terça-feira, 29 de agosto de 2017

Desconstruindo Maquiavel - uma velha história oriental (falsa) sobre chefes e líderes

Um dos meus passatempos de aposentado é inventar histórias e dizer que são fábulas orientais milenares, para ver se obtenho alguma credibilidade. Coisas de um velho meio doido e, no momento, profundamente mal humorado com a eliminação do Grêmio na Copa do Brasil. Meu personagem preferido é o mestre Bahgdavi Tunda, um homem santo, sábio, mas que não foi dotado da infinita paciência dos mestres orientais – na verdade, é capaz de respostas bem malcriadas quando está de mau humor, principalmente quando alguém pergunta sobre a origem de seu santo nome.
Apresentado o personagem, vamos à historinha.
Bahgdavi Tunda, o Mestre, estava bastante aborrecido com um de seus discípulos, que resolveu se apaixonar pelas ideias de Maquiavel. E um dia perdeu definitivamente a paciência quando o discípulo interrompeu uma de suas aulas sobre liderança e motivação para dizer que “Para um líder, é melhor ser temido do que amado, porque quem te ama pode te trair, mas quem te teme nunca vai te trair”. Reconhecendo a frase do Príncipe, Bahgdavi Tunda deu uma resposta que até hoje é lembrada;
- “Gafanhoto, meu filho, vou te ensinar alguma coisa sobre liderança, traição, medo, respeito e, principalmente, obtenção de resultados.
Basicamente, existem duas formas de alguém exercer a autoridade sobre um grupo; vou chama-los de ‘chefe’ e ‘líder’.
O chefe é aquele que não chegou onde está por mérito próprio, e sabe muito bem disto. Por isto sua maior preocupação na vida é manter-se no cargo. Por conta desta fragilidade, usa o poder como arma, e intimida a equipe. Ele dá ordens, não aceita sugestões nem discordâncias. A equipe o obedece, é claro; mas as tarefas são cumpridas com choro e ranger de dentes, e o resultado final sempre é ruim.
O líder é forte; sabe que alcançou o lugar onde está por competência e confia que seu trabalho pode leva-lo ainda mais longe. Por isto, quando a missão lhe é dada, procura explicar para os seus subordinados o que deve ser feito, discute com eles a melhor forma de executar as tarefas e acompanha atentamente o desenvolvimento do trabalho, preocupando-se com o desempenho de cada um e estando sempre pronto a apoiar os que fraquejam e elogiar os que atingem os objetivos, tudo isto sem perder o bom humor, muito menos a autoridade. A equipe trabalha motivada, e o resultado costuma ser muito bom.
Assim, gafanhoto, sua pequena anta, diga para o seu ridículo ‘Príncipe’ que as palavras dele se aplicam aos maus chefes; se o maior objetivo de sua vida medíocre é agarrar-se ao cargo que ocupa, tudo bem, faça tudo para ser temido e odiado. Mas nunca esqueça que, no dia em que cair, vai cair de quatro. (Nota do autor; conhecendo o temperamento de Bhagdavi Tunda – afinal, ele é um personagem criado por mim - tenho certeza que neste momento ele teve alguns pensamentos profanos e se sentiu tentado a levar adiante a digressão sobre o que acontece quando um cara odiado por todos cai de quatro. Felizmente ele se controlou a tempo e concluiu o raciocínio brilhante). Agora, se você quer realmente fazer um grande trabalho, se o seu objetivo é deixar o mundo melhor do que ele é hoje, se você quer ser feliz e fazer os outros felizes, então trate todos com respeito e humildade, seja firme sem nunca ser autoritário, respeite e se faça respeitar, e, acima de tudo, busque sempre o grande resultado. Pode ser que você tropece, pode ser que alguém algum dia te derrube; mas mesmo os tropeços de um justo acabam servindo como lições para que ele volte sempre melhor.”
E mais não disse, nem lhe foi perguntado.
Grande Mestre Bahgdavi Tunda! Qualquer hora volto para contar outro “causo” dele.

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