação paralela, nos Estados Unidos, na mesma época, o racismo ainda era oficial em alguns estados, e foi só após uma luta dura, que custou a vida de Martin Luther King, John Kennedy e alguns milhares de anônimos, é que as crianças e adolescentes negros conseguiram o direito de estudar em boas escolas e serem tratados como gente.
Os resultados das mudanças começaram a aparecer com intensidade algumas décadas depois, o que é natural. Hoje temos um presidente negro nos Estados Unidos, e tivemos, recentemente, na Petrobras, Graça Foster como a primeira mulher a chegar à presidência da empresa. Nenhum deles precisou usar sistema de cotas; chegaram lá pelas suas qualidades, e porque tiveram o direito de competir em igualdade de condições desde os tempos do colégio.
Assim, entendo que, hoje, ainda temos um número relativamente pequeno de mulheres e/ou negros e/ou outras minorias em postos mais importantes, que ainda é fruto deste (mau) legado histórico. Mas a minha geração vai morrer ou sair do cenário em breve, e a tendência é que as coisas se equiparem. Assim caminha a humanidade, como diz Lulu Santos, o poeta com nome de cachorrinho de madame.
Minha implicância com o politicamente correto vem desta distorção; eles querem corrigir o passado, e acabam atrapalhando o presente, exigindo cotas para isto e para aquilo, sem levar em conta que isto acaba gerando um preconceito ao contrário, que impede em muitos casos, que os mais competentes ocupem os cargos. E o efeito colateral é que isto acaba, sem querer, proporcionando argumentos para radicais como Donald Trump e Bolsonaro, por exemplo (ver meu artigo anterior, "De Bolsonaro a Trump, a volta triunfal do politicamente incorreto).
Resumindo, minha visão é que todos somos seres humanos, e temos as mesmas competências e defeitos. O problema é que, por força de distorções antigas (já superadas), o número de homens que estão hoje na faixa dos 60 anos que tiveram condições plenas de desenvolver suas competências é bem mais significativo que o de mulheres. E isto se reflete (ainda) nas empresas, governos, mercado de trabalho, etc...
Vejo a prova disto nas turmas de MBA onde dou aulas; entre os professores mais “experientes” (leia-se; velhos), os homens são a imensa maioria, mas no pessoal que está na faixa dos quarenta anos, o número de professoras é cada vez mais significativo. E no corpo de alunos (que serão os futuros professores, of course), a coisa está tecnicamente empatada, já tive turmas com mais de 65% de alunas. Ou seja; a integração está se fazendo a cada dia, tudo junto e misturado, como tem que ser. E os competentes sobreviverão, sejam homens ou mulheres.
Por favor, não atropelem o processo, nem tentem corrigir o nosso vergonhoso passado. Só se pode corrigir o futuro. E ele é promissor para todos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário