quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Rafaela Silva e a nossa Avenida Brasil de cada dia


Certa vez ouvi a famosa autora de novelas Glória Perez dizer que “se alguém quiser entender os Estados Unidos deve assistir aos filmes de Hollywood; e se quiser entender o Brasil, deve assistir a uma novela”. Não lembro se a frase foi exatamente esta, estou citando de memória, mas a ideia ficou clara. Se isto é verdade (e eu acredito que é), tenho certeza que ninguém entendeu melhor a alma do brasileiro, nos últimos tempos, que os autores e diretores de “Avenida Brasil”; a novela é um sucesso absoluto, bate recordes de audiência todos os dias, dita modas e costumes, enfim, influencia a sociedade em todos os níveis. Ponto para eles.
Rafaela Silva também tem uma história de sucesso. De origem muito humilde, foi “descoberta” a partir de um projeto de levar o esporte a comunidades carentes, revelou-se uma judoca de talento raro e, com apenas vinte anos, conseguiu chegar ao seleto grupo dos melhores atletas do mundo na sua modalidade, indo disputar sua primeira Olimpíada com chances reais de medalha.
Na segunda-feira, de alguma forma, as duas histórias se cruzaram. No momento de maior exposição de sua carreira, Rafaela foi desclassificada em uma luta decisiva por ter aplicado um suposto “golpe ilegal”. Os próprios árbitros da competição não chegaram a um consenso no momento da punição à atleta brasileira e, até onde um leigo como eu conseguiu entender o assunto, ficou a impressão de que a pena aplicada foi excessivamente rigorosa. Em termos de futebol (que eu conheço bem melhor), foi como se o juiz resolvesse dar um cartão vermelho em uma jogada que mereceria, no máximo, um amarelo. Desclassificada, Rafaela desabou em choro que foi registrado por todos os meios de comunicação do País.
A coisa poderia ter terminado por aí, mas o desdobramento foi cruel. Pelo twitter (ah, estas maquininhas do demônio), Rafaela recebeu algumas mensagens de apoio e de consolo mas, em paralelo, leu coisas do tipo “lugar de macaca é na jaula”, ou “você é um traste, um nada, e vai ser lembrada apenas como um nada”. Provocada, em um momento de descontrole (muito justificado, diga-se), reagiu da pior forma possível, com palavrões e xingamentos.
E onde entra a novela nesta história? Simples; por algum motivo que escapa à minha compreensão, a audiência da novela aumentou exponencialmente quando começaram as sessões de humilhação mútua entre as duas heroínas da trama (Nina e Carminha). Primeiro uma tenta enterrar a outra viva, depois a outra chantageia a primeira, e por aí vai. E o que me chama a atenção é o linguajar utilizado; traste, vagabunda, piranha, e por aí vai. E a platéia vibra, enquanto eu, pobre de espírito, tento trocar de canal e fingir que isto não existe. E é exatamente este o linguajar que os críticos de Rafaela usam no twitter; traste, vagabunda, macaca (este último só não é colocado na TV por causa do policiamento do “politicamente correto”. Pela primeira vez na vida eu aplaudo os “politicamente corretos”).
Resumindo; para alguns, como é o caso deste escriba, Rafaela é o máximo, uma prova de que é possível vencer na vida, mesmo começando muito de baixo, com esforço, trabalho e dedicação. Mas para a grande maioria do nosso povo, que prefere o ambiente egoísta, ignorante, agressivo e hiper-erotizado da novela, Rafaela é um lixo. Afinal, o que ela faz? Trabalha e luta. Não se envolve em tramas escabrosas, não tem visual de periguete, jamais será convidada para posar nua. Ou seja; é um nada. E, tenho certeza, a sua derrota encheu de alegria a turma da Avenida Brasil, que aproveitou para fazer o que mais gosta; humilhar quem está por baixo.
Para tentar entender isto, só recordando o maior frasista brasileiro de todos os tempos; Nelson Rodrigues. Foi ele quem disse que “o brasileiro é o Narciso às avessas; se puder, ele cospe na própria imagem”. Nada mais certo; o brasileiro não aceita o sucesso de quem trabalha. Por isto nossos melhores projetos nunca vão prá frente; o próprio brasileiro não quer. Entre Rafaela e Avenida Brasil, o povão fica com Avenida Brasil. E sente um prazer quase orgásmico quando vê o trabalho dos outros fracassando. Vá entender...
De qualquer maneira, mesmo sendo minoria, prefiro ficar solidário com Rafaela, não só na sua luta como também (porque não), na sua reação indignada. Um dia a nossa cultura melhora um pouquinho, e o povão aprende a reconhecer o trabalho e a luta das nossas muitas Rafaelas, e esquece um pouco das armações das Ninas e Carminhas... Eu só espero estar vivo para assistir.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Admitir a doença é o primeiro passo para a cura

A apresentação ao mercado da revisão do plano de negócios da Petrobras para os próximos cinco anos, feita na segunda-feira, 25/06, teve alguns momentos que podem ser classificados como muito interessantes, principalmente para quem, com é o meu caso, trabalha na área de gerenciamento de projetos há alguns anos.
Uma das frases ditas pela Presidente Graça Foster me chamou particularmente a atenção. Ao comentar o ousado plano de investimentos na área de refino, no qual temos a previsão de construção de quatro refinarias novas (COMPERJ, Refinaria do Nordeste, Premium-I e Premium-II), ela teria dito que “As refinarias são fundamentais, mas eu preciso saber quanto custa e quanto já fiz” (fonte; site do jornal O Globo).
Minha primeira reação foi de surpresa; afinal, na minha forma de ver, não é aceitável que a Presidente da Petrobras confesse, publicamente, que não conhece nem o custo nem a curva de avanço de alguns dos projetos mais importantes de sua própria empresa.
Só que, antes de condenar a sua atitude, cabe pelo menos uma reflexão sobre o assunto. Acho que, mais uma vez, estamos diante de uma situação que reflete a cultura (ou a falta de cultura) de gerenciamento de projetos no Brasil. Afinal, tenho certeza que ninguém sabe, com um mínimo de certeza, qual é o custo previsto e/ou quanto já foi realizado nos outros grandes projetos do Brasil (Copa-2014, Olimpíadas-2016 e outros). Porque no Brasil não existe a cultura de planejar, executar, controlar; as coisas vão sendo feitas sempre na empolgação do momento, em função de orientações quase sempre políticas, e sufocadas pela visão imediatista (quero ganhar esta eleição, quero salvar o orçamento deste ano, e por aí vai). E todos nós sabemos que a cultura de gerenciamento de projetos propõe exatamente o contrário; investir hoje, para receber a recompensa amanhã. Japoneses e alemães podem dar aulas disto.
No fim das contas, podemos dizer que hoje o Brasil começa a viver a ressaca da euforia que foi sustentada por endividamento e visões de curtíssimo prazo, nos anos mais recentes. E, olhando por este aspecto, a fala de Graça Foster merece os maiores elogios. Finalmente uma executiva de alto nível, com voz ativa no governo, assumiu publicamente que o rei está nu. Espero que a sua fala seja o início de um trabalho de reestruturação da carteira de investimentos da Petrobras, empresa que é fundamental para o equilíbrio das contas do País. E que todo o potencial de competência dos quadros da empresa, que eu conheço muito bem, seja utilizado para produzir uma revisão desta carteira, baseado em expectativas realistas, e não mais em delírios políticos, conforme ocorreu, infelizmente, nos últimos anos.
E, se não for sonhar demais, que esta mudança cultural se estenda aos demais mega-projetos em que o Brasil se meteu.
Afinal, como já dizia a minha sábia avó, admitir a doença é o primeiro passo para a cura.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Duas historinhas rápidas – só prá matar as saudades


Fazia tempo que eu não postava mas, para terminar este período de abstinência, mando logo duas piadinhas que pretendo patentear em breve. No fundo são histórias tristes, porque narram o final de duas amizades... Vamos a elas;
História 1 – a tristeza de ser eternamente vice...
Peço desculpas aos vascaínos (começando pelo meu filho), mas a piada é boa.
Dizem que eram dois amigos de infância, inseparáveis, concordavam em tudo, só que um era vascaíno e o outro rubro-negro.
Depois do mais recente vice-campeonato do Vasco, o flamenguista – que havia assistido ao jogo junto com o amigo – começou a tradicional zoação.
A brincadeira foi ficando pesada, o vascaíno já estava muito irritado e quase partindo prá briga.
Foi aí que o flamenguista resolveu acalmar a situação e falou;
- Tá certo, desculpe, vou parar por aqui. Somos velhos amigos, não vamos brigar por tão pouco...
O vascaíno concordou;
- É isto aí. A nossa amizade em primeiro lugar!
Aí o rubro-negro não resistiu, começou a rir e emendou de primeira;
- A nossa amizade em primeiro lugar... e o Vasco em segundo!
Depois desta, não é necessário dizer que a porrada comeu.
Moral da história; perco o amigo, mas não perco a piada...

História 2; Dona Dilma e os neologismos do lulopetismo
O governo Dilma vai passar à história, entre outras coisas, pela capacidade de inventar palavras e expressões novas.
Depois do insuportável “Presidenta”, agora estamos sendo informados que no Brasil não existe mais corrupção, safadeza, desvio de dinheiro; apenas “malfeitos”. Dona Dilma só usa esta palavra; o mensalão foi um “malfeito”, agora o causo do Carlinhos Cachoeira é outro “malfeito”.
Vai daí que dois amigos, um petista fã da Dilma e do Lula e outro desiludido, estavam conversando.
O lulopetista começou a repetir o discurso oficial de que agora o País ia tomar jeito;
- Dilma não tolera corrupção.
O outro balançou a cabeça, descrente;
- É claro. Para ela corrupção não existe; só existe “malfeito”. E sabe porque ela fala assim?
O outro não entendeu a armadilha onde estava se metendo, e apenas balançou a cabeça, negativamente.
- Vou explicar; ela fica fula da vida quando o negócio é “malfeito”, porque aí deixa pistas, a mídia descobre e ela tem que se desgastar vindo a público, tentando explicar o inexplicável. O recado é claro; se querem roubar, que façam "bem feito". Em outras palavras, ela não está exigindo honestidade, mas sim competência na hora de roubar. “Malfeito” ela não tolera!
Obviamente que a conversa – e boa parte da amizade – acabou ali.
Segunda moral; muitas vezes, uma boa piada vale muito mais que uma amizade mais ou menos...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Mais uma da série "meus pitacos no Linkedin" - gestão do conhecimento - parte 2

A discussão deste tema evoluiu, e eu acabei postando mais esta;

Pessoal;
Talvez eu esteja viajando para muito além da cidade de Mayonne, mas acho que chegamos a um ponto nesta discussão em que precisamos questionar os valores humanos de cada um. E vou arriscar alguns palpites no assunto.
Falei, em meu post anterior, sobre a diferença entre a visão imediatista e a de longo prazo. E a escolha entre as duas propostas (quero ganhar tudo hoje ou vou contribuir para que todos ganhem ao longo do tempo) passa por uma série de valores culturais do indivíduo e de seu grupo (seja empresa, país, time de futebol, ou o que for).
Costumo dizer em minhas aulas que o que diferencia um grande líder é o que chamo de “grande visão”. Citando os exemplos clássicos de Jesus Cristo, Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr (meus grandes heróis), sabemos que uma característica comum aos três é que todos foram brutalmente assassinados, ou seja, não viveram para ver a concretização de suas obras (projetos). E aí eu pergunto; valeu a pena? Se qualquer um deles escolhesse o conforto da visão de curto prazo, não iria bater de frente com o “status” da época – Cristo poderia ter sido carpinteiro, como seu pai, Gandhi um advogado de sucesso e Luther King um pastor de televisão. Mas eles resolveram ir além disto, ganhando, por um lado, o nosso reconhecimento eterno, mas pagando com suas próprias vidas.
E nós, como ficamos? Da mesma forma que eles, temos algumas opções. Podemos escolher a prostituição pura e simples (faço qualquer coisa, lícita ou não, desde que me paguem muito bem), a mediocridade com ética (não vou cometer crimes, mas faço apenas aquilo para o que estou sendo pago; se quiser mais, pague mais), ou o desprendimento (vou procurar fazer sempre o meu melhor, porque acredito que esta é a atitude certa, independente da remuneração que estou recebendo). É claro que estes são os extremos do espectro; todos nós buscamos o nosso ponto de equilíbrio em algum lugar entre estes pontos.
A gestão do conhecimento passa muito mais por esta visão cultural e humana do que por softwares ou coisa que o valia. Porque estamos falando em deixar alguma coisa para as gerações futuras, pela qual não seremos recompensados (pelo menos nesta vida – e aí podemos entrar em divagações maiores ainda). A simples atitude de compartilhar e discutir nossas idéias em um espaço virtual como este mostra que existe neste grupo a intenção de transmitir e acumular conhecimento, ainda que ninguém esteja ganhando para isto. Na mesma linha de raciocínio, penso que existem instituições (empresas, países, clubes de futebol) que, na visão de seus colaboradores (empregados, povo, torcedores) transcendem os meros interesses dos poderosos do momento. Procurando demonstrar minha tese com um exemplo bem chinfrim, eu posso dizer que nunca recebi um centavo para torcer pelo Grêmio; ao contrário, mesmo considerando que os dirigentes atuais não são lá estas coisas e que o time de hoje é medíocre, eu continuo comprando camisetas no site oficial, pagando o pay-per-view e, sempre que estou em Porto Alegre, procuro assistir a um jogo. Ou seja; por algum motivo, que passa muito longe da minha lógica de engenheiro, eu acredito que esta instituição merece que eu dedique a ela parte do meu tempo de folga e do meu rico dinheirinho, ganho com trabalho honesto. Talvez eu seja louco, mas, afinal, mais louco é quem me diz, que não é feliz (eu sou feliz)...
Resumindo; cada um de nós pode escolher o seu caminho. E ajudar o outro compartilhando o seu conhecimento (na medida em que isto é possível, é claro), é uma das opções.
Acho que viajei muito, desta vez...
Abraços e sucesso a todos

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Mais uma da série "meus pitacos no Linkedin" - gestão do conhecimento

Participo de alguns fóruns de discussão no LinkedIn, e um dos mais interessantes que surgiu nos últimos tempos foi o de gestão do conhecimento nas empresas. Mandei este pitaco para lá;
----------------------------------------------------
Num raciocínio simplista (eu diria quase simplório), gestão do conhecimento seria a capacidade da organização de transmitir e consolidar o conhecimento dos funcionários mais experientes para os mais novos, assegurando que este conhecimento não será perdido com a inevitável saída destes funcionários mais antigos.
Sobre o assunto, gostaria de convidar o leitor para um raciocínio conjunto sobre como funcionaria esta troca e consolidação de conhecimentos em três tipos de organizações; na Máfia, em um grupo de artesanato tradicional (rendeiras, por exemplo) e na NASA. Como quarto exemplo, vamos pensar no que aconteceu com o conhecimento dos desenhistas de uma empresa de engenharia nos últimos trinta anos. Vamos lá;
a) Na Máfia, ou em qualquer organização criminosa, o “valor” mais importante da empresa é o respeito ao código de silêncio e a lealdade entre os criminosos. Ser impiedoso com os inimigos ou traidores também é um fator crítico de sucesso. Assim, é interessante notar que nestes tipos de organização, normalmente, a sucessão é familiar, ou seja; a “gestão do conhecimento” é feita dentro de casa. Ocasionalmente algum empregado da firma se destaca, e é admitido no grupo familiar. Também é interessante observar que, quando existe algum tipo de discordância entre os parentes, a coisa é resolvida rapidamente, pela eliminação física do grupo dissidente. Assim, podemos caracterizar este tipo de organização como “avesso a mudanças” (a forma de trabalho é rigorosamente a mesma, desde os tempos do Al Capone), e o conhecimento a ser transmitido restringe-se ao uso de novas armas e formas de violência mais criativas (a Máfia, por exemplo, jogava os traidores em um rio, com os pés presos em uma bacia de cimento; já os traficantes do Rio de Janeiro preferem usar o “microondas”. Variações sobre o tema).
b) Em grupos de artesanato tradicional, como as rendeiras do nordeste, por exemplo, o grande valor é exatamente fazer o trabalho da mesma maneira que era feito no tempo da vovó. O “diferencial competitivo” do produto é este. Portanto, a transmissão de conhecimentos também se faz dentro das famílias, de mãe para filha. A tecnologia fica fora desta história toda. O máximo de mudança que se observa é na forma de organização (hoje muita gente está partindo para o trabalho em cooperativas, ou ONGs), e na adaptação às sempre variáveis tendências da moda. Mas a transmissão e consolidação do conhecimento é rigorosamente a mesma há várias gerações.
c) A NASA é uma empresa de tecnologia de ponta, e altamente competitiva; assim sendo, inovar é para eles, uma necessidade de sobrevivência. Tive oportunidade de participar em um seminário sobre gestão do conhecimento com eles, em agosto/2002, e vi que o trabalho sobre este assunto é uma grande prioridade para a empresa. Fundamentalmente, eles consideram que o mais importante para que a coisa funcione, é a criação de uma cultura de transmissão de conhecimentos dentro da empresa. Em outras palavras, transmitir o conhecimento deve ser um “valor” para os funcionários. Para estimular esta atitude, eles ofereciam bônus em dinheiro, promoviam reuniões informais (chamados “story telling” – algo parecido com “contação de causos”), e tinham várias outras soluções bastante criativas.
O quarto exemplo que gostaria de trazer para a discussão é o que ocorreu com os desenhistas das empresas de engenharia nos últimos trinta anos. Quem, como é o meu caso, entrou no mercado de trabalho de engenharia nos anos 70, lembra perfeitamente que os “escritórios de engenharia” tinham diversas pranchetas, e, trabalhando nelas, cidadãos cuja função era desenhar as plantas das instalações. Os “conhecimentos e habilidades básicos” exigidos destes caras eram; mão firme, boa letra, e capacidade de visualizar a melhor solução para organizar o desenho. Seu trabalho era auxiliado por equipamentos como normógrafos, transferidores, compassos e mais um monte de coisas que hoje não fazem o menor sentido e, provavelmente, estão condenados a virar peças de museu, assim como aconteceu com as máquinas de escrever e as réguas de cálculo. O que quero dizer é que o avanço tecnológico, com a criação do CAD (Computer Aided Design), tornou obsoleto quase todo o conhecimento que os desenhistas transmitiam, de geração em geração.
As conclusões que eu consigo tirar de todas estas histórias são duas;
- Muito mais importante do que a mera transmissão de conhecimentos, é a transmissão dos valores e da cultura da empresa. Não é possível pensar em uma coisa dissociada da outra;
- Em alguns casos, o avanço tecnológico pode fazer com que o conhecimento envolvido em um tipo de trabalho mude de tal forma, que precisa ser “re-inventado” pela nova geração.
Para fechar, lembro um “causo” do genial Albert Einstein. Certa vez, ao ser perguntado sobre que armas ele achava que seriam usadas em uma hipotética terceira guerra mundial (não custa lembrar que estávamos nos anos 50, e a Segunda Guerra era um fato recente), Einstein respondeu; “Não sei que armas serão usadas na terceira guerra, mas a quarta, eu garanto, será com tacapes”.
Explicando melhor; a coisa mais importante a ser transmitida numa empresa, família ou país, são os valores. De nada adiantarão os avanços tecnológicos, se não conseguirmos resolver os nossos problemas de convivência. Se isto chegar a um ponto crítico, podemos acabar cumprindo a profecia de Einstein. E resolver tudo na porrada, exatamente como os nossos ancestrais mais remotos.
--------------------------------------------
Abraços e até a próxima!

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Da série "Meus pitacos no Linkedin" - China x Brasil

Tenho participado ativamente de algumas discussões no grupo de gerenciamento de projetos no site Linkedin. Gosto muito deste tipo de conversa virtual, porque junta pessoas com os mais diferentes perfis, apresentando opiniões que, embora nem sempre sejam tão construtivas quanto a gente gostaria, servem para a troca de experiências.
O tema deste debate era; a China conseguiu erguer um prédio de 15 andares em seis dias. Será que isto é possível?
No meio das discussões, lancei este post;
---------------------------------------------
Alguns palpites sobre a China e as diferenças entre eles e nós;
a) Pouca gente fala nisto, mas muito do crescimento chinês que se observa hoje em dia se deve a uma decisão tomada ainda na época de MaoTseTung, lá pelos anos 1970; o planejamento familiar. A partir do momento em que o crescimento populacional foi colocado de forma ordenada, foi possível organizar o sistema de ensino, o mercado de trabalho, etc... Comentei certa vez algo sobre o assunto no meu blog (link; http://www.causosdoherve.blogspot.com/2010/11/planejamento-familiar-um-assunto-para.html).
b) Os orientais têm como paradigmas o trabalho, a honestidade e a disciplina. Isto, na minha visão, é muito mais importante que o falso dilema entre comunismo e capitalismo. São estes paradigmas que fizeram com que o Japão se recuperasse em menos de um ano de um terremoto, um tsunami e um acidente nuclear. E são estes mesmos paradigmas que estão levando a economia chinesa a um crescimento que é muito mais firme e sustentável do que muita gente pensa. E não me venham mais com esta história de trabalho escravo; a China está desenvolvendo uma classe média muito forte, com um alto nível de educação e conhecimento.
c) Sobre a visão de prazo x qualidade; o importante é entender que o prazo de execução do projeto foi pequeno, mas seguramente o prazo de planejamento foi grande (e muito bem utilizado). Qualquer teoria de gerenciamento de projetos nos ensina isto; planeje direito, que a execução fica fácil. Usando um exemplo meio tosco, é como aquele lutador de MMA que chega na luta e liquida o adversário logo no primeiro assalto. A gente olha e diz; este cara ganhou dinheiro fácil! Só que, para acertar aquele soco, daquele jeito (fase de execução do projeto – e do adversário, no caso), ele e sua equipe treinaram (fase de planejamento) durante meses. O único lugar do mundo onde o pessoal acredita que milagres acontecem, e que um País pode sair do terceiro mundo para o primeiro sem planejamento, sem investimento em educação e sem mudança de paradigmas, é num país tropical, abençoado por Deus, e bonito por natureza que eu conheço... Depois, quando a casa começar a cair (porque o alicerce é de barro), não vale reclamar.
----------------------------------------------
Logo vou postar mais alguns palpites meus sobre diversos assuntos aleatórios, não percam!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Previsões (mal-humoradas) para 2012

Normalmente, no final de cada ano, somos bombardeados por uma porção de previsões místicas para o ano seguinte. Na qualidade de profundo conhecedor de assuntos aleatórios eu não poderia ficar de fora desta. No meu caso não preciso de búzios, cartas ou coisa parecida; tenho um guru espiritual, chamado Dom Calavêra, que jura que foi um nobre espanhol e conheceu pessoalmente Dom Quixote e Sancho Pança. Quando eu tento argumentar que os dois eram personagens de ficção, ele vem sempre com a mesma conversa; “yo no creo em brujas, pero que las hay... además, yo soy um personaje, también”... Enfim, a experiência já me mostrou que é impossível tentar manter uma discussão civilizada com alguém que fala espanhol (tentem convencer um argentino que Pelé foi melhor que Maradona, por exemplo), portanto eu finjo que acredito na história. Dom Calavêra aparece sempre em um sonho igual; nós dois, na mesa da taverna, tomando vinho. No final, quem paga a conta sou eu, obviamente. Este ano ele não apareceu em dezembro, como faz habitualmente; preferiu esperar pela primeira sexta-feira 13 do ano, que é mais a cara dele.
Eu sugeri que, para variar, nós dividíssemos a conta. Mas ele me cortou logo;
- Estás loco? Já viu a situação econômica da Espanha? O que é uma garrafinha de vinho para um cara emergente, sexta economia do mundo...
- OK, você venceu. Mano a mano hemos quedado...
Nosso diálogo já começava mal. Mas Dom Calavêra tinha pressa;
- Mira vos, este ano não tenho muita coisa para dizer. Só vou lhe aconselhar a não colocar seu rico dinheirinho em três coisas; mercado imobiliário, a Petrobras e as empresas deste tal Eike.
- Bom, Dom Calavêra, não é isto que os analistas econômicos dizem...
- Porque no te callas? Eu sei o que estou falando.
- Eu tenho o direito de pedir explicações?
- Bueno, já que estas pagando el viño... Vamos por partes, como hacia el viejo Jack. Veja o mercado imobiliário. Tu achas que os preços dos imóveis vão subir?
- Bom, o pessoal jura que sim. Afinal, vamos ter Copa do Mundo, Olimpíadas...
- Tonterias!
Além de me interromper, Dom Calavêra ainda deu um soco na mesa. Realmente, sua paciência estava muito próximo do limite.
- Já viste el nível de las personas envolvidas en estes eventos? Já viu como ficou a minha Barcelona? Acha que sua cidade vai ganhar alguma coisa com isto? Acha que é razoável que o metro quadrado de uma pocilga fedorenta aqui valha o triplo de um castelo na minha terra?
- É, talvez o preço não suba mais... falei, tentando manter a discussão num nível razoável.
- Vai despencar! Não dou dois anos para estes tontos que se endividaram para comprar pocilgas pelo preço de castelos estejam entregando tudo o que tem para se livrarem das dívidas!
- OK, tá certo. Agora, sobre a Petrobras; eu, pessoalmente, acho que já houve uma perda significativa de valor em 2011. Não é uma boa hora de comprar as ações?
Desta vez pensei que ele fosse me estrangular, mesmo.
- Nunca! Este processo está só começando. Anote o que digo; o governo dos obreros, o que disse que ia salvar a Petrobras, vai acabar com ela...
- Como assim?
- Onde já se viu pegar dinheiro emprestado para investir em quatro refinarias ao mesmo tempo? Porque não botam toda la plata possível no tal de Pré-sal, que realmente tem um grande potencial de lucro? Só para agradar os políticos? Alguém já calculou o VPL disto tudo?
- Espera aí, dom Calavêra, que negócio é este de VPL? Onde já se viu um espírito que conhece matemática financeira?
- Tu no sabes cosa alguna, mismo! Eu aproveitei meu tempo livre para estudar alguma coisinha sobre o assunto. Apenas para evitar que tu tentes me enrolar...
Impossível discutir com um espírito com uma mentalidade destas.
- Resumindo; minhas previsões são péssimas. Afora que, para construir qualquer coisa, o seu País é complicado demás... licença prá isto e práquilo, leis trabalhistas complicadíssimas... vocês não vão conseguir cumprir prazos, vão gastar demais.... E nem vou falar nos desvios de verbas, porque aí já seria covardia.
Me senti totalmente desamparado. Um argumento, por favor, um argumentozinho a favor do Brasil...
- Ta bom, ta bom. E o tal do Eike? O que você tem contra ele, exceto a inveja saudável que todos nós temos de um cara que, além de ser bilionário, compartilhou o leito com uma das mulheres mais lindas e desejadas do mundo?
- Usted no es sério... Olvida-se que soy um espírito e estoy acima de estas cosas? Se bem que a Luma... dava até vontade de reencarnar para... mas que estoy diciendo? Deve ser el viño... Bueno, yo quiero hablar de cosas serias e tengo poco tiempo. Este Eike está muy exposto para o meu gosto.
- Como assim?
- Usted acredita que um sujeito que sabe ganhar dinheiro fica aparecendo em todos los periodicos, investindo ao mesmo tempo em petróleo, time de vôlei, hotel, e mais sei lá o que? No sé, siento um cheirito de Maddoff no ar...
- Sei lá, dom Calavêra. Todo mundo quer investir dinheiro com ele. E ele jura que vai ser o homem mais rico do mundo em menos de cinco anos!
- Si! E mi abuelita vai ser contratada pelo Barcelona para substituir o Messi...
Definitivamente, o humor de Dom Calavêra não estava dos melhores.
- Perfeito, chefe. Anotei tudo direitinho. Nada de aplicar em imóveis, Petrobras e empresas que terminem com X. Na verdade, isto de pouco me serve porque, afinal, money que é good I don’t have.
- Muy gracioso, usted! Continua com esta mania terceiro-mundista de achar que citações em inglês são o máximo...
Senti que ele estava indo embora, por isto arrisquei uma última pergunta;
- Falando de coisas realmente sérias; o meu Grêmio vai melhorar em 2012?
Desta vez dom Calavêra deu uma gargalhada tétrica, digna de um filme de terror.
- O Grêmio? Está construindo uma arena, contratou um gladiador... Daqui a pouco vai começar a perseguir os cristãos!
Deu outra gargalhada e desapareceu no ar, deixando a conta para mim, é claro.
Bom, as previsões estão aí – e não são nada boas. Enfim, pode ser apenas que o meu guru estivesse de mau humor... Quem viver, verá.
Hasta la vista, Dom Calavêra!