domingo, 25 de agosto de 2013

O “Causo” de um goleiro sobrenatural...

 A notícia que um dos meus grandes ídolos de infância, o goleiro Gylmar dos Santos Neves, um dos herois do bi-campeonato mundial de 58 e 62, está em situação irreversível em um hospital de São Paulo após um infarto, deixou o meu dia um pouco mais triste. Só que, ao mesmo tempo, lembrou-me de um “causo” que é, no mínimo, fantástico e curioso. Quem conta com precisão a história é o conhecido e polêmico comentarista Milton Neves que, acima de suas opiniões muitas vezes desrespeitosas para com o meu Grêmio, tem que ser reverenciado por mim e por todos os fanáticos por futebol como um dos maiores preservadores da memória nacional sobre ex-jogadores e fatos históricos. Está tudo lá, no endereço http://terceirotempo.bol.uol.com.br/quefimlevou, mas vou resumir o “causo” aqui.

Além de grande goleiro, ídolo da torcida do Corinthians, Gylmar era um rapaz boa-pinta e com um nível de educação e conhecimentos bem superior à média dos jogadores de sua época. E estas qualidades impressionaram muito a menina Rachel, de 17 anos, filha de um grande empresário de São Paulo, Nagib Izar. Foi um caso de “amor à primeira vista”, conforme se dizia na época, e que começou na piscina de um hotel de Águas de Lindóia onde o Corinthians estava concentrado e paulistanos ricos passavam férias. Dizem que o velho Nagib ficou tão horrorizado com a atitude da filha e daquele “jogadorzinho de bola” que no mesmo dia fechou a conta, abreviou sua estada de férias e levou toda a família de volta para São Paulo.
Pausa para um comentário rápido; sim, houve um tempo em que jogadores de futebol não ganhavam rios de dinheiro, e os pais de família não queriam que suas filhas namorassem estes tipos mal-educados e sem futuro. Zagallo viveu algo parecido. Que distância do mundo das marias-chuteiras de hoje... Mas voltemos ao “causo”.

Rachel resolveu afrontar o pai e o namoro, começado em 1954, virou casamento em 1960, do qual nasceram três filhos. Fiel aos seus conceitos, “seu” Nagib passou exatos 17 anos sem falar com a filha, não compareceu ao casamento e nem quis conhecer os três netos. Só que agora é que a história começa a ficar interessante.
No dia 25 de outubro de 1971, de repente, Nagib ligou e convidou Rachel, o marido Gylmar (já então aposentado do futebol) e os filhos para que todos passassem o dia com ele e com sua esposa Najla, na sua mansão, no bairro do Paraíso, em São Paulo.
Almoçaram juntos, brincaram e se abraçaram como se nada tivesse acontecido naqueles 17 anos. No fim da noite, já na sua casa e ainda tentando entender as emoções do dia, Rachel recebeu telefonema da mãe comunicando que “seu” Nagib Izar tinha acabado de morrer de infarto! Detalhe; tudo isto é fato, comprovado por todos eles. Foi premonição, remorso ou coincidência? Só isto já seria uma história interessante; mas, por incrível que pareça, o “causo” ainda teve outros desdobramentos.
Na hora de tratar do inventário, Rachel e seus irmãos (entre os quais havia um deputado federal, o falecido Ricardo Izar) se reuniram na sede da empresa. Obviamente, ninguém esquecia a estranha história do reencontro entre pai e filha no último dia da vida dele, e o agora perdoado Gylmar também foi chamado para a reunião da família.

Como era comum na era pré-digital, “seu” Nagib tinha no escritório um cofre daqueles bem antigos, pesadões, cuja combinação só ele conhecia. Ali ficavam os documentos mais importantes do patriarca e da empresa. O diabo é que ninguém conseguia abrir o tal do cofre. Chamaram arrombadores profissionais, fabricantes de cofre, e nada. Quando a hipótese de uma explosão já estava sendo cogitada, Gylmar, com a sua discrição habitual, pediu licença aos cunhados e começou a mexer no relógio de controle da fechadura.
Girou umas sete ou oito vezes, sempre depois apertando a maçaneta e de repente… o cofre se abriu! Inacreditavelmente, Gylmar desafiou todas as leis da estatística e acertou a combinação do cofre. Ou será que algum espírito soprou no ouvido dele? Acredite se quiser...
Prá completar a história, só faltava mesmo saber o conteúdo do cofre. E agora foi a vez da emoção falar mais alto. Ao lado de escrituras, ações e outros documentos importantes, existiam diversas pastas, cuidadosamente catalogadas, com recortes de todas as notícias e fotos de revistas e jornais que falavam em Gylmar, Rachel e os filhos nos últimos 17 anos. Foi então que dona Baije, a fiel secretária do velho há muitos anos, contou que, por todo este tempo, o turrão Nagib Izar, ao chegar logo cedinho para o trabalho, TODO DIA  ficava por uma hora folheando suas pastas, vendo página por página e foto por foto da família da filha e do genro famoso. Não preciso dizer que, a esta altura do campeonato, o escritório era um mar de lágrimas...
Pessoal; a história é verdadeira, insisto mais uma vez, e confirmada por todos os envolvidos. Hoje, só me resta rezar por Gylmar e pelo velho Nagib que, com toda a certeza, já está de prontidão para receber o genro de braços abertos na sua chegada lá do outro lado. Ou para morrer de rir se ele, lembrando os seus tempos de goleiro de seleção, conseguir fazer uma defesa milagrosa e mandar a morte para escanteio...

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