terça-feira, 1 de novembro de 2016

Na eleição dos horrores, Crivella errou menos e ganhou

O quadro da eleição carioca estava bem definido desde cedo; Crivella iria para o segundo turno, apoiado pelos seus fieis seguidores evangélicos (que, somados aos admiradores que a família Garotinho ainda consegue atrair, chegavam a uns 30% do eleitorado), mas seria derrotado por qualquer um, uma vez que teria dificuldades de formar alianças. Do outro lado do ringue Eduardo Paes, embalado pelo sucesso da Olimpíada e das obras relacionadas a ela, tinha a faca, o queijo e o vinho na mão. Contra ele apenas a sua conhecida incontinência verbal aguda e irreversível, mas a situação era tão absurdamente confortável que nem isto parecia capaz de derrota-lo.
Neste cenário de mar de almirante, era preciso não um erro, mas uma sucessão deles para que as coisas desandassem. E o pior aconteceu. Fazendo um histórico rápido, temos;
a) Eduardo Paes conseguiria eleger um cone, mas não um Luís Paulo. Entre outras coisas, porque cone não bate em mulher (pode ser até utilizado como arma, mas não me parece muito eficiente). Para completar a dupla dinâmica, escolheu como vice a Sra. Cidinha Campos, outrora uma entrevistadora de sucesso, hoje uma senhora descontrolada, cujo desempenho de chefe de claque no debate do primeiro turno ajudou a derrubar mais ainda o pobre candidato do prefeito. Qualquer um seria melhor que Luís Paulo, mas Paes achou que era o senhor do universo. E jogou ao vento a vaga e a vitória no segundo turno, que pareciam certas.
b) Ungido pelos deuses com esta segunda vaga, Marcelo Freixo preferiu ser PSOL do que ser razoável. Resolveu combater o fundamentalismo religioso de Crivella com outro fundamentalismo, o bolivariano, que o Brasil inteiro já expeliu como se fosse um cálculo renal. Repetiu mantras totalmente fora de contexto como “Fora Temer”, “Imprensa golpista”, enfim, só faltou gritar “Não vai ter Copa!” ou alguma sandice equivalente. Além disto, dedicou quase todo o seu tempo a tentar denegrir seu adversário, enfim, bebeu da fonte de ódio e suposta perseguição que alimentou o PT durante algum tempo, mas não funciona mais (sem esquecer que Lula tem muito mais talento para posar de vítima do que ele). Estratégia totalmente errada, que afastou todas as alianças possíveis.
c) Sentindo a inesperada chance de vitória se concretizando, Crivella agiu com sabedoria; colocou-se muito mais como “engenheiro” do que como “bispo”, deu ênfase ao seu lado “técnico e administrador”, escondeu até onde foi possível os aliados inconvenientes (Garotinho, o tio Edir Macedo e outros), chegando ao exagero de chamar os umbandistas de “irmãos” (só não apareceu consultando uma mãe-de-santo porque não foi necessário, afinal o eleitorado espírita não é tão grande assim). Jogou o jogo certo e conseguiu um resultado surpreendente, com quase 60% dos votos válidos.
d) Antes de terminar, uma palavra sobre a mídia; foi quase comovente o esforço que o pessoal da Globo e da Veja fez para tentar derrubar o Crivella (leia-se; rede Record). Valeu tudo; declarações antigas, fotos comprometedoras, frases fora do contexto, enfim, todo o arsenal disponível foi utilizado. E o resultado? Zero. O que deixou claro uma teoria que sustento há muito tempo; este poder quase sobrenatural que alguns atribuem a tal “imprensa golpista” não passa de ilusão. Lula e Dilma não foram derrubados pela imprensa, eles se enrolaram sozinhos. Crivella, aparentemente, era um alvo muito mais fácil, e saiu ileso.
No fim das contas, ficamos com o menor dos dois males. E com a certeza que Crivella terá de governar pisando em ovos de codorna, tal a pressão que vai ter em cima dele.
Que Deus tenha piedade desta cidade olímpica e maravilhosa!

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