domingo, 9 de julho de 2017

Em busca do professor ideal – o modelo CED (Conhecimento, Experiência, Didática)

Tivemos, há algum tempo no Linkedin, uma discussão interessante motivada por um questionamento levantado pelo meu amigo Américo Pinto, sobre a necessidade de um professor ter experiência no assunto que ensina. Algo do tipo; como alguém que nunca trabalhou em um projeto poderia dar aulas sobre o assunto? Como pesar os fatores experiência x conhecimento acadêmico (mestrado, doutorado) na hora de escolher um professor?
A pergunta, obviamente, não tem uma resposta objetiva. Meti a minha colher na discussão e propus um modelo semelhante ao CHA (Conhecimento, Habilidade, Atitude), que é aceito como o ideal para definir um bom profissional de gerenciamento de projetos. Minha proposta foi o CED (Conhecimento, Experiência, Didática), que definiria o professor ideal. Recebi comentários simpáticos à minha ideia, e outros nem tanto, mas acabei me sentindo encorajado a aprofundar o tema, que é a proposta central deste artigo.
Na verdade, este é um dilema que conheço desde a minha época de estudante universitário, na querida Escola de Engenharia da UFRGS, no início dos anos 1970. E lembro que sempre achei mais interessantes as aulas dos professores com vivência profissional do que dos “acadêmicos”. Usando os termos que foram popularizados na internet há pouco tempo atrás, achava muito melhor um engenheiro “de raiz” contando as suas histórias do que um “Nutella” enchendo o quadro-negro (quadro-negro? Meu Deus, como eu estou velho!) de equações.
Hoje, em um contexto completamente diferente, a discussão volta. Ao longo de mais de vinte anos dando aulas e assistindo cursos sobre gerenciamento de projetos, acabei desenvolvendo algumas convicções, que passo a expor agora.
O que seria o modelo CED (Conhecimento, Experiência, Didática)?
a) Conhecimento; Gerenciamento de projetos, seguramente, é uma área muito mais “empírica” do que “científica”. Em outras palavras, a construção do conhecimento na área de GP está muito mais atrelada ao acúmulo de experiências do que ao desenvolvimento acadêmico e científico. Desta forma entendo como altamente questionável a exigência de currículo acadêmico (tipo mestrado ou doutorado) para os professores desta área. Antes que alguém me tome como xiita do MSMsC (Movimento dos Sem Mestrado), uma vez que sou um deles, gostaria de esclarecer que considero o conhecimento acadêmico tão importante que resolvi começar um mestrado agora, aos 65 anos. Mas continuo sustentando que, para a área específica de gerenciamento de projetos (favor deixar isto bem claro) acho muito mais importante a vivência prática do que a acadêmica;
b) Experiência; sempre que ouço esta palavra lembro-me da definição de Aldous Huxley (“Experiência não é aquilo que aconteceu com você, mas sim o que você conseguiu aprender com isto”). Em outras palavras, podemos dizer que alguns velhos são experientes, outros apenas velhos. E a diferença está na vontade de aprender, de inovar, de se adaptar às novas realidades. A interação com os alunos é um ponto importante; acho sempre que o melhor professor é o que está disposto a aceitar ideias dos alunos e conduzir uma boa discussão com eles. Infelizmente, muitos ainda acham que são os donos da verdade (e posso afirmar, com toda a certeza do mundo, que com a idade isto só piora). Enfim, existe um “mix” ideal entre conhecimento e experiência. Mas nada disto funciona se não existir o “D”, que passamos a explicar abaixo;
c) Didática; O ponto mais importante de todos na hora de escolher um professor, pelo menos na minha visão, é a capacidade que ele tem de tornar a sua aula interessante e produtiva, que eu chamaria, genericamente, de “Didática”. Vejam bem, é muito importante, neste momento, saber distinguir “transmissão de conteúdo” de “stand-up comedy”. Conheço caras que são geniais como “animadores de plateia”, capazes de “energizar” os alunos com piadas, dinâmicas, jogos, mas, em termos de conteúdo passam muito pouco. Chamo isto de “efeito sabonete” – o cara faz espuma suficiente para encher a banheira toda, mas no final o que ficou de sólido é só uma barrinha deste tamanhinho. Por outro lado, existe o sujeito que sabe tudo, mas, como a água, é inodoro, insípido e incolor, e todo mundo dorme na aula dele. Obviamente o ideal é o equilíbrio – muito difícil de alcançar, seguramente.
Resumindo; o professor ideal teria doses equilibradas destas três qualidades. E nunca podemos esquecer que cursos são como projetos; cada um tem o seu contexto próprio e intransferível. Ou seja, dependendo da proposta do curso, cada uma delas vai ser mais ou menos importante.

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