segunda-feira, 23 de outubro de 2017

QUEM DÁ CARRINHO “POR TRAZ” COMETE FALTA VIOLENTA CONTRA O IDIOMA, E MERECE CARTÃO VERMELHO

Uma das coisas que tenho feito ultimamente é preparar pessoas para fazer apresentações públicas, seja uma palestra ou apenas um relatório em uma reunião gerencial. Independente da situação, o primeiro ponto que sempre ressalto é; não cometa erros básicos de português.
Vejam bem, não estou falando de mistérios quase insondáveis como os que cercam o “à” craseado. Costumo brincar que para a minha cabeça de engenheiro a crase no a e a física quântica têm mais ou menos o mesmo nível de dificuldade. Também não é preciso saber a diferença entre um ditongo crescente e um tritongo, para este nível de dificuldade existem especialistas como o meu conterrâneo Sérgio Nogueira, craque com as palavras e com a bola de basquete, nos meus longínquos tempos de frequentador do Grêmio Náutico União, de Porto Alegre.
Estou falando de erros básicos, aqueles que saltam aos olhos do espectador e que podem reduzir ao ridículo todo um trabalho cuidadosamente elaborado.
Colhendo material para escrever este artigo, deparei com três casos na semana passada que, pelo nível das pessoas envolvidas, me chamou a atenção. Obviamente, por questões éticas, me reservo o direito de contar os milagres sem falar o nome dos santos, conforme dizia minha querida avó lá de Santa Maria.
O primeiro, citado no titulo, encontrei aqui mesmo no Linkedin. E olha que a frase veio assinada por um cara que não é pouca coisa; tem milhares de seguidores, é consultor, coach de carreira e tem mais um monte de titulações em inglês que eu nem faço ideia do que sejam. No meio de um texto, ele colocou esta pérola; “se o seu trabalho não lhe trás felicidade, mude!”. Quem mudou de artigo fui eu, na mesma hora. Afinal, quem traz as coisas é o verbo trazer, que é escrito com “z”. A palavra “trás” refere-se ao oposto da frente; todos os fãs de futebol sabem que carrinho por trás é uma falta desleal.
Mal tinha me refeito desta e vi, mais uma vez aqui no Linkedin, um interessante quadrinho sobre mudanças. Como dou aula de gestão de mudanças, resolvi analisar as propostas. Lá pelas tantas leio que não é o Uber que está matando com os táxis convencionais; foi o “mal serviço” dos táxis que proporcionou a abertura necessária para a entrada do aplicativo. Concordo 100% com o raciocínio, mas o serviço não é “mal”, é “mau” (que é o contrário de bom). Não me vejam como um velho ranzinza e mal humorado (o contrário de bem humorado), mas um erro destes num bom texto (e não num mau texto) deixa qualquer um se sentindo mal (porque estava se sentindo bem). E nunca pense que vai morrer de um mau súbito (isto só aconteceria se um sujeito malvado saísse de trás da árvore e te desse um tiro). Enfim, dá para brincar com estas palavras um tempão, só não pode errar tão feio assim em um artigo que se coloca para a leitura de um monte de gente.
Depois desta desisti do Linkedin, e estava no inocente Facebook quando fui atropelado por mais um erro absurdo. Faço parte de um grupo cujos membros são professores de algumas renomadas instituições, e onde trocamos experiências. Um deles contou sobre uma mal sucedida viagem para dar aula, e, nos comentários, alguém escreveu; “e o valor da hora aula não é reajustado a tempos”... Pessoal; este “a” deve ser escrito “há”, porque vem do verbo haver. Se tiver alguma dúvida, consulte a obra de Renato Russo; uma das suas mais belas canções chama-se exatamente “Há tempos”.
Resumindo; em três textos de pessoas supostamente com um alto nível de conhecimento, encontrei três erros grosseiros de português, coisa suficiente para desmoralizar qualquer apresentação. Mas tudo bem, você acha que isto é bobagem, coisa de velho chato, enfim, um comentário tipo assim “nada haver” (que muita gente escreve deste jeito. Pessoal, o certo é nada a ver. O pobre do verbo haver, já tão sofrido, não tem nada a ver com isto).
Enfim, amigo, se você é do time que acha que isto tudo são apenas detalhes, fecho o texto citando a velha dupla Roberto e Erasmo Carlos, nos seus bons tempos; “detalhes tão pequenos de nós dois, são coisas muito grandes prá esquecer, e a toda hora vão estar presentes, você vai ver”.
Até a próxima.
Observação; se você gosta destes meus causos, saiba que alguns neles foram reunidos no livro “Surfando a terceira onda em gerenciamento de projetos – um estudo de “causos” sobre gestão de pessoas e resultados”, já disponível no site da Editora Brasport, ver
Também tenho outros causos no meu blog, ver

Nenhum comentário:

Postar um comentário